A gestão de uma empresa ou organização inclui também as questões relacionadas à segurança e à saúde do trabalhador e às da própria organização. Quando falamos em gerenciamento de riscos, podemos abordar as condições físicas, humanas e financeiras de uma empresa.
De forma genérica, podemos dizer que o gerenciamento de risco consiste no controle de situações que possam causar danos à empresa e às pessoas que nela atuam, e avaliação de risco verifica se as decisões e as medidas adotadas são razoáveis para evitar os danos.
No que diz respeito à saúde ocupacional, o gerenciamento de risco é uma importante ferramenta utilizada na prevenção de acidentes, sendo as avaliações focadas na segurança e na saúde do trabalhador e as decisões voltadas para a implementação de ações e medidas de proteção adequadas, bem como o uso de equipamentos específicos (GALANTE, 2015).
A avaliação de riscos deve ser rotina na empresa e ocorrer, principalmente, se houver mudanças no processo produtivo ou no arranjo físico dessa empresa. Por exemplo, instalação de uma nova máquina, alteração de procedimentos operacionais, introdução de nova substância química no processo, entre outros.
Um Sistema de Gerenciamento de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) ou em Segurança e Saúde Ocupacional (SSO) tem como base a avaliação de risco e deve estar integrado ao gerenciamento da empresa. É por meio desse sistema que a empresa desenvolve e implementa as políticas de SST/SSO (GALANTE, 2015; BARSANO; BARBOSA, 2014).
Para o bom entendimento tanto do sistema de gerenciamento quanto das especificidades de cada etapa que o envolvem, é necessário que sejam compreendidos os principais termos e as suas relações no contexto da avaliação e da análise de riscos.
A Norma da Série de Avaliação da Segurança e Saúde no Trabalho OHSAS - 18001:2007, (OHSAS, 2007), assim como as normas ABNT ISO GUIA 73:2009 (ABNT, 2009) e ABNT NBR ISO 31000 (ABNT, 2013), entre outras normas, apresentam terminologias e definições encontradas na legislação e nas orientações referentes à avaliação, à análise e ao gerenciamento de riscos. Abordaremos aqui os principais e os que são mais utilizados quando se trata de segurança e saúde do trabalhador.
Acidentes do trabalho: na maioria das vezes, afetam apenas uma pessoa e são ocorrências que não ultrapassam os limites da empresa.
Doenças profissionais: são os danos à saúde humana originados da exposição a determinados agentes físicos, químicos e biológicos, em consequência do desenvolvimento da atividade profissional.
Ação corretiva: ação para eliminar a causa de uma não-conformidade detectada ou de outra situação indesejável. A ação corretiva tem lugar para evitar recorrências.
Ação preventiva: ação para eliminar a causa de uma potencial não-conformidade ou de outra potencial situação indesejável. Tem como objetivo prevenir ocorrências.
Ambiente externo ou contexto externo: características e informações relacionadas ao ambiente externo do sistema de referência estudado. Contexto no qual a organização desenvolve as suas atividades e busca atingir os seus objetivos. De forma concreta, inclui ruas, bairros, cidade e país. De forma abstrata, envolve cultura, costumes, sociedade, política, leis, economia e maturidade tecnológica.
Ambiente interno ou contexto interno: ambiente em que o sistema de referência está inserido. Envolve de forma concreta toda a estrutura física e lógica da organização e, de forma abstrata, envolve pessoas, cultura organizacional, processos internos, atividades desenvolvidas na organização, estrutura organizacional, funções, responsabilidades, políticas, estratégias, objetivos, sistemas de informação e processo para tomada de decisão (formal e informal).
Ameaça: é qualquer anúncio, ato, indicação, circunstância, perigo ou evento com o potencial de prejudicar, amedrontar, causar dano, gerar perdas, consequências negativas ou incerteza nos objetivos da organização. A ameaça é um dos componentes do risco. Na ABNT ISO GUIA 73:2009 (ABNT, 2009), os termos “fonte de risco” e“evento” têm significados aproximados aos utilizados neste livro para ameaça.
Análise de riscos: atividade intrínseca ao processo de avaliação de riscos, destinada à explicação de como o risco apresenta-se em um determinado sistema de referência (organização). Ocorre após a identificação dos riscos e fornece os dados necessários para a avaliação de riscos propriamente dita. É nesta etapa que se quantifica e se qualifica o risco e as suas variáveis (ameaça, vulnerabilidade, probabilidade, impacto e controles), fornecendo estimativas confiáveis para a avaliação. As estimativas produzidas durante a análise de riscos servirão de parâmetro de comparação para futuras avaliações de risco.
