Pesquisas em andamento

Midiativismo

Na Amazônia, o simbolismo do impacto na conservação da biodiversidade do planeta alerta as redes de Comunicação interplanetária e formadores de opinião globais para defesa de causas em terras brasileiras, mas com apelo mundial. Dessa forma, o projeto objetiva listar rede de Comunicação localizada e dirigida às causas dos povos da Amazônia e avaliar as pautas de maior repercussão nesse meio - utiliza-se metodologia híbrida de pesquisa quantitativa e qualitativa. O projeto volta-se aos dados do YouTube, após finalizado a checagem do Facebook e do Instagram. Será feita análise de 627 perfis encontrados com base em palavras-chaves (nome das etnias identificadas pela FUNAI), separando-os pelo conteúdo (pessoal ou coletivo) e periodicidade de postagem (ativos, inativos ou ativos recentemente).

Jornalismo Audiovisual/ TVs universitárias

TV's universitárias no Brasil: Resumo inscrito no "Festival do Conhecimento da UFRJ 2022 : Do Ancestral ao Digital" (versão expandida)

Título:

Televisões universitárias público-estatais no interior do Brasil: pluralidade e cenários uma década após a TV digital no país

Palavras-chave:

telejornalismo; televisões universitárias; televisões universitárias do interior do país, TVs universitárias público-estatais; democratização

Resumo:

Há quase dez anos, um novo paradigma mudou a televisão brasileira: a transição para a transmissão digital. À época, ansiava-se por uma dissolução da dicotomia baseada na contradição entre emissoras comerciais nos canais abertos e canais de acesso público, disponibilizados na televisão por assinatura, entre estas, as televisões ligadas a universidades. As emissoras universitárias deram origem a um segmento representativo no país que, junto às TVs comunitárias e educativa, consistiria em um núcleo capaz de fomentar a produção de conteúdo local, contribuindo para a pluralidade da oferta de produtos audiovisuais e, consequentemente, para a democratização da Comunicação no Brasil, conforme descreve Prevedello (2013).

Em uma investigação sobre as TVs universitárias público-estatais nas cidades do interior do Brasil, a autora avalia a preparação para a convergência digital de oito televisões universitárias, apontando limitações técnicas e tímida experiência com interatividade. Entretanto, também trata da associação deste grupo com a prioridade pelo conteúdo local e os cenários em direção à digitalização no campo, marcado pela escassez de investimentos. Além disso, a autora identifica que o horizonte concreto para a ampliação das TVs universitárias e, mais amplamente, o conjunto das emissoras público-estatais, com o novo paradigma da televisão digital no Brasil, continuava, no entanto, refém de definições políticas que não apresentam perspectivas para a reversão da então dicotomia presente na fase analógica (Prevedello, 2013).

Uma década depois, esta pesquisa dedica-se a estudar o contexto atual das televisões universitárias nacionais fora das capitais, tendo como objetivo principal analisar em qual cenário inserem-se essas emissoras universitárias no Brasil. Para isso, será levado em conta se com ampliação do uso e das redes sociais on-line, essas televisões adaptaram-se às novas possibilidades interativas e de digitalização e de que maneira; em que medida os novos recursos tecnológicos ampliaram ou não a existência, presença e alcance das TVs universitárias; e também busca mapear essas televisões universitárias presentes hoje no país, tanto em termos de frequência, de tipo de transmissão e localização.

Para isso, será feita uma revisão bibliográfica do trabalho de Prevedello (2013), com a atualização de quatro tabelas presentes da pesquisa: Universidades públicas nas cidades do interior do Brasil; Núcleos audiovisuais ligados a universidades públicas fora das capitais; Sistemas de transmissão nos núcleos audiovisuais de universidades públicas fora das capitais; e Televisões universitárias nas capitais brasileiras. Isso será feito a partir de pesquisa bibliográfica e observação, exploração e pesquisa de seus canais de comunicação on-line. A relevância dessa pesquisa é justificada pela característica vista nessas televisões, que, por produzirem conteúdo local, contribuem para uma diversificação de produtos audiovisuais e para a consequente democratização da Comunicação, o que ganha novas potencialidades com a multiplicação de plataformas de redes sociais e um novo padrão tecno-estético (Bolaño, 2000 apud Prevedello, 2013, p.19; Brittos, 2005, p.75-87 apud Prevedello, 2013, p. 34).

Artigo: 50 anos de TVs universitárias no Brasil (Prevedello, 2017)

Resumo:

O cinquentenário da TV Pública no Brasil marca, de forma simultânea, os 50 anos de criação das Televisões Universitárias no país. O embrião plantado pela TVU da UFPE, em 1968, demonstraria historicamente o potencial das instituições federais de ensino superior (IFES) para a formação de um polo audiovisual de interesse e financiamento pú-blicos, em condições de exploração da pluralidade. Surgidas com modelo de emissora educativa, as TVUs consolidam-se com a Lei da TV a cabo, chegando, nos anos 2000, a um segmento que reúne pelo menos 100 núcleos de pro-dução audiovisual em todas as regiões do Brasil.

Palavras-chave:

TVs Universitárias; TV Pública; IFES; interesse público.

Pesquisas já realizadas

O enfrentamento da covid-19 no Brasil a partir da sua dimensão informacional e comunicacional: fake news e as redes de desinformação sobre a pandemia

O objetivo principal da pesquisa é, em um esforço coletivo do grupo do PET (tutor e estudantes), analisarmos diferentes aspectos das campanhas de desinformação sobre a pandemia da covid-19 no Brasil. Ou seja, se a doença pode ser avaliada como um evento médico e sanitário, ela pode ser tomada também como fenômeno comunicacional e informacional, resultado dos diferentes discursos que sobre ela os atores sociais, individuais e institucionais, produzem.

Daremos atenção aos conteúdos falsos produzidos, consumidos e que circulam no ambiente da internet principalmente nos sites e plataformas de rede social, considerando que estes têm sido lugares privilegiados da produção de sentidos sobre a doença. Não que o fenômeno da desinformação seja exclusivo das redes sociais digitais, mas dada a possibilidade de alcance massivo de receptores a partir delas, as informações imprecisas ou mesmo falsas têm tido impactos antes impensáveis.

Em um quadro de desordem informacional (WARDLE; DERAKSHAN, 2017), a disseminação de fake news pode provocar uma onda de desinformação, de negacionismo e de medo na população, contribuindo para o aumento da transmissão do vírus, visto que a credibilidade de instituições governamentais, imprensa e ciência tem estado em xeque nos últimos anos.

A pesquisa será realizada durante o ano de 2021.

A desinformação sobre a COVID-19 como estratégia política: o combate à pandemia sob as controvérsias lançadas pelo presidente Bolsonaro nas redes sociais online

O trabalho consiste num esforço dxs autorxs em analisar o discurso de Jair Messias Bolsonaro em suas tradicionais lives de quinta. Foram selecionadas 10 lives dos dois bimestres iniciais da pandemia, devidamente transcritas e analisadas. As análises resultaram em diferentes categorias que ajudam a compreender o pensamento do líder do executivo sobre a crise sanitária em 2020 e a ilustrar seu papel na difusão da desinformação sobre a pandemia no Brasil.

A metodologia adotada inclui além da análise de discurso, uma análise de conteúdo que serviu como ferramenta para quantificar a incidência das categorias no recorte analisado.

E também se esboçou uma análise superficial da recepção, resultando numa nuvem de palavras criada a partir dos comentários dos vídeos no YouTube e que apontou para a forma como a base de apoio do político interage e sustenta seu pensamento.

O posicionamento político pró e contra o “tratamento precoce” no contexto do Twitter: Covid-19 e a politização da pandemia a partir das relações de confiança nas redes sociais

Apresentado pela bolsista Moniqui Frazão, sob orientação do professor Paulo César Castro, a pesquisa "O posicionamento político pró e contra o tratamento precoce no contexto do Twitter: covid-19 e a politização da pandemia a partir das relações de confiança nas redes sociais" buscou compreender de que formas se expressam as redes de apoio e reprovação ao chamado "tratamento precoce" no Twitter, considerando a forma como a discussão foi atrelada ao campo político; como e quais discursos são acionados para defender o uso ou não uso do tratamento precoce; e como os conceitos de "comprovação científica" e de "confiança" foram acionados nesses discursos. Para isso, foi feita a análise de 801 publicações, puxadas a partir de hashtags relacionadas ao tema, a partir da metodologia da Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977).

Jornada de Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural (JICTAC) da UFRJ 2020

O Youtube como ferramenta de disseminação e democratização do debate feminista no Brasil - por Carolina Torres

ELEITO MELHOR TRABALHO DA SUA SESSÃO

Definido como a potencialização da ação individual ou coletiva em termos de ação política via internet (RECUERO, 2011), o ciberativismo está criando uma nova fase na história dos movimentos sociais. A Primavera Feminista, ou a Quarta Onda do Feminismo (CHAMBERLAIN, 2017), como tem sido denominado o engajamento de mulheres no século XXI, pode ser apontado como um dos primeiros movimentos massivos cuja existência e força têm sido consequências diretas das possiblidades tecno-comunicacionais, sociais e políticas da web 2.0. Hashtags como #EleNão, #NãoMereçoSerEstuprada, #PrimeiroAssédio e as internacionais #NiUnaAMenos e #MeToo, entre outras, demonstram que as convocações a partir dos espaços digitais são capazes de provocar resultados inclusive nos ambientes offline. Os impactos do ciberativismo feminista remontam ao uso das redes sociais por militantes que, buscando democratizar os conceitos do movimento para torná-lo acessível a um público mais diverso, se tornaram, para além de ativistas, comunicadoras. Nesse contexto, este trabalho se propõe a investigar quais os sentidos usados por essas feministas comunicadoras que contribuem para a disseminação das pautas do movimento pelas redes. Para isso, serão usados como referencial teórico os conceitos de conectividade, feminismo e ciberativismo. Serão analisados os três vídeos relacionados ao feminismo que tiveram mais visualizações das youtubers Sabrina Fernandes, do canal Tese Onze, e Nátaly Neri, que juntas acumulam mais de 42 milhões de visualizações em seus vídeos, com os recursos metodológicos da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016) e da Análise Crítica de Discurso (FAIRCLOUGH, 2001). Além dos discursos da influenciadoras, a pesquisa tem interesse ainda pela reação das suas seguidoras. Portanto, também serão objeto de análise os comentários das inscritas, de modo a entender qual a ressonância e o tipo de engajamento com o feminismo proposto pelas duas youtubers.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Editora da UnB, 2001.

CHAMBERLAIN, P. The feminist fourth wave: affective temporality. 1st ed. 2017 ed. Cham: Springer International Publishing?: Imprint: Palgrave Macmillan, 2017.

Influenciadores digitais e vida privada nas mídias sociais: a intimidade publicizada como fonte de cobrança no Instagram - por Robertha Braga

Os influenciadores digitais são indivíduos com extrema relevância no cenário da web 2.0., e que têm na interação com o público sua principal ferramenta de trabalho. Nesse contexto, a pesquisa busca elucidar um dos processos enfrentados por essas personalidades virtuais: a cobrança de posicionamento advinda dos seus seguidores. Parte-se da hipótese de que, analogamente aos líderes de opinião (LAZARSFELD, BERELSON e GAUDET, 1968), no caso da internet, os influencers, ao publicarem suas opiniões e comportamentos, acabam se tornando verdadeiros modelos de conduta para seus seguidores. Ademais, muitas dessas celebridades digitais lançam mão de uma “narrativa do eu” (SIBILIA, 2008), expondo propositalmente suas vidas privadas, a fim de estabelecer uma intimidade socializada e pública, gerando, assim, uma relação também afetiva com os usuários. Por outro lado, é normal que nem todas as questões sejam trazidas à tona pelos influenciadores, seja por receio ou, simplesmente, por não possuírem uma opinião concreta. Nesses casos, muitos seguidores, sentindo-se, na mesma medida, íntimos e dependentes de influência, passam a cobrar o posicionamento dos trendsetters nas redes sociais. Diferentemente do que ocorria no modelo dos meios de comunicação de massa, a possibilidade de cobrança, com a internet, está bem ao alcance, o que torna essa prática ainda mais recorrente. Consequentemente, surge uma relação conflitante entre as duas partes, em que os influencers podem responder aos usuários tanto de modo positivo quanto negativo, o que, certamente, influi na sua imagem, podendo gerar o ganho ou a perda de seguidores e, inclusive, de monetização de seus conteúdos. A pesquisa objetiva, portanto, compreender por que e como acontece essa cobrança, de que forma os influenciadores respondem a ela e como isso pode impactá-los. Para alcançar tais objetivos, o projeto tem como corpus a análise das seguintes contas do Instagram: Canal dos Caçadores (@canaldoscacadores, 413 mil seguidores) - que trata de gastronomia, viagens, estilo de vida, etc.; e Irina Cordeiro (@irinacordeirochef, 437 mil seguidores) - que trata de gastronomia, cultura nordestina, autoestima feminina, etc. Ambas possuem em comum a temática gastronômica, porém com os demais discursos divergentes, sobretudo, no que tange ao posicionamento político. Serão estudadas, por meio da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016), publicações específicas dos stories das duas contas, feitas entre setembro e novembro de 2020, em que os influenciadores relatam suas experiências com a cobrança de posicionamento. Além disso, serão analisados também os demais posts (do ano de 2020) da plataforma, com o fito de identificar uma tipologia das cobranças em relação aos conteúdos de cada influencer escolhido.


