Minicursos

A concessão da escuta: narrativas orais como metodologia de pesquisa em História
Maria Letícia Costa Vieira (Mestranda em História - UFCG)
Franciel dos Santos Rodrigues (Mestrando
em História - UFCG)
Área temática: História Oral
Duração: Dois dias

As narrativas orais nos atravessam, tal qual as lembranças e os lugares, utilizar a História Oral como metodologia de pesquisa em História nos fornece a possibilidade de preservar e ressignificar heranças e tradições. Das vivências mais simples, aos grandes percursores da História, a oralidade nos concede o movimento de escutar o outro, percorrer diferentes tempos e espaços e entrar em contato com as vivencias que pretendemos escutar e torná-los nosso campo de estudo.
Desta forma, as narrativas dos sujeitos históricos nos cercam com uma vasta variedade de sensibilidades, saberes, práticas, e tradições culturais, políticas e sociais, assim como uma rica definição de singularidades possível de observação apenas com o exercício da escuta, tornando-se capaz de nos ajudar enquanto pesquisadores, a entender as representações do passado, perpassando os sujeitos e seus ensinamentos, aprendizados, experiências e conjunturas sociais.
O movimento de escutar o outro surge para a História como forma de dá continuidade ao tempo, mesmo este estando em processo de fragmentação. Evocar memórias para pensar o passado nos deixa a par das individualidades dos sujeitos e dos múltiplos contextos históricos, culturais e sociais.
Nosso objetivo no presente minicurso, é apresentar novas formas de trabalhar com as narrativas, relatos e depoimentos dos sujeitos, pensando a oralidade enquanto fonte história que requer uma metodologia de pesquisa aos olhos de nossa historiografia, visando iniciar reflexões sobre como os projetos de história oral como metodologia podem contribuir para uma história dos sujeitos voltada para as diversas interpretações e reinterpretações dos sujeitos históricos ao longo de seu tempo.
A nossa ideia parte de uma abordagem metodológica visando levantar debates sobre a necessidade de refletir como as interlocuções entre os sujeitos e a história, contribuem na realização de trabalhos que assumem uma postura de rememoração, e provocam a produção de um conhecimento envolto por diversos olhares históricos, que são marcados por trajetórias de vida, cultura, formação de identidades, traumas, marcos e subjetividades.

Desta forma, trabalharemos em dois momentos, dialogando com as múltiplas abordagens para a pesquisa em História Oral e os relatos de experiência e métodos, buscando decifrar as principais dificuldades encontradas pelos pesquisadores e partilhar conhecimentos, com a intenção de refletir sobre o uso e a importância da fonte oral para pesquisa histórica, endo pensada enquanto um documento de valorosa importância com suas possibilidades e limites de pesquisa.

Para tal, trabalharemos com as perspectivas de Nora (1993), Alberti (2004) e Portelli (1997), percorrendo os estudos sobre a História Oral para a pesquisa historiográfica e suas múltiplas complexidades.


Referências Bibliográficas:

SAMUEL, Raphael. História local e História oral. Revista brasileira de história, São Paulo. P 219-243, 1990.

A literatura religiosa na baixa Idade Media: hagiografia, memória e relações de poder
Heverton Rodrigues (Doutorando em História - UFG)
Mayara Stephane Gomes (Mestranda
em História - UFG)
Área temática: História Medieval
Duração: Três dias

Durante a primeira geração da Escola dos Annales, período datado entre 1929 e 1949, até os dias atuais é recorrente reflexões que circundam novas formas de percepção na investigação histórica uma vez que, desde o início do século XX as pesquisas voltadas para o medievo se debrussam em novos campos de experiências, bem como novas pespectivas de se pensar os eventos decorrentes deste locus, buscando possibilidades e pensando as limitações do ofício do históriador que pesquisa tais eventos. Pensando nisso, é em meio a esta empreitada que nossa minicurso se apresanta buscando compreender as construções que tange a Idade Média através da literatura religiosa, ou seja, a escrita hagiográfica, essencialmente as hagiografias mendicantes, pretendemos assim contribuir para o enriquecimento dos debates acerca da escrita da história e da História das Ideias e seus desdobramentos, difundindo discussões deste período no minicurso. O minicurso tem como aporte teórico autores que em sua produção acadêmica atuam com literatura religiosa, escrita hagiográfica e mobilizam os conceitos de memória coletiva, identidades, os usos do passado, bem como, a relação com as categorias de análise: Poder e Igreja, sendo estes fulcrais para a compreensão e produções sobre o Medievo (séc. V – XV). Em um plano geral sobre a Idade Média, adotaremos como recorte espaço temporal, a Península Itálica na Baixa Idade Média (séc. XII – XV), bem como suas influências na posterioridade. Procuraremos contribuir para o entendimento teórico e prático das hagiografias e refletir sobre a construção da memória coletiva nesta forma literária não apenas pelo viés religioso, mas também político.

