Este texto foi escrito na sexta-feira, dia 3 de março de 2023, e resume as impressões da primeira semana de trabalho dos professores Felismina Nunes, Madalena Nogueira, Maria José Castro, Marta Santos e Paulo Pinto, que se deslocaram a Itália para uma atividade de Job Shadowing no âmbito do projeto «A second step forward» do programa Erasmus+.
Chegámos a Salerno, Itália, na tarde de domingo, 26 de fevereiro de 2023. É uma antiga cidade plantada à beira do Mediterrâneo, a cerca de 50 km ao sul de Nápoles. Ficámos alojados numa unidade de B&B (dormida e pequeno-almoço) numa rua estreita do centro histórico.
A primeira semana foi dividida entre as manhãs, dedicadas a atividades de Job Shadowing no Liceo Statale Alfano I (central e sucursal), e as tardes, preenchidas com o conhecimento das redondezas. Nesta última parte, deslocámo-nos, a pé, de autocarro ou de comboio, a diversos lugares, tais como Amalfi (histórica cidade que foi potência naval durante a Idade Média), Paestum (sítio arqueológico com as ruínas de uma antiga colónia grega que foi ainda uma importante cidade romana) e Vietri sul Mare (povoação conhecida pela sua cerâmica decorada), bem como a vários pontos de interesse de Salerno. A região é de uma enorme beleza natural e riqueza patrimonial. O tempo chuvoso e fresco que se fez sentir ao longo da semana não ajudou muito, mas ainda assim não impediu que desfrutássemos de alguns dos encantos da zona. A comida saborosa, o bom café e a simpatia da maioria das pessoas com quem contactámos contribuíram para o agrado geral e a mitigação do cansaço que a sucessão de dias intensos foi forçosamente provocando.
Na segunda-feira, pela manhã, fomos recebidos no Liceo Alfano I pela coordenadora Erasmus, a prof.ª Maria Luísa Pandozzi-Trani, que coordenou todas as nossas atividades, e seguidamente pela diretora, a prof.ª Elisabetta Baroni, e sua equipa. Entregámos a esse estabelecimento de ensino um coração de filigrana oferecido pela União de Freguesias de S. Cosme, Valbom e Jovim, bem como de um livro da autoria da prof.ª Maria José Castro sobre a arte da ourivesaria em Gondomar e algumas publicações de artistas gondomarenses.
O liceu Alfano I situa-se na zona sul da cidade e destina-se a alunos dos 13 aos 18 anos, correspondendo no nosso sistema aos 9.º a 12.º anos e ainda ao 13.º ano, que em Itália é o ano preparatório de acesso ao ensino superior. Os edifícios que o compõem mostram já alguma necessidade de obras e são visíveis algumas carências ao nível das instalações e dos equipamentos. Para nossa surpresa, verificámos que não existem intervalos, sendo as aulas de 54 ou 108 minutos imediatamente seguidas por outras. Não existe propriamente uma sala de professores ou um espaço de convívio de alunos. A escola não tem cantina nem bar, embora haja máquinas de café e de venda de alimentos embalados e bebidas.
A biblioteca é pequena e está muito negligenciada, partilhando o espaço com um auditório. Nas aulas, não são indicados sumários e o uso de cadernos e de manuais (em papel ou digitais) é deixado ao critério de cada aluno. Os efeitos da pandemia, que atingiu a Itália de modo particularmente duro, ainda se fazem sentir com muitos problemas psicológicos, menor preparação de muitos alunos e interrupção de muitas iniciativas em que o Liceu se encontrava envolvido.