Referências Bibliográficas:

LAZARSFELD, P.; BERELSON, B.; GAUDET, H. The people’s choice: how the voter makes up his mind in a presidential campaign. 3rd edition. New York: Columbia University Press, 1968.

SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Tradução: Luís Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2016.

Comunicação e personalidade de marca no Twitter: humanização e afeto na relação das empresas com os consumidores - por Mariana Paz

A comunicação publicitária tradicional, baseada nos meios de comunicação de massa, tende a ser, em grande parte, unidirecional, fazendo com que os consumidores tenham uma relação passiva com as marcas empresariais. Tal modelo de comunicação, segundo Kotler (2017), acaba por provocar certa desconfiança por parte dos clientes. Com o surgimento da web 2.0 e, principalmente, com as mídias sociais, a partir das quais o público em geral deixa de ser mero receptor e passa à condição de ativo produtor de conteúdos, as empresas viram nesse ambiente digital um potencial estreitador de interação com os clientes, buscando ganhar cada vez mais a atenção deles. Ao implementarem uma comunicação mais horizontalizada, as organizações empresariais abrem aos seus interlocutores um papel novo, pois estes têm a possibilidade de atuar ativamente nos processos de comunicação da marca, isto é, método de comunicação próprio da marca com seus consumidores. Se as instituições abrem seus canais para uma comunicação verdadeiramente dialógica, atentas ao que os consumidores têm a dizer, estes, interagem mais assiduamente com as marcas e até dão novos caminhos a campanhas publicitárias em andamento. Diante de um ambiente tecno-comunicacional em que se abre o potencial das conexões pessoa a pessoa, as empresas vislumbraram a possibilidade de associar suas marcas a atributos humanos. Com isso, podem se mostrar acessíveis, amáveis, autênticas e honestas, assim se apresentando menos intimidadoras e, na verdade, demonstrando que são vulneráveis (KOTLER, 2017). Tais características levam à seguinte pergunta: se uma marca fosse uma pessoa, como ela seria e qual personalidade teria? Baseada nesse novo ambiente comunicacional e na perspectiva da marca como uma pessoa, a pesquisa tem como objetivo principal analisar dois casos bem marcantes do mercado brasileiro: as assistentes virtuais das empresas Magazine Luiza e Natura, através de seus avatares Lu do Magalu e Nat Natura. A partir delas, buscamos entender como as estratégias comunicacionais das duas marcas refletem no engajamento dos consumidores com elas. Baseado no conceito de brand persona (AAKER, 1997), queremos entender se, e como, é desenvolvido um afeto entre os consumidores e as marcas, e se tal sentimento resulta na humanização e no fortalecimento da relação entre os sujeitos desse processo. O corpus da pesquisa é formado por conteúdos coletados nos perfis das duas assistentes virtuais no Twitter – @magazineluiza (1,22 milhões de seguidores) e @naturabroficial (163,4 mil seguidores) –, respectivamente das campanhas de Natal. Considerando que os consumidores formam uma rede em torno das marcas, a análise foi feita inicialmente com os recursos metodológicos da Análise de Rede Social (ARS), considerando os nós (empresas e consumidores), as arestas (relações entre os nós) e os clusters (como os nós se agrupam). Para lidar com os comentários dos seguidores, foram usados os aportes da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016).

Referências bibliográficas:

AAKER, J. L. Dimensions of brand personality. Journal of Marketing Research, 1997. vol. 34, n. 3, P. 347–356.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

KOTLER, P. Marketing 4.0: do tradicional ao digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.

Política, ciência e fake news: a covid-19 como objeto das disputas de sentido nas redes sociais - por Lianne Henriques

ELEITO MELHOR TRABALHO DA SUA SESSÃO

A internet desempenha um papel fundamental na forma como as pessoas têm lidado com a pandemia da covid-19. Além de possibilitar a migração do contato presencial para o digital durante o isolamento social, ela foi usada ainda como importante meio de divulgação de informações sobre o combate ao novo coronavírus, principalmente através das plataformas de redes sociais. No entanto, nem sempre os conteúdos relacionados à doença que tiveram altas taxas de engajamento no ambiente digital estão de acordo com os estudos e protocolos divulgados pela comunidade científica. No Brasil em especial, a propagação de fake news tem sido motivada, entre outros fatores, por disputas envolvendo principalmente atores do campo político, que, por sua vez, se contrapõem às orientações dos representantes do campo científico. O antagonismo produz mais do que narrativas opostas, numa mera disputa de sentido em torno da covid-19. Na verdade, tem efeitos práticos sobre o combate ao vírus, pois este depende diretamente das ações tomadas por políticos com cargos no Legislativo e, principalmente, no Executivo, bem como na decisão das pessoas sobre como se comportarem diante das exigências de controle da disseminação da doença. As controvérsias que colocaram em lados opostos os campos político e científico, e partir das quais vêm à tona inclusive discursos antidemocráticos, são o contexto motivador dessa pesquisa, cujo principal objetivo é analisar a arena na qual são localizados os principais atores e seus discursos e como, no caso dos políticos, podem levar à formação de bolhas de opiniões (PARISER, 2012). Para isso, elegemos os canais no Youtube de Jair Bolsonaro e Átila Iamarino, ambos com vasta audiência na plataforma (respectivamente, 3,16 milhões e 1,31 milhões de inscritos). Especificamente, selecionamos o vídeo do pronunciamento em cadeia nacional de TV e rádio do presidente no dia 24 de março de 2020 e a live do biólogo do dia 20 de março de 2020. Entretanto, o estudo vai além, buscando avaliar quais os principais sentidos que os usuários produziram ao se manifestarem em relação aos dois conteúdos. Os conjuntos de discursos (de Bolsonaro/Iamarino e dos inscritos em seus respectivos canais, bem como das relações entre eles) foram submetidos aos recursos metodológicos da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016), à busca de tipologias que demonstrem as principais marcas da contenda ao redor do novo coronavírus. O marco teórico, conceitual e também metodológico para lidar com as fake news é baseado em Wardle e Derakhshan (2017), que assumem o atual ambiente de circulação de conteúdos falsos como sendo de desordem informacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

PARISER, E. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

WARDLE, C.; DERAKHSHAN, H. Information disorder: toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Strasbourg: Council of Europe, out. 2017. Disponível em: <https://edoc.coe.int/en/media/7495-information-disorder-toward-an-interdisciplinary-framework-for-research-and-policy-making.html>.

Comunicação e participação política em rede: as mídias sociais e a formação de uma esfera pública interconectada - por Moniqui Frazão e Ludmilla Rancan

A internet e, especificamente, as redes sociais online têm se consolidado cada vez mais como formas de comunicação direta dos atores políticos com os cidadãos. É posto em prática, assim, um processo de desintermediação (KATZ, 1988; 2003), através do qual candidatos ou mesmo eleitos para cargos no Legislativo e no Executivo dependem muito menos da mediação historicamente realizada pelos meios de comunicação tradicionais. Mas será que as plataformas da web 2.0 efetivamente beneficiam também o outro lado da comunicação política instaurada entre candidatos e eleitores, governantes e governados, representantes e representados? Diante desse novo contexto comunicacional em rede desenvolvido no ambiente digital, a pesquisa tem como objetivo analisar como se dá a interação dos usuários com os perfis de atores políticos nos sites de rede social e qual o seu papel na formação da esfera pública digital ou interconectada (BENKLER, 2006). Considerando que os significados de público e privado vêm passando por profundas transformações, outro objetivo, como consequência do primeiro, é buscar avaliar as mudanças da noção de esfera pública proposta por Jürgen Habermas através de obras originalmente publicadas em 1969 e 1989. Ou seja, como na esfera pública política que se forma a partir das possibilidades comunicacionais da internet se constitui uma opinião pública capaz de assegurar, por parte do Estado, o atendimento das necessidades da sociedade (HABERMAS, 2003)? Até que ponto os indivíduos privados, agora conectados numa rede sociotécnica, têm assegurada, por parte dos atores políticos, uma verdadeira prática discursiva dialógica? Como objetos de estudo dessas questões, foram eleitos os perfis nas mídias sociais do governador de São Paulo João Doria e do presidente Jair Bolsonaro, onde foram selecionadas as postagens através das quais os dois se posicionam em relação às manifestações dos usuários. A escolha dos governantes deu-se em função da disputa política entre os dois e também porque ambos são potenciais candidatos à presidência da República em 2022. Para lidar com material selecionado, são usadas a Análise de Discurso (BARDIN, 2016) e a Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2001). Resultados parciais mostram que, apesar da volumosa quantidade de interações dos usuários com os perfis dos dois políticos, através de comentários, solicitações, apoios e críticas, as respostas não são frequentes, o que aponta para a predominância de uma comunicação monológica e unidirecional. Bolsonaro se destaca com maior número de interações e, inclusive, com marcas discursivas que apontam para respostas dadas por ele mesmo, diferentemente de Doria, cujas redes são gerenciadas por assessores de imprensa. A pesquisa dá ainda atenção às interações entre os próprios usuários, de modo a avaliar como eles também gerenciam suas participações políticas nos perfis dos dois governantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

BENKLER, Y. The wealth of networks: how social production transforms markets and freedom. New Haven [Conn.]: Yale University Press, 2006.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Editora da UnB, 2001.

Conhecimento e aprendizagem na era cyber: educação infantil em tempos de influenciadores digitais - por Sara Maluf

ELEITO MELHOR TRABALHO DA SUA SESSÃO

Na geração atual, a tecnologia digital domina os olhares infantis. Pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) realizada em 2018, sobre o uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil (TIC Kids Online Brasil, 2018), confirma essa tendência. Foi identificado que, a partir dos 6 anos, pelo menos 12% das crianças já realizaram seu primeiro acesso à internet. E na faixa etária de 9 aos 10 anos, 83% usam seus dispositivos (principalmente o telefone celular – 83% também) para assistir a vídeos, programas, filmes ou séries. O destaque neste ambiente de conteúdos audiovisuais é o YouTube e, não por acaso, dos 10 canais no Brasil com mais assinantes, cinco são diretamente voltados às crianças (SOCIAL BLADE, 2020). De olho no potencial desse público, a Google, dona do YouTube, criou em 2015 o YouTube Kids. Diante de tamanho alcance, fazendo com que a plataforma de compartilhamento de vídeos gradualmente substitua o papel que a televisão tinha para a geração pré-internet, a pesquisa se propõe a analisar o impacto que o consumo desses conteúdos, todos voltados ao entretenimento, tem sobre o aprendizado e a construção do conhecimento pelos pequenos usuários. Outro aspecto importante incluído nos objetivos do estudo é a análise do tipo de infância (ARIÈS, 1981) que os vídeos constroem, considerando que são hospedados numa plataforma cuja lógica é de natureza essencialmente comercial, baseada nas métricas que as mídias sociais instauraram: compartilhamentos, likes, visualizações etc. Até que ponto, portanto, a proposta de entretenimento embutida nos conteúdos, ainda que possam produzir conhecimento, se baseia no consumismo ou na formação de cidadãos? Para o estudo de tais questões, é levado em conta o entendimento do pioneiro da psicologia infantil, Lev Vygotsky (1996; 1998), de que o desenvolvimento infantil acontece de fora para dentro, ou seja, a criança internaliza todo o mundo externo a sua volta e isso vai estabelecer quem ela é. Desde os primeiros anos de sua vida, ela passa por constantes estímulos do mundo que a cerca (ainda mais agora com as possibilidades que as tecnologias de comunicação e informação – TIC – propiciam) e, assim, aprenderá como ele funciona, incorporando costumes e hábitos e criando a sua personalidade (MELLO, 2004). A pesquisa se voltou a dois dos canais com mais assinantes, um deles produzido por um adulto (Luccas Neto – Luccas Toon, com 32,9 milhões de inscritos) e outro apresentado por uma criança (Valentina Pontes, 20,9 milhões). O material de análise é composto pelos três vídeos com o maior volume de visualizações disponibilizados por cada um dos youtubers durante o período da pandemia da covid-19, especificamente nos meses de abril e maio. Os conteúdos selecionados são analisados a partir dos recursos metodológicos da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016). O período tem de específico o fato de que a experiência com as TICs foi ainda mais acentuada, na medida em que, num contexto pandêmico, as aulas da escola passaram a ser online.

Referências Bibliográficas:

ARIÈS, Phillippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

MELLO, Suely Amaral de. A escola de Vygotsky. In CARRARA, K.

Midiatização da Segurança Pública: dos quarteis aos centros do poder político - por Emanuelle Bordalo

No primeiro trimestre de 2017, a taxa de crimes com morte violenta (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e auto de resistência) foram as mais altas no Rio de Janeiro desde 2009, de acordo com os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). A escalada da violência urbana fomentou um clima de caos social no Estado, onde a segurança pública parecia estar em colapso. A partir desse cenário, o então presidente Michel Temer (MDB) assinou um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em 28 de julho de 2017, autorizando as Forças Armadas a fazerem a segurança pública do Estado do Rio até o final do mesmo ano. A medida foi o primeiro passo para que, em 2018, o governo implementasse de forma inédita uma intervenção federal no estado, onde o GLO foi prorrogado até o fim do ano.

