Panorama Musicar Local

Nesta seção, apresentamos um panorama das pesquisas ligadas ao Projeto Temático "O musicar local: novas trilhas para a etnomusicologia", abrangendo os níveis de Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado.

Taquaras, tambores e violas: relações entre musicar e localidade na construção de narrativas audiovisuais

Este projeto volta-se para a investigação da relação entre o musicar e a localidade na produção de um conjunto de narrativas audiovisuais específicas. Trata-se da série “Taquaras, Tambores e Violas”, realizada por uma produtora de documentários que registrou a construção de instrumentos musicais e performances musicais participativas (Cf. Turino, 2008) em diversos pontos do país. Além de artigos científicos, a pesquisa resultou em algumas produções audiovisuais, a série “Vozes da Terra” (7 episódios de 12 minutos cada, 2022) e o curta-metragem “Toré” (17 min, 2022) filmado entre o povo Kariri-Xocó de Alagoas. Nesta proposta, a produção fílmica é pensada como uma forma de musicar e uma tecnologia de interatividade que coloca em relação a equipe de filmagem e os sujeitos do filme, o que possivelmente atua para a produção de novas localidades nos contextos filmados.

Alice Villela

Pós-Doutoranda do Departamento de Antropologia Social da USP com pesquisa sobre relações entre audiovisual e fazer musical junto ao Projeto Temático Fapesp: O Musicar Local: novas trilhas para a etnomusicologia (Unicamp/USP). Doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP (2015). É mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unicamp (2009) e possui graduação em Ciências Sociais pela Unicamp (2004). Realizou pesquisa junto aos Asuriní do Xingu (PA) entre 2005 e 2015 investigando temas como a performance no ritual indígena, noções de imagem, fotografia, audiovisual e produção de imagens. Integra o Gravi - Grupo de Antropologia Visual/USP, o Napedra - Núcleo de Antropologia, Performance e Drama/USP e o PAM - Pesquisas em Antropologia Musical/USP. Realizou estágio de pesquisa junto ao EREA - Centre Enseignement et Recherche en Ethnologie Amérindienne/LESC/CNRS/Université Paris X Nanterre, Paris, França (entre agosto de 2013 e julho de 2014).

A Construção do Conhecimento Musical Grego Antigo na Atualidade

No passado, alguns estudiosos do mundo da Grécia Antiga asseguraram não ser possível conhecer a sonoridade da música grega antiga. Porém, atualmente existe um movimento que busca resgatar como teria soado essa música a partir dos documentos musicais que sobreviveram ao tempo. Por conta dos questionamentos de vários acadêmicos, hoje temos transcrições de todos os documentos musicais gregos antigos sobreviventes no sistema de notação ocidental assim como performances dessas obras. Além disso, novos questionamentos referentes a essa música vêm surgindo, como as questões levantadas por Stefan Hagel (2009), que argumentou que as transcrições feitas até então estariam mais agudas do que teriam soado. Este projeto de pesquisa, portanto, objetiva estudar como a construção do conhecimento musical grego antigo está sendo desenvolvida atualmente. Além disso, também busca olhar como essa música está sendo pesquisada, disseminada, praticada e percebida. O projeto entende que a prática contemporânea e o estudo da música grega antiga são formas de “musicar” (SMALL, 1998), que ocorrem junto a uma “comunidade de prática” (WENGER, 1998) músico-acadêmica. Além disso, o projeto também visa promover entendimentos sobre os aspectos musicológicos da música grega antiga e sobre as pessoas envolvidas no estudo e performance dessa música atualmente.

Ana Maria Ribeiro

Sou Bacharela em Música, modalidade Flauta Transversal, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Iniciei meus estudos em Música em 2010, na Escola de Música “Carlos Viganó”, de Araras. Entre 2014 e 2016, estudei Flauta Transversal no Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”. Em 2017, comecei a estudar Música, habilitação em Flauta Transversal, na Unicamp. Foi na Unicamp que tive o meu primeiro contato com música grega antiga, meu objeto de pesquisa. A partir daí, desenvolvi três Iniciações Científicas sobre esse assunto, sendo que a última fez parte do Projeto Temático “O Musicar Local”. Atualmente, desenvolvo um mestrado no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp.

A música antiga no estado de São Paulo: histórias e musicares

Com a grande popularidade de filmes e séries como "Vikings", "The Last Kingdom" e "The Witcher", que mostram a época medieval de forma fantástica, surgiram bares e feiras medievais que recriam esses ambientes. Nesses espaços, a música surge como mais um elemento de caracterização do ambiente medieval e os grupos que tocam nesses locais são influenciados diretamente por essas obras literárias e audiovisuais. Sabendo disso, a pesquisa tem o objetivo de conhecer esses grupos e como eles se inserem em um mundo de arte medieval que vem crescendo no Brasil.

Bianca Ruzzene Andréo

Nascida em Ribeirão Preto e residente em Campinas, Bianca Andréo é professora de música formada em licenciatura pela Universidade Estadual de Campinas. Realiza sua pesquisa de mestrado na mesma instituição, sob orientação da Profª. Drª. Lenita Waldige Mendes Nogueira e co-orientação da Profª. Drª. Suzel Ana Reily. É membro do Estampie, grupo de música antiga dos alunos do Instituto de Artes da UNICAMP. Entre seus interesses acadêmicos estão questões relativas à etnomusicologia e à etnografia musical, etnomusicologia histórica, de aprendizado e desenvolvimento de habilidades, história da música, entre outros.

Música e Política: um estudo da cena artivista afrocolombiana

A pesquisa pretende abordar a música dentro das configurações da estética e política ligadas à memória, atravessada pela violência, como experiência e como articulação de vozes silenciadas racialmente que se colocam estrategicamente essencializadas e/ou espetacularizadas para serem escutadas. A cena estudada é composta de músicos negros (afrocolombianos), migrantes ou descendentes de migrantes, que sofrem abuso e esquecimento desde a época da colônia, sendo colocados como minoria política. Essas populações carecem de direitos e são constantemente atormentadas pelos conflitos violentos e abandono estatal, usando, então, a música como agência para suas lutas. Também fazem o uso das músicas “tradicionais” afro-pacífico-colombianas (Currulao, Bunde, Juga) fusionadas com gêneros mais influentes (Rock, Salsa, Hip-hop, Trap) para serem vistas.

Christian David Portuguez Mosquera

Mestrando em Música e graduado em Música na modalidade de cordas popular pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Tem experiência na área das artes com ênfase em música, sendo intérprete de canto e violão. Iniciou os estudos formais em música em 2014 no Conservatório Antonio María Valencia em Cali-Colômbia. Realizou pesquisa de iniciação científica sobre o “Festival de Música del Pacífico Petronio Álvarez”, vinculada ao Projeto Temático da Fapesp “O Musicar local: novas trilhas para a etnomusicologia”. Atualmente desenvolve pesquisa sobre música, política e memória da cena artivista da cidade de Cali.