Avaliação de risco: processo de avaliação do risco resultante de um perigo, tendo em consideração a adequação de quaisquer controles já existentes e de decisão sobre se o risco é ou não aceitável. Pode-se dizer que é o processo de estimativa da magnitude do risco a partir da comparação de resultados com os critérios preestabelecidos, e a decisão sobre qual o nível de aceitação ou de tolerância ao risco.
Causa: origem do evento, acidente ou falha resultante do risco, ocasionada por erro humano ou material.
Confiabilidade: é a probabilidade de um equipamento, sistema ou processo ter desempenho aceitável por tempo predeterminado em condições preestabelecidas.
Critérios de risco: parâmetros utilizados no processo de avaliação de riscos, considerando os objetivos da organização, os ambientes interno e externo e outros fatores que podem influenciar na ocorrência dos eventos de risco.
Dano/consequência: gravidade da perda humana, material, ambiental ou financeira em consequência da perda do controle do risco.
Estratégia de tratamento do risco: forma como a organização avalia os riscos e define se as ações e os procedimentos são de adequação, de modificação ou de implantação de controle. O processo de tratamento do risco envolve ações individuais ou combinadas, como: alteração da probabilidade ou do impacto, controle da ameaça ou redimensionamento das vulnerabilidades. A estratégia de tratamento do risco também pode ser referenciada como mitigação do risco, prevenção ou atitude perante o risco.
Evento ou evento de risco: ocorrência (ou a sua ausência) ou mudança em um conjunto específico de circunstâncias com ou sem impacto para a organização, é causado por fatores humanos, naturais, técnicos ou biológicos.
Gestão de riscos: ações ou processos coordenados que conduzem e controlam as questões referentes a riscos em uma empresa ou organização.
Identificação de riscos: atividade estruturada e coordenada com o objetivo de reconhecer, localizar, apontar, entender, nomear, distinguir e diferenciar os riscos de uma organização e os seus componentes (ameaça, vulnerabilidade, probabilidade, impacto e controles).
Identificação do perigo: processo de reconhecer a existência de um perigo e definir as suas características.
Incidente: acontecimento relacionado com o trabalho que causa ou pode causar dano para a saúde. Ou evento ou fato negativo com potencial de causar danos.
Local de trabalho: todo e qualquer local físico no qual são realizadas atividades relacionadas com o trabalho e que estão sob o controle da organização.
Local de trabalho, para os efeitos da SST, é todo lugar onde as pessoas exercem atividades a serviço da empresa ou da organização. Exemplo: viajando (conduzindo, voando, em embarcações ou em comboios), trabalhando na propriedade de um cliente ou trabalhando em casa.
Fonte: OHSAS (2007).
Perigo (risco/hazard): fonte, situação, ato ou variável com potencial para causar danos em termos de lesões ou de ferimentos, assim como danos para a saúde, ou uma combinação destes, ou danos aos equipamentos e às estruturas.
Plano de gestão da segurança: forma, maneira ou sequência de atividades dentro da estrutura de gestão da segurança e que especifica a abordagem, os componentes de gestão e os recursos humanos, técnicos e organizacionais a serem utilizados para gerenciar a segurança frente aos riscos identificados na organização.
Política de gestão da segurança: declaração da organização contendo as suas intenções e as diretrizes gerais relacionadas aos riscos envolvidos em suas atividades e como eles serão tratados pela estrutura de gestão da segurança.
Política de SST: conjunto de intenções e de orientações gerais de uma organização, relacionadas com o seu desempenho da SST, como formalmente expressas pela gestão de topo.
Probabilidade: é a chance de uma falha ocorrer e acontecer um acidente, sendo essa falha originada de um equipamento ou de um erro humano.
Risco aceitável: risco que foi reduzido a um nível que possa ser tolerado pela organização, tomando em atenção as suas obrigações legais e a sua própria política de SST.
Risco residual: ocorre quando um risco não pode ser eliminado sem que seja eliminada a atividade envolvida, assim, o tratamento do risco é realizado com o objetivo de tornar esse risco aceitável, transformando-o, então, em residual ou remanescente.
Risco: combinação da probabilidade da ocorrência de um acontecimento perigoso ou a exposição e a severidade das lesões, ferimentos ou danos possíveis à saúde causadas pelo acontecimento ou pela exposição à determinada situação ou substância. Pode ser definido também como um efeito (positivo ou negativo) da incerteza nos objetivos e tem como variáveis: ameaça, vulnerabilidade, probabilidade, impacto e controles, sendo classificados de diferentes formas e por diferentes critérios.
