ENGENHARIA DE TECIDOS
O conceito de engenharia de tecidos, introduzido por Joseph Vacanti em 1992, visa restaurar, preservar, melhorar ou substituir tecidos danificados, utilizando células, estruturas poliméricas e sinais de crescimento como componentes-chave. Essa área desenvolve tecidos sintéticos em laboratório que não são rejeitados pelo corpo, com o objetivo de criar estruturas funcionais para reparar ou melhorar tecidos e órgãos danificados.
A engenharia tecidual aplicada na regeneração e produção de órgãos.
Fonte: https://neurobrasil.wordpress.com/2016/05/29/a-engenharia- tecidual-aplicada-na-regeneracao-e-producao-de-orgaos/
Para criar tecidos substitutos vivos, células colhidas do paciente são cultivadas em laboratório e expandidas em uma matriz tridimensional com fatores de crescimento. Quando mantidas nas condições adequadas, essas células secretam componentes da matriz extracelular, resultando em tecidos vivos prontos para serem reimplantados no paciente. Além disso, a engenharia de tecidos também desenvolve produtos biomiméticos para a triagem de medicamentos e a modelagem de doenças.
Embora a engenharia de biomateriais seja uma área em desenvolvimento, já existem procedimentos aprovados que ajudam na recuperação de pacientes, abrindo caminho para novas pesquisas e avanços.
BIOMATERIAIS
São estruturas sintéticas ou orgânicas utilizadas na medicina para ajudar, melhorar ou substituir tecidos danificados ou funções biológicas. Eles são empregados em uma variedade de aplicações clínicas, incluindo diagnósticos, vacinas, cirurgias e terapias, e interagem diretamente com sistemas biológicos.
O uso histórico de biomateriais remonta à Antiguidade, quando os antigos egípcios utilizavam suturas feitas de tendões de animais no corpo humano. Muitos biomateriais são biodegradáveis e alguns são bioabsorvíveis, o que significa que são eliminados gradualmente do corpo após cumprirem sua função.
O desafio na criação de uma nova geração de biomateriais envolve a busca e o aprimoramento das interações entre tecidos vivos e materiais sintéticos, com o objetivo de otimizar processos como bioreconhecimento, biofixação e biocolonização. Esses processos não só viabilizarão a fixação do dispositivo no local de implantação, mas também permitirão a manipulação de mecanismos intracelulares que contribuirão para a regeneração do tecido anfitrião.
TERAPIA CELULAR
A terapia celular consiste em utilizar células do próprio corpo humano para tratar algumas doenças, com o objetivo de restaurar ou alterar um conjunto de células, reduzindo o impacto dos problemas de saúde ou regenerando funções inativas. Nesse tratamento, as células podem ser cultivadas ou modificadas fora do corpo antes de serem reintroduzidas no organismo doente. Essas células podem se originar do próprio paciente ou de um doador.
APLICAÇÃO
Um exemplo dessa prática é a terapia com células T, também conhecida como terapia com células CAR-T, que é uma abordagem inovadora utilizando métodos de modificação genética. As células T do paciente são coletadas e, utilizando vetores virais (como vetores retrovirais e lentivirais), o gene é introduzido nas células de interesse. Esses vetores são essenciais, pois o gene puro não atravessaria a membrana plasmática da célula.
Após a introdução, o gene codifica o receptor de antígeno quimérico (CAR) nas células T. Em seguida, as células CAR-T formadas e proliferadas são reintroduzidas no paciente para combater o câncer. Portanto, o desenvolvimento de vetores não integrativos ou que se integrem em locais específicos é um objetivo importante para a terapia CAR-T. Além disso, essa abordagem tem mostrado resultados significativos no tratamento de certos tipos de câncer, representando uma importante conquista na área da imunoterapia.
Figura A - As células T em estado natural não reconhecem a célula do câncer que permanece intacta.
Figura B - Células CAR T reconhecem a célula do câncer destruindo-a.
