Como escrever artigos

Qual livro você recomenda para facilitar o processo de aprendizagem para a escrita de artigos científicos?

Eu escrevei um livro que auxilia a confecção de artigos científicos. O livro é vendido na internet nos sites de livrarias. A editora responsável pelo livro foi a EDUFAL. A capa pode ser vista acima desta página e um rascunho dele se encontra anexado abaixo desta página.

O pdf da versão pré-liminar do livro pode ser conseguido aqui abaixo desta página fazendo o download.

Existe alguma forma do escrito iniciante se aprofundar mais o tema?

Sim.

Existe um curso virtual que pode ser acessado pelo link abaixo:

http://bit.ly/cursoartigo

Como um iniciante deve escrever seu primeiro artigo científico?

O primeiro passo e mais importante é ter o conteúdo do artigo, ou seja, o material que é resultado da pesquisa que originará o artigo e que servirá como referencial para a escrita. O material pode ser de uma pesquisa de campo, dados secundários, busca na literatura ou outro material que sirva de conteúdo.

O segundo passo é utilizar uma técnica para escrita do artigo científico que na fase de confecção se chama manuscrito. A técnica mais simples que defendo para quem nunca escreveu e deseja confeccionar seu primeiro manuscrito é a técnica do esqueleto.

A técnica do esqueleto consiste em escrever o manuscrito em dois momentos: o primeiro, onde se faz um esboço inicial com tópicos e frases curtas; o segundo, onde se completa o manuscrito até sua forma definitiva.

É possível mostrar um modelo para o primeiro momento da técnica do esqueleto?

Sim.

O primeiro passo para a escrita é ter conteúdo para escrever. Vou utilizar como modelo o material de uma pesquisa que executei no Hospital Geral do Estado de Alagoas e que foi submetida a Comissão de Ética em Pesquisa via Plataforma Brasil.

O segundo passo é a técnica do esqueleto que se divide em dois momentos: o esboço inicial e o seguimento final. O primeiro momento se refere ao esboço inicial e pode ser visto abaixo.

INTRODUÇÃO

A intubação em sequencia rápida é um procedimento que garante a via aérea... (PERTINÊNCIA)

O sulfato de magnésio vem sendo utilizado em anestesia por apresentar características relevantes a prática da clínica como... (INEDITISMO)

(CASUSISTICA) ?????

As vantagens elencadas acima nos levaram a hipótese de que ... por isso nosso objetivo é determinar ...

MÉTODO (ficar igual ao projeto)

O estudo foi delineado como um ensaio clínico aleatorizado, duplo cego, unicêntrico e paralelo e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa ... (RBR-4xr92k).

Os critérios de inclusão foram: ...

Todos os participantes receberam a mesma técnica de indução da anestesia geral...

Os grupos desta pesquisa foram: ...

As variáveis desta pesquisa foram...

A condição clínica de intubação...

A randomização se deu ...

TABELA 1 – igual a do projeto ...

O tamanho da amostra foi calculado ...

A variável primária foi avaliada por meio do teste do qui-quadrado ...

RESULTADO

Participaram desta pesquisa ...

As características demográficas dos participantes...

A variável primária ...

A avaliação dos parâmetros hemodinâmicos ...

DISCUSSÃO

A hipótese de que...

As limitações desta pesquisa foram: ...

A condição clínica de intubação traqueal ...

A avaliação dos parâmetros hemodinâmicos ...

A implicação para a prática clínica advinda de nossos resultados ...

A principal implicação para futuras pesquisas é que ...

Em suma, o sulfato de magnésio não propiciou condições clínicas aceitáveis quando comparado ao rocurônio para intubação orotraqueal em sequencia rápida em pacientes adultos quando utilizada a dose de 50 mg/kg.

É possível mostrar um modelo para o segundo momento da técnica do esqueleto?

Sim.

O segundo passo é a técnica do esqueleto que se divide em dois momentos: o esboço inicial e o seguimento final. O segundo momento se refere a completar o manuscrito até sua forma definitiva e pode ser visto abaixo considerando o esboço inicial acima utilizado.

INTRODUÇÃO

A intubação em sequencia rápida (ISR) é um procedimento que garante a via aérea definitiva em pacientes com risco de aspiração pulmonar que envolve a pré-oxigenação, administração de medicações indutoras do sono, utilização de bloqueadores neuromusculares e a intubação traqueal que deve ocorrer preferencialmente no tempo de 1 minuto. A laringoscopia causa uma descarga simpática de catecolaminas que resulta em aumento da frequencia cardíaca, pressão arterial, demanda miocárdica de oxigênio e arritmias1.