Saúde e Segurança do Trabalho (SST) ou Segurança e Saúde Ocupacional (SSO): condições e fatores que afetam, ou podem afetar, a segurança e a saúde dos empregados e de outros trabalhadores (incluindo os trabalhadores temporários e o pessoal subcontratado), dos visitantes e de qualquer outra pessoa que se encontre no local de trabalho.
Sistema de Gestão da SST ou da SSO: parte do sistema de gestão de uma organização utilizada para desenvolver e implementar a política de SST/SSO e gerir os seus riscos para a SST/SSO.
Vulnerabilidade: debilidade, predisposição ou fragilidades intrínsecas a uma organização, a uma estrutura ou a um equipamento, resultando em suscetibilidade a uma ameaça (fonte de risco), possibilitando acesso a bens ou pessoas, o que pode vir a causar consequências, danos ou perdas (impacto). Organizações distintas têm níveis de exposição também distintos para as mesmas vulnerabilidades. A vulnerabilidade é um dos componentes do risco.
Segundo a OHSAS 18001 (2007), o risco ainda poder ser interpretado de três maneiras.
Risco aceitável: aquele que foi reduzido a um nível tolerável pela empresa, considerando as suas obrigações legais e a sua própria política de saúde e de segurança do trabalho.
Risco potencial: associado à capacidade do organismo de suportar ou de resistir em caso de exposição ao perigo.
Risco efetivo: é a chance provável de o trabalhador estar exposto a um risco potencial.
O risco ocupacional pode ser definido como a probabilidade de um trabalhador sofrer algum tipo de dano físico ou de saúde no exercício de sua atividade profissional. Os riscos são relativos às características da atividade desenvolvida, ao tipo de equipamento utilizado, ao tipo do processo produtivo, entre outros fatores.
Segundo a Portaria nº 3.214/1978 (BRASIL, 1978), os riscos ocupacionais podem ser classificados da maneira como será apresentada a seguir.
• Operacionais
• Riscos de acidentes: qualquer situação que possa afetar o trabalhador física ou psiquicamente, como a falta de uso de equipamentos de segurança, riscos de incêndio, iluminação, ventilação ou arranjo físico inadequados, entre outros.
• Comportamentais e ambientais
Riscos físicos: exposição dos trabalhadores a calor, frio, pressão, umidade, radiação e vibração que possam afetar, direta ou indiretamente, a segurança e a saúde do indivíduo.
Riscos químicos: substâncias, compostos ou produtos que possam ser absorvidos pelo organismo de diferentes formas e por diferentes vias em consequência da atividade e da exposição do indivíduo.
Riscos biológicos: exposição a bactérias, vírus, fungos, parasitas, entre outros.
Riscos ergonômicos: fatores que influenciam nas características psicofisiológicas do trabalhador que possam causar desconforto ou efeitos negativos à sua saúde, como repetitividade, ritmo excessivo de trabalho, levantamento de pesos, entre outros.
Os riscos ocupacionais são divididos em cinco grupos representados por diferentes cores.
No Quadro a seguir é apresentada a classificação dos principais riscos ocupacionais e a sua divisão por grupo e por cores-padrão correspondentes.
Quadro 1 - Classificação dos principais riscos ocupacionais
Fonte: USP ([2018], on-line)¹.
Mapa de Riscos Ocupacionais
O mapa de riscos ocupacionais é elaborado a partir da identificação dos riscos possíveis no ambiente de trabalho, considerando todas as variáveis e as possíveis vulnerabilidades decorrentes ou não do processo produtivo, a partir de informações obtidas junto aos trabalhadores de todos os setores, principalmente os que estão expostos aos riscos, e com a colaboração do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), caso esteja implantado na empresa (PONZETTO, 2002; NOVELLO; NUNES; MARQUES, 2011; CONKLIN, 2017).
Segundo o Anexo IV da Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994, o mapa de riscos tem por objetivos:
a. reunir as informações necessárias para estabelecer o diagnóstico da situação de segurança e saúde no trabalho na empresa;
b. possibilitar, durante a sua elaboração, a troca e a divulgação de informações entre os trabalhadores, em como estimular sua participação nas atividades de prevenção (BRASIL, 1994, on-line).
