Com excepção da peça O Marinheiro, publicada em 1915 no primeiro número da revista Orpheu, a obra teatral de Fernando Pessoa permaneceu inédita, incompleta e fragmentária durante a vida do poeta.
O projecto que agora se propõe – a edição digital de três peças inéditas e fragmentadas, reunidas sob o título Trilogia dos Gigantes –, num momento em que o núcleo dramatúrgico de Pessoa começa a ser recuperado, com as recentes edições do Teatro Estático e do Fausto, afigura-se essencial, não só tendo em conta certas proximidades temporais com aquelas peças, mas também a sua contribuição para o estudo do lugar do mito na obra pessoana. O poeta intitulava-se um «criador de mitos», mas dada a inexistência de edições de toda a sua dramaturgia, uma experiência que o acompanhou ao longo da vida, o estudo do mito no teatro de Pessoa é ainda um campo por desbravar.
A edição da Trilogia dos Gigantes (cujo tema recupera figuras mitológicas) será um instrumento relevante para o surgimento de investigações pertinentes sobre o mito na obra do poeta, para além de contribuir para o conhecimento de mais um núcleo da sua criação dramática. Acresce ainda que o teatro que precede a criação heteronímica é um contributo valioso para a compreensão do processo que conduziu ao desdobramento poético de Pessoa. Assim, o conhecimento das peças do poeta, prévias a 1913, onde se inclui a Trilogia dos Gigantes, permitirá visualizar mais uma parte do complexo puzzle que é a obra de Pessoa.