O sulfato de magnésio (SM) vem sendo utilizado em anestesia por apresentar características relevantes a prática da clínica como: analgesia, anestesia e relaxamento muscular2,3. O SM possui duas vantagens que podem ser importantes para a intubação traqueal. A primeira, possui efeito anti-adrenérgico por redução da liberação de catecolaminas pela medula da glândula supra-renal exercendo efeito protetor para o estresse da laringoscopia e da intubação3. A segunda, existem evidências clínicas evidenciando que o SM pode potencializar a ação do bloqueador neuromuscular de agentes farmacológicos e propiciar condições para intubação traqueal sem a utilização destes agentes4,5.

As vantagens elencadas acima nos levaram a hipótese de que o SM pode propiciar relaxamento muscular para ser utilizado não associado a um bloqueador neuromuscular, por isso nosso objetivo é determinar a efetividade do sulfato de magnésio comparado ao rocurônio para intubação orotraqueal em sequencia rápida em pacientes adultos.

MÉTODO

O estudo foi delineado como um ensaio clínico aleatorizado, duplo cego, unicêntrico e paralelo e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa - Centro Universitário Tiradentes/AL - com o número do parecer 2.034.217 em 31 de maio de 2017 e identificado na Plataforma Brasil (http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil) como CAAE n?67038217.0.0000.5641 e inscrito no Registro de Ensaios Clínicos Brasileiros (RBR-4xr92k).

Os critérios de inclusão foram: idade acima de 18 anos, cirurgia urgência atendidos no local da pesquisa com diagnóstico de apendicite aguda e classificação da American Society of Anesthesiology (ASA) I e II. Os critérios de exclusão foram: gravidez, doença neuromuscular, insuficiência renal, índice de massa corporal maior que 30 kg/m2, antecipação de dificuldade de manuseio da via aérea, uso crônico de bloqueador dos canais de cálcio, uso crônico de medicamentos contendo magnésio e passado de alergia ao sulfato de magnésio. A pesquisa foi executada no Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela situado em Maceió/AL.

Todos os participantes receberam a mesma técnica de indução da anestesia geral com exceção das medicações que caracterizarão o grupo de sua participação. A técnica constou de pré-oxigenação com oxigênio a 100% por 5 minutos, acesso venoso com solução fisiológica e monitorização cardíaca com oximetria, cardioscopia e pressão arterial não invasiva. Todos receberam propofol na dose de 2,5 mg/kg e fentanil 3 µg/kg por via venosa.

Os grupos desta pesquisa foram: grupo M (GM) que recebeu sulfato de magnésio (MgSO4) por via venosa na dose de 50 mg/kg, e grupo R (GR) que recebeu brometo de rocurônio por via venosa na dose de 1 mg/kg. As medicações foram preparadas em seringa de 20 mL com água destilada sem qualquer outra marcação. A preparação da seringa foi executada por uma pessoa que não participou de nenhuma outra etapa desta pesquisa.

As variáveis desta pesquisa foram divididas em três categorias: variável primária que foi condição clínica de intubação traqueal; variáveis secundárias que foram frequencia cardíaca, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e eventos adversos; e as variáveis terciárias que foram saturação arterial de oxigênio, idade, gênero, índice de massa corporal, altura, peso e classificação do estado físico de acordo com a classificação ASA.

A condição clínica de intubação foi definida como a condição em que as vias aéreas se encontram no momento da execução da intubação orotraqueal6. A avaliação considera a laringoscopia, posicionamento das cordas vocais e reações que o paciente apresenta no momento da passagem do tubo orotraqueal nas vias aéreas e foi avaliada por meio do sistema de escore de intubação do Good Clinical Research Practice guidelines conforme a Tabela 16. Foi classificada como condição clínica aceitável e inaceitável. A condição clínica inaceitável ocorreu quando a laringoscopia foi considerada difícil, as cordas vocais estiveram fechadas ou quando houve reação muscular no momento da passagem do tubo pelas cordas vocais. A avaliação se deu pela inspeção visual no momento da intubação traqueal.

As variáveis frequencia cardíaca, pressão arterial sistólica e diastólica foram coletadas em quatro momentos: antes injeção do sulfato de magnésio ou do rocurônio, depois da injeção dos fármacos, 1 minuto após a intubação traqueal e 5 minutos após este procedimento.