A República das Letras na França da Era Moderna em perspectiva histórica e historiográfica
Thayenne Roberta Nascimento Paiva (Mestra em História - PUC Rio)
Área temática: História Moderna
Duração: Dois dias

Sempre que pensamos quais os eventos históricos que marcaram a época Moderna francesa, citamos, por exemplo, o Iluminismo. Porém pouco conhecido é o fato dele ter sido influenciado pela República das Letras. Nesse caso, uma pergunta bastante pertinente é fundamental de ser feita: o que é a República das Letras? Muitíssimo pouco conhecida e debatida pela historiografia brasileira, ela é definida, inicialmente, na qualidade de uma comunidade de saber, primeiramente não institucionalizada e baseada nas trocas de descobertas científicas e literárias entre os estudiosos. Seu surgimento remonta ao Humanismo italiano, no século XV, como sociedades que visavam a preservação dos debates acerca das descobertas de fontes literárias da Antiguidade (e suas consequentes traduções), realizados por humanistas – muitos deles perseguidos pela Contrarreforma. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, em decorrência de uma profunda mudança sobre o horizonte cultural da França, a República das Letras ganhou espaços físicos nas academias reais e os salões literários. Ao final da primeira metade do século XVIII, os homens de letras franceses começaram a externar suas críticas à sociedade de corte. Como consequência, e também pelo desgaste que essa república começou a apresentar, o Iluminismo (como projeto desses mesmos letrados), foi propagado com o intuito de reformular o comportamento dos indivíduos e de suas práticas sociais, assim como conceber uma nova forma de conhecimento distante do modelo tradicional e doutrinário vigente no Antigo Regime. Significa dizer que tal república não desapareceu com a ascensão do Iluminismo, ao contrário, ela executou um projeto particular que ganhou força com o alargamento da "opinião pública". Portanto, o que o presente minicurso pretende oferecer é o conhecimento introdutório sobre esse objeto de estudo pouco explorado por historiadores brasileiros e o quanto ele tem forte ligação com subtemas, tais como o Humanismo e o Iluminismo.

Acervos ameaçados: introdução à pesquisa em arquivos em tempos fatídicos
Tatiana Castro (Doutoranda em História - UFF)
Jéssica Wisniewski (Doutoranda em Artes, Cultura e Linguagens- UFJF)
Área temática: Pesquisa em História e Arquivos
Duração: Três dias

No final da tarde do dia 29 de julho de 2021 o Brasil acompanhou o incêndio que devorava uma boa parte da memória visual do Brasil. Inúmeros títulos se perderam, alguns permaneceram vivos devido ao trabalho de digitalização. Isso se estende para todos os documentos que contam a nossa história.

A digitalização e a disponibilidade de alguns documentos facilitam o acesso de muitas pesquisadoras e pesquisadores pelos quatro cantos do país e fora dele. Ao mesmo tempo, o processo de digitalização e a manutenção de toda nossa memória corre irreparáveis riscos. Uma parcela da sociedade assistia a Cinemateca em chamas totalmente em choque. A parcela da sociedade que entende a importância de um arquivo, acervo, centro de memória e bibliotecas na permanência dos nossos costumes e da nossa diversa expressão cultural.

O minicurso intitulado “Acervos ameaçados: Introdução à pesquisa em arquivos em tempos fatídicos” propõe expor algumas das ferramentas e metodologias utilizadas para a pesquisa em acervos públicos, privados e digitais sob o viés do campo historiográfico, mantendo em vista suas problemáticas de acesso, bem como as ameaças dadas pelo tempo e demais fatores prejudiciais à conservação dos mesmos. O curso será dividido em três momentos: 1) apresentar propostas para se construir uma metodologia de pesquisa; 2) os arquivos, as dificuldades e as ameaças; 3) novas abordagens e métodos de pesquisa em tempos incertos – como no contexto da pandemia do covid-19. Durante o curso será realizado um pequeno levantamento de acervos digitais e bancos de dados disponibilizados de forma gratuita para pesquisa, discutindo igualmente a relevância da digitalização de fontes primárias no cenário atual.
Devido aos recentes acontecimentos de perdas e ataques digitais em arquivos de importância para a pesquisa brasileira (Museu Nacional de História Natural da Quinta da Boa Vista, galpão da Cinemateca, base da CNPQ, Hemeroteca Digital Brasileira, entre outros), este curso justifica-se em sua necessidade de evidenciar as ameaças que vêm sofrendo a memória social e cultural, assim como o patrimônio histórico e artístico no Brasil, quiçá como forma de ataque à democracia, fazendo-se pensar nos rumos futuros da pesquisa acadêmica no país. O minicurso proposto busca também evidenciar os problemas da pesquisa em arquivos, levando em consideração, como público alvo, estudantes de graduação que desenvolvam pesquisas históricas e necessitem do uso destas ferramentas.