Antes do decreto que levou à intervenção federal no Rio de Janeiro pelas Forças Armadas, a segurança pública do Estado esteve sob a responsabilidade, por 10 anos, do secretário José Mariano Beltrame, para quem, geralmente, depois do ex-governador Sérgio Cabral, se voltavam os holofotes da imprensa. Com a saída de Beltrame do cargo, em outubro de 2016, entram na cena midiática outras vozes da área de segurança, situação que reforça ainda mais o processo de midiatização (HJARVARD, 2014) a que os órgãos de segurança fluminense são submetidos. A pesquisa busca analisar a subsequente politização desses agentes de segurança pública, fruto deste e outros eventos midiatizados, como os fenômenos do lavajatismo e do bolsonarismo.

É neste contexto que a problemática do presente artigo se desenvolve, baseada na conjuntura que possibilitou a difusão do discurso sobre ‘lei e ordem’ no país e, mais especificamente, no Rio de Janeiro. Essa máxima tem origem no movimento law and order desenvolvido nos Estados Unidos a partir das propostas do cientista político americano James Q. Wilson na década de 1970. Ao considerar sua importação para o contexto brasileiro a partir dos anos 1990, o trabalho discutirá a influência da retórica do Direito Penal Máximo na ascensão de figuras ligadas às forças policiais e ao militarismo ao poder político.

O principal objetivo do estudo é investigar a difusão do discurso sobre ‘lei e ordem’ pela imprensa do Rio de Janeiro e o seu impacto na intensificação do processo de midiatização dos agentes da segurança pública. Além disso, busca-se compreender os efeitos da publicidade dos agentes de segurança e a natureza da relação entre os campos da mídia e da segurança pública, aprofundando a observação acerca das suas tensões e aproximações. O tom do debate público sobre segurança pública e a influência da representação midiática sobre o tema no anseio da opinião pública por mais segurança, bem como o reflexo disso nos dados de violência policial, também irão nortear o trabalho.

Para analisar esse fenômeno especificamente no Rio de Janeiro, elegemos dez reportagens do principal telejornal local do Estado, o RJTV, do Grupo Globo, veiculadas do início de 2017 ao final de 2019. As matérias foram selecionadas segundo os índices de ocorrência de tiroteio com maior expressividade no banco de dados abertos da plataforma Fogo Cruzado, que mapeia desde 2016 informações sobre tiroteios e crimes correlatos no Grande Rio. Os materiais foram tratados com os aportes metodológicos da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016) e da Análise Crítica de Discurso (FAIRCLOUGH, 2001).

Referências bibliográficas:

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Editora da UnB, 2001.

HJARVARD, S. Midiatização: conceituando a mudança social e cultural. MATRIZes, v. 8, p. 21–44, 2 jul. 2014.

Sexualidade sob demanda: moralidade e sociabilidade na plataforma Onlyfans - por Henry Fragel

Ativa desde 2016, a rede social online Onlyfans foi criada com a proposta conectar criadores de conteúdo exclusivo e seus fãs, em que os primeiros são remunerados pelos segundos por meio de uma assinatura mensal. Hoje, conta com mais de 45 milhões de usuários. Com o passar do tempo, uma amostra diversificada de usuários deu à plataforma novas aplicações, destacando-se a comercialização de mídia com nudez parcial ou total, convertendo a intimidade espetacular em receita financeira, em um exercício típico do “show do eu” (SIBILIA, 2008). O jornal New York Times chamou essa modalidade de interação social, baseada na oferta e no consumo de conteúdos sexuais, de “paywall do pornô”. Porém, o regulamento da rede descreve algumas limitações de postagens e proíbe a promoção de serviços de acompanhamento e prostituição.


Tendo a plataforma como objeto, esta pesquisa se orienta por dois eixos temáticos, delineados pelos conflitos levantados pela interação entre os usuários a partir da estrutura tecno-comunicacional propiciada pela web 2.0 e pelas implicações econômicas, culturais e comportamentais que a acompanham. Os administradores da Onlyfans têm sido acusados de excluir perfis de usuários de longa data, como trabalhadores sexuais - ou seja, atores que têm como renda primária o trabalho sexual - em detrimento do fluxo de novos usuários, como celebridades e YouTubers - especialmente durante a pandemia de covid-19. A crítica é fortalecida após o ingresso da atriz americana Bella Thorne no site: em uma semana, faturou dois milhões de dólares em inscrições e gorjetas; as gorjetas monetizam conteúdo customizado demandado pelos fãs. Na semana seguinte, o valor máximo das gorjetas foi diminuído, prejudicando trabalhadores sexuais. Porta-vozes da Onlyfans negaram que a decisão tenha caráter penalizante.

Considerando as tensões entre criadores de conteúdo e trabalhadores sexuais na rede social e a porosidade entre essas categorias, a pesquisa tem como objetivo principal investigar o impacto da lógica moral por trás do Onlyfans sobre a midiatização (HJARVARD, 2013) do trabalho sexual. Até que ponto a plataforma fortalece um padrão de conduta que naturaliza o sexo à venda mas mantém o estigma sobre trabalhadores sexuais? Considerando as potencialidades da Onlyfans como rede de trabalho informal, a pesquisa também se preocupa com a análise da atmosfera moral que cerceia a performance da intimidade no site e formas de interação produzidas pelo culto à celebridade sob demanda. Com os dados coletados, que incluem termos de compromisso e comentários em outras redes sociais e na imprensa, foram construídos mapas de sociabilidade digital. Utilizando a cartografia de controvérsias, percurso metodológico que parte da Teoria Ator-Rede (LATOUR, 2012), os mapas buscam evidenciar narrativas de individualidade que surgem a partir da interação do corpo com as ferramentas de comunicação e recriação estética, além de valores e hierarquias sedimentados pela plataforma.

Referências Bibliográficas:

HJARVARD, Stig. The Mediatization of culture and society. New York: Routledge, 2013.

LATOUR, Bruno. Reassembling the social: an introduction to actor-network-theory. Oxford: Oxford University Press, 2012.

SIBILA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

Semana de Integração Acadêmica (SIAC) da UFRJ 2019

A midiatização da Justiça: a cobertura da Operação Lava Jato e a crise de representatividade na democracia brasileira - por Emanuelle Bordalo

* Recebeu menção honrosa como melhor trabalho da sessão

A operação Lava Jato é considerada a maior investigação sobre crimes de corrupção e lavagem de dinheiro da história do Brasil. Com início em março de 2014, conta com diferentes fases investigativas e permanece em andamento até os dias atuais. A partir de uma análise da cobertura jornalística da operação, a pesquisa busca avaliar como o processo de midiatização (HJAVARD) dos fatos jurídicos tem relação com a crise na democracia liberal brasileira. Afinal, como a cobertura intensiva do caso, no contexto da sociedade em rede (CASTELLS), colaborou para a crise de representatividade política? A midiatização dos crimes de “colarinho branco”, por meio da espetacularização dos fatos, influenciou no aumento da desconfiança nas instituições políticas por parte da opinião pública? A pesquisa parte da hipótese de que a espetacularização presente na cobertura da operação Lava Jato, inserida na conjuntura contemporânea em que os assuntos políticos são amplamente disseminados e discutidos nas redes sociais, foi o estopim para a acentuação da crise de representação dos governados em relação aos governantes. Como consequência direta, há a associação discursiva generalizada de que todos os agentes políticos integram esquemas de corrupção. Diante disso, alimentou-se a completa descrença nas instituições políticas do Estado, estimulando a busca por soluções alternativas materializadas em figuras anti-establishment. Além de buscar explicar a função da cobertura jornalística da operação Lava Jato no avanço da crise de representatividade política, a pesquisa se propõe a compreender as problemáticas desse modus operandi e vislumbrar caminhos alternativos para uma produção jornalística menos espetacularizada, mesmo inserida na lógica da era digital. Para tanto, tem como objetivo específico levantar no Portal G1 as notícias mais relevantes sobre a Lava Jato, realizando uma análise quantitativa e teórica. A avaliação mensurável dos dados considerará o nível de alcance das principais matérias, incluindo o número de compartilhamento nas redes sociais e de comentários na própria página do portal. No campo teórico, estabelecerá a relação entre os conceitos presentes nas referências bibliográficas escolhidas e o resultado empírico coletado. O corpus da pesquisa foi definido por meio das matérias jornalísticas mais relevantes no G1 correspondentes ao período entre 3 de agosto de 2015 e 8 de julho de 2018. O espaço temporal inicia-se na 17ª fase da operação, nomeada de “Pixuleco”, quando foi decretada a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), e termina três meses após a prisão do ex-presidente Lula, no dia em que o desembargador plantonista Rogério Favreto, do TRF-4, concebeu o habeas corpus ao ex-presidente.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

HJAVARD, Stig. A midiatização da cultura e da sociedade. São Leopoldo, RS: Unisinos, 2014.

Algoritmização da opinião sob o efeito bolha: a formação de consenso no Facebook sobre as universidades públicas federais em 2019 - por Manuela Caputo

* Recebeu menção honrosa como melhor trabalho da sessão

No Brasil, a web já ultrapassou o rádio, os jornais e as revistas, e é o segundo meio de comunicação mais procurado pelo(a)s brasileiro(a)s para obter informação, tendo sido mencionada por quase metade da população (49%) na Pesquisa Brasileira de Mídia de 2016. Os sites de redes sociais têm ganhado cada vez mais destaque: em 2017, a agência estadunidense Quartz divulgou que 67% do(a)s brasileiro(a)s buscam, prioritariamente, o Facebook para se informar. Nesse cenário, a pesquisa analisa essa tendência de influência na formação da opinião pública (TARDE, 2005) sobre os acontecimentos nacionais, utilizando como estudo de caso o corte de verbas nas universidades federais, anunciado pelo Ministério da Educação em abril de 2019. O corte de 30% seria inicialmente aplicado apenas a UnB, UFF e UFBA, sob a alegação do Ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que tais instituições promoviam atividades políticas, qualificadas como “balbúrdia”, e que possuíam fraco rendimento acadêmico (Folha de S. Paulo, 2019). Em 2018, o Facebook declarou que iria priorizar as postagens que estimulem conversas e interações significativas entre as pessoas, prevendo em quais postagens os usuários desejam interagir com seus amigos e mostrar essas postagens mais altas no feed. Como aponta Eli Pariser, o algoritmo que possibilita essa dinâmica facilita também a formação de “bolhas”, noção para expressar onde a situação em que os usuários se cercam apenas de opiniões similares as suas. Dada a realidade polarizada que ainda vive o país após as eleições presidenciais de 2018, a pesquisa buscará a compreensão dos conceitos de “bolha”, polarização e opinião pública a partir da repercussão dos cortes nas instituições públicas de ensino. O estudo sobre a difusão de notícias no Facebook é realizado a partir de uma seleção de conteúdos publicados nas páginas dos principais veículos de comunicação do Brasil, durante os meses de abril e maio, para, com o uso da extensão CrowdTangle – que indica as métricas relacionadas à página visitada –, identificar as principais páginas difusoras dessas notícias, analisando seu posicionamento político, bem como analisar quais notícias obtiveram maior ou menor repercussão na rede, buscando sua justificativa através do discurso contido nas notícias. Já a recepção às notícias no Facebook é analisada a partir dos comentários dos usuários, submetidos à Análise Crítica do Discurso (FOUCAULT, 2000) e à Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), de modo a avaliar se essa interação reforça ou não a sensação de “bolha” acerca do tema abordado pela imprensa, como consequência da seleção que o algoritmo realiza ao exibir as postagens no feed.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

TARDE, Gabriel. A opinião e as massas. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.

O papel do algoritmo do Google no consumo de notícias: gatekeeper computacional e bolha informacional - por Carolina Nalin e Anna Beatriz Vargas

* Recebeu menção honrosa como melhor trabalho da sessão, com publicação de resumo expandido na Revista do CFCH, disponível em: http://revista.cfch.ufrj.br/images/edicao-siac2019/156.pdf

Diante das técnicas utilizadas no jornalismo impresso, o gatekeeper sempre deteve uma influência importante no processo de seleção das notícias a serem publicadas. É através deste chamado “porteiro da redação” que se realizam os fluxos tradicionais de notícias e que, segundo White (1950), se explica, segundo critérios subjetivos e arbitrários, a forma de escolher o que é ou não notícia para a mídia tradicional. Atualmente, é possível constatar que os algoritmos computacionais se tornaram os novos gatekeepers culturais (STRIPHAS), pois são eles os responsáveis pela seleção e ordenação do conteúdo que é exibido aos internautas em sites, redes sociais online e aplicativos como Google, Facebook, Twitter, Netflix, Spotify e muitos outros. Ao uso global e massivo dos recursos da empresa Google, como o seu mecanismo de busca e outros vários serviços gratuitos, inclusive o Youtube, já foi dado o nome de “googlização de tudo” (VAIDHYANATHAN), fenômeno explicado pela liderança imbatível do Google entre buscadores – 75,3% das pesquisas na internet mundial foram feitas nele, em abril/2019, através de desktops e laptops; se considerados os dispositivos móveis, a participação sobe para 89,3% (Net Marketshare). A suposta boa intenção da Google expressa em sua missão: “organizar as informações do mundo para que sejam universalmente acessíveis e úteis para todos” (GOOGLE). Tomando tal questão como provocação, essa pesquisa busca demonstrar como, ao selecionar e ordenar conteúdos jornalísticos para os seus usuários, o Google, através da ferramenta Google News, transforma o consumo das notícias pelos usuários, ainda mais por que, segundo o IBGE, 69% dos brasileiros já acessam a internet via celular. A pesquisa é movida pela hipótese de que, tomando os resultados do algoritmo do Google, que limita o conteúdo e o número de fontes jornalísticas a partir dos perfis de navegação dos internautas, estes ficam reféns da bolha (PARISER) noticiosa que a ferramenta cria. Pretende-se analisar, a partir de um grupo de usuários (considerando faixa etária, sexo, renda, nível escolar, posição política etc.) aos quais será aplicado um questionário, quais notícias cada um deles recebe. Ainda que a região geográfica do usuário seja um critério para apresentar os conteúdos, limitar o resultado aos veículos de comunicação da cidade ou da região dele não terá o efeito de restringi-lo a uma bolha informativa? Além da tabulação dos questionários, a pesquisa trabalha com Análise de Conteúdo (BADIN), considerando a classificação das notícias mais exibidas de acordo com as características do entrevistado.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

VAIDHYANATHAN, Siva. The Googlization of everything should worry: and why we should worry. Berkeley: University of California Press, 2011.