No Liceo Alfano I existem diversos cursos, vocacionados sobretudo para as línguas, as artes (música, dança) e as ciências económico- sociais. A escola envolve-se em numerosos projetos e desenvolve algumas metodologias centradas na resolução de problemas, onde a abordagem interdisciplinar é recorrente. Quase sempre encontrámos dois professores numa dada aula, com um docente titular e outro coadjuvante, geralmente de uma área disciplinar diferente ou de Educação Especial. Os alunos eram, por exemplo, convidados a explicar em Inglês um dado conteúdo de uma aula de História ou de Matemática. Desenvolviam-se atividades destinadas a fornecer competências úteis para o futuro mercado de trabalho, como por exemplo a legendagem em italiano de filmes estrangeiros ou a tradução para italiano de poemas em outros idiomas. Esses e outros trabalhos têm sido apresentados em diversos eventos locais e nacionais.
O nível científico dos professores é muito elevado e a maioria dos alunos mostram-se interessados, assertivos e bem informados, sendo a avaliação dos alunos baseada mais no desempenho oral e na execução de tarefas do que em testes escritos, que são pouco frequentes. No que diz respeito à inclusão, frequentam o liceu diversos alunos com necessidades especiais, mas em muitos casos o ensino desses alunos é feito em sala à parte, onde professores especializados trabalham com eles, reunindo-se com a turma apenas em determinados momentos.
Alguns, porém, têm aulas por videoconferência e alguns trabalham sempre inseridos a respetiva turma. O relacionamento professores-alunos é bom, e fomos extremamente bem aceites e recebidos com curiosidade e simpatia por parte de todos, desde professores a alunos e funcionários. A comunicação foi sendo feita maioritariamente em italiano, língua próxima da nossa e na qual fomos adquirindo alguma desenvoltura, com um importante contributo do Inglês (idioma que a generalidade dos alunos dominava, mas que alguns professores não falavam) e até com recurso ao Espanhol e, por vezes, expressão em Português a pedido dos próprios italianos, curiosos com a sonoridade e o vocabulário da nossa língua.
Por norma, cada um de nós assistiu ou participou em aulas da sua área específica ou afim. Isso significou que, em cada dia, nos dividimos por diversas salas, de diferentes anos de escolaridade e diferentes cursos, e trabalhámos com diferentes professores. Por vezes estivemos em aulas de temática bastante afastada da nossa prática quotidiana, tais como Matemática e Literatura Italiana. Muitas vezes, respondemos a questões sobre o sistema educativo português e a nossa realidade nacional colocadas por alunos e por alguns professores. Nalgumas aulas, tivemos mesmo a oportunidade de expor alguns assuntos e de transmitir conhecimentos, nomeadamente nas aulas de História do prof. Ugo Concilio, que nos permitiu fazer uma preleção sobre a ditadura do Estado Novo (na sua relação com o fascismo italiano) e apresentar uma aula sobre a fundação da nacionalidade e os descobrimentos portugueses.
Também, numa aula de Inglês, a prof.ª Maria José Castro desafiou a docente italiana e a sua turma a escrever pequenos textos a partir de um mote que constava de um verso de um poema de Camões (Amor é fogo que arde sem se ver) e outro de Fernando Pessoa (Gato que brincas na rua), após uma contextualização prévia, tendo eles aderido e realizado leituras dos textos que produziram.
A profª Marta Santos foi surpreendida pelo facto de a disciplina de Química ser lecionada conjuntamente com a Biologia, enquanto que a Física é lecionada pelo docente de Matemática. Estas quatro disciplinas fazem parte do currículo de todo Ensino Secundário, independentemente da vertente escolhida.
Na sexta-feira, a professora foi integrada numa visita de estudo à Cidade das Ciências (Citta’ delle Scienze), em Nápoles, um espaço multifacetado, inovador e interativo que muito a cativou.
Todos os dias, ao fim da tarde e ao serão, nos reunimos para fazer o balanço do dia, recolher imagens, redigir textos, realizar contactos, construir o nosso livro digital documentando esta experiência e partilhar materiais.
Houve ainda, na quinta-feira, tempo para um jantar de convívio com os já referidos professores Maria Luísa e Ugo, bem como os professores Rosanna e Vincenzo, que nos encantaram com o seu desempenho profissional e simpatia pessoal.