FINAL
“Quando por fim, o peregrino larga a mochila e poder parar, porque está lá, chegou, quase já não é preciso ter nos próprios olhos essa visão conquistada: seu corpo inteiro está pleno dela. Toda a jornada então se transfigura. Chegar caminhando até esse local com cujo nome sonhamos o dia todo, cujo contorno imaginamos por muito tempo, lança uma luz de volta sobre o caminho. E o que se levou a cabo com cansaço, às vezes com tédio, diante dessa presença absolutamente sólida que o justifica, converte-se numa série de momentos necessários e alegres. Caminhar torna o tempo reversível.” (Frederic Gros)
Eu percorri o Caminho Inglês, desde Ferrol, em 2015, e, desde A Coruña, em 2018, e nessa minha terceira passagem, diria que a sinalização continua excelente, pelos marcadores habituais, colocados pela Junta da Galícia, com azulejos e setas pintadas nos cruzamentos. Na minha concepção, e numa classificação imaginária, o Caminho Inglês situar-se-ia, talvez, entre as rotas difíceis, como o Caminho Primitivo, e os trajetos fáceis, como o trecho galego do Caminho Português, ou como o seu irmão mais novo, o Caminho Português da Costa.
O tramo com terreno mais acidentado é o de 27 km, entre Betanzos e Hospital de Bruma (O Mesón do Vento), embora a distância e os desníveis tenham sido suavizados, após a controversa modificação do percurso decidida pela Junta, em 2017. Na etapa anterior, até Betanzos, também enfrentei alguns desníveis, mas de natureza moderada, exceto pelo ascenso devastador na saída de Pontedeume, com um aclive extremamente longo e íngreme. No global, o percurso combina as paisagens costeiras das rias, onde convivi com infraestruturas rodoviárias e urbanas, com outros trechos que percorrem uma agradável zona rural isolada, pontilhada por pequenas aldeias dedicadas à pecuária e à agricultura. Quanto ao pavimento, embora predomine o asfalto (majoritariamente, caminhos locais ou pequenas estradas, com pouco tráfego), o Caminho Inglês recuperou vários tramos de terra, que correspondem ao percurso do antigo Caminho Real, tradicionalmente utilizado pelos peregrinos a caminho de Compostela e, também, claro, para o transporte de mercadorias.
Infelizmente, a rota apresenta alguns pontos obscuros: trechos inexplicáveis — felizmente curtos — ao longo dos acostamentos de estradas estreitas ou com tráfego intenso, além de cruzamentos perigosos. Contudo, por sua beleza natural impressionante, vasto patrimônio cultural e uma distância menor em comparação com outros itinerários, a Rota Inglesa é ideal para quem não quer se preocupar com a duração excessiva ou presença massiva de peregrinos.
Isto tudo sopesado, eu gostei muito de retornar a esse magnífico trajeto, após anos transcorridos. Diria mesmo, que encontrei o itinerário mais belo, melhor sinalizado, e com ótima estrutura de apoio ao peregrino. Por isso, recomendo este estupendo Roteiro com louvor!
Bom Caminho a todos!
Novembro/2025