A visualização gráfica dos riscos identificados facilita o entendimento, a informação, a orientação e a prevenção no ambiente de trabalho. Deve estar sempre visível e fixada em locais acessíveis, possuir linguagem clara e objetiva.
Para a representação dos riscos, são utilizados círculos de tamanhos e cores diferentes, considerando as informações da classificação por grupos conforme a Portaria nº 3.214/1978, que indicam os fatores e os locais vulneráveis a perigos a partir da presença de agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos.
Os círculos podem ser desenhados ou colados e devem ser fixados na parte do mapa correspondente ao risco indicado. Seu tamanho varia de grande a pequeno, considerando a intensidade do tipo de risco (Figura 1).
Figura 1 – Simbologia dos riscos e gravidade
Fonte: Novello; Nunes; Marques (2011).
Pode ainda ocorrer o critério de incidência, ou seja, a existência de dois ou mais riscos de diferentes tipos em um mesmo local (GOIÁS, 2017). Neste caso, o círculo representativo de riscos deverá ser dividido em partes iguais, conforme a quantidade encontrada de tipos de riscos (Figura 2).
O risco ainda pode ser:
• Pontual: inerente a apenas um local específico ou a um equipamento, por exemplo.
• Difuso: espalha-se por todas as direções, afetando uma seção ou um setor inteiro. Por exemplo, a dispersão de vapores e gases.
Para representar um risco difuso, o círculo deve ser colocado no meio do setor com setas nas bordas distribuídas em todas as direções, indicando que aquele problema espalha-se pela área toda, conforme demonstrado na Figura 3.
Figura 3 – Representação gráfica do risco difuso
Fonte: os autores.
Figura 2 – Círculo representativo para critério de incidência
Fonte: os autores.
A classificação não é padronizada e aplicada a todos os tipos de empresas ou de organizações, e deve ser desenvolvida e adequada considerando as características específicas de cada caso, contemplando as particularidades desde a estrutura até a cultura organizacional.
Fonte: os autores.
Lembre-se que o mapa é dinâmico e os círculos podem aparecer e desaparecer, mudar de cor e tamanho de acordo com as alterações do ambiente, das tarefas, dos equipamentos, entre outras situações. Portanto, deve ser revisado periodicamente a cada modificação significativa que possa alterar a representação gráfica vigente ou nas trocas de gestão da CIPA, se for o caso.
Elaboração do Mapa de Riscos
O mapeamento dos riscos compreende as seguintes etapas: elaboração do mapa; análise dos riscos; elaboração do relatório; apresentação do trabalho; implantação e acompanhamento e avaliação.
O mapa de risco é elaborado por uma pessoa capacitada e treinada para realizar o mapeamento dos riscos ambientais, com características específicas bem desenvolvidas (GOIÁS, 2017):
• observação;
• percepção;
• criatividade;
• visão global;
• objetividade, poder de síntese;
• capacidade de comunicação;
• educação/discrição;
• bom senso;
• capacidade de organização;
• receptividade à segurança;
• persistência/agente de mudança;
• simpatia.
Etapas de Elaboração
Conforme disposto na Portaria nº 25/1994, a elaboração do mapa de riscos deverá respeitar as seguintes etapas:
a. Conhecer o processo de trabalho no local analisado:
• os trabalhadores: número, saúde, sexo, idade, treinamento profissional e de segurança;
• os instrumentos e materiais de trabalho;
• as atividades exercidas;
• o ambiente.
b. Identificar os riscos existentes no local analisado, conforme a classificação (aqui apresentado no Quadro 1).
c. Identificar as medidas preventivas existentes e a sua eficácia:
• medidas de proteção coletiva;
• medidas de organização do trabalho;
• medidas de proteção individual;
• medidas de higiene e conforto: banheiro, lavatórios, vestiários, armários, bebedouro, refeitório.
d. Identificar os indicadores de saúde:
• queixas mais frequentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos;
• acidentes de trabalho ocorridos;
• doenças profissionais diagnosticadas;
• causas mais frequentes de ausência ao trabalho.
e. Conhecer os levantamentos ambientais já realizados no local.
f. Elaborar o mapa de riscos sobre o layout da empresa, indicando por meio de círculo:
• o grupo a que pertence o risco, de acordo com a cor padronizada no Quadro 1;
• o número de trabalhadores expostos ao risco, o qual deve ser anotado dentro do círculo;
• a especificação do agente (por exemplo: químico - sílica, hexano, ácido clorídrico; ou ergonômico - repetitividade, ritmo excessivo), que deve ser anotada também dentro do círculo;
• a intensidade do risco, de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser representada por tamanhos diferentes de círculos.