Agência musical e corpo: música na vida cotidiana de capoeiristas de Campinas

A pesquisa de mestrado “Agência musical e corpo: música na vida cotidiana de capoeiristas de Campinas” realiza uma etnografia musical das rodas, treinos e outros espaços de convívio de membros da Escola de Capoeira Angola Resistência. O olhar do Musicar Local permite observar e descrever como pessoas, que não necessariamente se entendem como musicistas, mantém uma rica prática musical e são capazes, através dela, de assumir o controle de parte de suas dinâmicas sociais de corporificação. Na prática, o aprendizado de um grande conjunto de hábitos, afetos e memórias corporificadas acontece em interação com sons musicais. Assim, aprender a escutar e a reagir aos sons é tão musical quanto aprender a cantar e tocar os instrumentos. O desenvolvimento das habilidades musicais é uma das tarefas para a formação do iniciante, em meio a muitas outras que envolvem o corpo. Na relação que as diversas práticas mantêm entre si, revela-se que a música pode reconfigurar certos atributos do corpo, como coordenação, motivação, resistência, dor, prazer, etc. A partir da experiência de aprendizado do pesquisador, de relatos dos integrantes e de filmagens, a pesquisa descreve como essas interações musicais recriam corporalidades e sentimentos de pertencimento a uma localidade.

Daniel Lacerda Franco Marinho Bueno

Nascido em São Paulo e residente em Campinas, Daniel Bueno é violonista e músico popular formado pela Universidade Estadual de Campinas. Realiza sua pesquisa de mestrado na mesma instituição, sob orientação da Profª Suzel Reily. É capoeirista e aluno da Escola de Capoeira Angola Resistência, membro do conjunto de choro Manteiga de Garrafa e do coletivo cultural Nhô Arruda, grupo de Samba de Bumbo de Campinas. Entre seus interesses acadêmicos estão questões relativas à etnomusicologia e à etnografia musical, questões de corporalidade e agência, de aprendizado e desenvolvimento de habilidades, teoria da música africana e brasileira, entre outros.

O musicar do samba rural paulista: a construção do processo criativo do improviso

Pretende-se investigar os processos criativos no samba rural paulista, por meio de etnografia da performance de três grupos: Samba de roda de Pirapora (Pirapora de Bom Jesus), Samba do Cururuquara e Grito da noite (estas duas últimas da mesma localidade, Santana de Parnaíba). As músicas e as letras são tradicionais no samba rural paulista, mas existem processos de improvisação que merecem ser estudados para se entender como ocorrem os processos de diferenciação e de formação de comunidades de prática. Este projeto pretende investigar os processos criativos no samba rural paulista, por meio de etnografia da performance. Como ocorre a construção do improviso no fazer musical e de seu possível impacto nas relações sociais (fricções) e nas práticas performativas dos grupos de samba rural paulista. Com práticas paralelas dentro de uma manifestação, mas em lugares diferentes, formam uma comunidade que mantém a tradição, se reconhecem uns aos outros, mas por causa da dinâmica própria de cada grupo geram diferenças e fricções entre si.

Ellis Regina Sanchez Hermoza

É estudante de Doutorado pela Universidade Estadual de Campinas, na área de etnomusicologia. Pesquisa os processos criativos no Samba Rural Paulista. Possui Mestrado em Música na área de Música: Teoria, Criação e Prática pela UNICAMP, concluído em 2019. No ano de 2005 ingressou no curso de Bacharelado em Educação Artística, Especialidade em Folclore pela Escuela Nacional Superior de Folklore "J. M. A." em Lima, Peru. Participa ativamente das reuniões bimensais do Projeto Temático Fapesp 2016/05318-7 "O Musicar Local”. Em 2019, conformou a comissão artística do IX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Etnomusicologia. Atuou também como pesquisadora etnomusicóloga do samba rural paulista, prestando serviço para o Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP), no qual preparou um dossiê para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Esse dossiê é um registro do Samba de Bumbo como patrimônio histórico-cultural imaterial brasileiro.

Brincar, brincadeira, brinquedo & brincante: musicalidades brasileiras

Pesquisa-se a manifestação do brincar e seu campo semântico – brincadeira, brinquedo, brincante – aplicado à música nas culturas populares brasileiras e da infância. Na língua portuguesa, utiliza-se de duas terminologias para identificar o fenômeno lúdico – jogar e brincar – diferentemente do francês e do inglês que utilizam um só verbo traduzido por jouer e to play. Questiona-se quais são estas distinções: no Brasil, brincar é utilizado tanto no mundo da infância quanto em múltiplas expressões oriundas das culturas populares como Cavalo-Marinho, Jongo, Coco, Frevo, entre outros, em quais brincadeiras, brinquedos e brincantes são musicais e geram música. Indaga-se quais são as relações intergeracionais do brincar ligado ao fazer musical. Repare-se que este verbo participa de processos criativos e aponta para meios de superação e de transformação: ao brincar uma criança traz “linguagens de conhecimento” e os brincantes adultos trazem subversão, crítica política e encantamento, viabilizando formas de viver em meios hostis de dominação. A pesquisa visa entender como estes brincares musicais convergem em espaços educativos e participam da construção de uma localidade, através de oficinas e pesquisa de campo realizadas na Casa Redonda Centro de Estudos e OCA Escola Cultural localizados no município de Carapicuíba, São Paulo.

Emma Charlotte Dickson

Emma Charlotte Dickson é mestranda bolsista em etnomusicologia pela Haute École de Musique de Genève/Suíça (HEM-GE), com parceria no Instituto de Artes da Unicamp (SP), e integrante do projeto temático “O Musicar Local: novas trilhas para a etnomusicologia” (FAPESP). Pesquisa a manifestação do brincar e seu campo semântico aplicado à música nas culturas populares brasileiras e da infância. É graduada em Licenciatura em Música pelo Conservatório Brasileiro de Música (CBM/RJ-2015), técnica em Programação Neurolinguística pelo Instituto Psynapse (Paris/FR-2015) e facilitadora pelo Programa Germinar EcoSocial (2016). Atuou como professora de música na pedagogia Waldorf no estado de São Paulo e formou-se em Antropomúsica pelo Instituto OuvirAtivo (2018). Foi membro ativo da Associação Agroecológica de Teresópolis (RJ) onde fomentou o projeto “Música na Feira”. Como musicista de flauta transversal está co-criando a obra musical “Cantigas da Última Gota d’Agua”. Atua nas áreas de educação, etnomusicologia e socioambiental.

