A alfabetização informacional e as práticas bibliotecárias escolares

Heloiza Vieira da Silva

Graduanda em Biblioteconomia da UFES. E-mail: <helov@click21.com.br>

RESUMO

Colocar em questão as práticas bibliotecárias escolares que devem estar presentes no trabalho de bibliotecários co-autores do processo de Alfabetização Informacional na escola. Reafirma as funções do bibliotecário escolar como um dos profissionais que deve compor a equipe pedagógica e assumir a sua responsabilidade profissional de planejar e fazer acontecer o processo de Alfabetização Informacional no ambiente escolar.

Palavras-chave: Alfabetização informacional. Bibliotecário escolar. Ambiente escolar - biblioteca.

INTRODUÇÃO

A expressão information literacy apareceu pela primeira vez na literatura nos Estados Unidos na década 70 em relatório elaborado por Zurkowiski (apud CAMPELLO, 2003), submetido a Comission Libraries Information Science, sugeriu ao Governo Norte-Americano que se preocupasse com desenvolvimento da competência informacional na população, com o objetivo de potencializar a utilização da variedade de produtos informacionais disponíveis no mercado norte-americano, bem como promover a sua aplicação na solução de problemas cotidianos, principalmente, no trabalho (CAMPELLO, 2003).

Inicialmente usado como sinônimo de capacitação em tecnologia da informação no ambiente profissional e nas escolas secundárias, a Alfabetização Informacional não contava com programas educacionais estruturados. Dudziak (2001) menciona que foi a partir do relatório oficial da Comissão Nacional de Excelência em Educação intitulado “National at Risk the Imperative for Educational Reform datado de Report to the Nation and the Secretary”, que a ocorrência do processo é relacionado às escolas americanas. No entanto, ainda não se referem às bibliotecas e ao bibliotecário escolar e sua contribuição quanto à aprendizagem em informação junto à comunidade. Em conseqüência desse fato, a classe biblioteconômica americana reage a essa ausência e dispara um movimento discursivo envolvendo as conexões existentes entre os campos de Biblioteconomia e de Educação, destacando especialmente sobre as funções da biblioteca na escola.

Nos Estados Unidos, pode-se dizer que os anos 80 foram marcados pela publicação de dois documentos tidos como fundamentais para o desenvolvimento da área de Biblioteconomia. Um deles, intitulado “Revolution in the Library”, abordou a cooperação entre bibliotecários e administradores das universidades, e introduziu o conceito da educação enfatizando os processos de construção do conhecimento, busca e uso da informação, discorrendo sobre a biblioteca como elemento-chave do processo educacional. Por sua vez, o segundo documento preparado por um grupo de bibliotecários e educadores denominado “Presential Commite on Information Literacy”, ressaltou a importância da Alfabetização Informacional para os indivíduos, trabalhadores e cidadãos, defendendo a idéia de que a informação é a base da resolução de problemas e da tomada de decisão em qualquer espaço/tempo de nossas vidas. Este documento assinalou ainda que para ser competente em informação, uma pessoa deve ser capaz de reconhecer quando uma informação é necessária e deve ter habilidades para localizá-la, avaliá-la e usá-la, ou seja, é aquela pessoa que aprendeu a aprender; sabe como aprender porque conhece os modos de organização do conhecimento e como encontrar a informação que deseja, sobretudo sabe usá-la e aprende a partir dela (DUDZIAK, 2001).

Nessa perspectiva, Doyle (apud DUDZIAK, 2003.) considerou-a como um conjunto integrado de habilidades, conhecimentos e valores ligados à busca, acesso, organização, uso da informação na resolução dos problemas. Partindo dessa premissa, juntou-se a outros autores para pensar o tema no cenário escolar e universitário, recomendando a ampliação do debate tanto em nível conceitual, como em nível de uma reflexividade coletiva (bibliotecários, professores, pedagogos, etc.).

Enfim, foi a partir de 1997 que surgiram organizações destinadas à formação dos bibliotecários americanos voltados inicialmente para a implementação dos programas educacionais no ensino superior, entre elas, o Institute for Information Literacy da ALA e a Library Instruction Round Table (LIRT).