A randomização se deu por meio de arremesso de dado contendo seis faces, sendo três faces pares e três faces ímpares. Quando a face do dado sorteada foi par o participante foi alocado ao grupo de intervenção (GM) e quando a face do dado sorteada foi ímpar para o grupo de comparação (GR). A alocação dos participantes foi executada depois da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido e imediatamente antes da execução da anestesia geral para manter o sigilo da alocação.

O sigilo da alocação considerando os fármacos foi garantido no momento em que as medicações foram preparadas e distribuídas em seringa de igual formato, de conteúdo incolor e sem qualquer indicação ao grupo ao qual o participante foi alocado. A informação sobre a qual grupo o participante pertencia ficou apenas sob o conhecimento de quem preparou as seringas e somente foi revelado no momento da análise dos dados.

A pessoa responsável pela avaliação dos dados do paciente e o paciente não tiveram conhecimento sobre os grupos da pesquisa. O único que tomou conhecimento dos grupos foi o participante que preparou as medicações nas seringas e que não esteve envolvido no manejo dos pacientes.

O tamanho da amostra foi calculado em 34 participantes em cada grupo considerando uma diferença de 20% para a condição clínica aceitável de intubação entre os grupos, alfa de 5%, beta de 20% e teste bicaudal utilizando a calculadora eletrônica disponível em http://www.lee.dante.br/pesquisa/amostragem/amostra.htm.

A variável primária foi avaliada por meio do teste do qui-quadrado ou Fischer quando indicado. Foi avaliada a distribuição simétrica dos dados contínuos por meio do teste de Shapiro-Wilk. O teste t de student foi utilizado para comparação das variáveis contínuas quando os dados apresentaram distribuição simétrica e o teste U de Mann-Whitney quando se verificou assimetria na distribuição. O nível de significância foi de 5%. As variáveis frequencia cardíaca, pressão arterial sistólica e diastólica foram avaliados em múltiplos momentos, por isso foi utilizada a correção de Bonferroni considerando o nível de significância de 0,01 (alfa/número de comparações). Os dados foram apresentados como porcentagem, número absoluto e média com desvio-padrão. As análises foram executadas por meio do aplicativo Biostat 5.0.

RESULTADO

Participaram desta pesquisa 68 pacientes que foram randomizados em dois grupos (Figura 1). Os participantes foram avaliados conforme sua alocação ao grupo em que foram randomizados. Durante a pesquisa não houve perdas nem exclusões. Os dados foram coletados entre os meses de julho de 2017 a julho de 2018.

As características demográficas dos participantes idade, gênero, índice de massa corporal, altura, peso e classificação do estado físico não apresentaram diferença estatística e seus resultados podem ser vistas na Tabela 2. A saturação arterial dos pacientes não diferiu entre os grupos e não foi mais baixa que 99% durante todos os momentos de análise.

A variável primária condição clínica de intubação traqueal demonstrou resultado desfavorável ao uso de magnésio quando comparado ao rocurônio. O GM apresentou 85% (29/34) dos pacientes com condição pobre, 15% (5/34) com condição clínica boa e 0% (0/34) com condição clínica excelente conforme pode ser visto na Tabela 3. Não houve falhas na intubação traqueal.

A avaliação dos parâmetros hemodinâmicos demonstrou que não houve diferença estatística na frequência cardíaca entre os grupos (Tabela 4), entretanto houve diminuição significativa das pressões arteriais sistólica (Tabela 5) e diastólica (Tabela 6) imediatamente após a infusão do sulfato de magnésio que não foi mantida nos demais momentos de análise. Houve diferença estatística para eventos adversos ocorrendo em 20% (7/34) no grupo do sulfato de magnésio e 0% (0/34) no grupo do rocurônio (p = 0,0237). O evento identificado nesta pesquisa foi sudorese.

DISCUSSÃO

A hipótese de que há efetividade do sulfato de magnésio comparado ao rocurônio para intubação orotraqueal em sequencia rápida não foi comprovada nesta pesquisa. A condição clínica de intubação traqueal foi avaliada por um protocolo internacional evidenciando respostas condizentes com uma condição inadequada a intubação traqueal. A hipótese testada surgiu devido ao relato da ação de inibição da liberação da acetilcolina na junção neuromuscular que o sulfato de magnésio possui e por sua ação potencializadora dos agentes bloqueadores neuromusculares3.

