Os estudos e transplantes envolvendo células-tronco apresentam importantes questões éticas e desempenham um papel fundamental na Medicina Regenerativa. As células-tronco possuem a capacidade única de se transformar em diversos tipos celulares e se reproduzir, o que as torna essenciais para a regeneração de tecidos danificados.
Embora as células-tronco tenham o potencial de se diferenciar em células específicas, elas requerem sinalizadores adequados para orientar essa diferenciação. Esses sinalizadores podem ser proteínas específicas do tecido ou substâncias produzidas em laboratório através de cultura celular. Por vezes, o simples transplante intravenoso das células-tronco não é suficiente; é necessário o uso de biomateriais para promover sua multiplicação e orientar seu comportamento celular.
CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS
As células-tronco embrionárias (CTEs) são encontradas no interior do embrião durante a fase inicial do desenvolvimento, conhecida como blastocisto, cerca de 4 a 5 dias após a fecundação. Essas células possuem a capacidade de se diferenciar em qualquer tipo de célula do corpo, sendo pluripotentes e consideradas uma excelente fonte para a reconstituição de tecidos e órgãos humanos.
No entanto, seu uso levanta questões éticas, uma vez que a extração dessas células impede o desenvolvimento do embrião. O debate gira em torno do status moral do embrião humano e de quando ele é considerado uma pessoa. Apesar do potencial terapêutico das células-tronco embrionárias, sua utilização ainda está sujeita a avaliação ética e ao cumprimento de regulamentações legais.
No Brasil, a pesquisa com células-tronco é permitida pela Lei de Biossegurança, desde que as regulamentações de biossegurança sejam rigorosamente seguidas e a pesquisa seja supervisionada pelo Comitê de Ética e Pesquisa. Esse cenário reflete a complexidade das questões éticas e morais envolvidas na pesquisa e aplicação das terapias com células-tronco.
Fases do desenvolvimento embrionário.
Fonte: https://www.casadaciencia.com.br/como-surgem-as-celulas-tronco/
Extração das células-tronco da massa celular de um embrião.
Fonte: https://celulastroncors.org.br/celulas-tronco/
CÉLULAS-TRONCO ADULTAS
Células-tronco adultas, ou somáticas, são tipos celulares encontrados principalmente na medula óssea e no cordão umbilical, mas todos os órgãos do corpo possuem uma reserva dessas células para renovação ao longo da vida. Elas têm a capacidade de se renovar e se diferenciar em tipos específicos de células do tecido onde residem, sendo chamadas de multipotentes.
Alguns exemplos de células-tronco adultas são as células-tronco hematopoiéticas, encontradas na medula óssea e no cordão umbilical, com a capacidade de se diferenciar em qualquer célula especializada do tecido sanguíneo, incluindo as do sistema imune, como leucócitos, linfócitos e macrófagos. Outro exemplo são as células-tronco mesenquimatosas, também extraídas da medula óssea e do cordão umbilical, que podem dar origem a diversos tecidos conjuntivos do corpo humano, como o tecido ósseo e o tecido cartilaginoso.
As células-tronco podem dar origem a diferentes tipos celulares.
Fonte: https://escolakids.uol.com.br/ciencias/celulastronco.htm
CÉLULAS-TRONCO INDUZIDAS
As células-tronco induzidas (iPSCs) são células adultas reprogramadas para um estado embrionário por meio da expressão de fatores de transcrição específicos. Isso as torna um alvo promissor para a Medicina Regenerativa, pois podem ser usadas para regenerar tecidos danificados e na terapia celular.
Apesar de as iPSCs compartilharem características embrionárias, como pluripotência e capacidade de autorrenovação, elas apresentam uma baixa eficiência de reprogramação. Uma das principais dificuldades é a memória epigenética, que precisa ser completamente remodelada. O processo envolve a inserção de vírus contendo quatro genes (Oct-4, Sox-2, Klf-4 e c-Myc) no DNA da célula adulta. Esses genes ajudam a reprogramar o material genético da célula, fazendo com que ela adquira características semelhantes às de uma célula-tronco embrionária.
A primeira reprogramação de iPSCs foi realizada em 2006 com células da cauda de camundongos. Em 2007, as primeiras iPSCs humanas foram produzidas a partir de células da pele. Embora a pele tenha sido a principal fonte de células para a reprogramação, teoricamente, qualquer tecido do corpo pode ser reprogramado.