No Brasil, a discussão em torno desse tema pela área de Biblioteconomia surge no final da década de 1980, provocada por autores como Belluzzo (2001) Caregnato (2000) e Dudziak, Gabriel e Villela (2000), que traduziram information literacy como “alfabetização informacional”, termo adotado neste artigo.

Como informam ainda as autoras, na literatura brasileira, o termo também aparece com outras notações como letramento, literacia, fluência informacional, competência em informação. Mas comumente o mais usado pelos autores brasileiros é “alfabetização informacional”, para indicar o processo contínuo de apropriação dos fundamentos conceituais, atitudes e habilidades necessárias à compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de modo a proporcionar ao indivíduo um aprendizado ao longo da vida (BEHENS apud DUDZIAK; GABRIEL; VILLELA 2000).

Para Tarapanoff, Suaiden e Oliveira (2002), a Alfabetização em Informação é muito mais do que um passo lógico na evolução da instrução e no manejo de fontes de informação, indo além, portanto, de ensinar aos usuários a utilizarem as unidades de informação biblioteconômicas, como as bibliotecas, por exemplo. O seu objetivo deve estar em criar aprendizes ao longo da vida, pessoas capazes de encontrar, avaliar e usar a informação para resolver problemas ou tomar decisões, seja na vida pessoal, acadêmica e/ou profissional. Em síntese, como afirma Dudziak (2000), uma pessoa alfabetizada em informação é aquela que reconhece a necessidade da informação; organiza-a para uma aplicação prática; e a integra a nova informação a um corpo de conhecimento existente.

Nesse contexto, considerando a realidade educacional e informacional brasileira, parece apropriado colocar em discussão em países como o nosso, o processo de alfabetização informacional visando a contribuir com a educação escolar no que tange a levar os alunos a incorporarem ao seu cotidiano “a prática de ler e escrever com competência, em outras palavras, que possam participar da cultura, reproduzir e produzir conhecimentos” (SOARES apud PADILHA, 2004, p. 18).

Em 26 de julho de 2004, o Jornal A Folha de São Paulo reproduziu as informações do 4º Congresso Mundial da Internacional da Educação, encontro que reuniu educadores de 150 países em Porto Alegre (RS), destacando que o Ministério da Educação brasileiro revelou naquele ano que “55% dos alunos que concluem a quarta série do ensino fundamental têm desempenho em leitura considerado crítico ou muito crítico” (PADILHA, 2004, p. 33). Esses dados são alarmantes, mas não estranhos, pois como diz a educadora referenciada, ao mesmo tempo deve-se assumir também o fato de que os outros 45% não sejam nem letrados, isto é, não utilizam a leitura e a escrita em seu cotidiano. Posto isso, quais práticas bibliotecárias escolares poderiam colaborar para a ocorrência do processo de Alfabetização Informacional nas escolas brasileiras? Sendo o bibliotecário co-autor desse processo, qual postura deve adotar para que a biblioteca seja um espaço educativo parceiro da sala de aula e do professor?

Neste artigo buscaremos discutir essas questões enfatizando a necessidade, entre outras ações educativas, de bibliotecários e educadores investirem em práticas profissionais coletivas e diferenciadas, de modo a ressignificar o modo de aprender e ensinar nas escolas de ensino fundamental e médio, principalmente no que diz respeito a levar os indivíduos a produzirem conhecimento novo a partir do conhecimento sistematizado a eles transmitido pela escola.

PRÁTICAS BIBLIOTECÁRIAS PROMOTORAS DA ALFABETIZAÇÃO INFORMACIONAL NA ESCOLA

Em meio à preocupação generalizada com a educação escolar nacional, o XXI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, realizado em julho de 2005, em Curitiba (PR), teve como temática central a “Competência em Informação”, visando a refletir, debater e sugerir estratégias de ação para viabilizar a sua promoção e concretização no contexto nacional.