As limitações desta pesquisa foram: ausência de avaliação prévia da dificuldade de intubação traqueal, o tempo de infusão do sulfato de magnésio e ausência de mensuração dos níveis de magnésio sanguíneos. A ausência de avaliação prévia da dificuldade de intubação traqueal não comprometeu nossos resultados uma vez que todos os pacientes não apresentaram dificuldade de intubação orotraqueal e em todos foram observadas as cordas vocais indicando que nenhum participante apresentou nível maior que 2 na classificação de Cormack e Lehane7. Os grupos avaliados receberam as medicações utilizadas em seringa e num tempo não maior que 1 minuto podendo indicar que o tempo de ação seria insuficiente, porém outros pesquisadores utilizaram este mesmo esquema de administração sem prejuízo aos resultados da pesquisa. O nível sanguíneo de magnésio não foi mensurado, porém é preciso levar em consideração dois aspectos. Primeiro, os pacientes não possuíam condições predisponentes conhecidas que levassem a alterações nos níveis de magnésio. As condições são: acamados em hospital, diabetes mellitus, alcoolismo, uso de medicações e doença renal crônica3. Segunda, é objetivo de um ensaio clínico, que almeja avaliar efetividade, a semelhança do protocolo de pesquisa com as condições idênticas a prática clínica.

A condição clínica de intubação traqueal no grupo do sulfato de magnésio foi considerada pobre em 85% dos pacientes e clinicamente inaceitável. O resultado desta pesquisa difere de outros ensaios clínicos, porém o benefício das demais pesquisas pode ser explicado pelo uso do sulfato de magnésio em associação a um bloqueador neuromuscular 8,9. A utilização do sulfato de magnésio não associado ao bloqueador neuromuscular já foi avaliada em outra pesquisa com resultado positivo, entretanto há diferenças clínicas e metodológicas que podem elucidar a disparidade de resultado em relação a nossa pesquisa como: a comparação com salina, faixa etária geriátrica, a utilização do magnésio em infusão e tamanho amostral baseado em baixo poder estatístico10. O resultado negativo evidenciado em nossa pesquisa foi atribuído à dose utilizada do sulfato de magnésio que pode ter sido insuficiente para a faixa etária e patologia cirúrgica associadas. A dose ideal para a utilização de sulfato de magnésio como agente não associado a um bloqueador neuromuscular ainda não foi estabelecida não existindo consenso até o presente momento.

A avaliação dos parâmetros hemodinâmicos demonstrou que as pressões arteriais sistólica e diastólica diminuíram significativamente imediatamente após a utilização do sulfato de magnésio, porém evidenciamos que o efeito não foi mantido após a intubação traqueal. Um ensaio clínico avaliou várias doses de sulfato de magnésio para mudanças cardiovasculares a laringoscopia e a intubação achando resultados semelhantes aos nossos8. A dose utilizada em nossa pesquisa não demonstrou ser prejudicial aos pacientes no momento da intubação orotraqueal. O efeito de bloquear a resposta hemodinâmica durante a intubação traqueal do sulfato de magnésio foi evidenciada também em outros ensaios clínicos9,10,11.

A implicação para a prática clínica advinda de nossos resultados é que a dose de 50 mg/kg na ausência de um bloqueador neuromuscular é insuficiente para garantir condições clínicas aceitáveis para intubação traqueal, porém não leva a instabilidade dos parâmetros hemodinâmicos e pode ser utilizado para diminuir a resposta hemodinâmica ao estresse da intubação orotraqueal em sequência rápida. É recomendável a utilização de um bloqueador neuromuscular para garantir condições clínicas adequadas a intubação traqueal.

A principal implicação para futuras pesquisas é que doses maiores precisam ser avaliadas para identificar se o sulfato de magnésio pode ser utilizado não associado a um bloqueador neuromuscular. Condições clínicas diferentes às analisadas aqui também podem ser avaliadas como: pacientes em outra faixa etária, condições de intubação em cirurgias eletivas e doses diferentes de hipnóticos que tenham potencial para relaxamento muscular como o propofol associado ao sulfato de magnésio para o sucesso da intubação traqueal.

Em suma, o sulfato de magnésio não propiciou condições clínicas aceitáveis quando comparado ao rocurônio para intubação orotraqueal em sequencia rápida em pacientes adultos quando utilizada a dose de 50 mg/kg.