STRIPHAS, Ted. Algorithmic Culture. European Journal of Cultural Studies, s.l., v. 18, n. 4-5, p. 395-412, 1 ago. 2015. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1367549415577392

WHITE, D. M. The “gate keeper”: a case study in the selection of news. In: DEXTER, L. A.; WHITE, D. M. (org.). People, society, and mass communication. New York: The Free Press of Glencoe, 1964. p. 160–172. Disponível em: http://www.aejmc.org/home/wp-content/uploads/2012/09/Journalism-Quarterly-1950-White-383-90.pdf.

De líderes de opinião a influenciadores digitais: como redesenham a relação marca-público? - por Mariana Barbalho

* Recebeu menção honrosa como melhor trabalho da sessão

Ao proporem a teoria do fluxo comunicacional em duas etapas, Lazarsfeld, Berelson e Gaudet defenderam, nos anos 1940, que os líderes de opinião exercem um papel especial na rede de relações pessoais, pois é a partir deles que fluem as ideias presentes no rádio e nos veículos impressos para “as seções menos ativas da população” (1944). Ou seja, as relações pessoais de quase 80 anos atrás garantiam certas vantagens no processo de influência dos mais engajados, ou mais articulados, politicamente sobre aqueles mais suscetíveis a mudanças de opinião, ampliando o alcance dos meios de comunicação de massa. Se a pesquisa levava em conta a influência pessoal a partir dos contatos presenciais dentro de grupos sociais, os desdobramentos tecno-culturais da internet nos últimos anos – a web 2.0 e as redes sociais online – fizeram emergir novos tipos de líderes de opinião: os influenciadores digitais. A diferença é que eles são capazes de ter uma ascendência sobre grande número de pessoas sem que precisem estar, juntos, no mesmo espaço e tempo, para exercer poder sobre as decisões de consumo e estilo de vida e sobre as opiniões de quem decide segui-los. Uma empresa de calçados, por exemplo, vendeu metade de sua coleção depois que a blogueira de moda Camila Coutinho publicou uma foto no seu perfil no Instagram (Mundo S/A apud KARHAWI, 2017). Hoje, as grandes marcas vislumbram nos influenciadores digitais a possibilidade de uma estratégia digital que as aproxime do seu target a partir da transmissão de signos positivos do influenciador para a marca. Contudo, apesar de todos os avanços na área do marketing digital, ainda não é possível entender os impactos que tal personalidade produz na relação público-marca, porque ela está repleta de variáveis que vão muito além do engajamento com curtidas e comentários. Buscando examinar uma face desse complexo cenário, a pesquisa tem como objetivo analisar a relação entre marcas e seus influenciadores no Twitter. Para tal, foram escolhidas as seguintes marcas e os respectivos influenciadores que produzem conteúdos para elas: Rapp e Cid (@naosalvo, com 1,84 milhões de seguidores); ThurderX3 e Felipe Neto (@felipeneto, com 8,89 milhões); Coca-Cola e Maisa (@maisa, com 5,03 milhões). As três marcas fazem parte do corpus devido à forte presença no Twitter, no Youtube e na televisão. O primeiro influenciador selecionado porque está desenvolvendo e exibindo com exclusividade uma série patrocinada pela marca; o segundo porque tem forte presença no Twitter, voltado ao público infantil; e a terceira é uma personalidade jovem com crescente presença na TV e no digital. Para lidar com os dados coletados, lançaremos mão da Análise de Redes Sociais (FREEMAN, 2004; LEMIEUX; OUIMET, 2004), baseada na Teoria dos Grafos (WASSERMAN; FAUST, 1999). Nela, verificaremos, além do engajamento, menções e tráfego, os friends (perfil que se segue) que marca e influenciador possuem em comum.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FREEMAN, L. C. The development of social network analysis: a study in the sociology of science. Vancouver: Empirical Press, 2004.

OLIVEIRA, Maria José da Costa; SCROFERNEKER, Cleusa Maria Andrade; PENAFIERI, Vania; MAINIERI, Tiago (orgs.). Anais do XI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas. Porto Alegre, RS: Edipucrs, 2018. Disponível em: <http://editora.pucrs.br/acessolivre/anais/abrapcorp/assets/edicoes/2017/comp-lista-docs.html>.

LAZARSFELD, P.; BERELSON, B.; GAUDET, H. The people’s choice: how the voter makes up his mind in a presidential campaign. 3rd edition. New York: Columbia University Press, 1968.

Influenciadores digitais e o engajamento nas redes sociais online: a causa negra em debate no Instagram - por Ana Clara Cerqueira

A internet possibilitou a autocomunicação de massa, que Castells chama de “nova forma de comunicação interativa caracterizada pela capacidade de enviar mensagens de muitos para muitos” (2009, p. 87), expressão que tomou sua forma mais visível através da web 2.0 e, principalmente, das redes sociais online. Com estas, ganharam importância certos usuários da rede, os chamados influenciadores digitais, que ostentam o poder de influir nas decisões sobre consumo de produtos, serviços e bens culturais, bem como sobre o estilo de vida de seus seguidores. Viram alvos de empresas que querem alcançar certos públicos com suas mensagens e, assim, tornam-se peças importantes na economia pela influência que exercem na rede. Mas se os influenciadores digitais são capazes de interferir no consumo, com suas postagens também podem angariar engajamento em torno de como se posicionam em relação a pautas e temáticas sociais, seja de modo liberal ou conservador, à esquerda ou à direita, contra ou a favor de minorias e dos direitos humanos. Diante de tal ambiente comunicacional, o objetivo da pesquisa é compreender como os influenciadores digitais, ou trendsetters, que produzem conteúdos sobre questões sociais contribuem para a ampliação dos debates e de que maneira os posts podem gerar a conscientização de seu público e transformações no mundo real. Ou seja, o estudo tem por objetivo entender o impacto das redes sociais digitais, como esse advento permite que pessoas de fora do mundo da mídia (os chamados “olimpianos”, segundo Morin [1984]) ganhem influência e de que forma o ativismo na internet contribui para o empoderamento de certos setores da sociedade. Para avaliar tal questão, a pesquisa tem como objeto de estudo os perfis de duas influenciadoras digitais no Instagram cujos temas de suas postagens são a causa negra, através do feminismo, comportamento e preconceitos: Djamila Ribeiro (@djamilaribeiro1, 401 mil seguidores) e Isabela Reis (@belareis, 34 mil seguidores). Para analisar os posts das duas influenciadoras, bem como as respostas a eles por parte de seus followers, inclusive comparando-os, serão usadas a Análise de Conteúdo (BADIN, 1994) e a Análise Crítica do Discurso (VAN DIJK, 2008; FAIRCLOUGH, 2001). A intenção é, a partir dos comentários, avaliar se os assuntos tratado pelas influenciadoras geram debates e consequentemente conscientização dos seguidores.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CASTELLS, Manuel. Comunicación y poder. Madrid: Alianza Editorial, 2009.

FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora UnB, 2001.

KARHAWI, Issaaf. Influenciadores digitais: conceitos e práticas em discussão. In OLIVEIRA, Maria J. da C.; SCROFERNEKER, Cleusa M. A.; PENAFIERI, Vania; MAINIERI, Tiago (orgs.). Anais do XI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2018. Disponível em: http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/a

O uso do Twitter como forma de comunicação política no Brasil: da mediação da mídia à desintermediação das redes sociais online - por Moniqui Frazão

Os meios de comunicação tradicionais exerceram, historicamente, papel de mediação entre os agentes políticos e a população. Entretanto, com a popularização da internet e das redes sociais, sobretudo depois da web 2.0, os representantes da política partidária passaram a utilizar a internet como forma de comunicação mais direta com os eleitores/governados, em uma alternativa à intermediação dos criticados meios de comunicação tradicionais. A tal processo, no qual ganhou destaque, em escala global, o uso das redes sociais online por membros dos poderes Executivo e Legislativo (cujo exemplo mais emblemático é o presidente americano Donald Trump), foi o dado o nome de desintermediação (ROSSINI; LEAL). No caso brasileiro, destaca-se o recente fenômeno do uso do Twitter por autoridades para o tratamento, com seus seguidores, de diversos assuntos, como faz o presidente da República, Jair Bolsonaro (@jairbolsonaro, com 4,2 milhões de followers). Além da utilização da rede social como veículo de comunicação política pelo presidente, fazem parte do corpus da pesquisa os perfis do presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia (@RodrigoMaia, 118 mil seguidores), e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (@davialcolumbre, 130 mil seguidores). O material recolhido das contas das três principais autoridades brasileiras eleitas será analisado com os recursos metodológicos da Análise de Conteúdo (BARDIN, 1994), considerando sua frequência, temáticas e tipos das postagens. Um aspecto que requer atenção na análise é se os políticos fazem alguma referência aos meios de comunicação tradicionais e como interagem com eles, ou seja, o histórico de opiniões emitidas e da relação desses políticos com a mídia. A hipótese que orienta a pesquisa é a de que a utilização de redes sociais para comunicação política reflete o questionamento dos veículos jornalísticos, constantemente acusados de serem parciais na forma de transmitirem informações. Mas o uso da internet e das redes sociais como forma de desviar da mediação dos grupos de comunicação hegemônicos não representa, necessariamente, o fim de uma intermediação, mas a alteração do mediador. O papel dos meios de comunicação não é, entretanto, descartado totalmente, servindo como meio de disseminação das informações ao público fora do ciberespaço e agindo em complemento à comunicação via redes sociais, em um movimento de convergência de mídias.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1994.

ROSSINI, Patrícia Gonçalves da Conceição; LEAL, Paulo Roberto Figueira. Os perfis de presidentes latino-americanos no Twitter: desafios da representação política no contexto da desintermediação comunicacional. Revista Cadernos Sociais e Políticos, v.1, n.2, ago-dez/2012. Disponível em: Acesso em: 08 de abril de 2019.

Redes sociais online, publicidade e vigilância: a lógica do algoritmo do Facebook na determinação dos anúncios exibidos aos usuários - por Mariana Paz e Letícia Nery

Sites de busca, como o Google, e de redes sociais, como Facebook, Twitter e Instagram, se apresentam como serviços aos quais os usuários são convidados a aderir gratuitamente. O que não fica muito claro, porém, é quanto de sua privacidade o usuário perde para usufruir dos recursos que as ferramentas disponibilizam. Ou seja, ao ingressar no “maravilhoso mundo” das facilidades que lhe são ofertadas, o internauta não tem claro como exatamente seus dados são explorados e se vê sob constante assédio para se engajar, eufemismo para que o usuário dispense o máximo de seu tempo à navegação nos sites e aplicativos. Sobre os diferentes dados – os concedidos conscientemente, mas também outros que o usuário sequer desconfia – agem os algoritmos das empresas com vários objetivos, entre eles garantir aos anunciantes o alcance mais eficaz possível para chegar até seus públicos, com a precisão de fazer surgir um anúncio na tela do computador de cada usuário exatamente no momento em que ele dá pistas de que tem interesse em um produto ou serviço. Ao mesmo tempo que a publicidade personalizada permitida pelos algoritmos oferece uma experiência individualizada de estímulo ao consumo, cada vez mais tem se discutido os limites de privacidade que esta forma estratégica de marketing digital pode ultrapassar e o impacto da mesma sobre os internautas. Em um mundo que fica mais conectado a cada dia, faz-se necessário entender até que ponto os usuários estão abrindo mão, conscientemente ou não, de suas privacidades para participar da rede e se manter online, pois, além da vigilância estatal, os usuários da internet são alvo também da vigilância mercantil (VIEIRA; EVANGELISTA, 2015). Para analisar a ação dos algoritmos e, consequentemente, avaliar suas lógicas na determinação dos anúncios publicitários patrocinados, foi escolhido o Facebook como objeto de estudo. Como o algoritmo da rede social (EdgeRank) é uma verdadeira caixa preta, o trabalho tem seu foco nos internautas. Para tal, elegeu um grupo de usuários, em diferentes faixas etárias, econômicas e educacionais, para aplicar um questionário com o qual busca avaliar a relação entre os anúncios nos News Feeds deles, os seus diferentes dados de navegação – resultado da interação com o Facebook mas também com outros sites e aplicativos – e a invasão de suas privacidades. O resultado do cruzamento de tais informações é comparado com o Termo de Serviço e a Política de Dados mais recentes (19/4/2018) do Facebook, para avaliar quão próximos estão os News Feed dos usuários do que a empresa apresenta como suas regras (EGAN; BERINGER, 2018).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

EGAN, Erin; BERINGER, Ashlie. Estamos tornando nossos termos e política de dados mais claros, sem solicitar novos dados no Facebook. Facebook, 4 abr. 2018. Disponível em: https://br.newsroom.fb.com/news/2018/04/estamos-tornando-nossos-termos-e-politica-de-dados-mais-claros-sem-solicitar-novos-dados-no-facebook/. Acesso em: 10 maio 2019.