Durante um de seus Workshops destacou-se que o desenvolvimento de habilidades informativas tem um alto impacto no desempenho do estudante. Um aluno que tem competências informativas conta com as bases para estar incluído ativamente na assimilação, criação e transmissão do conhecimento, o que pode levá-lo a ter êxito em sua vida pessoal e profissional. Acredita-se que o aluno que é alfabetizado informacionalmente poderá ser o cidadão de amanhã com maiores possibilidades para colaborar na construção de um país intelectualmente capaz e mais democrático (RELATÓRIO..., 2005).

Em 2001, Dudziak já indicava os componentes essenciais do processo de alfabetização informacional, como sendo: o aprendizado ativo, independente, o pensamento critico, o aprender a aprender e o aprendizado para toda vida, tornando-se requisitos básicos para possibilitar ao indivíduo o autodesenvolvimento e aprendizado para a vida toda.

Em Semana de Biblioteconomia realizada na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (2005), Dudziak destacou ainda que diante do excesso de informações, tornou-se necessário “dominar” o universo informacional, de modo que as pessoas sejam capazes de reconhecer suas necessidades de informação; definir estas necessidades; buscar e acessar a informação; avaliá-la; organizá-la, transformar a informação em conhecimento; aprendam a aprender; aprendam ao longo da vida.

Neste contexto, as práticas bibliotecárias podem colaborar para que esses pressupostos se efetivem no cotidiano escolar. Os bibliotecários devem atuar então na perspectiva da mediação da informação, que está relacionada à interação entre o usuário e a informação. Diante do enorme volume de informação que circula no mundo, pelas características de sua profissão, o bibliotecário é o profissional a ser responsabilizado pela filtragem da informação, de maneira que venha a minimizar ou até mesmo a eliminar o uso daquelas pouco precisas ou de qualidade duvidosa (ALMEIDA JUNIOR, 2004). Dudziak, Gabriel e Villela (2000) lembram que ao acompanhar as mudanças paradigmas do mundo do trabalho em Biblioteconomia, o profissional deve estar preparado para atuar na Sociedade do Conhecimento como educador/mediador do conhecimento em duas dimensões, a saber: mediação em pesquisa e mediação pedagógica.

Apoiando-se em Kuhlthau, a autora diz que a mediação em pesquisa pode ser realizada por mediadores formais (bibliotecários e professores) e por mediadores informais (pessoas com as quais falamos a respeito do trabalho ou pesquisa que desejamos realizar, família e amigos). Nessa modalidade de mediação, Dudziak, Gabriel e Villela (2000) classificam os níveis de mediação em 5 etapas, as quais, ao nosso ver, correspondem à dinamicidade processual das práticas bibliotecárias: o organizador, o bibliotecário apenas operacionaliza o sistema; o localizador, o profissional faz uma intervenção factual, respondendo as questões ou localizando as informações que venham futuramente a atender as necessidades dos usuários; o identificador como aquele bibliotecário que entrevista, entende o problema, e indica as fontes possíveis de informação para o usuário; o bibliotecário conselheiro, que ao entrevistar o usuário, entende o seu problema, negocia com ele, recomendando as fontes de informação necessárias à resolução de suas questões de informação; e finalmente o bibliotecário tutor, aquele que em parceria com o professor, seleciona e orienta o usuário (aluno) quanto aos procedimentos de localização, busca e uso da informação por ele necessitada.

Por sua vez, na mediação pedagógica, atribuída àquele bibliotecário que insere na esfera do bibliotecário como docente, e busca uma atitude de agente facilitador e motivador do aprendizado do aluno, cujos estágios de atuação iniciam-se quando tem a intenção de estar junto ao aluno auxiliando-o na pesquisa e no aprendizado. Essa intencionalidade implica em estar intimamente envolvido com o aprendizado permanente do indivíduo trocando com ele experiências e fazendo com que o aprendiz absorva o conhecimento para a vida toda. Sendo assim, ambos aprenderão a aprender, trocarão informações, tirarão dúvidas e, provavelmente, não haverá ruídos no processo de comunicação.

