Resumos
Maria do Rosário Laureano dos Santos
A cultura clássica na Trilogia dos Gigantes
A Trilogia dos Gigantes reúne um grupo de textos dramáticos que abrem caminho para o denominado teatro estático de Fernando Pessoa. São textos breves, situados cronologicamente entre 1910 e 1913, escritos em verso e concebidos para uma leitura individual, nos quais a matéria clássica preside não só à concepção literária, mas também à elaboração da trilogia. Esta comunicação tem por objectivo enunciar alguns dos aspectos respeitantes à recepção do classicismo nesta obra de Fernando Pessoa.
Antonio Cardiello
Paganismo e mitologia trágica na Trilogia dos Gigantes
A presente comunicação incidirá sobre a decisiva influência da cultura pagã, nomeadamente, aquela florescida na Grécia antiga, na composição da Trilogia dos gigantes. Particular destaque será dado à leitura da dramatização dos mitos do mundo arcaico pela óptica do trágico proposta por Pessoa.
Marta Mendonça
Lucidez e finitude: aspectos da antropologia de Fernando Pessoa na peça Livor
Uma primeira leitura da peça Livor permite captar o carácter marcadamente filosófico do texto. Pela boca dos vários interlocutores, vão ganhando expressão aspectos essenciais e recorrentes da antropologia de Fernando Pessoa: os temas que nela são centrais, as tensões que atravessam a experiência do humano, etc. Na comunicação procuram identificar-se os traços mais essenciais da condição humana e da nossa posição no mundo – com destaque para a experiência latente da finitude e para o desassossego produzido pela excessiva lucidez – tal como eles se apresentam no texto; pretende-se ao mesmo tempo aproximar a leitura desta peça de outros textos breves que no mesmo período Fernando Pessoa escreveu sobre temas especificamente filosóficos, sejam eles de carácter antropológico ou não.
Nicolás Barbosa / Carlos Pittella
Entre Autos e Outros: Mapeando o Teatro (Édito e Inédito) de Fernando Pessoa
Este contributo busca mapear o teatro de Fernando Pessoa, quantitativa e qualitativamente, sugerindo possíveis aspectos distintivos de cada peça teatral, numa complexa obra dramática que ainda está grandemente por editar e estudar. Entre os aspectos quantitativos, contabilizam-se os números de documentos atribuíveis a cada peça, assim como o número de palavras e/ou versos das obras já editadas; qualitativamente, investigam-se os núcleos temáticos, as personagens principais e, no caso de obras em verso, as métricas predominantes. Conhecido pelo meta-drama de seus heterónimos, Pessoa também escreveu uma série de textos dramáticos per se, tanto em inglês como em português, chegando a definir-se como «essencialmente um poeta dramático». No entanto, só recentemente – e parcialmente – o teatro pessoano ganhou as suas primeiras edições críticas, com a publicação de Teatro Estático (2017) e Fausto (2018). Assim, significativas porções do corpus dramático pessoano permanecem inéditas, como a Trilogia dos Gigantes, diversos Autos em português e o teatro pessoano em inglês; este último, por si só, inclui pelo menos três títulos distintos (Duke of Parma, Prometheus Revinctus e Marino), totalizando mais de 300 documentos virtualmente desconhecidos.
Thiago Bechara
Velejadores da inutilidade: intertextualidades dramáticas em Fernando Pessoa a partir de Livor e de O Marinheiro
Investigar possíveis diálogos entre os fragmentos de Livor da Trilogia dos Gigantes e a única obra dramática pessoana finalizada e publicada em vida do autor resultou numa análise temático-filosófica em torno das ideias de tédio, mistério, sonho, imortalidade e mitologia, catalisadas pela consciência da inutilidade. Como espécie de drama estático, sem ser assim por Pessoa denominado, o conjunto de fragmentos estudado antecipa estética e tematicamente alguns topoi pessoanos centrais e cuja génese ganha, com a publicação da trilogia, nova e rica ferramenta de exame.