Fonte: https://ctcusp.org/celulas-t-car/o-que-sao-celulas-car-t/
TERAPIA GÊNICA
A terapia gênica é um procedimento médico que envolve a introdução de genes saudáveis no corpo para tratar ou prevenir doenças, substituindo, corrigindo ou complementando genes defeituosos que causam problemas de saúde. Esse tratamento pode ser realizado tanto dentro do corpo (in vivo), onde os genes são introduzidos diretamente nos tecidos afetados, quanto fora dele (ex vivo), onde as células são modificadas em laboratório antes de serem reintroduzidas no paciente, com o objetivo de corrigir mutações genéticas ou promover a regeneração celular.
Existem diversas abordagens para a terapia gênica, incluindo a entrega direta de genes saudáveis às células afetadas, a edição de genes para corrigir ou substituir sequências defeituosas, e o uso de vírus modificados para transportar genes terapêuticos para células específicas.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/terapia-genica/
REGENERAÇÃO DE TECIDO MUSCULAR POR CONVERSÃO DIRETA
A conversão direta consiste na reprogramação direta de células, sendo uma estratégia que fornece uma terapia celular eficaz ao permitir a geração rápida de células-alvo específicas do paciente, utilizando células autólogas (do próprio indivíduo) obtidas por biópsia de tecido.
Os fibroblastos são as principais células envolvidas na cicatrização, tendo como função principal a manutenção da integridade do tecido conjuntivo por meio da síntese dos componentes da matriz extracelular. Estudos sobre regeneração muscular por conversão direta mostraram que os construtos de fibra muscular resultantes exibiram rigidez mecânica semelhante à dos tecidos musculares.
Além disso, a implantação de construções musculares de bioengenharia no modelo não apenas promoveu a regeneração muscular, com aumento da distribuição de fibras nervosas e formação de novos vasos sanguíneos, mas também facilitou a recuperação funcional dos músculos danificados.
Ainda são necessários mais estudos sobre o processo de regeneração muscular por meio da conversão direta para que essa tecnologia possa ser aplicada na prática médica. No entanto, os resultados das pesquisas realizadas são promissores.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE DOENÇAS CRÔNICAS
A Medicina Regenerativa oferece perspectivas promissoras no tratamento e prevenção de doenças crônicas. Ela pode ajudar no tratamento de condições como diabetes, doenças cardíacas e doença de Parkinson, proporcionando novas abordagens terapêuticas focadas na regeneração de tecidos e células danificadas. Além disso, pode intervir precocemente para identificar e restaurar células ou tecidos comprometidos antes que a doença se manifeste completamente.
Em muitas doenças crônicas, o problema central é a perda ou disfunção celular. Por exemplo, a doença de Alzheimer está relacionada à perda de células cerebrais, enquanto o diabetes tipo 1 resulta da incapacidade das células do pâncreas de produzirem insulina. No caso do câncer, o crescimento descontrolado das células é a principal preocupação.
Para tratar e prevenir essas condições, a Medicina Regenerativa adota diferentes abordagens. No caso da diabetes, pode-se utilizar células-tronco para regenerar as ilhotas pancreáticas ou criar estruturas tridimensionais que imitem essas ilhotas para restaurar a produção de insulina. Para o Alzheimer, a terapia com células-tronco e a imunoterapia são consideradas promissoras, visando regenerar áreas afetadas do cérebro e remover placas de proteínas associadas à doença. No tratamento do Parkinson, a terapia com células-tronco e a edição genética surgem como alternativas, buscando regenerar áreas cerebrais afetadas e corrigir mutações genéticas associadas à doença.
Células beta que devem ser diferenciadas para a geração de insulina.
Fonte: Medscape
Ilhota pancreática que será imitada.
Fonte: Microscopia on line, 3v, USP.
Essas estratégias se baseiam na capacidade inata do corpo humano de regenerar tecidos e células, visando restabelecer a funcionalidade normal e combater as doenças crônicas. Essa perspectiva positiva impulsiona o avanço constante na Medicina Regenerativa, trazendo esperança para muitas pessoas que sofrem com condições médicas incapacitantes.