O Futuro Ainda Existe: uma experiência do musicar local

Danilo Schultz foi um músico natural de Poços de Caldas (MG), atuando principalmente nesta cidade e em São Paulo (SP). Entre suas atividades musicais, destacam-se suas participações em bandas de rock, mas também em grupos regionais, rodas de choro e de música instrumental. Atuou ainda como professor de violão do Conservatório Municipal Antonio Ferrucio Viviani. Aos 36 anos, foi diagnosticado com uma doença em estágio avançado, o que o impulsionou a gravar um disco de composições próprias e a manter também um diário. O disco foi finalizado pelos parceiros musicais de Danilo e lançado como uma obra póstuma a partir de uma campanha de financiamento coletivo. O trabalho, portanto, partindo da noção de Musicar Local, tem como proposta a busca de significações desse processo de construção do disco enquanto uma experiência de narrativa musical e coletiva, que conjuga, por exemplo, experiências de despedida, celebração da vida e também de luto.

Esdras Garcia Pereira

Graduado em Música pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Realizou as pesquisas "O Clube da Esquina e seus aspectos composicionais na bateria" (CNPq/2029-2020) e "O Futuro ainda existe: uma experiência do musicar local" (FAPESP/2020-2021). Tem interesse nas áreas de Música Popular e Etnomusicologia.

Musicking in the Spirit: worship, community and the making of locality among Nigerian Pentecostals in the diaspora

This project explores the relationship between music and locality by looking at practices, experiences, and perceptions of musicking among Nigerian Pentecostal communities in distinct diasporic settings. Employing a multi-sited methodology, it comprises ethnographic fieldwork in Sao Paulo, Lagos, Manchester, London, and the social media to understand the ways in which local musicking informs and reflects the global circulation of popular religious movements, such as Nigerian Pentecostalism. In line with the Thematic Project ‘Local Musicking: new pathways in ethnomusicology’, locality is approached as a place in-the-making, reflecting shared socio-musical practice and experience. Furthermore, being concerned with musicking in diasporic and religious communities, the project’s orientation extends to the discussion of translocality, as a place in-between: distinct geographic locales; and secular and spiritual states of being. In this sense, by looking at the ways in which musical practice shapes and is shaped by cultural practice between geographical and experiential localities, the project investigates (trans)localities of musicking. This examination addresses understandings of the multi-faceted relationship of musicking and locality-production, as well as of the role of this relationship in the moulding of globally-spread cultures. In addition, this project attends to a significant gap in the understudied, though massive, movement of Nigerian Pentecostalism.

Evanthia Patsiaoura

Evanthia got her PhD in 2015 from Queen's University Belfast, where she taught Anthropology and Ethnomusicology between 2013 and 2016. Subsequently, she was awarded two postdoctoral fellowships from FAPESP, which allowed her to conduct fieldwork in Sao Paulo, Lagos, Manchester, London, and the social media between 2018-2020. In August 2021 she joined the Music Department of the University of Manchester as a Lecturer in Ethnomusicology, directing a range of UG and PG courses in Ethnomusicology, Ethnography and Fieldwork, as well as the Nigerian Gospel Singing ensemble. Evanthia works on the intersections of music, spiritual experience, popular culture and locality, with a specialization on Nigerian gospel musics and Nigerian Pentecostalism in local and global perspective. She has published in the journals Popular Music and Society and Mana: Studies in Social Anthropology, in The Sage Research Methods Foundations and The Routledge Companion to the Study of Local Musicking, among other outlets.

Os tambores que vibram em nós: a comunidade de prática do taiko na cidade de Atibaia (SP)

O projeto “Os tambores que vibram em nós: a comunidade de prática do taiko na cidade de Atibaia (SP)” busca investigar, através de observação participante, o fazer musical do grupo Kawasuji Seiryu Daiko, conjunto de tocadores de taiko da cidade de Atibaia, no interior de São Paulo. Os taiko são tambores usados em diversas manifestações artístico/culturais há séculos no Japão. No entanto, foi somente em meados do século XX que os grupos formados majoritariamente por tambores, os kumi-daiko, se popularizaram em todo o mundo, principalmente em comunidades imigrantes. Em Atibaia, o grupo foi fundado em 2002, quando da vinda do sensei japonês Yukihisa Oda ao país. Aqui abordado enquanto comunidade de prática, a pesquisa busca entender como as práticas vivenciadas pelos tocadores ajudam o grupo a criar um repertório compartilhado único, que traz consigo noções de comunidade e identidade, ajudando seus integrantes a ressignificarem suas relações com uma ideia de japonesidade, seja entre descendentes ou não-descendentes de imigrantes japoneses. Na convivência semanal da comunidade, vão se criando narrativas, histórias e trocas enquanto aprendemos os toques dos tambores. Assim, a relação deste grupo com seu musicar torna-se, além de uma prática musical, uma conexão com uma ideia de pertencimento e celebração.

Flávio Rodrigues

Flávio Rodrigues é mestrando em Música, com ênfase em Etnomusicologia, pela Universidade Estadual de Campinas, onde desenvolve o projeto de pesquisa “Os tambores que vibram em nós: a comunidade de prática do taiko na cidade de Atibaia (SP)” como bolsista CAPES-PROEX sob orientação de Suzel Ana Reily. Possui graduação em Música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado (2015), com especialização em Musicoterapia Preventiva e Social pelo Centro Universitário FMU (2017) e extensão em Gestão Cultural pela PUC-SP (2018). É pesquisador integrante do projeto temático “O Musicar Local: novas trilhas para a etnomusicologia” desde 2020. Atua também como músico, compositor e educador.

O musicar clubber: corpo e subjetividades em cenas de música eletrônica underground de São Paulo e Berlim

O objetivo desta pesquisa é investigar duas cenas de festas de música eletrônica underground, localizadas respectivamente nas cidades de São Paulo e Berlim. Tais festas reúnem pessoas para dançar e ouvir música, consumir drogas lícitas e ilícitas e socializar. São ambientes férteis para experimentos estéticos e sensoriais, e proporcionam espaço para vivência de práticas erótico-afetivas diversas, além de contarem frequentemente com performances artísticas que levantam questões sobre corpos fora do padrão, gênero, sexualidade, raça e classe. O foco recai sobre os aspectos musicais das cenas em questão: mostro como a música eletrônica underground se liga a determinadas formas de sociabilidades, subjetividades e usos do corpo e do tempo. Seguindo a relação entre o musicar e a produção de localidades, tema central do Projeto Temático, as relações entre as cenas e as cidades também são tematizadas; analiso ainda a circulação entre as duas cenas e o papel fundamental exercido pela internet na formação de translocalidades.

Gibran Teixeira Braga

Gibran Teixeira Braga é antropólogo, DJ e produtor de festas. Doutor em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo - PPGAS/USP, é membro do NUMAS (Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença) e do PAM (Pesquisas em Antropologia Musical). Atualmente, é pesquisador visitante na Freie Universität, em Berlim, parte de seu pós-doutorado pelo PPGAS/USP, com a pesquisa "O musicar clubber: corpo e subjetividades em cenas de música eletrônica underground de São Paulo e Berlim".