VIEIRA, M. S.; EVANGELISTA, R. A máquina de exploração mercantil da privacidade e suas conexões sociais (The Mercantile Privacy-Exploiting Machine and Its Social Connections) (May 12, 2015). 3rd International LAVITS Symposium, Rio de Janeiro, 2015, Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=2608251 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2608251

Educação em vídeo no YouTube: as estratégias de ensino dos "edutubers" sob a lógica da comunicação em rede - por Leticia Caroline da Silva

O ensino a distância (EAD) teve vários experimentos no Brasil ao longo de mais de um século. A primeira experiência aconteceu em 1904, quando o Jornal do Brasil anunciou um curso profissional de datilografia por correspondência. Mas a EAD é iniciada de fato no país em 1923, ao serem oferecidos vários cursos voltados à profissionalização através da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (ALVES). Um dos destaques na área, devido à capacidade nacional de cobertura, foi a criação do Telecurso 2° Grau, pela TV Globo. Com a expansão global das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) desde o fim do século XX, principalmente a partir da internet e da web 2.0, a oferta de conteúdos educacionais para consumo assíncrono, ou seja, que não exigem o contato entre professor e alunos no mesmo tempo, tem estabelecido um novo ambiente educacional, regido pela comunicação em rede (CASTELLS), que afeta a atuação docente e a formação de estudantes. Entre as várias ferramentas tecnológicas disponíveis para esse tipo de EAD, pagas ou gratuitas, estão o YouTube, plataforma de compartilhamento de vídeos da empresa Google. Uma pesquisa da empresa de marketing de influência TubeLab indicou que, em 2017, cresceu mais de 100% a oferta de vídeos com conteúdos educacionais no YouTube (Meio&Mensagem, 2018). Diante desse novo cenário, a pesquisa tem como objetivo analisar como o YouTube tem se estabelecido como um ambiente digital para novas maneiras de estudar, o que o faz ser atrativo e como os "edutubers" (termo utilizado para definir os educadores que utilizam a plataforma) ganham status de verdadeiras celebridades para seus seguidores. São objetos da pesquisa os canais Débora Aladim (com 2,06 milhões de inscritos) e Descomplica (2,36 milhões), ambos voltados para jovens em preparação para o Enem. Enquanto o primeiro é mais focado em vídeo-aulas de História, o outro se propõe a ser mais generalista, tratando de "todas as matérias se Ensino Médio, inclusive Filosofia, Sociologia, Inglês e Espanhol". Como houve em 2017 um aumento exponencial dos vídeos educacionais na plataforma, o corpus a ser analisado será desse ano - entre 8 de maio (começo das inscrições do Enem) e 12 de novembro (segundo dia de prova do exame) -, baseado no critério quantitativo: os dois conteúdos mais visualizados e os dois menos acessados, em cada canal. Assim, são avaliados os diferentes elementos discursivos (texto, áudio, vídeo, animação) usados pelos "edutubers" nas suas estratégias de cativar os inscritos e para se diferenciarem das didáticas usadas nas salas de aula presenciais, bem como os comentários dos espectadores dos vídeos. Em termos metodológicos, a pesquisa lida com as estatísticas produzidas nos dois canais, através de levantamentos feitos pelo site Social Blade. E os vídeos e seus comentários são submetidos à Análise de Conteúdo (BARDIN), buscando reconhecer os padrões que aproximam e diferenciam os dois "edutubers", bem como se manifestam os seus seguidores.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALVES, Lucineia. Educação a distância: conceitos e história no Brasil e no mundo. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância. v.10, 2011. Disponível em: http://seer.abed.net.br/index.php/RBAAD/article/view/235

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1994.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação. v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

SIAC da UFRJ 2018

A greve que parou o país: a construção da narrativa através das hashtags #foratemer, #ficatemer, #grevedoscaminhoneiros e #somostodoscaminhoneiros - por Mariana Barbalho e Nathália Pessoa

* Recebeu menção honrosa como melhor trabalho da sessão

Para reivindicar a redução da carga tributária sobre o diesel a 0%, os caminhoneiros bloquearam, no dia 21 de maio de 2018, rodovias de 17 estados. Nos nove dias subsequentes, o movimento chegou a 569 pontos de manifestação e, com os caminhões parados, muitos produtos deixaram de chegar aos consumidores. Além disso, 13 aeroportos ficaram sem combustíveis e, como consequência, o país praticamente parou. A ação desconcertada do Governo Federal nas negociações com os caminhoneiros transformou o presidente Michel Temer, mais uma vez, em alvo de um grande volume de reclamações. E, além dos meios de comunicação tradicionais (jornais, revistas, TVs etc.), grande parte das críticas aconteceram nas redes sociais online, espaços onde várias e diferentes narrativas foram construídas sobre a atuação do presidente em relação à greve. Para um dirigente que tem acumulado as piores avaliações em toda a história dos presidentes do país (DATAFOLHA, 2018), as postagens em redes sociais têm sido um dos canais da alta insatisfação com a gestão de Temer. A essa pesquisa, interessa especificamente as manifestações que circulam no Twitter, porque são tomados como caixas de ressonância dos discursos disseminados na sociedade e nos meios de comunicação sobre a greve dos caminhoneiros. Mas também interessa saber também como essas postagens se relacionam com os conteúdos jornalísticos do período. Essa pesquisa assume como hipótese que, ao usarem a combinação das hashtags #ForaTemer e #FicaTemer com aquelas que se referem à greve, pode haver alguma artificialidade nessas enunciações, seja no sentido de haver alguma manipulação do debate com uso de bots (perfis programados para executar ações automaticamente), seja pela replicação dos conteúdos de jornais, em relação ao movimento grevista e ao presidente Temer, influenciando a opinião pública. Por isso, são analisados os tuítes publicados no período de 21 a 31 de maio, escolhidos sob o critério de ostentarem as hashtags #ForaTemer, #FicaTemer, #GreveDosCaminhoneiros e #SomosTodosCaminhoneiros, assim como as matérias dos jornais O Globo e Folha de S. Paulo desses mesmos dias. O corpus formado por esses tuítes e as notícias dos dois veículos serão analisados com os recursos metodológicos da Análise do Discurso (VERÓN, 2004; BENVENISTE, 1988, 1999; FOUCAULT, 2000), considerado sob a perspectiva da Teoria da Enunciação, e o comportamento dos usuários, segundo a Teoria da Espiral do Silêncio (NOELLE-NEUMANN, 1977). Ainda é interesse da pesquisa avaliar como se constrói a rede social de alguns perfis do Twitter, especificamente a relação entre os tipos ego (nó focal) e seus seguidores (alter-ego), para entender como, a partir de um conteúdo, se formam as interações e são construídas as narrativas sobre certos fatos. Para essa parte do estudo, serão usados os recursos metodológicos da Análise de Redes Sociais (ARS), baseada em Recuero (2017) e em Borgatti, Everett e Johnson (2013).

Polarização política nas redes sociais online: o Facebook como arena discursiva para as redes dos pré-candidatos à presidência Lula e Bolsonaro - por Manuella Caputo

O contexto político atual dá a entender que as eleições a serem realizadas em outubro de 2018 ocorrerão sob um quadro de acentuada polarização ideológica, principalmente para presidente da República. O pleito acontecerá a partir de um embate acirrado que tem como mote a crise política e econômica que o país vive sob o governo do presidente Michel Temer, ainda sob as consequências do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e no cenário das atividades da Operação Lava Jato. Apesar da pluralidade de partidos políticos atuantes no Brasil e das cerca de 20 pré-candidaturas à presidência, os discursos que circulam nas redes sociais online (como Facebook e Twitter) têm apontado para uma intensão polarização entre os posicionamentos de esquerda e de direita, consubstanciados principalmente a partir das manifestações dos apoiadores/detratores dos dois pré-candidatos com maiores intenções de voto, segundo as pesquisas: Lula, do PT, e Jair Bolsonaro, do PSL (DATAFOLHA, abr. 2018; PARANÁ PESQUISAS, mai. 2018). Tomando essa conjuntura e considerando a importância da disputa presidencial de 2018, a pesquisa dirige suas atenções aos pré-candidatos Lula e Bolsonaro tendo como objetivos analisar, no ambiente das suas fanpages oficiais no Facebook, como se constitui a rede social online ao redor dos dois, formada a partir de seus seguidores (respectivamente, 3.492.547 e 5.459.718 usuários). As redes são tomadas como sistemas sociais constituídos por atores ou nós (entidades individuais - como pessoas - ou coletivas - como empresas, cidades, países, times etc.) e os relacionamentos (laços, links ou arestas) que efetuam-se entre os mesmos. Na internet, o estudo das redes sociais assume uma perspectiva interdisciplinar que busca compreender os agrupamentos humanos, suas causas, efeitos e consequências da interação social mediada pelo computador (RECUERO, 2004 e 2009; BORGATTI; EVERETT; JOHNSON, 2013). Conceitos como nó, aresta, cluster, grafo, grau de conexão, centralidade e outros são a base da Análise de Redes Socais (ARS), podendo ser realizada através de métodos quantitativos e qualitativos. Com a análise quantitativa, que envolve extração, análise e visualização de dados, essa pesquisa busca entender quem são os nós que compõem as redes dos dois pré-candidatos e como se organizam os clusters (grupos de interesses comuns) dentro delas. A partir dessa primeira leitura, a pesquisa também direciona seu olhar para os diferentes discursos que os dois atores produzem nas duas fanpages, avaliando-os, com a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), pelas temáticas que abordam em suas postagens, bem como pela forma como os seguidores dialogam com eles. Mas mais do que seus conteúdos (enunciados), os dois tipos de postagens (dos candidatos e dos seus fãs) são analisados também pelas suas formas (enunciações), tendo como base a metodologia da Análise do Discurso (VERÓN, 2004; BENVENISTE, 1988, 1999; FOUCAULT, 2000).

Noções culturais de gênero e sexualidade no Brasil a partir do Movimento Transformista - por Henry Fragel

Em meados dos anos 1960, enquanto encontravam seu auge nos Estados Unidos movimentos como a revolta de Stonewall – uma série de protestos contra a invasão policial em um bar LGBT de Nova Iorque –, o Brasil era conduzido em um sentido contrário: um golpe militar no ano de 1964 traz retrocesso às conquistas democráticas recém-adquiridas. Como se traduziriam as conquistas do pensamento acerca das temáticas de gênero e sexualidade em um país em plena onda conservadora dominado por forças abertamente excludentes a estas pautas, como a Igreja Católica e o Exército Brasileiro? Trazendo Stuart Hall e o conceito de tradução cunhado no trabalho “Identidade Cultural na Pós Modernidade”, essa pesquisa analisará o documentário “Divinas Divas”, que conquistou a maior bilheteria para um filme da categoria no Brasil em 2017. Retrata a narrativa das primeiras “transformistas” brasileiras a atingirem sucesso midiático e disseca a relação de suas identidades e performances. Além disso, as artistas pensadas a partir do filme serão comparadas a outras personagens de destaque, como a comediante Vera Verão e a cantora Pabllo Vittar e os respectivos modos de comunicação no qual se proliferaram: as primeiras, nos palcos de teatro, a segunda, na televisão, e a terceira, na internet – e como, em cada, criaram uma relação estreita entre arte, identidade e ativismo. Nota-se um câmbio fundamental para a pesquisa dos dois primeiros momentos para o terceiro: no primeiro, a fama depende da comunicação com uma audiência, e no segundo, uma audiência de massas – a partir das teorizações de Asa Briggs e Peter Burke. Ambos acontecem por meio de veículos de grande porte, como teatros renomados como o Teatro Rival e grandes emissoras de TV, como o SBT. Já difusão de Pabllo Vittar no terceiro momento pode ser pensada a partir do processo de autocomunicação como definido por Manuel Castells, uma vez que as plataformas sócio-digitais foram a mediação entre a cantora e seu público. A linguagem estética que utilizam será privilegiada nessa conexão, utilizando referências de Roland Barthes em sua obra “O Sistema da Moda” acerca do trânsito entre os signos masculinos e femininos e a noção de “campo de produção” de Pierre Bourdieu, pensando na rotatividade dos discursos que cada uma dessas etapas diferentes da arte transformista emprega, seja ao se apropriar ou ao gerar ruptura. Além disso, o resultado das análises discursivas revelará padrões culturalmente condicionadores dos momentos de emergência e decadência deste tipo de manifestação artística e política.