A elaboração e a fixação do mapa de riscos nos locais de trabalho têm caráter obrigatório para todas as empresas que possuem CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) ou para empresas que deveriam ter instituído a CIPA ou para organizações em que ela esteja inoperante, sob a pena de punição caso o mapa não se encontre em suas dependências.
A avaliação de riscos pode ser definida como o processo de avaliação dos riscos inerentes ao local de trabalho com o objetivo de garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. Analisa sistematicamente todas as características e aspectos que envolvem o trabalhador e o ambiente de trabalho, observando os fatores com potencial para causar lesões ou danos; a possibilidade de eliminação de perigos; e verificando quais as medidas preventivas existentes ou que deveriam existir para controle dos riscos (POPOV; LYON; HOLLCROFT, 2016; NUNES, [2018], on-line)².
Assim, pode-se dizer que a avaliação de riscos consiste em um exame minucioso e crítico do local do ambiente interno e externo da empresa, a fim de identificar elementos, processos, situações e outros fatores com potencial para causar danos, principalmente à saúde do trabalhador.
Segundo Nunes ([2018], on-line)², Popov, Lyon e Hollcroft (2016), a avaliação de risco deve responder a perguntas como:
a. O que pode acontecer?
b. Em que tipo de situação ou circunstância?
c. Quais seriam as consequências?
d. Qual a probabilidade dessas consequências acontecerem?
e. O risco está efetivamente controlado?
f. Para o controle do risco são necessárias mais ações? Quais?
Etapas da Avaliação de Risco
Em todo o mundo, a avaliação de riscos ocupacionais é dividida em etapas baseadas nos mesmos princípios. Alguns países apresentam etapas mais concisas, e outras apresentam mais detalhes.
No Canadá, o documento que se refere à Saúde e Segurança no Trabalho - Identificação e Eliminação de Perigos e Avaliação e Controle de Riscos (CCOHS, 2012) estabelece as seguintes etapas.
1. Avaliação de risco: processo geral de identificação de perigos, análise e avaliação de risco. Fornece uma base para a avaliação de risco e decisões sobre controle de risco.
2. Identificação de perigo: processo de encontrar, listar e caracterizar os perigos. A informação pode incluir dados atuais e históricos, análise teórica, opiniões informadas e as preocupações das partes interessadas.
3. Análise de risco: processo para compreender a natureza dos perigos e determinar o nível de risco, inclui também a estimativa de risco.
Nova Zelândia e Austrália definem a avaliação de risco como o processo de comparação de um risco estimado em relação a determinados critérios utilizados para determinar o seu significado, sendo o controle de risco as ações que implementam decisões de avaliação de risco, podendo envolver, por sua vez, monitoramento, reavaliação e cumprimento de decisões (STANDARDS, 2009). O processo de avaliação é dividido em cinco etapas, que compreendem:
1. análise dos aspectos do trabalho com potencial de danos e a identificação dos trabalhadores passíveis de exposição ao perigo;
2. análise, classificação e priorização dos riscos existentes em ordem de importância;
3. identificação das medidas para eliminação ou controle dos riscos;
4. elaboração de um plano de prioridades e implementação das medidas preventivas e de proteção, determinando competências e prazos de execução das tarefas e os locais de aplicação;
5. acompanhamento, revisão periódica e alterações sempre que ocorrerem mudanças significativas que possam influenciar no ambiente, no desenvolvimento do trabalho ou na saúde do trabalhador.
No Brasil, a Norma ABNT NBR ISO 31000 (2013) estabelece os princípios e as diretrizes da gestão de riscos, apoiada por normas como a NR-5, a NR-7 e a NR-9, que tratam da prevenção, da proteção e do controle de acidentes e riscos ambientais, entre outras normas que abordam questões específicas, como o uso de equipamentos de proteção. As etapas da avaliação de risco no Brasil compreendem:
1. identificação dos riscos e perigos;
2. avaliação e classificação;
3. identificação dos locais e do número de trabalhadores em risco potencial;
4. identificação e implantação das ações preventivas, corretivas e de controle;
5. acompanhamento e revisão das ações implementadas e dos riscos identificados.