O musicar local no jornalismo de Mário de Andrade e Fernando Lopes-Graça

Faço parte da equipe do temático desde sua elaboração, em 2015. Na época, eu era doutoranda e pesquisava as composições musicais de temática brasileira do português Fernando Lopes-Graça (1906-1994). As leituras de base do projeto, aliadas à pesquisa documental, análise musical e entrevistas me ajudaram a pensar sobre diferentes formas de relação do compositor com a localidade – no sentido físico e como ideal –, sua abordagem da música de outros países e também as nuances e imbricações entre amador/profissional e participativo/apresentacional em sua atuação à frente do Coro da Academia de Amadores de Música, grupo que fundou nos anos 40 e dirigiu até quase o fim da vida, e para o qual compôs centenas de canções, tanto de cunho político como baseadas em melodias de tradição oral. Ao longo da vigência do temático, defendi a tese e iniciei um projeto de pós-doutorado sobre o jornalismo musical de Lopes-Graça e de Mário de Andrade. As próprias questões que foram e têm sido levantadas originaram-se e relacionam-se estreitamente com o projeto, como o olhar de ambos para o fazer musical cotidiano e o papel social do artista, a relação entre música local/nacional e “universal”, erudita e popular e entre língua e música.

Guilhermina Lopes

Guilhermina Lopes é pós-doutoranda no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo, sob supervisão da Profa. Dra. Flávia Toni, com pesquisa sobre o jornalismo musical de Mário de Andrade e do português Fernando Lopes-Graça (1906-1994), financiada pela FAPESP e vinculada ao projeto temático “O Musicar Local”. Doutorou-se pela UNICAMP, sob orientação da Profa. Dra. Lenita Nogueira, com pesquisa sobre a obra musical de temática brasileira de Fernando Lopes-Graça, tendo realizado um estágio PDSE-CAPES, sob orientação do Prof. Dr. Mário Vieira de Carvalho, no CESEM- Universidade Nova de Lisboa, instituição à qual permanece ligada como pesquisadora colaboradora. Realizou nessa mesma unidade de investigação um estágio BEPE entre fevereiro e junho de 2022, sob supervisão do Prof. Dr. Paulo Ferreira de Castro. Atua também como cantora lírica, tendo realizado recitais no Brasil e em Portugal dedicados à obra de Lopes-Graça e à canção de câmara brasileira do século XX.

O trabalho musical comunitário: a vida social e econômica da Banda Dona Gabriela

A pesquisa trata da Banda Dona Gabriela, uma banda de música fundada em 1938 na zona rural de São João da Boa Vista – SP, que se mantém em atividade até os dias atuais, através de ensaios e apresentações semanais na praça central da cidade. No ano de 2005, a banda passou por uma grande mudança em seu repertório e instrumentação, se transformando de uma banda de música tradicional, que toca dobrados e marchas para uma big band. Apesar de se tratar de uma banda comunitária, os membros recebem um salário mensal de R$ 350 pago pelo departamento de cultura da cidade, característica que dá um caráter ambíguo, tanto de trabalho quanto de lazer, às atividades do grupo. Assim, por meio da participação nas atividades do conjunto e entrevistas com os membros, buscou-se investigar seus musicares cotidianos, a fim de compreender como suas práticas se adaptaram ao longo do tempo e de que modo a relação lazer/trabalho se articula no dia a dia.

João Henrique Amancio Gião

João Henrique Gião é estudante de graduação em Música Popular – Violão, pela UNICAMP. Desenvolve a iniciação científica “O trabalho musical comunitário: a vida social e econômica da Banda Dona Gabriela”, sob orientação da Profa. Dra. Suzel Ana Reily. Tem como áreas de interesse: bandas de música, comunidades de prática e musicar comunitário. Atua profissionalmente como instrumentista, professor particular de violão, sound designer e compositor de trilhas sonoras.

A Constituição do Corpo e da Localidade no Maracatu de Baque Virado

A pesquisa, a partir do trabalho de campo com o Maracatu de Baque Virado Ouro do Congo, buscou entender o corpo enquanto lugar privilegiado na produção e transmissão de saberes, bem como na conformação e atualização de localidades. Essas discussões têm como ponto de partida as relações estabelecidas entre os diferentes grupos que criam e acessam o universo do maracatu: as nações e os grupos de maracatu. Busca-se aqui chegar ao corpo enquanto elemento chave para a compreensão tanto dos universos de sentido compartilhado entre nação e grupo, quanto das práticas que distinguem essas duas categorias. Com o auxílio de materiais audiovisuais construídos a partir do campo, busco compreender como esses corpos se constroem, transitam e se colocam no espaço em relação a si mesmos, à história do maracatu, às indumentárias, símbolos, instrumentos e também em relação à cidade. Tanto os trânsitos criados pelos grupos no contexto físico da cidade, quanto os trânsitos de discursos e práticas entre os corpos que brincam maracatu, podem ser enxergados como centrais na construção de localidades específicas.

Kelwin Marques Garcia dos Santos

Graduado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Desenvolveu a pesquisa de iniciação científica intitulada “A Constituição do Corpo e da Localidade no Maracatu de Baque Virado: um esforço a partir da Antropologia Multimodal”, junto ao grupo temático da FAPESP “O Musicar Local: Novas Trilhas para a Etnomusicologia”. Possui interesse na área de Fotografia, Antropologia Visual, Antropologia Multimodal, Antropologia das Populações Afro-brasileiras e Etnomusicologia.

O fazer musical do carimbó paraense: música, política e construção de um patrimônio cultural brasileiro

Este projeto investigou o musicar do carimbó paraense e suas relações com o universo das políticas públicas – particularmente, as de patrimônio imaterial. A partir de uma etnografia em várias cidades paraenses, acompanhei uma rede de carimbozeiros, explorando as relações entre música e política e atentando para o papel de fluxos, deslocamentos e conexões entre pessoas, saberes e artefatos. Algumas das questões investigadas foram: como é o musicar produzido em associação a políticas públicas e ativismos culturais? Quais as implicações em termos de linguagem, práticas e relações? Qual o papel desse musicar na circulação de pessoas, na realização de encontros e na construção de redes de produção, difusão, pesquisa e militância na área do patrimônio e das culturas populares? Os resultados obtidos apontam para o forte protagonismo de carimbozeiras e carimbozeiros, e para o estreitamento de laços entre grupos de carimbó no Estado. A manifestação, por sua vez, constitui-se hoje simultaneamente como patrimônio, fazer musical e fazer político; ela se reconfigurou ao associar-se a práticas do universo das políticas públicas e de ativismos culturais, bem como a partir da apropriação de um conjunto de valores, práticas e vocabulários do “patrimônio”.