Crise de representação política e novos atores: uma análise de redes sobre a influência do Movimento Brasil Livre durante a greve dos caminhoneiros de 2018 - por Carolina Faria Nalin, Anna Beatriz Lima Vargas e Isabella Ferreira Gonçalves

Em um momento pré-eleitoral decisivo, uma acirrada disputa de narrativas no quadro político brasileiro está se consubstanciando, tendo como pano de fundo uma série de acontecimentos. As Jornadas de Junho de 2013, a crise política e econômica, os efeitos da Operação Lava Jato e o impeachment da presidenta Dilma Rousseff são alguns dos eventos que contribuíram para a conflituosa conjuntura política. Tal qual aponta para o uso da internet – mais especificamente para as redes sociais online – como ferramenta estratégica de comunicação e marketing nas diferentes etapas das campanhas eleitorais nos países democráticos (MARQUES; SAMPAIO; AGGIO, 2013). O início eficaz de tal uso tem sido associado à campanha vitoriosa do ex-presidente americano Barack Obama, em 2008. No Brasil, a regulamentação do uso da internet nos pleitos eleitorais data de 2009, quando o ex-presidente Lula sancionou a Lei 12.034/2009. Considerando a importância das redes sociais online nesse contexto, a pesquisa tem como objeto o Movimento Brasil Livre (MBL), ator institucional que, surgido durante o processo do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, tem tido uma atuação política-ideológica significativa desde então. A presença destas nas redes sociais é considerável: conta com mais de 2 milhões e 800 mil seguidores na fanpage do Facebook e alcança públicos de diferentes faixas etárias. Financiado por grandes empresários, o movimento é considerado suprapartidário (PERES, 2016) e levanta questões sobre estado mínimo, aumento da taxa de lucro de empresas e combate à corrupção. Considerando a presença do MBL no Facebook, tomando-o com um ator em uma rede ego-centrada, um dos objetivos é analisar como o grupo se relaciona como seus seguidores (alter conexões), observando a força da ligação entre eles. Avaliaremos quais “clusters” se formam ao redor do MBL, ou seja, quais perfis se agrupam mais fortemente e por quê. Assim, é possível observar quais inclinações políticas, visões de mundo, interesses específicos etc. os aglutinam sob a página do MBL. A avaliação de tal aspecto passa pela análise dos discursos produzidos pelo movimento e pelos seus seguidores, especificamente recortada pelos conteúdos produzidos durante a greve dos caminhoneiros, de 21 a 31 de maio. Considerar os discursos do MBL na rede social no mesmo período é também analisar se a construção da narrativa do grupo passa pela disseminação de fake news (SOUZA; TESSAROLO, 2017). A metodologia aplicada à rede social está fundada na Análise de Redes Sociais (ARS), tendo como suporte bibliográfico os autores Raquel Recuero (2017), Borgatti, Everett e Johnson (2013). Também entrará na metodologia a Análise de Discursos, utilizando a teoria da enunciação (VERÓN, 2004). Os dados coletados servirão de suporte para identificação dos “clusters” da página, o perfil de seus seguidores e que tipo de conexões são estabelecidas.



Relações de uma rede política: Ciro Gomes e a centro esquerda - por Isabelle Braga Pellegrino Oliveira

O atual momento pré eleitoral está delimitado por um cenário político-ideológico de alta polarização. A tensa disputa de narrativas entre a direita e a esquerda partidárias, acirrada pelo Impeachment de Dilma em 2016 e pela concomitante crise econômica, traz à superfície os mais diversos discursos que orientam os pré candidatos a presidência. Nesse sentido, os discursos que circulam nas redes sociais online, principalmente aqueles presentes nos perfis oficiais, são parte de uma estratégia que reproduz as ideologias dos candidatos, mas também muda o tradicional cenário das disputas eleitorais. A importância desses espaços digitais pode ser medido com as recentes campanhas eleitorais dos Estados Unidos, por exemplo. Embora o atrito entre as forças dite o ritmo da corrida eleitoral, existem candidatos que sintetizam em seu discurso as teses e antíteses das ideologias de direita e esquerda. Indo ao encontro desse esforço, essa pesquisa pretende analisar a corrente pré-candidatura e a fase inicial da candidatura do político Ciro Ferreira Gomes, marcada pelo PDT para ser lançada em 20 de julho, devido ao seu posicionamento de centro-esquerda que desafia a lógica dualista ao incorporar ideais de dois lados antagônicos. Dessa forma, propõe-se uma análise das interações online do presidenciável, utilizando sua página oficial do Twitter, assim como seus seguidores e fanpages, para estabelecer as relações sociais e políticas em que Ciro Gomes está inscrito. Essa abordagem está alinhada aos conceitos de Análise de Redes Sociais (ARS) estabelecidos por Raquel Recuero em seu livro “Redes Sociais na Internet”, publicado em 2009 pela editora Sulina, como a noção de clusters, nós e arestas, e também pelo conceito de “Sociedades em Rede” (CASTELLS, 2011). Em adição, utiliza-se a abordagem de Sampaio Marques e Aggio no seu artigo “Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil” publicado em 2013 pela EDUFBA, principalmente no âmbito da relação entre o homem e a informatização no cenário eleitoral. Assim, pretende-se investigar, confirmar ou negar, além de estabelecer os limiares da postura centrista do candidato. Por fim, a enunciação da figura pública também será objeto de estudo, utilizando como metodologia a Análise do Discurso (VERÓN, 2004; BENVENISTE, 1988, 1999; FOUCAULT, 2000) com o propósito de demonstrar e investigar o caráter dualístico de Ciro Gomes. Para explorar esse fator, dispõe-se dos “tweets”, tanto do candidato quanto de sua rede de seguidores, assim como de manchetes de matérias jornalísticas veiculadas em portais online, selecionados pelo critério de relevância através do algoritmo do mecanismo de busca Google Notícias.






Publicidade sob a dinâmica da co-criação: a relação direta entre empresas e consumidores na criação de marca - por Bruno de Azeredo

A sociedade vive em constante mudança e, com ela, alteram-se suas formas de comunicação. Do modelo unidirecional dos meios de comunicação de massa à web 2.0, os usuários passaram a ter voz. E mais precisamente nas redes sociais online, foi instituído um ambiente colaborativo entre empresas e consumidores que o transforma em um fórum, capaz de estabelecer identidade e valores entre os dois polos. Nesta nova era, o consumidor deixa de ser apenas um receptor da mensagem e passa a ser um co-criador, pois se sente representado pela marca. Com isso, no ambiente das redes sociais online, logo encontra sua identidade (CASTELLS, 1999; HALL, 2011; FREIRE, 2015). A pesquisa teve como proposta analisar como, nas principais redes sociais online – Facebook e Twitter –, como se dá a relação entre marca e consumidor, usando como objetos de pesquisas o Nubank, uma startup brasileira pioneira no segmento de serviços financeiros, famosa por sua interação com seus consumidores nas mídias digitais. Dentro desse ambiente de acirrada competição, a pesquisa se propôs a analisar as estratégias usadas pela Nubank no Facebook e no Twitter com as campanhas efetuadas a fim de provocar o desejo de abertura de conta e aquisição de cartão de crédito. Os seguidores da marca foram tomados como co-criadores, ou seja, como participantes do processo de construção da imagem das empresas. Considerando que essa nova forma de relação entre empresas e consumidores se dá no ambiente das redes sociais online, onde devem ser considerados nós/vértices, laços/arestas, clusters, grafos etc., os objetos foram analisados com os recursos metodológicos da Análise de Redes Sociais (ARS), tendo como referência RECUERO (2017), SILVA; STABILE (2016) e BORGATTI; EVERETT; JOHNSON (2013). As campanhas propriamente ditas e as manifestações dos consumidores sobre elas na forma de co-criações foram avaliadas com a metodologia da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011). Os resultados parciais, a partir da análise das estratégias da empresa, apontam para a atenção dispensada por ela a diversas tendências que são manifestadas nas redes sociais pelos consumidores. Um bom exemplo dessa interação entre marca e consumidor foi o caso ocorrido com o Jornalista Igor Santos, que recebeu um Pikachu de pelúcia vestido de roxinho, cor de forte identificação visual da marca, e uma carta escrita totalmente à mão após ter solicitado o desbloqueio do seu cartão, devido a compras feitas em moedas estrangeiras. A análise abordada mostrou que as novas interações mais humanizadas entre as empresas e os consumidores, principalmente através das redes sociais, têm permitido a elas a efetiva criação de novos valores e afetos pela marca os levando a compartilhar e elogiar a mesma para centenas de amigos nas redes sociais, pessoas que, possivelmente, acabarão se tornando seus clientes num futuro não tão distante.

A lógica publicitária nas redes sociais online: o papel dos influenciadores digitais no Instagram como mediadores do consumo - por Beatriz Custódio Nascimento, Gabriela Mendonça da Silva e Mariana Paz

Segundo a pesquisa do IBGE em 2016, 64,7% dos brasileiros tem acesso à internet. E esse número só aumenta, fazendo com que muitas empresas enxerguem na internet novas formas de fazer publicidade. É o que acontece, principalmente no Facebook e Instagram. Criada em 2010, a segunda plataforma permite o compartilhamento de fotos e vídeos, propiciando uma forte interação entre seus membros. No Instagram, os brasileiros já ultrapassam os 50 milhões de perfis ativos por mês, segundo dados disponibilizados pela plataforma em 2017. Outro fenômeno em destaque nas redes sociais e, também, para a publicidade online é o crescimento da importância dos influenciadores digitais. No contexto da sociedade da informação e da sociedade em rede (CASTELLS, 2011), os digital influencers assumem um papel de intermediadores de alto poder persuasivo, comparáveis, mas com suas especificidades, aos olimpianos, as celebridades do universo dos meios de comunicação de massa (MORIN, 1997). O interesse da pesquisa sobre esse fenômeno volta-se para os perfis no Instagram dos influenciadores Nah Cardoso (@nahcardoso, com 6,9 milhões de seguidores) e Júlio Cocielo (@cocielo, com 11,1 milhões de seguidores). Ambos usam suas altas visibilidades online, baseadas em seus estilos de vida, para promover marcas, serviços etc. Mas se a publicidade online pode ser vista a partir dos influenciadores, ela também pode ser avaliada pelo ângulo das empresas que ocupam esse espaço. Neste caso, a pesquisa interessa-se pelo perfil da empresa do setor de vestuário Just Approve (@justapprove com 757 mil seguidores). A grande diferença no número de seguidores dos perfis dos influenciadores e os da empresa Just Approve mostra como, no modelo das celebridades da comunicação de massa, o público parece ter mais empatia com atores individuais do que com atores institucionais. Assim, serão analisadas as publicações desses três perfis durante o período de janeiro à junho de 2018, essa escolha foi motivada pelos diferentes estilos de vida que cada um vende, por eles não possuírem o mesmo público alvo, essas divergências fazem com que as publicidades feitas por eles sejam diferentes. Para analisar as rede ego-centradas que se forma ao redor dos perfis dos dois influenciadores digitais e o da empresa, como seus seguidores (alter conexões), a pesquisa recorre ao método da Análise de Redes Sociais (ARS), tendo como base RECUERO (2017), SILVA; STABILE (2016) e BORGATTI; EVERETT; JOHNSON (2013). Esse conjunto formado pelos posts será avaliado com a metodologia da Análise do Discurso (VERÓN, 2004; BENVENISTE, 1988, 1999; FOUCAULT, 2000) não apenas pela perspectiva dos enunciados, mas principalmente pela enunciação, a publicidade online apresenta estratégias discursivas novas que o ambiente online requer.


SIAC da UFRJ 2017

A crise política na voz do público: a narrativa da delação através do Twitter pelas hashtags #foratemer e #ficatemer - por Bruna Vilar dos Santos Pereira e Mariana da Silva Barbalho

*Recebeu menção honrosa como melhor trabalho da sessão, com publicação de resumo expandido na Revista do CFCH, disponível em: http://revista.cfch.ufrj.br/images/edicao-siac2017/122.pdf]


No dia 18 de maio deste ano todos os jornais impressos do país chegaram às bancas estampando em suas manchetes a notícia de que Michel Temer tinha sido gravado pelo dono da empresa JBS, Joesley Batista, numa conversa que, revelados os detalhes, provocaria mais uma grave crise política para o presidente. O impacto da notícia também pôde ser medido no volume do burburinho causado nas redes sociais online. Antes restrita às seções de cartas dos leitores dos jornais, a participação do público no debate sobre os mais diferentes temas agendados pela mídia ganhou, com a internet, novo status. E o Twitter tem um papel importante nesse sentido, inclusive pela forma como já foi usado para diferentes mobilizações políticas mundo afora (MALINI; ANTOUN, 2013; GLEASON, 2013; PENNEY; DADAS, 2013). No caso específico da denúncia contra Temer, muitas foram as manifestações de usuários do Twitter, a favor ou contra o presidente. Para essa pesquisa, interessa aquelas que, nos dias de 17 e 18 de maio, circularam sob as hashtags #foratemer e #ficatemer, marcas discursivas que serviram para unificar as narrativas em relação à crise presidencial. Tomando os tweets publicados no período, o objetivo é avaliar os diferentes discursos que se formaram ao redor das duas hashtags e o “diálogo” com as notícias publicadas nos dois principais jornais do país, O Globo e Folha de S. Paulo. Também interessa avaliar o modo como se organizaram, no Twitter, as redes em torno da temática. A análise do objeto será feita tomando como base os recursos metodológicos da Análise de Redes Sociais (FREEMAN, 2004; LEMIEUX; OUIMET, 2004), baseada na Teoria dos Grafos (WASSERMAN; FAUST, 1999). Considerando o volume de tweets publicados sob as duas hashtags nos dias mencionados, um recorte para uma análise mais qualitativa se faz necessária. Assim, serão selecionadas as postagens dos atores-ego (cada um deles representado por um nó focal) com maior número de amigos (outros nós, mas também chamados de alters) e mais um grau de ego dessa rede (RECUERO, 2009); significa dizer que serão selecionados todos os amigos do ator-ego, ou a seleção de apenas um grau (o ego e os amigos de ego, ou um conjunto de nós definidos a partir de um ator central). Ao serem definidos apenas alguns atores (nós) para análise de seus tweets, isso representa a seleção de uma rede ego-centrada com alter conexões. Por fim, as postagens serão analisadas, comparativamente, com as notícias sobre o tema do Globo e da Folha de S. Paulo, a partir das metodologias da Semiologia e da Análise de Discurso (VERÓN, 2004; PINTO, 1999).