Para Dudziak (2003), a mediação do aprendizado pode ser entendida a partir de quatro conceitos que reafirmam a ação do bibliotecário-educador, quais sejam:

Ø Intencionalidade (ocorre quando o bibliotecário educador direciona a interação e o aprendizado);

Ø Reciprocidade (quando o bibliotecário está envolvido em um processo de aprendizado e ambos aprendem);

Ø Significação (o bibliotecário instrumentaliza o aprendiz, proporcionando-lhe um novo olhar sobre seus processos e sobre a informação);

Ø Transcendência (quando a experiência vai além do aprendizado e é extrapolada para a vida de ambos).

Segundo Montemor e Amélio (2005), durante o processo de mediação da informação, o trabalho do bibliotecário pressupõe uma interferência e a interferência contraria a idéia de neutralidade e imparcialidade contida nas técnicas, instrumentos e ferramentas usados pelo profissional. Ou seja, o bibliotecário tem que estar envolvido no processo de mediação, procurando estar orientado pela concepção da relação interdependente junto ao usuário em todas as etapas de busca, não se limitando apenas a buscar e entregar o material solicitado ao aluno, mas acompanhando-o, cativando-o, motivando-o, para que tanto o aluno quanto o bibliotecário alcancem os objetivos do processo de ensino-aprendizagem: o bibliotecário-educador atuando junto ao processo de ensino na perspectiva da alfabetização informacional e o aluno aprendendo a aprender.

Para que esses objetivos sejam alcançados, entretanto, nunca é demais lembrar que o bibliotecário deve envolver-se definitivamente com o projeto educativo, acompanhar e interagir com o aluno (usuário) em todas as etapas do processo de mediação. Se for assim, acredita Dudziak, Gabriel e Villela (2000), mesmo que o aluno não chegue, pelo menos, ao 4º nível e siga o nível 5º, o bibliotecário tem que acompanhar e incentivá-lo, encorajando-o a prosseguir na busca da informação e a proceder até a etapa final (nível tutorial). Enfim, atuar como um tutor implica para o bibliotecário escolar estar ativamente envolvido com o currículo escolar e com todos profissionais da educação e, conseqüentemente, estará, de fato, envolvido com o projeto educativo pensado pela escola. Entretanto, enfatizamos que a participação desse profissional, na dimensão que vimos apresentando, será facilitada se os profissionais da educação (professores, pedagogos, supervisores escolares, entre outros) que atuam na escola reconhecerem a importância do processo de alfabetização informacional para a vida do aluno, mas também a relevância de tornarem-se parceiros no decorrer do mesmo, reconhecendo no bibliotecário escolar um profissional da educação igualmente compromissado com a concretização da formação do indivíduo. O professor continua sendo o sujeito de quem socialmente se cobra a formação das gerações futuras, mas diante do grande volume de informação que circula no mundo atualmente, é inegável que o bibliotecário escolar assume um papel fundamental no direcionamento da informação para os indivíduos, cabendo a ele, basicamente, selecionar, armazenar, organizar, preservar, recuperar, e disponibilizar a informação necessária à ocorrência do processo de ensino-aprendizagem na perspectiva da alfabetização informacional.

De fato são inúmeros os desafios a serem enfrentados pelos bibliotecários na consecução do seu trabalho na Sociedade da Informação. Além da desvalorização profissional, outro grande desafio é estarem atentos às mudanças de paradigmas socioculturais e econômicos para que não fiquem às margens de uma sociedade na qual a informação é elemento de progresso e riqueza. Para que os profissionais possam dar conta de vencer alguns desses desafios, a literatura em Ciência da Informação, é farta em receitas e modelos de formação do bibliotecário. Por exemplo, quando se fala a respeito do profissional bibliotecário moderno, Amaral (1998), destaca que os bibliotecários devem buscar uma projeção a partir dos atributos inerentes a um agente de mudanças; estarem capacitados para gerenciar os recursos informacionais com as habilidades exigidas pelo setor de informação; e, sobretudo, conhecerem as unidades de informação onde atuam.