Lorena Avellar de Muniagurria

Atua nas áreas de Antropologia das formas expressivas e Antropologia da política, com experiência nos seguintes temas: políticas públicas em arte e cultura, patrimônio imaterial, patrimônio musical, ativismo cultural, participação social, diversidade cultural, ações educativas em arte. É pós-doutoranda (IA/UNICAMP) e bolsista Fapesp junto ao Projeto Temático “O Musicar Local”, onde desenvolve a pesquisa “O fazer musical do carimbó paraense: música, política e construção de um patrimônio cultural brasileiro”. Doutora e mestre em Antropologia Social (USP/2016; UFRGS/2006), graduada em Ciências Sociais (UFRGS/2003), foi pesquisadora visitante no Lemann Center for Brazilian Studies/UIUC (2019-2020) e no Graduate Center/CUNY (2015). É autora dos livros “Políticas da Cultura: trânsitos, encontros e militância na construção de uma política nacional” (Humanitas; Fapesp: 2018), “Ganhar o olhar: ações de mediação em exposições de artes visuais” (Edição do Autor: 2021), e co-autora de “Leitura e interpretação de textos historiográficos” (Intersaberes: 2017) juntamente a Bruno Zorek.

V A P O R : A produção de Localidade e as disputas de sentido no movimento Vaporwave

O Vaporwave surge na década de 2010 como um microgênero da música eletrônica a partir de comunidades online como o Reddit, 4chan, Tumblr e YouTube. Utilizando distorções exageradas, som grave e ritornelos repetitivos, o gênero cria a partir da paisagem sônica dos anos 80 e 90 um novo material, que recontextualiza tais sons na Internet contemporânea. A fruição do Vaporwave é justamente vivenciar e transitar nestes espaços de rememoração, reverberação e plasticidade temporal.

Lucca Palmieri

Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e atualmente mestrando no Programa de Pós-Graduação em Antropologia na Universidade de São Paulo. Participo do Projeto Temático ‘’O Musicar Local’’ com a minha pesquisa sobre o Vaporwave. Esta perpassa uma série de campos, mas principalmente pela Etnomusicologia, Antropologia da Arte, Antropologia Política e Filosofia.

Boi da Floresta e o Quilombo Urbano Liberdade: musicares, localidades e sonoridades possíveis na pandemia

Esta pesquisa se propõe a entender como o Boi da Floresta de Mestre Apolônio, localizado em São Luís (MA), e sua comunidade, o Quilombo Urbano Liberdade, vivenciaram a pandemia do COVID-19, compreendendo que musicares foram possíveis nos anos de 2020 e 2021. O termo musicar, traduzido por Reily, Hikiji e Toni (2016) é proveniente de “musicking”, termo criado por Christopher Small (1999) para definir diversas maneiras de engajamentos ligados à produção e vivência de música — o que envolve ações como assistir a uma apresentação, preparar-se para ela, ensaiar, ouvir música, pensar sobre ela, entre outras. Com a impossibilidade de aglomerações, encontros presenciais e do São João, analisamos quais estratégias foram utilizadas para dar continuidade à tradição, bem como oferecer assistência aos brincantes e à comunidade. Mostramos as relações de vizinhança, senso de comunidade e colaboração, constantemente construídas e reafirmadas por atividades de grupos como o Boi da Floresta, foram fundamentais para enfrentar uma situação extrema de exceção no “pedaço” (MAGNANI, 2002) do Quilombo Urbano Liberdade. O trabalho analisa a também a dinâmica sonora da região, entendendo como a ausência de atividades sonoro-culturais no bairro, provocaram o silenciamento momentâneo de uma comunidade considerada periférica, bem como sobre a importância do São João como um momento de circulações e criações de “manchas” (MAGNANI, 2002). Neste contexto etnográfico, a pesquisa traz discussões relacionadas à localidades e novos espaços formados (CERTEAU, 1998), alterações na paisagem sonora (SCHAFER, 1993) e a virtualização de musicares que se davam somente de modo presencial.

Luiza Fernandes Coelho

Mestranda na linha de pesquisa de Música, Cultura e Sociedade pela Unicamp, sob orientação da professora Suzel Reily. Graduada em Comunicação Social pela Universidade de São Paulo (ECA USP), tem na música e no audiovisual seus principais eixos de estudo e atuação. Foi bolsista de intercâmbio acadêmico, onde estudou por um semestre em Birmingham City University (BCU), na Inglaterra, onde aprofundou estudos nas áreas de documentário, vídeos musicais e estudos de música popular. Foi bolsista de iniciação científica pelo CNPq no projeto “Games For Change”, do Departamento de Cinema, Rádio e TV (ECA USP). Realizou o documentário média metragem “O Divino em Mim” (2018), que foi contemplado pela edição 2017 do projeto Curtas Universitários (Canal Futura, ABTU e Rede Globo). O trabalho também foi selecionado na 41a edição do Festival Guarnicê de Cinema e no IX Encontro da Associação Brasileira de Etnomusicologia/XII EEMU da Unicamp (abril/2019). Foi da equipe da Maracá Cultura Brasileira, tendo participado da digitalização de seu acervo de culturas tradicionais brasileiras, bem como da produção de filmes relacionados ao tema. Estudou guitarra em centros de música como Escola de Música do Estado do Maranhão (EMEM) e Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP). É idealizadora, compositora e guitarrista da Banda Berberes. O primeiro disco do grupo foi selecionado em edital, com repercussão em canais como revista Bravo!, playlists curatoriais do Spotify (Brasil Instrumental) e YoutubeMusic (Brasil Instrumental), Mirante (online e rádio) e Rádio Universidade. É integrante do Grupo Cupuaçu de Danças Populares.

Jallalla São Paulo: interculturalidade no musicar andino entre migrantes bolivianos

Esse trabalho de doutoramento tem o objetivo de analisar a presença de práticas musicais autóctones bolivianas na cidade de São Paulo, por um viés da interculturalidade. Alguns grupos musicais que possuem um repertório autóctone (indígena) possuem o interesse de divulgar e valorizar as práticas que possuem uma cosmologia andina (aymara e quechua) e ao performar rituais e festas na cidade, garantem a manutenção de suas próprias tradições ao mesmo tempo que colaboram para a construção de um diálogo intercultural ao compartilhar e intencionar trocas culturais. Algumas festividades como Ano novo andino amazónico e Festa de todos Santos são celebradas na cidade e este trabalho se debruça nos significados dessas festas organizadas na cidade.

Mariana Teófilo

Educadora musical, musicista e atuante em projetos vinculados à temática de migrações internacionais. Formada em música pela Universidade Estadual Julio Mesquita Filho (Unesp), possui mestrado pela universidade estadual de Santa Catarina na área de musicologia/etnomusicologia e é doutoranda em música pela Unicamp.