Escritas latrinárias: entre protesto e opressão - por Henry Fragel

*Recebeu menção honrosa como melhor trabalho da sessão, com publicação de resumo expandido na Revista do CFCH, disponível em: http://revista.cfch.ufrj.br/images/edicao-siac2017/70.pdf]


Em sua genealogia, sanitários públicos constituem espaços híbridos de interação social; modelo recente, o banheiro privativo ergue paredes e cabines ao redor de ritos antes compartilhados: decisões arquitetônicas naturalizam uma série de discursos sobre o corpo (FOUCAULT, Michel). Ainda, são fundamentais na socialização de crianças ao reforçar a estrutura binária dos papeis de gêneros e associações adjacentes, como a presença de seções infantis embutidas nos banheiros femininos de shopping, mas inexistentes em universidades. Cores como azul e rosa e vestimentas como calças e saias são estereótipos que preenchem os símbolos que adquirem a funcionalidade de “senha”. Há, entretanto, transgressões materializadas na produção das escritas latrinárias (DAMIÃO, Natália e TEIXEIRA, Renata), modo de comunicação que se exerce por meio de superfícies sobre as quais é possível a escrita e tornam-se mídia para certo número de pessoas, as quais podem ter contato único ou diário com mensagens em constante fabricação que configuram um “painel anônimo de confidências sobre a cultura, a sociedade e, inclusive, o próprio indivíduo” (DAMIÃO, Natália e TEIXEIRA, Renata). Os estudos que catalogam a presença dessa escrita nos banheiros universitários revelam, nos signos de temática política, a pretensão de ser uma adaptação criativa e provocativa de “grafittis” e “pixações”, uma analogia à luta por voz e uma revelação de interesses e preocupações imediatas (FERNANDES, Felipe; LONGHINI, Geni e SILVA, Kessila). Porém, soa jocosa surgindo de um ambiente majoritariamente elitizado e ignorando o viés da opressão de classe sobre os funcionários responsáveis pela limpeza do ambiente. O que esse setor trabalhador tem a dizer sobre tal articulação? A primeira etapa desta pesquisa compreende a análise do discurso nas paredes de banheiro do campus da Praia Vermelha da UFRJ, catalogado semanalmente durante os meses de junho, julho e agosto, com base em categorias analíticas postuladas por estudos semelhantes. Na etapa a seguir, serão realizadas entrevistas com os funcionários. Quanto aos alunos, pretende-se reunir amostras representativas de estudantes de pelo menos três institutos que contenham as mais ricas escritas latrinárias ou que circulem por um espaço cujo acesso a banheiros seja limitado. A pesquisa propõe nortear as principais reações despertadas pela comunicação marginal praticada pelos estudantes para os espectadores de mais longa exposição a estas mensagens e então perceber se atingem o fim comunicativo de serem despojadas e chocantes ou falácias desprovidas de significado, de acordo com o referencial de leitores obrigatórios e inevitáveis como os servidores responsáveis pela manutenção dos banheiros. Espera-se traçar perfis de trocas simbólicas e, enfim, refletir sobre a prática e explicar divergências engatilhadas por ruídos processuais.

A realidade social em construção pela timeline do Facebook: dos gatekeepers aos algoritmos computacionais - por Carolina Araújo

Se os clássicos meios de comunicação foram, durante muitas décadas, o mais importante instrumento através do qual as pessoas souberam do que estava acontecendo no mundo, atualmente eles dividem esse espaço com as mídias sociais online, entre elas Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e várias outras. A realidade, portanto, ganha contornos únicos muitas vezes a partir do que é consumido nestes espaços de interação do ciberespaço, de alcance massivo e global. Mas os usuários também produzem informações, seja conscientemente quando publicam algum conteúdo, seja inconscientemente quando curtem, compartilham conteúdos de terceiros ou apenas se fazem “presentes” na rede. Entretanto, por trás desse processo há um fenômeno pouco visível: os modos de interação entre os usuários e deles com as próprias redes sociais, e o que, a partir delas, é apresentado como informação têm sido regido pelos algoritmos computacionais implementados pelas empresas de tecnologia responsáveis por esses espaços em rede (CASTELLS, 1999). Os algoritmos se transformaram, assim, numa das expressões máximas da lógica contemporânea que estabelece hierarquias, define valores e gostos e, por fim, orienta escolhas e redesenha muitos dos valores e vínculos sociais entre os usuários (SADIN, 2015; CARDON, 2015). Tomando esse cenário, a pesquisa aqui proposta tem como objetivo analisar, na maior rede social do mundo, o Facebook (com 1,8 bilhão de perfis ativos), como é construído o News feed (ou timeline) dos usuários, considerando, no vasto mar de possibilidades, as informações que disponibiliza para eles, de acordo com as características delas (pessoais, de diferentes tipos de “amigos”, jornalísticas, publicitárias, oriundas de compartilhamento etc.), bem como a hierarquia adotada para apresentá-las. Se nos veículos de comunicação de massa, a “realidade” ofertada ao público era resultado das escolhas realizadas pelos gatekeepers (WHITE, 1950), nas redes sociais online os algoritmos estão cada vez mais substituindo-os (COMPIÈGNE, 2011). Serão analisados os News feeds de pelo menos 10 perfis que participem de uma mesma rede, escolhidos por gênero, classe social, faixa etária e declarada tendência política de seus usuários reais, durante três meses, a partir de convite dos pesquisadores. Além do mais, serão criados 5 usuários-teste, dos quais serão avaliados o feed de acordo com as variações de perfil que sofrerão durante a pesquisa. Será objeto de análise a rede composta pelos usuários, no modo como se formam os nós, as arestas e os clusters entre eles, considerando para isso a Teoria dos Grafos (RECUERO, 2009; MALINI, 2016). Ao estudo da rede serão associados os feeds dos usuários, pelo conteúdo e pela ordem como aparecem. Para isso, serão usadas a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2009) e a Análise de Discurso (VERÓN, 1997 e 2013). Espera-se, assim, avaliar o papel do algoritmo do Facebook no modo como constrói o “mundo”, através da timeline, para cada um dos usuários analisados.


Jornalismo comunitário na Favela da Rocinha: potencialidades e desafios - por Carolina Faria Nalin

Em meio ao oligopólio dos meios de comunicação no Brasil, no contexto do ciberespaço e sociabilidade perdida, o surgimento de canais comunitários propõe uma alternativa ao fluxo comunicativo unidirecional dos grandes veículos de comunicação, pertencentes, na maioria, a grandes empresas familiares. Nessa conjuntura, a inserção de atores locais no que tange a possibilidade de apropriação dos dispositivos comunicacionais fez surgir o jornal “Fala, Roça”, na favela da Rocinha, localizada no Rio de Janeiro, em 2013. Se a linguagem constitui um elo concreto, capaz de definir um grupo social e seu território (PAIVA, 1998), consideraremos a mídia como principal ator comunicacional no processo de composição de narrativas. Nessa lógica, pretende-se verificar se, de fato, o jornal comunitário, por meio do conteúdo jornalístico, contribui para a construção da identidade coletiva e se o exercício da cidadania é praticado. A hipótese que norteia a pesquisa é saber se as pautas das matérias do jornal impresso têm relação com a vida dos indivíduos da comunidade, e se estas pautas trazem transformações sociais para o espaço comum. Em 2016, a oficina de comunicação comunitária do “Fala, Roça” formou cinco colaboradores, a fim de que estes passassem a atuar no jornal, contribuindo para ampliar a noção de identidade coletiva e reafirmando o jornalismo como prática cidadã. Esta pesquisa tem como objetivo, portanto, analisar os editoriais no processo de produção do jornal. Pretendemos trabalhar com os conceitos de “memória”, “cidadania”, “periferia”, “comunidade” e “cultura”, a fim de compreender como tais conceitos são aplicados, considerando o ponto de vista do jornal sobre a comunidade. A metodologia utilizada compõe-se de pesquisa bibliográfica, pesquisa qualitativa e entrevistas com os colaboradores do jornal. Para isso, o recorte teórico utilizado será composto por Raquel Paiva, Muniz Sodré, Milton Santos, Ciro Marcondes Filho, Jailson de Souza e Silva, dentre outros. Serão apreciadas as edições de 2013 até 2016, o que representa as oito edições do jornal impresso. Ademais, pretende-se realizar uma análise teórica e empírica (VERÓN, 2004; FAUSTO NETO, 2007) para aferir de que maneira a população se apropria do dispositivo comunitário para exercício da cidadania e identidade coletiva. A pesquisa se justifica pela necessidade de legitimar e dar visibilidade à comunicação popular e comunitária, resistente ao contexto social de desagregação e esvaziamento das relações interpessoais, como “aquela forma de organização que reúne as pessoas e resgata a sociabilidade perdida” (MARCONDES FILHO, 1987).


Celebridade como autoridade: como se dá o processo de supervalorização das opiniões de personalidades midiáticas - por Roanna Azevedo Cunha

A presente pesquisa busca compreender como a mídia, mais especificamente a imprensa, confere às celebridades o poder de exercer autoridade e de que maneira essas celebridades contribuem com o desenvolvimento desse processo em benefício de si próprias. Nomeada como Embaixadora da Boa Vontade pelo Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente, em 2009, e terceira personalidade mais conhecida pelo público nacional, segundo a métrica Davie-Brown Index (DBI), a supermodelo brasileira Gisele Bündchen é uma das celebridades cuja autoridade a respeito de questões socioambientais é expressivamente destacada pela mídia. Esse trabalho, portanto, tomará a modelo Gisele Bündchen como objeto, a fim de analisar textualmente as principais matérias online a respeito de sua trajetória como ativista ambiental e tomará os estudos de desenvolvimento crítico de Ilan Kapoor acerca das ações humanitárias exercidas por celebridades. Com o apoio dos meios de comunicação, personalidades da mídia passam a ter suas opiniões superexpostas e valorizadas. Elas passam a ser consultadas sobre a gama mais ampla de problemas e servem de guia para os anônimos descrentes na vida (MORIN, Edgar). Desse modo, a partir da análise do conteúdo de notícias sobre o humanitarismo de Gisele, pretende-se identificar as estratégias de posicionamento utilizadas pela ex-top model, ao trabalhar em conjunto com a mídia na construção de sua autoridade como celebridade. Assim, a relação contemporânea de cooperação entre imprensa e personalidades midiáticas à serviço de um ponto de vista ou de uma lógica publicitária em comum será evidenciada e explorada.

Influenciadores digitais: a exposição da intimidade como forma de trabalho - por Raiane Cardoso Pinto

Fonte de renda ainda pouco estudada no país, os influenciadores digitais não dividem sua vida privada de sua atuação. Segundo Hearn e Schoenhoff (2015), os influenciadores atuam gerando uma forma de capital chamado capital célebre, cultivando o máximo de atenção possível e criando uma forma autêntica de marca pessoal através das redes sociais, que podem ser utilizadas por empresas para propagandas. Seus seguidores nas mídias sociais têm a oportunidade de saber onde estão e o que fazem a todo o momento, fazendo de seus perfis nas redes sociais verdadeiros realities shows de uma pessoa só. O presente trabalho busca compreender o fenômeno e justificar quais são as razões para o seu sucesso, visto a importância mercadológica, comunicacional e o alcance e visibilidade dos influenciadores, que atualmente possuem renda até maior que profissionais de setores tradicionais, como mostrou a revista Forbes em seu ranking de celebridades mais bem pagas, que esse ano incluíram os influenciadores nas categorias. Além disso, segundo Vieira (2016), eles possuem potencial de alterar a lógica dos investimentos em publicidade e propaganda e de ser uma possível solução para a crise de modelo de negócio que a indústria de comunicação vem sofrendo e, segundo o YouTube Insights, 82% das mulheres confiam mais na opinião de influenciadores do que em redes sociais ou televisão devido ao modo como os mesmos atuam, de modo mais informal. Serão utilizadas como corpus influenciadores que assumiram tal posto somente expondo suas vidas privadas (como Jade Seba, Natalia “Nah” Cardoso e Thaynara OG que, juntas, possuem quase 10 milhões de seguidores), diferentemente de outros quem têm nas suas habilidades profissionais, como maquiadoras e profissionais da moda, mais uma razão para os seus sucessos. Os estudos culturais e de mídia são o referencial teórico do trabalho, autores como Paula Sibilia e Crystal Abidin. Como metodologia, serão feitas análises textuais qualitativas de suas postagens nas redes sociais, em especial no Instagram, além de matérias jornalísticas (publicadas em diferentes veículos) que tenham as três como tema. Os resultados parciais obtidos apontam que as razões para o sucesso dos influenciadores sejam o modo como os mesmos se dirigem e interagem com seus fãs, de maneira mais intimista, tratando-os como verdadeiros amigos e também para a distância entre o influenciador e seu fã, que não seria tão grande como com outros tipos de celebridades. O processo de projeção e identificação (MORIN, 1984) dos fãs com os influenciadores são então intensificados, justificando o êxito da profissão, e tal possibilidade se dá em função das lógicas de funcionamento da internet, principalmente das redes sociais.