Em síntese, na medida do possível, devem estar preparados para viverem e atuarem profissionalmente no mundo informacional. Para isso é preciso que:

- estejam comprometidos com a obtenção de uma visão holística;

- ajustem os antigos e os novos paradigmas; direcionar ações específicas aos diversos públicos;

- monitorem as necessidades de informação do público;

- estejam atentos ao comportamento dos indivíduos durante o processo de busca e recuperação de informação;

- tenham em conta que o processo de mediação da informação envolve a qualidade da comunicação para o efetivo desenvolvimento de seu papel educativo, principalmente, quando são bibliotecários escolares;

Para desempenhar as funções do bibliotecário-educador, o profissional da área de Biblioteconomia não pode mais ser visto pela sociedade, e principalmente pelos profissionais da educação, como mero fornecedor, organizador, localizador de informação ou mero guardião da coleção. Isso também, mas não só, pois para além dessas tarefas o bibliotecário é um profissional a que compete formar o indivíduo para buscar e usar as informações registradas e disponíveis no universo de conhecimento. Na escola, portanto, o bibliotecário-educador terá que estar não somente compromissado com o espaço da biblioteca, mas também com o processo de ensino-aprendizagem, o que implica, como ressalta Dudziak (2001), em estar apto a expressar-se e comunicar-se, criando um ambiente que estimule o aprendizado, utilizando diferenciadas estratégias a partir dos variados formatos e suportes de informação (papel, eletrônico e virtual) disponíveis.

Entende-se que se os bibliotecários estiverem comprometidos com as práticas bibliotecárias e educativas, a sua profissionalidade poderá vir a ser reconhecida e a sua profissão mais valorizada pelos seus pares na escola. E, certamente, a biblioteca será um espaço pluralista e que levará o aluno a aprender a aprender para toda a vida, e não apenas como aquele que é usado ou somente lembrado em momentos esporádicos de ricas e expressivas experiências escolares, vivenciadas como alternativas possíveis para reencantar, para ressignificar o processo educativo na escola por meio da reinvenção da biblioteca escolar, como enfatiza Linhares (2006).

A INTERFACE NECESSÁRIA ENTRE EDUCADORES E BIBLIOTECÁRIOS PARA VIABILIZAR A ALFABETIZAÇÃO INFORMACIONAL

Dando ênfase ao assunto, Dudziak (2001) cita Harderty (1995) Leckie (1999) Crowley (1996) e Carpenter (1997), como autores que apontam os bibliotecários escolares e os professores como profissionais que não conhecem os papéis e expectativas uns dos outros. Para a autora esse hiato quanto à questão da inserção dos bibliotecários na cultura local (escola) é difícil devido a uma variedade de fatores como:

· O docente geralmente é um expert em sua área de atuação, enfatizando geralmente suas atividades de pesquisa e publicação, em detrimento de suas atividades pedagógicas;

· Em sua atuação como pesquisador muitas vezes o docente não percebe a atuação de outros profissionais;

· A crença na autonomia acadêmica em tomada de decisão e discussão quanto aos conteúdos e programas curriculares, meios e formas de avaliação leva o docente à não admitir a interferência de outros (WEBB apud Dudziak 2001);

· Tradicionalmente o bibliotecário tem assumido o papel de organizador de acervo e localizador de documentos, isolando-se na biblioteca;

· O bibliotecário não se desvincula dos antigos paradigmas educacionais, não investindo na construção intelectual e individual do aluno visando o seu autodesenvolvimento;

Para Behens (2000, p. 85), um paradigma inovador que venha a atender aos pressupostos necessários às exigências da Sociedade do Conhecimento, denominado por Boaventura Santos (1989) de paradigma emergente, deve fazer alianças entre abordagens construtivista, interacionista, sociocultural e transcendente, objetivando um processo de ensino aprendizagem em que o aluno é o animador de seu próprio desenvolvimento intelectual. Sendo assim, bibliotecários e educadores devem adequar seus programas educacionais aos novos paradigmas educacionais buscando a interlocução necessária não só entre si, mas com os variados campos de conhecimento. Quem sabe assim, estaremos (bibliotecários e educadores) a altura dos desafios atuais.