O funk em São Paulo: um estudo sobre as agências sociais da música

A pesquisa sobre o funk traz à tona processos criativos de MCs e DJs dentro de estúdio, por um lado. Por outro, aborda também os fluxos de rua, festas abertas onde o repertório funk toca em potentes sistemas de som. Esses dois espaços percorridos pela etnografia revelaram dois musicares funk distintos, amarrados por uma identidade periférica compartilhada, um pertencimento comum às favelas paulistanas.

Meno Del Picchia

Músico e antropólogo, seu trabalho atravessa arte e ciência com enfoque nos processos criativos de produção musical. Em 2021, defendeu a tese “A Neblina e o fluxo - o funk nos corpos elétricos da quebrada” onde apresenta uma etnografia do funk em São Paulo. Como músico possui quatro discos autorais, o mais recente “Pele de Água” em 2020

A incorporação de experiências de participação em musicar local: a pesquisa audiovisual na cena DIY de São Paulo

A minha pesquisa pretende investigar a natureza da “incorporação de experiência” de participação da música local e perguntar como essas experiências se relacionam com “sentimentos de pertença” à cena local de São Paulo. Uma cena musical local é uma cena marginal, independente (envolvendo produtores locais, artistas e ouvintes), e pessoas conectadas principalmente por um conjunto comum de gostos musicais. Essas comunidades manifestam interesse e envolvimento em sua cena por frequência regular a eventos musicais locais autogeridos. Participar nesses eventos envolve não só interações musicais, mas também multissensoriais. A pesquisa visa descobrir como essas interações multissensoriais estão formando experiências incorporadas de participação na música local. Portanto, sugere-se o uso do filme antropológico como um método de pesquisa para descrever as interações multissensoriais que ocorrem em um evento de música local. Além disso, a pesquisa pretende descobrir como os membros da cena local “DIY” dão continuidade a seus engajamentos musicais em suas vidas cotidianas, quer em ambientes físicos ou virtuais. O uso da metodologia antropológica sensorial, digital e gráfica pretende investigar como as práticas musicais da vida cotidiana formam experiências incorporadas que podem ser traduzidas em sentimentos de pertencimento a essa cena particular. A proposta de pesquisa também pretende analisar a conexão entre esses “sentimentos de pertencimento” ligados a uma cena particular e a produção da localidade, entendida como “estrutura de sentimentos”. Finalmente, pergunta-se como a incorporação de experiências na participação no musicar local constrói localidade, mas também como a localidade é moldada não apenas por um sentimento de pertença, mas por suas reações e rejeições a outras localidades.

Mihai Andrei Leaha

Mihai Andrei Leaha é um pesquisador audiovisual romeno, antropólogo, escritor, cineasta e educador, atualmente morando no Brasil. Como membro da CVA (Comissão de Antropologia Visual), a CEVA e outras organizações, o pesquisador tem um envolvimento de longo prazo com curadoria, promoção e programação de filmes etnográficos em várias conferências ou eventos de festivais. Ele ensinou Antropologia Visual em Cluj e São Paulo, e já organizou conferências e workshops sobre antropologia multimodal na Romênia, Brasil e Peru. O cineasta está atualmente fazendo um pós-doutorado pela Universidade de São Paulo, pesquisando a cena local da música eletrônica DIY e desenvolvendo novos projetos de filmes em etnomusicologia audiovisual. www.mihaileaha.com.

"O Som que Dá no Pife": trajetória e resistência da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto

Neste trabalho, investigo as relações sociais, políticas e musicais que envolvem a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, no Ceará, na região do Cariri. O foco recai, principalmente, sobre a sustentação da predileção da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto por parte das autoridades governamentais e do público cratense, existente há anos, diante de outras bandas da região. A partir de suas propagadas matrizes ancestrais indígenas e do pioneirismo neste gênero de agrupamento musical defendidos pelo grupo, foram estabelecidas, pelo menos ao longo do século XX, relações com as Políticas Públicas que deram à Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto status diante dos Governos Municipal, Estadual e Federal com condecorações e salários. O discurso de superioridade forjado pelas elites do Município de Crato-CE ao longo de sua história transpassou as camadas sociais e pode ser percebido no discurso dos Irmãos Aniceto em relação às demais bandas cabaçais. Tem-se como objetivo, portanto, investigar possíveis reflexos deste discurso na sonoridade de sua música. A metodologia do etnomusicólogo britânico John Baily propõe o estudo etnográfico da prática de um instrumento musical através dos processos de ensino e aprendizagem e a relação mestre/aprendiz, proporcionando conhecimento para análises das relações entre material sonoro e histórico-cultural.

Murilo Gaspar Mendes

Murilo Gaspar Mendes é músico, professor e etnomusicólogo. Tem doutorado em música pela USP, mestrado em música pela UDESC e licenciatura em música também pela UDESC. Esteve na Universidade de Illinois em 2019 como artist-in-residence ministrando oficinas, cursos, palestras e apresentações sobre música nordestina com foco nos pífanos. Tem interesse em cultura popular e bandas de pífano.

Entre cordas e acordos, da ponta ao talão: etnografia de uma rede de projetos sociais de intervenção social pelo ensino da música

Em minha pesquisa, busco investigar as relações estabelecidas entre instituições, agentes e discursos promovidos no interior de uma rede de projetos sociais que trabalham com o ensino de música em comunidades periféricas ou identificadas como vulneráveis. Quão diversas são as iniciativas que compõem essa rede? De que forma é possível conectá-las (ou ainda, como estão relacionadas em âmbito nacional?), e qual o impacto das suas atuações localmente? De que forma as comunidades impactadas se apropriam delas? Estas são algumas perguntas que têm guiado esta pesquisa, ainda em curso.

Paula Bessa Braz

Paula Bessa Braz é antropóloga, mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e doutoranda no mesmo programa. Com pesquisa localizada no cruzamento entre as disciplinas de antropologia e etnomusicologia, também se interessa pelo papel da linguagem audiovisual na produção de conhecimento, sobretudo quando associada a processos sociais vivenciados em torno de fazeres musicais.

Floresta de Fitas

“Floresta de Fitas” é um projeto de pesquisa fílmico etno-autobiográfico que aborda a experiência musical analógica vivenciada durante a produção do LP “Saber Sobre Viver” no estúdio do engenheiro de som Hugo Gama (SP) e na aldeia dos Cinta-Larga (RO). Realizada na década de 1980, a gravação deste álbum independente foi marcada por experiências-limite de sobrevivência tanto na aldeia indígena, quanto em São Paulo. Revelando percepções sonoras e relações humanas singulares vividas neste período, que podem lançar uma luz no túnel do tempo de todos nós, “Floresta de Fitas” traz a voz da Cora Coralina tecida com a da antropóloga Carmen Junqueira criando o pano de fundo dessa contação de história, que tem ressonâncias, reverberações e interesse expresso pelas gerações que nasceram num mundo cibernético, globalizado, feito em muitas camadas virtuais, presenciais, ficcionais e seus desafios criativos de sobrevivência da ‘vida da arte’ e da ‘arte da vida’.

