Augusto Urban (Junior) fala sobre sua família

Um dos 'tesouros' guardados por Sylvia Hagemann é um testemunho do próprio Friedrich Wilhelm August - Augusto (Junior), quando tinha 81 anos, sobre a história de seu pai (fotos abaixo), Johann August - que era chamado apenas de Augusto Urban (senior) por todos (o que gera, para nós hoje em dia, uma certa confusão entre os dois).

Abaixo está uma transcrição das anotações de Sylvia Hagemann, que tomou como base o texto de August Urban, seu avô.

"JOHANN AUGUST URBAN - João Augusto Urban embarcou em Hamburgo em 16/08/1857 no veleiro Lucie Caroline, tendo como companheiros de viagem o padre Carlos Bögershausen e o médico Wigando Engelke. Depois de 3 meses de viagem o navio chegou a São Francisco (10/11/1857). (Fonte: "Joinville, os Pioneiros - documentos e história - 1851 a 1866" de Maria Thereza Böbel e Raquel S. Thiago - pag. 232)

Em São Francisco, João Augusto Urban empregou-se numa padaria ganhando 8$000 (oito mil réis) por mês.

Querendo conhecer melhor o país, foi a pé ao Rio Grande, Porto Alegre e São Leopoldo. Em 1860 voltou a São Francisco, estabelecendo-se com uma padaria. Lutou muito, mas com muita energia e amor ao trabalho, venceu.

Em 1864 casou com Catharina Seiler, que veio ao Brasil em 1863.

Em 1870 mudou-se para Joinville, começando a negociar com trigo (único importador na época). Estabeleceu-se na Rua 9 de Março (em frente onde hoje está a Farmácia Catarinense).

Mais tarde ampliou o negócio e montou uma casa de Secos e Molhados, ferragens, tecidos e mudou-se para a esquina da Rua Mario Lobo e Rua Dr João Colin (onde funcionou o Bar Sopp, entre as décadas de 1940 e 1960 aproximadamente).

Arrendou três fábricas de amido. Uma delas era movida a vapor, a outra à tração animal e a terceira movida á força hidráulica. Fabricava goma, araruta, tapioca em regular escala, pois também exportava produtos.

A máquina a vapor foi a primeira importada que havia aqui. Era enorme a caldeira, media 7 metros de comprimento, gastava seis bancas de lenha por dia e produzia força máxima de 6 cavalos. KWA.

Mandou vir 5 famílias da Alemanha (profissão: charuteiros) e começou uma fábrica de charutos. mandou buscar todos os aparelhos para a fábrica (desfiamento de fumo). Chegou a produzir 2 milhões de charutos por ano. A indústria acabou por causa da selagem (selos).

Dedicou-se também à navegação. Adquiriu um barco a vela "Esperança" como qual enviava produtos coloniais para os portos do sul e do norte do país.

Abriu uma filial em Oxford (São Bento). Além do negócio de secos e molhados, tecidos, ferragens, compra e venda de erva-mate, mantinha aí uma serraria a vapor, moinho de cereais e olaria.

Outra filial foi aberta em Jaraguá e outra serraria movida a força hidráulica, uma tafona para moer milho e outros cereais. Tratava da compra de manteiga e os produtos suínos modernamente enlatados e vendia-os para os portos do norte. Na Rua Santa Catarina (atual Getúlio Vargas) num prédio próprio, abriu mais uma filial. Em 1899, por causa da idade avançada, passou todos os negócios para os seus dois filhos: Carlos Urban e Augusto Urban.

Depois de algum tempo, Carlos desligou-se dos negócios, preferiu aceitar o cargo de Agente Fiscal de Consumo.

Ficou assim a cargo de Augusto Urban a continuidade dos mesmos negócios, só sob Firma Individual, importando diretamente da Alemanha e outros países.

Anos mais tarde, vendeu tudo e dedicou-se ao ramos de Seguros. Adquiriu uma fábrica de pregos, capachos e tecidos de arame, transformando ao mesmo tempo a sua firma em Sociedade Anônima, cujas ações pertenciam a sua família, esposa e oito filhos.

João Augusto Urban (o imigrante), provando o profundo amor que dedicava à sua segunda pátria, naturalizou-se cidadão brasileiro no ano de 1875. O mesmo senhor foi o primeiro a introduzir em Joinville o fechamento do comércio aos domingos e o descanso dominical aos empregados.

João Augusto Urban foi um trabalhador incansável, muito enérgico e, com esforços muitas vezes sobre-humanos, sua honradez, sua prática de caridade e filantropia, foi sempre estimado pelos seus concidadãos. Ele introduziu e difundiu em Joinville a homeopatia, cujo custo diminuto foi a salvação da população pobre sofredora. Por diversos anos foi Conselheiro Municipal, fez a proposta para a ampliação do Hospital Municipal. Esta proposta foi unanimemente aceita pelo Conselho. Estes fundos possibilitaram ao prefeito daquela época, Procópio Gomes de Oliveira, de construir um Hospital adequado. Lançou a pedra fundamental do Asilo de Órfãos e Inválidos e, na ausência de um sacerdote para fazer as bençãos a Deus, rezou o Padre Nosso, acompanhado por todos os presentes. A cópia do discurso foi incluída na urna e encerrada na pedra fundamental, tendo sido assinada por todos que ali estavam.

Escrito por Augusto Urban (meu avô materno) em 1950, quando tinha 81 anos de idade."

----- Fim da transcrição do texto -----

Testemunho da Augusto Urban (junior) - 1950

Envelope onde estava guardado o testemunho

Jornal A Notícia - 10 de novembro de 1957