O Carpinteiro - Egnaldo Paixão

O Carpinteiro - Egnaldo Paixão

O ofício de carpinteiro deu-lhe mansidão,

e um jeito de viver pouco imitado.

O tempo

não poderia ser violado.

Ainda que fizesse o que Deus mandou

e fosse de seu agrado.

Não aprendeu a decifrar uma palavra

mas não se queixava.

Iaiá sua mulher para ele lia tudo

era quase uma escrava.

Gostava de ouvir canções e histórias

sentados na calçada.

Iaiá em casa ou no cinema lia tudo

em voz alta.

Os dois se amavam

apesar das diferenças.

Ela gostava do carpinteiro

e ele de sua inteligência.

A casa tinha um cheiro de cedro

não trabalhado,

mais percebido quando

os dois ficavam em silêncio aproximados.

Uma tarde Acelino cortava um tronco

quando o sino bateu a Hora do Anjo.

O carpinteiro estancou o machado no ar,

e o padre assombrado quis perguntar.

O velho apontou na direção de sua casa

e apressado foi embora sem dizer nada.