Neste contexto, reafirma-se a função da biblioteca escolar: é onde o aluno dará seus primeiros passos no desenvolvimento das práticas de leitura e pesquisa. A esse respeito, Campello (2002, p. 17) enfatiza que os Parâmetros Curriculares Nacionais reconhecem a biblioteca como um pilar dos programas de leitura, que se deseja intervir na realidade apontada anteriormente, neste artigo. Diante dessa prescrição, apoiando-nos em Sales (2004) pergunta-se: nesse contexto, então, quem é o bibliotecário? O que este sujeito esta fazendo na escola?

De acordo com um estudo de campo realizado por Almeida (2004), de 26 bibliotecas escolares pertencentes à rede particular de ensino da região central e litorânea de Vila Velha, Município do Estado do Espírito Santo, apenas 25% não contam bibliotecários; enquanto 75% empregam estes profissionais. Porém, a pesquisadora verificou que, em muitos casos, nestas instituições os bibliotecários não são responsáveis pelo atendimento do Setor Infantil, cujas tarefas são realizadas por auxiliares de biblioteca de nível médio, estagiários de Biblioteconomia ou de Pedagogia. Entretanto, há necessidade de mudança desse quadro, o que deve começar pelo envolvimento contínuo e conjunto dos bibliotecários, professores e equipe pedagógica com programas educacionais voltados para a iniciação do aluno na faixa etária de 0 a 14 anos, instigando o uso da informação e dos recursos informacionais, de modo que ao chegarem à universidade estejam, alfabetizados informacionalmente e possam usufruir a vida universitária em toda a sua potência.

CONCLUSIVAMENTE...

Reiteramos que é preciso garantir a ocorrência do processo de ensino-aprendizagem nas escolas de ensino fundamental e médio na perspectiva da Alfabetização Informacional. Para isso, devem ser explicitadas no Projeto Pedagógico da Escola, as ações e respectivas funções educativas de professores e bibliotecários responsáveis pela meta a ser alcançada nas dimensões expressas neste artigo. Nesse sentido, concordamos com Dudziak (2005), a respeito da necessidade de adotar medidas institucionais concernentes ao desenvolvimento de programas e projetos dirigidos ao processo de Alfabetização Informacional nas escolas brasileiras, sobretudo no que diz respeito à competência em informação em nível de formação continuada dos educadores e dos bibliotecários.

O Manifesto da Unesco/Ifla ao discorrer sobre a biblioteca escolar também registra a importância de os bibliotecários e os docentes trabalharem em conjunto visando a propiciarem aos alunos: o alcance dos níveis mais altos de conhecimento, leitura e aprendizagem, obterem a solução de problemas, e adquirirem competências no que diz respeito à manipulação das tecnologias da informação e do conhecimento.

Nesse sentido, tomando em conta as diretrizes apresentadas para o desenvolvimento da Alfabetização informacional, é preciso recolocar em questão os processos de referência e de educação de usuários até então empreendidos nas bibliotecas brasileiras, especialmente, nas escolares e acadêmicas. Hoje, não há como conceber esses processos de trabalho desvinculados da mediação da aprendizagem apoiada no acesso e uso das fontes de informação. Se ampliarmos as possibilidades de acesso e uso da informação pelas crianças e jovens brasileiros, quem sabe, não estaremos também ampliando o escopo de nossas práticas em benefício da formação do cidadão brasileiro?

Finalmente, mas não menos importante, registramos o desejo de oferecermos alternativas à escola de hoje, pois com Nilda Alves (2001, p. 120), também acreditamos que é necessário “[...] abrir espaço e tempo à compreensão das relações entre conhecimento real, o currículo concreto praticado nas escolas e as novas tecnologias e novos conhecimentos existentes na sociedade – a informação sobre tudo isto que circula, como circula, por que circula e a favor de quem circula”.

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