Patricio Ferrari
Milton, Anon e Prosódia na Trilogia dos Gigantes
Fernando Pessoa interessou-se profundamente em questões prosódicas (metros poéticos e ritmo poéticos) e numerosos escritos publicados postumamente assim como os ainda inéditos conservados no seu arquivo na Biblioteca Nacional de Portugal fornecem ampla evidência de uma dedicação a estes e outros dispositivos sonoros na sua produção. A Trilogia dos Gigantes (I. Briareu, II. Typhão, III. Livor) –– peça inacabada escrita em verso branco entre c. 1909 e 1913 –– teria entre as suas influências o “Paradise Lost” de John Milton. De facto, a presença deste poema épico em verso branco estudado por Pessoa de perto, anos antes em Durban (como demostram as suas escanções e outras notas marginais no exemplar conservado na sua biblioteca pessoa), encontrava-se já no soneto “The Fall of the Titan” da autoria de Charles Robert Anon –– talvez o poema mais antigo da produção pessoana com notas prosódicas à margem. Nesta breve apresentação introduziremos (1) ecos entre Milton > Anon > Trilogia; (2) interesses prosódicos formais de Pessoa entre c. 1904 e 1910; (3) algumas variações métricas e rítmicas ao longo da Trilogia.
Teresa Filipe
Os Gigantes: alguns elementos da Biblioteca particular de Fernando Pessoa
A Biblioteca particular de Fernando Pessoa tem vindo a afirmar-se como fonte incontornável na investigação acerca das fontes literárias do Autor assim como da génese dos heterónimos, com diversos volumes que exibem marcas de posse de diferentes figuras autorais. Neste sentido, pode dizer-se que a Biblioteca contém diferentes bibliotecas. Ao procurar as possíveis fontes do projecto pessoano intitulado Trilogia dos Gigantes, analisamos diferentes volumes que poderão contribuir para uma melhor compreensão do que poderá ter sido a Biblioteca Clássica de Fernando Pessoa.
Jerónimo Pizarro / Andrea Sánchez
Uma escrita fragmentária em forma digital: indexação e materialidade
O formato digital, ao permitir uma leitura não linear como a do livro, parece corresponder mais à fragmentariedade essencial da escrita pessoana. A edição digital da Trilogia dos Gigantes oferece ao leitor a possibilidade de percorrer a peça teatral através de um motor de busca por campos temáticos, o que resulta numa leitura aparentemente mais unitária, ou pelo menos transversal à obra mesma do Fernando Pessoa. Esta comunicação visa, por um lado, revelar o processo de construção do motor de busca por temas, apresentando as práticas de indexação e controlo de termos como ferramentas que, inseridas num contexto digital, remetem para outras formas de ler o Fernando Pessoa. Por outro lado, a materialidade da peça irá ser analisada numa tentativa de perceber os desafios na representação digital da Trilogia.
Filipa Freitas / José Camões
A Trilogia dos Gigantes: edição electrónica
O teatro de Fernando Pessoa tem sido recentemente recuperado, através de edições críticas quer em papel quer em formato digital. Encontra-se agora em curso a primeira edição de três peças inéditas do poeta reunidas sob o título Trilogia dos Gigantes, apresentada numa nova plataforma digital, baseada no modelo de outras edições preparadas por equipas do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A presente comunicação dará a conhecer as ferramentas e os critérios da edição electrónica da Trilogia dos Gigantes.
João Dionísio
Cheiro de sentido. A propósito da edição de teatro de Fernando Pessoa
Esta comunicação visa descrever o modo como recentes edições de textos dramáticos de Fernando Pessoa contribuem para a edição da obra deste escritor. Adicionalmente é dada especial atenção a questões de sentido e inteligibilidade na obra dramática pessoana, a partir de problemas documentais, dificuldades de género e desafios colocados pelo programa estético explorado pelo autor d'O Marinheiro.