O Saxofone do Hélio - Egnaldo Paixão

O Saxofone do Hélio - Egnaldo Paixão

...E quando a lua chegava

até à rua da Estação

lua cheia ou vazia,

lua leve do sertão

lua que até parecia

de tanto que seduzia,

lua de assombração,

Hélio Simões tocava

o seu sax de oitiva

com a força criativa

vinda do coração.

...E enquanto a lua dormia

na calçada da Estação

fazendo-se preguiçosa

como é vista no sertão,

lua chegando mansinho

no bico de um passarinho

e se deitando no chão,

Hélio Simões tocava

o seu sax bem choroso

de toque brando e amoroso

vindo do coração.

...E quando o trem se chegava

e logo depois partia

levando parte da lua

deixando a noite mais fria

não ficava ninguém triste.

Ainda que tanto insistisse,

a saudade não doía.

Hélio Simões tocava

o seu sax de oitiva

com tal força criativa,

que dor nenhuma o queria.

...Pois, Hélio, dos olhos, cego

e por dentro iluminado,

deixava todo o ambiente

cheirando a alecrim do mato,

que o sax dizer parecia:

semeio paz e alegria

com a luz que vem lá do alto.