Referências Bibliográficas:

ANDRADE, Rosane Maria Nunes. Bibliotecas: lugar de memória e de preservação - o

caso da Biblioteca Nacional do Brasil. Patrimônio e memória, [s.l.], v. 4, n. 2, p. 17-34, 2007.

CANDAU, Jöel. Memória e identidade. Tradução: Maria Letícia Ferreira. 1. Ed. São Paulo: Contexto, 2018.

CASTRO, Celso. Pesquisando em arquivos. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2008.

DIDI-HUBERMAN, Georges. Cascas. São Paulo: Editora 34, 2017.

DOSSE, François. História do tempo presente e historiografia. Tradução: Silvia Maria.

Fávero Arend. Tempo e argumento, v.4, n.1, 2012, p. 5-22.

FARGE, Arlette. O sabor do arquivo. Tradução: Fátima Murad. São Paulo: USP, 2009.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 2. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1968.

JARDIM, José Maria. A invenção da memória nos arquivos públicos. Ciência da informação, [s.l.], v. 25, n. 2, p. 1-13, 1995.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 5. ed. Campinas: UNICAMP, 2003.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. São Paulo, v.10, 1993, p. 7-28.

Cultura escrita e história: análise teórica e prática de documentos
Fernando Vojniak
Área temática: Pesquisa em História, Arquivos e Correspondências
Duração: Dois dias

O objetivo deste curso é apresentar importantes conhecimentos envolvidos na análise de documentos. Na perspectiva da atividade historiadora, pretende-se relacionar as teorias da cultura escrita e da oralidade com as teorias da história cultural do livro e das práticas de leitura e escrita, de modo a demonstrar alguns aspectos comparativos e históricos das culturas orais e escritas como caminhos possíveis na análise de documentos. Além disso, a oficina conta com a apresentação de partes de um estudo especializado sobre correspondências, para demonstrar, na prática, o emprego de teorias e técnicas úteis na análise de documentos históricos.

Diálogos entre a História e a Análise de Discurso
Clevisvaldo Pinheiro Lima (Doutorando em Linguística - UNICAMP)
Ayrton Matheus da Silva Nascimento (Mestrando
em História - UFS)
Área temática: História e Linguística e Análise de Discurso
Duração: Dois dias

Este minicurso objetiva fornecer uma discussão introdutória a partir das relações entre a História e a Análise de Discurso sob os postulados da Análise de Discurso Materialista e das suas possíveis interlocuções com os estudos históricos. Deste modo, buscaremos em um primeiro momento situar o nosso interlocutor acerca do surgimento deste campo do conhecimento inaugurado pelo filósofo Michel Pêcheux, no final da década de 1960, perpassando alguns dos seus conceitos fundamentais. Também buscaremos tecer algumas considerações acerca das aproximações (im)possíveis com o campo da História (ROBIN, 1973; CERTEAU, 1975, 1982; KOSELLECK, 2006, etc.). E, por fim, com o intuito de aprofundar a compreensão destes dispositivos de teoria e de análise, efetivar alguns exercícios de análise na prática, de modo a situar ao nosso interlocutor da institucionalização desse campo de estudos no Brasil pela linguista Eni Orlandi, e os deslocamentos e singularidades produzidos nesta área do conhecimento evidenciando o seu leque de possibilidades em análises, pensando especificamente no seu uso para o feitio do labor historiográfico (BLOCH, 2001).

História da democracia no Brasil: A democracia a partir da concepção de Maurício Tragtenberg
Erisvaldo Souza (Doutor em Sociologia - UFG)
Área temática:
História Política, História das ideias políticas e sociais, Sociologia Política e Ciência Política
Duração: Três dias

Este minicurso visa apresentar apontamentos sobre a democracia no Brasil a partir da concepção de Maurício Tragtenberg. A democracia em termos conceituais pode ser compreendida como sendo um governo do povo pelo povo ou um governo de cunho popular, ou seja, da maioria. Desse modo, podemos compreender a democracia representativa no Brasil ligada aos partidos políticos como organizações políticas que auxiliam o Estado enquanto instituição social que visa regular a vida em sociedade. Por outro lado, temos também as eleições que são uma forma de legitimar todo o processo político eleitoral, mas também as práticas dos partidos políticos para a sua chegado ao poder constituído do Estado. Para desenvolvermos uma análise sobre a concepção de democracia de Maurício Tragtenberg temos as seguintes obras: A Falência da Política (2009) e Autonomia Operária (2011) e ainda um conjunto de artigos de revistas e jornais que irão ser utilizadas como fontes para nossa análise, pois o referido autor ao longo de sua trajetória intelectual, integrou grupos de estudos, organizações sociais de trabalhadores, sindicatos e partidos políticos, passando a ter interesses nesta discussão. Por isso, esse minicurso busca a partir desse material informativo, realizar uma análise sobre a concepção de democracia de Maurício Tragtenberg, que foi uma figura pública e que ao longo de sua carreira e trajetória intelectual buscou contribuir para pensarmos a realidade história, política e social da sociedade brasileira, principalmente no período compreendido entre (1980-1990) que marca o fim da Ditadura Militar e o início da Nova República, bem como da organização do Estado brasileiro em termos de democracia representativa.