Priscilla Ermel

Priscilla Ermel Compositora, artista multimídia e antropóloga, é mestre em etnomusicologia indígena com a dissertação “O Sentido Mítico do Som: Ressonâncias Estéticas da Música dos Índios Cinta-Larga” (PUC – SP, 1988) e doutora em sociologia da música negro-africana com a tese “A Palavra da Música: Iniciação ao Universo Sonoro Negro-Africano Dogon” (FFLCH-USP, 1998). Realizou pós-doutorado em antropologia audiovisual com o projeto "A Tradição Oral na Música Brasileira" no Departamento de Antropologia da USP, realizando estágio de especialização no Laboratoire d’Anthropologie Sociale (LAS) do Collège de France, Paris. É pesquisadora associada do Grupo de Antropologia Visual desde 1999, FFLCH- USP.

Filmografia: Fogo das Marés; O Arco e a Lira; Brilho da Noite; Prazer Com Sagrado; O Canto das Canoas; A História em Versos; Os Engenhos de Chiquinho Carneiro; Ti Etê: Rios de Luz.

Discografia: Saber Sobre Viver; Campo de Sonhos; Tai Chi – Gestos de Equilíbrio; Cine Mato Gráfico; Origens da Luz.

www.priscillaermel.com.br

Novos espaços do funk: festas lésbicas em São Paulo

A pesquisa enfatiza o funk lésbico que é produzido e ouvido na cena de festas lésbicas que ocorre no centro da cidade de São Paulo desde 2016. As festas etnografadas são: “Sarrada no Brejo” e “Fancha”. Nessas festas, as jovens podem performar e vivenciar seus corpos em segurança, se expressar através da dança sem se preocupar com violência por discriminação. A partir das festas outras ações são realizadas, visando dar apoio a mulheres lésbicas em vulnerabilidade social, principalmente. O musicar local do funk lésbico propicia, além do engajamento político, diversão e partilhas entre as participantes. Os funks são erotizados e os palavrões são apreciados, desde que remetam ao corpo e prazer femininos. As DJs não tocam funk que contenha elemento fálico, para a alegria das participantes. O funk lésbico emerge num momento em que a violência contra indivíduos LGBTQIA+ aumenta exorbitantemente, juntamente com os casos de feminicídio motivados por lesbofobia. A sonoridade do funk incomoda tanto quanto os corpos lésbicos – ambos são renegados e marginalizados. Com uma boa dose de deboche, as minas rebolam na cara da sociedade repressora, afirmando sua autoestima, seus corpos abjetos e assumindo sua lesbiandade, a princípio em espaços privados e seguros, para que possam se afirmar na vida cotidiana.

Raquel M. Martins

Doutoranda em etnomusicologia no Departamento de Música do Instituto de Artes da UNICAMP. Bolsista do CNPq. Mestre em Educação pela USP onde pesquisou o rap do grupo Racionais como estratégia de ensino na formação de adolescentes alunos da rede pública. Graduada em música. Áreas de interesse: etnomusicologia, música popular diaspórica, estudos culturais. Atua como musicista em espaços culturais e de entretenimento na cidade de São Paulo.

Melodias do Boi – Mário de Andrade: um “fazer etnográfico em construção”

Os estudos de Mário de Andrade sobre o Bumba meu Boi, na década de 1920, considerado por ele “o de maior importância”, em Carta Testamento ao seu irmão Carlos, que seria o segundo volume do “Na Pancada do Ganzá”, denominado “As Melodias do Boi”, revelam um esforço em buscar, registrar e sistematizar os dados da pesquisa de forma bastante peculiar. Suas características, identificadas em nossas aproximações com esses dados, possibilitam-nos afirmar que constituem o embrião da Etnografia que se consolidou na década de 1930. Nessa década, Mário de Andrade, na direção do Departamento de Cultura e Recreação de São Paulo, foi personagem fundamental na fundação da Sociedade de Etnografia e Folclore/1937 e na consolidação da missão de Pesquisas Folclóricas/1938. O objetivo deste Projeto é identificar os indícios de uma “Etnografia em construção”, nos registros que o autor organizou para construir o livro acima citado. Esse contato com o “outro musical” nos estudos de Mário de Andrade, os saberes que foram sendo construídos e sistematizados a partir dessa perspectiva, passou a ser o que mais tarde tornou-se o campo de pesquisa denominado Etnomusicologia, alicerce teórico-metodológico para o desenvolvimento deste projeto.

Rosângela Francischini

Graduação e Mestrado em Psicologia/USP/SP, Doutorado em Linguística/UNICAMP, Pós-Doutorado em Estudos da Criança/UMINHO/PT. Exerci, desde 1985, funções de ensino e pesquisa e desde 1993, dediquei-me ao estudo de Metodologia de Pesquisa, assumindo disciplinas desta área na graduação e na pós-graduação/UFRN. Participei de vários eventos científicos, nacionais e internacionais, em Psicologia, Educação e Linguística, proferindo conferências e palestras. Integro o quadro de pesquisadores colaboradores no Centro de Investigação em Estudos da Criança/UMINHO. Desde 2018, estou como pesquisadora voluntária no IEB/USP, o que tem me proporcionado oportunidade de dedicação a uma área que pautou minha atuação como educadora: as expressões culturais. No IEB estou vinculada ao Projeto Melodias do Boi, em Mário de Andrade, coordenado pela Dra. Flávia Toni. O direcionamento de minhas atividades para a área de pesquisas acima referida reflete-se também na formação; tenho cursado disciplinas, na USP, em Música e Literatura e participado de cursos de curta duração, em outras instituições de ensino.

Ser/Tornar-se africano no Brasil: Fazer musical e patrimônio cultural africano em São Paulo

Temos trabalhado com músicos e artistas africanos recentemente chegados a São Paulo, em uma nova corrente migratória que tem transformado a cena musical desta megalópole. Acompanhando artistas provenientes de países como Togo, República Democrática do Congo, Moçambique e Senegal, observamos como têm vivido e ganhado a vida, que espaços de atuação têm encontrado, com que expectativas sociais têm se deparado. Chamamos esse movimento de “diáspora criativa” africana e buscamos entender como este musicar de imigrantes transforma a localidade e como é transformado por ela. Nossa pesquisa está atenta para como estes artistas inventam um patrimônio cultural como ato de questionamento e de reivindicação do passado para a construção do futuro. A produção de filmes em colaboração com os artistas foi um ponto central: Tabuluja (Acordem!) (2017), Woya Hayi Mawe – Para onde vais? (2018), e Afro-Sampas (2020) já estão no nosso site: http://www.usp.br/afrosampas. Oferecendo sua voz para movimentos sociais em prol do refúgio e da moradia, promovendo eventos que expõem a realidade de seus países de origem, construindo novos palcos para musicalidades que resultam de movimentos diaspóricos, o musicar africano em Sampa revela as dinâmicas e contradições deste país, enquanto constrói e transforma espaços na cidade.