Segundo Nunes ([2018], on-line)², a execução da avaliação de risco deve ser feita por pessoas treinadas, com conhecimento das tarefas desenvolvidas no ambiente analisado. Tal execução deve levar em consideração não apenas as informações genéricas dos riscos e perigos, mas também:
• os métodos utilizados no desenvolvimento das atividades;
• qual a exposição potencial e real dos trabalhadores ao risco;
• local, tempo e frequência da tarefa realizada inerente ao risco;
• interações e sinergias com outras atividades;
• a cultura organizacional e individual que influenciam diretamente ou indiretamente as ações dos trabalhadores;
• o ciclo de vida do produto, processo ou serviço;
• treinamento dos trabalhadores para desenvolvimento da atividade, operação de maquinário, ação em casos de emergência;
• condições do ambiente interno e externo onde são realizadas as tarefas e possíveis influências, como clima, temperatura, entre outros.
Nunes ([2018], on-line)² afirma que “ao determinar o nível de risco associado ao perigo, o empregador e o comitê de saúde e segurança (quando apropriado) podem decidir se um programa de controle é necessário e a que nível”.
A NR-9 (BRASIL, 1978, on-line) estabelece as diretrizes para a NR-01 sobre agentes físicos, químicos e biológicos, fato que extingue a necessidade de elaboração do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Atualmente, há obrigatoriedade de elaboração e implementação do PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) por parte de todos os empregadores e instituições, com o objetivo de preservar a saúde
9.3.1 –A identificação das exposições ocupacionais aos agentes físicos, químicos e biológicos deverá considerar:
a) descrição das atividades;
b) identificação do agente e formas de exposição;
c) possíveis lesões ou agravos à saúde relacionados às exposições identificadas;
d) fatores determinantes da exposição;
e) medidas de prevenção já existentes;
f) identificação dos grupos de trabalhadores expostos.
Para saber mais acerca da Norma Regulamentadora 9 (NR-9), Avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos, acesse: <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados.>.
Fonte: os autores.
Formulário de Avaliação de Risco
Como já discutimos antes, não existe um padrão para a avaliação de risco, apenas princípios básicos que são seguidos no mundo todo, e cada empresa ou organização deve escolher o método que melhor adequa-se à sua realidade, considerando a sua atividade, ambiente e cultura organizacional.
O Canadian Centre of Occupational Health and Safety (CCOHS - Centro Canadense de Saúde e Segurança Ocupacional) apresenta como sugestão seis pontos de avaliação a serem considerados e que podem ser aplicados a qualquer empresa ou organização, conforme apresentado no Quadro a seguir.
Quadro 2 - Informações a serem consideradas na avaliação de riscos
Fonte: CCOHS (2017, traduzido pelos autores).
Após considerar as informações do Quadro 1, o responsável ou a equipe de execução da avaliação de risco deve preencher um formulário pré-definido para registro das informações. A avaliação pode variar de acordo com a situação, e pode ser utilizada uma lista de verificação, uma matriz de avaliação ou outro método decidido pela equipe.
É fundamental a documentação dos resultados da avaliação, pois as informações servirão de base para a orientação quanto às medidas preventivas, corretivas ou de controle a serem implementadas na empresa, bem como no monitoramento revisão dos riscos identificados.
No Quadro a seguir é apresentado o exemplo de formulário de avaliação de risco criado pelo CCOHS.
Quadro 3 - Exemplo de Formulário de Avaliação de Risco - CCOHS
Fonte: CCOHS (2012, tradução dos autores).
Os registros devem atestar que o perigo foi revisado com cautela e os seus riscos foram determinados corretamente, que as medidas implementadas são adequadas e que houve revisão e monitoramento de todos os perigos no local de trabalho.
Uma avaliação cuidadosa em relação à exposição individual ao risco deve ser realizada para trabalhadores de grupos especiais, como grupos vulneráveis, trabalhadores novos ou inexperientes no desenvolvimento da atividade, ou, ainda, para os que estão diretamente envolvidos na atividade geradora do risco (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2011; BARSANO; BARBOSA, 2014; CCOHS, 2012).
“A classificação de risco é a linha de base para a seleção de ações de segurança a serem implementadas e para definir esse prazo, ou seja, a urgência da implementação das medidas corretivas de segurança” (CCOHS, 2012, p. 10, tradução dos autores). Vale ressaltar que uma base consistente para a avaliação de risco de uma empresa ou organização parte do estabelecimento de critérios de aceitabilidade dos riscos, o que deve envolver a consulta aos trabalhadores e às outras partes interessadas, além de levar em conta a legislação vigente e a orientação de órgãos pertinentes à segurança e à saúde do trabalhador, quando necessário.