Processo de reprogramação de células adultas.
Fonte: https://inc.saude.gov.br/htm/noticia38.htm
CÉLULAS-TRONCO DO CORDÃO UMBILICAL
As células-tronco do cordão umbilical são células adultas encontradas no sangue que conecta o feto à placenta durante a gestação. Obtidas do cordão umbilical e da placenta após o parto, essas células são multipotentes, podendo se diferenciar em diversos tipos celulares, como células sanguíneas, neurais e do sistema imunológico.
Essas características tornam as células-tronco do cordão umbilical valiosas no tratamento de doenças relacionadas a disfunções nas células sanguíneas, como leucemia, linfoma, anemia e doenças imunológicas.
Após o nascimento do bebê, o sangue do cordão umbilical é coletado com o consentimento da mãe. As células-tronco são processadas, analisadas e criopreservadas, ou seja, congeladas a temperaturas muito baixas usando nitrogênio líquido. Isso permite que as células sejam armazenadas para uso futuro, se necessário.
No Brasil, há 13 Bancos de Cordão Umbilical ligados a hospitais públicos que armazenam o sangue do cordão umbilical para doações alogênicas. Já os bancos privados, que cobram pelo armazenamento, destinam o sangue para uso autólogo.
Extração do sangue do cordão umbilical.
Fonte: https://www.revistalinda.com.br/secoes/12/272
TRATAMENTOS COM CÉLULAS-TRONCO
As células-tronco desempenham um papel crucial na Terapia Celular, que consiste na substituição de células doentes por células saudáveis para a reposição ou regeneração de tecidos danificados ou doentes. Alguns exemplos incluem o uso de células-tronco hematopoiéticas, que têm a capacidade de se diferenciar em qualquer célula do tecido sanguíneo e do sistema imunológico, utilizadas no tratamento de leucemia e linfoma, e o uso de células-tronco mesenquimais, que se diferenciam em tecidos conjuntivos para tratar lesões ósseas e articulares.
Células-tronco derivadas de pacientes podem ser empregadas para criar modelos in vitro de certas doenças, auxiliando no estudo e no desenvolvimento de tratamentos para condições como câncer, mal de Parkinson, mal de Alzheimer, e doenças degenerativas e cardíacas. Esses modelos permitem a investigação das patologias e a realização de testes para novos tratamentos.
Além disso, as células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) podem ser utilizadas para testar a eficácia e as possíveis toxicidades de novos medicamentos antes dos ensaios clínicos, reduzindo os riscos para pacientes humanos. A engenharia genética também pode ser aplicada às células-tronco para corrigir mutações ou inserir genes terapêuticos, permitindo a avaliação da eficácia e segurança desses procedimentos antes de serem realizados diretamente em humanos.
Regressão do câncer após tratamento com terapia celular.
Fonte: https://www.hemocentro.fmrp.usp.br/terapia-experimental-com-celulas-car-t-alcanca-remissao-em-paciente-com-cancer-ha-13-anos/
OBSTÁCULOS ENFRENTADOS
O uso de células-tronco enfrenta diversos desafios científicos, técnicos, econômicos e éticos. Cientificamente, controlar e prever a diferenciação das células-tronco em tipos celulares específicos é complexo, e há o risco de formação de teratomas, tumores resultantes de células-tronco pluripotentes que não foram completamente diferenciadas. Além disso, a integração das células-tronco no organismo do paciente pode ser problemática, com risco de rejeição pelo sistema imunológico.
Economicamente, os tratamentos com células-tronco são caros e frequentemente inacessíveis, especialmente em países em desenvolvimento que carecem de infraestrutura e profissionais capacitados. A acessibilidade é desigual, favorecendo países ricos.
Eticamente, o uso de células-tronco embrionárias é controverso, com debates sobre o momento em que a vida humana começa e a moralidade da obtenção dessas células. As opiniões variam entre considerar que a vida começa na fecundação e acreditar que ela inicia após algumas semanas.
Pesquisas para a terapia celular. Fonte:https://aracajumagazine.com.br/conteudo/ciencia-tecnologia/usp-de-ribeirao-preto-testa-terapia-celular