SIAC da UFRJ 2016

Disputas de sentido nos tweets do impeachment: uma análise dos discursos e dinâmicas da rede - por Carlos Eduardo Barros Pinto e Danilo Carvalho Silva

*Recebeu menção honrosa como melhor trabalho da sessão, com publicação de resumo expandido na Revista do CFCH, disponível em: http://revista.cfch.ufrj.br/images/edicao-siac2016/15.pdf]


Este trabalho discute a dinâmica social de formação das opiniões e discursos dos usuários brasileiros sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef expressos no Twitter. O site é a segunda “mídia social” mais utilizada no Brasil, e se tornou uma grande arena de produção de subjetivação e discursos, um novo lugar da disputa de sentidos - tradicionalmente centralizada nos veículos de comunicação de massa, e que hoje, midiatizada, fundamenta-se nas interações de seus perfis, atores-rede dessa produção micropolítica (LATOUR, B.; TARDE, G.). A fim de compreender a dinâmica dos discursos e perspectivas a cerca do processo de impeachment que emergiram na rede do Twitter brasileiro, extraímos desta plataforma todas as publicações dos usuários entre janeiro e maio de 2016 (do início ao auge das discussões sobre o tema), por meio do software NodeXL. Construindo um gráfico sócio-métrico com a ferramenta open-source Gephi, analisamos processos como clusterização, centralização e densidade dessas redes nesse intervalo de tempo (conceitos da Teoria dos Grafos) - observando por exemplo a influência de eventos externos, a partir do posicionamento e das relações entre os atores nesta rede. Tais processos representam as oscilações gráficas dos movimentos de interação dos atores entre si, que também refletem movimentos da sociedade brasileira como um todo (incluindo ações da mídia tradicional) - o ápice de interações na rede, por exemplo, foi no dia da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, que registrou 2 milhões de tweets. Além de visualizar a difusão de informações, procuramos identificar a propagação de ideias e opiniões (LAZARSFELD, P.; BARBERÁ, P.). Então, sobrepomos a este gráfico uma primeira análise semântica, automatizada: quais palavras são mais utilizadas por cada cluster, e como se dá a disputa de significados (DOERFEL, M. L.) nas manifestações em rede vinculadas a esta agenda política pública (LYCARIÃO, D. & SANTOS, M.)? Para uma observação mais profunda, selecionamos duas amostras distintas do recorte inicial: os 50 tweets com mais interações na rede e 3 grupos aleatórios, com 10 tweets cada, da chamada “cauda longa” (ou seja, que receberam menor número de interações). Aqui, aferimos melhor os dispositivos de enunciação destes discursos na medida das referências que acionam (BENVENISTE, E.; BAKHTIM, M.; VERÓN, E.), a posição dos perfis em diferentes perspectivas dessa disputa (BOURDIEU, P.; VIVEIROS DE CASTRO, E.; MALINI, F.) - com critérios como escolaridade, idade, sexo, temas sobre os quais publicam etc. Nosso objetivo é observar, sobretudo, quem são os sujeitos enunciadores (como projetam a si próprios e àqueles a quem se referem) e quais as possíveis relações entre as opiniões políticas expressas no discurso destes tweets e as relações de poder traçadas nesse campo de produções semióticas de subjetivação (GUATTARI, F.; ROLNIK, S.).

Das redes sociais para o livro: o papel do produtor editorial na construção dos best sellers de youtubers - por Carolina Araújo

Apesar de seu recente surgimento, as redes sociais online têm produzido diferentes e instigantes fenômenos culturais, sociais, econômicos e políticos (CASTELLS, Manuel). Através delas, muitos personagens “comuns” têm alcançado uma evidência e um destaque digno das celebridades dos tradicionais meios de comunicação de massa (SIBILA, Paula). Um dos espaços virtuais mais importantes para esse “estrelato” é o Youtube, canal onde reinam, entre outros, nomes como Kéfera Buchmann e Christian Figueiredo – jovens que transformaram suas opiniões e personalidades em uma marca que extrapolou a esfera virtual e proporcionou a conquista de oportunidades fora da internet. Os dois youtubers, manifestação mais contemporânea do conceito de “olimpiano” (MORIN, Edgar), possuem lojas online com produtos personalizados, assinam linhas de produtos, trabalham como atores, além de incursões em outras áreas. Buchmann é dona de um canal do Youtube que tem 8,5 milhões de seguidores. Christian Figueiredo possui dois canais e o principal tem 5,5 milhões de inscritos. Na esteira desse sucesso, garantido pelo número de seguidores, likes, views, compartilhamentos, retweets etc., os olimpianos virtuais têm sido assediados por editoras de livros como potenciais best sellers. No caso de Kéfera e Christian, o histórico oportunismo das empresas editoriais foi acertado, pelo menos em termos de vendas. “Muito mais de 5inco minutos”, da youtuber paranaense, publicado pela editora Paralela, vendeu mais de 197 mil exemplares em 2015; e “Eu fico loko: as desventuras de um adolescente nada convencional”, de Christian, pela editora Novo Conceito, mais de 137 mil exemplares no ano passado. Para o cenário brasileiro, com tiragens médias de 3 mil livros, os números dos dois autores os coloca na condição de mega sellers e fazem a alegria de qualquer editora. Este fenômeno suscita diversas questões para os produtores editoriais, entre elas o papel do editor como mediador entre o autor e a obra, e entre a obra e o leitor. Esta pesquisa tem se desenvolvido sob o objetivo de analisar os livros dos dois youtubers considerando como as escolhas editoriais das diferentes etapas de produção (preparação dos originais, editoração, projeto gráfico, diagramação etc.) – ARAÚJO, Emanuel; BRINGHURST, Robert; HENDEL, Richard – estão relacionadas com a “linguagem” (ou, para a Análise do Discurso, com a enunciação) posta em prática nos canais da internet (PINTO, Milton José; FAIRCLOUGH, Norman). É, portanto, um trabalho comparativo, buscando avaliar de que modo o sucesso das obras, ainda que se baseie fundamentalmente no sucesso dos seus autores, está relacionado com a devida adequação à enunciação das contas dos autores no Youtube. Ou seja, será realizada uma análise temática e estrutural do conteúdo dos livros e dos canais, comparando-os entre si, fundada na hipótese de que este ajuste é fundamental para o sucesso de vendas das obras (EARP, Fábio Sá e KORNIS, George).

Os discursos sobre o intercâmbio de trabalho social voluntário na sociedade capitalista de consumo - por Arnon Segal Hochman

Historicamente associado à satisfação de necessidades do próprio sujeito e ao conceito de virtude, o trabalho social voluntário passou a ser vinculado na sua forma moderna a uma preocupação comunitária (REIS, Jair Teixeira dos), como pode ser visto na definição dada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela International Association for Volunteer Effort (IAVE). O voluntariado vem, nas últimas décadas, recebendo atenção de organizações internacionais, governos e sociedade em geral, tendo a ONU declarado 2001 como o Ano Internacional do Voluntário e o Brasil regulamentado a atividade em 1998, através da Lei nº 9608/98. Esta crescente valorização tem, entre seus vários sentidos, um que parece estar atrelado à lógica capitalista (CALDANA, Adriana Cristina Ferreira e FIGUEIREDO, Marco Antonio de Castro; ANDRADE, Luana M. de), tomando o voluntariado como mais um produto. Sendo assim, assumimos que alguns discursos que têm o voluntariado como seu tema, sejam os publicitários ou os jornalísticos, contribuem de forma sintomática para o definirem como uma das exigências do mercado de trabalho (SOUZA, Silvana Aparecida de) e para o oferecerem como objeto de consumo. Uma de suas formas de realização se dá através de intercâmbios de voluntariado, normalmente mediados por empresas que os vendem como pacotes, nos quais podem estar incluídos, além de passagens áreas, moradia, vistos, etc., a garantia de um currículo profissional diferenciado. A pesquisa parte da hipótese de que este processo de mercantilização ocasiona o esvaziamento do sentido comunitário do voluntariado, no qual estava incluído o valor de contribuição para uma sociedade mais justa e igualitária. Além disso, representa a reificação (CHAUÍ, Marilena) do mesmo, já que é tomado sob uma lógica utilitarista em que o objetivo do voluntariado passa a se concretizar na prática em si mesma e em sua função para o mercado. Pode-se dizer em última instância que o voluntariado não mais está a serviço da comunidade, mas o próprio voluntário está a serviço deste tipo de trabalho. Com a pesquisa, buscamos avaliar os sintomas de um possível desvio do sentido do voluntariado, mais especificamente na forma do intercâmbio de trabalho voluntário. Para isso, sob a metodologia da Análise do Discurso (BAKHTIN, Mikhail; FAIRCLOUGH, Norman; VERÓN, Eliseo), serão apreciados o material publicitário/divulgação de agências de intercâmbio (CI, Experimento, Rodamundo, STB e IE) e notícias do portal G1 e do jornal O Globo dos últimos seis anos. O objetivo da pesquisa é identificar de forma mais clara como os discursos sobre o intercâmbio de trabalho voluntário são construídos e analisar o que isso revela sobre o papel desta atividade na sociedade capitalista de consumo, inserindo-o dentro do panorama do trabalho social voluntário como um todo.

Mídia e violência no Rio de Janeiro: a construção de sentidos de uma cidade partida na cobertura jornalística - por Thaís Batista de Oliveira

O Rio de Janeiro é historicamente marcado por definições como “morro” e “asfalto”, “periferia” e “centro”, “zona norte” e “zona sul”. Estes são signos que agravam ainda mais a já clássica segregação social, cultural, econômica e territorial tão dominante na leitura do Rio como uma “Cidade Partida” (VENTURA, Zuenir, 1994). Considerando que a mídia é um ator fundamental nesse processo de construção de sentidos sobre a cidade, essa pesquisa dá continuidade à análise de notícias que têm como tema a abordagem da violência urbana. Nesta lógica, os jornais impressos constroem contratos de leitura (VÉRON, Eliseo), ou seja, são dispositivos que instauram suas competências de “poder dizer” e “fazer ver” (IMBERT, Gérard) a violência, propondo aos seus públicos formas de leitura da cidade que acentuam a partição e a segregação dela através dos referentes acima apontados. Pelo estudo de caso realizado no ano passado - o assassinato do ciclista Jaime Gold na Lagoa Rodrigo de Freitas, em maio de 2015 -, foi possível previamente confirmar a hipótese da pesquisa. O acontecimento teve grande repercussão na imprensa, tendo sido analisadas 49 notícias publicadas nos jornais O Globo, Extra e O Dia. Nesta etapa, ampliou-se o objeto de pesquisa para além do caso de Jaime Gold e foram analisados diferentes casos de violência urbana no Rio de Janeiro, ainda nos jornais O Globo, Extra e O Dia. Na continuidade, a pesquisa tem buscado verificar até que ponto se confirmam, com a análise das principais notícias sobre violência urbana publicadas desde o caso Jaime Gold, os resultados obtidos com o estudo de caso. E de que forma, considerando que os três jornais selecionados têm diferentes contratos de leitura, ou seja, diferentes formas de significar a violência em suas coberturas, se aproximam ou se distanciam na forma de acentuar/atenuar o sentido da cidade partida. Na sequência, a pesquisa buscará comparar seus resultados com os sentidos construídos a partir de notícias de acontecimentos da crônica jornalística sobre a violência no Rio de Janeiro, como as chacinas de Vigário Geral e da Candelária, ambas em 1993. Ao final, como objetivo mais geral, a pesquisa buscará identificar as diferentes formas de enunciação da violência urbana na cobertura da imprensa, pouco mais de duas décadas depois do conceito de “Cidade Partida”, de Zuenir Ventura.

A representação do índio nas fotografias de Sebastião Salgado: bom selvagem ou agente do presente? - por Naiara Azevedo

As diferentes representações pictóricas dos indígenas – fotografias, gravuras, pinturas etc – estabeleceram, no decorrer do tempo, variados significados sobre esses povos. O fotógrafo Sebastião Salgado, pela sua representatividade internacional, tem sido um dos autores de importantes imagens que retratam os índios, mais especificamente através dos projetos Gênesis e Êxodos. Considerando a importância e o alcance mundial das suas fotografias, estas imagens foram escolhidas como o objeto da pesquisa, a fim de relacioná-las com os sentidos já estabelecidos através de uma memória imagética indígena construída no decorrer dos séculos (KOSSOY, Boris). Um desses sentidos tem origem no mito do bom-selvagem de Jean-Jacques Rousseau, por meio do qual os índios foram retratados como personagens de um paraíso terreno. No âmbito oposto, foram também representados por imagens de homens de má índole, violentos e bárbaros, geralmente associados ao canibalismo. A pesquisa lida com as fotografias de povos ameríndios do fotógrafo Sebastião Salgado, correlacionando-as com esse amplo campo da significação imagética dos índios, a partir das quais são colocadas as seguintes questões: até que ponto as fotografias tencionam esse dualismo (bom x mau), ou, por outro lado, estabelecem outras leituras menos limitadoras sobre o papel do índio nos dias de hoje? Essa investigação se dá a fim de refletir se na circulação dessas imagens do fotógrafo brasileiro há um apagamento da condição política e atuante desses sujeitos, reforçando, ao invés disso, o sentido de selvagens exaustivamente disseminado a respeito dessas populações. Tomando as fotografias como discursos constituídos por signos, a pesquisa usará a Análise do Discurso como metodologia, a partir de autores que as avaliam sob esse recurso teórico, como Roland Barthes, Martine Joly, Eliseo Verón etc. Mais especificamente, serão analisadas com os recursos da Teoria da Enunciação (BENVENISTE, Émile), consideradas não apenas em seus conteúdos, mas, principalmente, nas suas formas de significar.