Relato do Imigrante

Relato escrito por JOHANN AUGUST URBAN (Augusto Urban, Senior), que emigrou para o Brasil em 1857 dando início à nossa Família Urban.

Esse relato foi encontrado na última página de um registro de credores de seu Comércio.

Foi feita uma tradução juramentada do documento:

Transcrição da tradução:

'Em 16 de Agosto de 1857 parti de Goerlitz para emigrar ao Brasil. Nosso navio, uma pequena brigue (Obs. do tradutor: embarcação de 2 mastros) tinha apenas 65 passageiros a bordo, dos quais 3 apenas na cabine. O preço da passagem, quando paga integralmente, foi de apenas 65 Thaler (1 Thaler valendo 3 Marcos). Pagamos 45 Thaler e emitimos uma Nota Promissória sobre 40 Thaler, pagáveis em 3 anos, com 5% de juros e com o compromisso de permanecer na Colônia Dona Francisca, pois todos estávamos com pouco dinheiro e viajamos mediante adiantamento. Eu possuía pouca roupa e um Shilling Hamburgues em dinheiro que vendi em São Francisco por 160 Réis. Assim entrei nesse país em 10 de novembro de 1857.

Havia eu, por assim dizer, abandonado a padaria mas aceitei serviço aqui em São Francisco como ajudante, percebendo 8$000 mensais. Aproveitamos os primeiros dias para ir a São Francisco, para conhecer a Colônia, já que essa viagem foi gratuita. A viagem num barco desajeitado, demorou 36 horas. Lá tudo ainda parecia deserto e despovoado. Eu e meu companheiro Witschal mandamos nos levar a São Francisco, numa canoa, no terceiro dia e cada um deveria pagar 3$000. O coitado do August Urban porém, não tinha um único vintém e teve que passar vergonha, sendo que o canoeiro foi embora com o consolo que eu pagaria tão logo tivesse recebido o salário. Desta maneira, durante as primeiras 4 semanas, tinha apenas 160 Réis para gastar.

No final do mês recebemos, ao invés do salário, tão apenas a declaração que o nosso salário fora confiscado pela Diretoria, porque havíamos abandonado a Colônia. Não concordamos com isso e simplesmente fomos embora. Agindo sério assim, recebemos o nosso salário, i.é 12$000. Após o trabalho porém exigimos um aumento de 2$000 que nos foi concedido. Assim continuou por 3 meses mas sempre reclamávamos exigindo um aumento de 2$000 por mês. Desta maneira, cada um recebia 18$000 e ficamos juntos por 7 meses. Witschal foi para Paranaguá e eu permaneci, recebendo 30$000 por mês porque fazia o serviço sozinho, economizando 150$000 no primeiro ano. Depois me empreguei no Fischer por 20$000 e economizei 30$000 em 10 meses. Em seguida comprei do Fischer os utensílios da padaria por 350$000.

Em 1859 o padeiro Müller entrou como meu sócio por 1 ano e depois arrendei por 4 meses, e viajei para Rio Grande, Porto Alegre e São Leopoldo, regressando no final de 1860.

Em 2 de janeiro de 1861 comecei a trabalhar no forno. Minha fortuna ainda consistia de utensílios da padaria, uma cama, uma pequena mesa com 6 cadeiras e um pequeno sofá com rolos. Meu arrendatário me logrou. Ao envez de se mudar, instalou uma nova padaria e me tirou a clientela. Eu porém, estava decidido a ficar e não tive que me arrepender como se pode constatar pelos relatos dos anos de 1861 a 1869.

(ass.) August Urban'

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