Rose Satiko Gitirana Hikij

Rose Satiko Gitirana Hikiji é professora no Departamento de Antropologia da FFLCH-USP. Vice-coordenadora do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA-USP). Coordenadora do PAM – Pesquisas em Antropologia Musical, e vice-coordenadora do GRAVI – Grupo de Antropologia Visual. Autora dos livros “Imagem-violência - Etnografia de um cinema provocador” (2013) e “A música e o risco” (2006), co-autora de “Lá do Leste” (2013), co-organizadora de “A experiência da imagem na etnografia” (2016), “Bixiga em Artes e Ofícios” (2014), “Antropologia e Performance” (2013), “Escrituras da Imagem” (2004) e “Imagem-Conhecimento” (2009). Dirigiu ou co-dirigiu “AfroSampas” (2020), “Woya Hayi Mawe - Para onde vais?” (2018), “Tabuluja” (2017), “Violão-Canção: Uma alma brasileira” (2016), “Fabrik Funk” (2015), “A arte e a rua” (2011) entre outros filmes etnográficos. Desenvolve atualmente a pesquisa "Ser/Tornar-se africano no Brasil: Fazer musical e patrimônio cultural africano em São Paulo", em parceria com Jasper Chalcraft, com apoio da FAPESP. É bolsista de produtividade do CNPq.

Jasper Chalcraft

Antropólogo britânico, pesquisa a imigração africana como “diáspora criativa” e a relação entre patrimônio cultural contestado e inclusão social. Este aspecto foi tema de pesquisa recente como Jean Monnet Fellow no European University Institute (EUI). Foi professor visitante no Departamento de Antropologia da USP, em 2019. Co-organizou o livro “The Making of Heritage: seduction and disenchantment”. É co-diretor de filmes etnográficos premiados no Brasil e no exterior: “AfroSampas” (Melhor Longa, Anpocs 2020), “Woya Hayi Mawe - Para onde vais?” (Melhor Média, Pierre Verger 2020, Menção Honrosa, Anpocs 2021) e “Tabuluja” (indicado ao AHRC Research in Film Awards 2017, Reino Unido), e desenvolve a pesquisa "Ser/Tornar-se africano no Brasil: Fazer musical e patrimônio cultural africano em São Paulo", junto ao Projeto Temático Fapesp "O Musicar Local", em parceria com Rose Satiko Hikiji.

As flores do Sanshin: o recordar no aprendizado musical de um instrumento okinawano

Partindo de uma perspectiva antropológica, este projeto pretende analisar a prática de recordação no aprendizado de sanshin, um instrumento musical okinawano de três cordas, que mobiliza a convergência de diversas temporalidades e memórias à produção de localidade. Por meio das experiências nos ambientes ligados aos grupos musicais das associações okinawanas brasileiras, bem como por conversas com praticantes do instrumento, busca-se apreender os engajamentos, agenciamentos e interações pelos quais se tece a estrutura de sentimentos desse aprendizado musical. Para tanto, operam-se os conceitos de musicar, localidade e educação da atenção, respectivamente, de Small (1998), Appadurai (1996) e Ingold (2010; 2016). A síntese dessas perspectivas permite a compreensão das práticas musicais de sanshin enquanto dinâmicas que transcendem a espacialidade das associações e a materialidade do instrumento. Com a minha inserção em aulas de sanshin e através de conversas e entrevistas com tocadores e artesãos do instrumento, o desenvolvimento da afinação dos movimentos corporais e o recordar com outras pessoas possibilitariam que diversas experiências narrassem tanto as lembranças familiares e ancestrais, ou entre professores e alunos, como sobre a história da diáspora okinawana, da imigração no Brasil e do contexto de Okinawa/Ryukyu.

Silvia Naomi Asato

Silvia Naomi Asato é graduanda em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Atualmente, integra o grupo PAM (Pesquisas em Antropologia Musical), coordenado pela prof. Rose S. G. Hikiji, e o GEOki (Grupo de Estudos Okinawanos), ambos ligados institucionalmente à USP. Desde 2021, realiza pesquisa de iniciação científica "As flores do Sanshin: o recordar no aprendizado musical de um instrumento okinawano" pela FAPESP, junto ao Projeto Temático "O musicar local".

A turnê de Bidú Sayão e Radamés Gnattali na década de 1930: a prática de concerto e o estudo da localidade

A pesquisa tem como proposta estudar, através da coleta de recortes de jornais, críticas, cartas e programas de concerto, a turnê realizada pela soprano brasileira Bidú Sayão e pelo compositor e intérprete Radamés Gnattali na década de 1930. A partir do material coletado investigou-se a escolha do local dos concertos e como isso afetou as escolhas de repertório, observando como o contexto sociopolítico e as redes de sociabilidade moldaram este evento.

Victor Gabriel Ferreira

Natural de São Paulo, bacharel em música com habilitação em flauta transversal e mestrando em musicologia pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Durante sua graduação desenvolveu pesquisas com apoio CNPq e FAPESP, onde estudou a vida e obra do compositor Radamés Gnattali, tal como a indústria da ópera no Brasil no início do século XX e a vida da soprano brasileira Bidú Sayão. Atualmente Victor atua como flautista e se dedica ao estudo da música para o Rádio através do estudo de obras de Radamés Gnattali compostas entre as décadas de 1930 e 1950.

Eu faço o meu tempo: etnografia do fazer musical íntimo

A pesquisa propõe o estudo do musicar íntimo do compositor e cozinheiro Julio Valverde a partir de duas dimensões: individual, referente ao seu processo de composição, projeto estético e suas experiências e expectativas como artista; e local, relativa ao ambiente no qual suas obras são criadas e apresentadas a um grupo restrito de pessoas. Através do uso dos formatos escrito e audiovisual, a pesquisa discute ainda questões como a construção de si no fazer (auto)biográfico; a afirmação identitária em contextos de migração; e a agência individual na constituição da localidade.

Yuri Prado

Yuri Prado é pós-doutorando em Antropologia Social na USP e atualmente realiza estágio de pesquisa na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris. Formado em Música (Composição) pelo Departamento de Música da ECA-USP, possui Doutorado Direto pela mesma instituição, com estágio de pesquisa em etnomusicologia na Université Paris VIII. Como arranjador e compositor, foi vencedor do I Concurso de Composição da Orquestra de Câmara da USP (2010), do XIX Prêmio Nascente-USP (2011) e do I Concurso de Composição da Orquestra Jazz Sinfônica (2015). Como documentarista, produziu os filmes "Um passo para vencer" (2020) e "Dois Irmãos" (2021).