História e censura: a arte brasileira sob suspeita
Matheus Alves Silva Gonçalves (Mestre em História - UFG)
Área temática: História
do Brasil
Duração: Três dias

Não é exagero afirmar que as transformações políticas e culturais, vividas no Brasil da última década, fortaleceram atividades sociopolíticas com aspectos semelhantes aos de ações censórias do século XX. Desde 2017, mais especificamente, não faltam exemplos de intervenções promovidas por grupos ultraconservadores, seja por instâncias institucionais ou não, contra produções artísticas consideradas “imorais” ou politicamente “desrespeitosas”. Em um primeiro momento, as admoestações carregavam, especialmente, a suposta defesa da moral e dos bons costumes, a exemplo da campanha responsável por antecipar o fechamento da exposição Queermuseu em São Paulo. Recentemente, contudo, observamos a intensificação de tentativas de proibição com deliberado viés político e movidas pelo próprio poder público, haja vista, entre outros, o pedido de abertura de investigação contra o cartunista Renato Aroeira, efetuado pelo Ministério da Justiça através da Lei de Segurança Nacional, em razão de uma charge crítica ao presidente da república. Neste minicurso serão abordados elementos históricos da Censura no Brasil, fenômeno de longa duração que parece ainda ecoar de forma relevante na tortuosa realidade brasileira. Serão discutidos o processo de institucionalização da censura às artes, mediante o surgimento do Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP), em 1946; o modo como alguns artistas do período resistiram aos novos mecanismos de controle social e aos grupos sociais fiadores das mudanças efetuadas; os procedimentos de reformulação da estrutura censória durante a Ditadura Militar, que também conjugaram moral e política, além dos casos atuais já citados.

Imprensa, intelectuais e perspectivas revolucionárias: incursões teóricas e estudos de caso
Luana Fernandes Pimentel (Mestranda em História - UERJ)
João Pedro Doria Rossi Barreira (Mestrando - UFRGS)
Área temática: História Contemporânea e História Intelectual
Duração: Três dias

O presente minicurso visa discutir a relação entre imprensa, intelectuais e perspectivas revolucionárias, neste caso, a anarquista e a marxista. Para tal, trataremos de aspectos da metodologia para o análise da imprensa, a delimitação do conceito de intelectual e, a partir de dois estudos de caso, estabeleceremos a vinculação destes debates com a prática política de grupos anarquistas e marxistas. Nos referidos casos, estas ideologias estão vinculadas a propostas revolucionárias, respectivamente, anarquista e marxista, ambas pensando em formas de intervenção na sociedade e atuando por meio da imprensa. Sendo assim, pretendemos pensar como estas perspectivas, com referência nestes exemplos, estão vinculadas aos debates de intelectualidade e imprensa.
Sobre o debate de imprensa, objetivamos discutir, a partir da renovação do campo historiográfico na década de 1970, as reflexões sobre a necessidade de compreende-la não somente como fonte, mas como objeto de pesquisa. Pretendemos, também, discutir as metodologias aplicadas para uma análise de materiais de imprensa, como sugere Tânia de Luca, em particular, ao defender a necessidade de historicizar estas fontes, considerando desde as técnicas de produção utilizadas até suas escolhas conteudistas e o porquê delas. Ou seja, é necessário discutir as funções sociais destes impressos, uma vez que o conteúdo em si não pode ser dissociado de seu contexto de produção. Como recorte específico dentro da imprensa, enfocaremos em revistas, compreendendo, a partir que propõe Alexandra Pita, os elementos imateriais destas, ou seja, os aspectos vinculados as ideias.
A partir das discussões de Beatriz Sarlo, as revistas podem ser entendidas como um grande laboratório de experiências estéticas e ideológicas inseridas dentro de uma lógica da batalha cultural. Sendo assim, torna-se necessário uma discussão sobre aqueles que participam das redações, para nós, os intelectuais. A categoria de intelectual passou – e passa – por diversas alterações no seu sentido ao longo do tempo. Conforme aponta Carlos Altamirano, a proposta do intelectual como detentor de determinado saber, está entrelaçada com o caso do julgamento do capitão francês Alfred Dreyfuss no final século XIX. A partir desse momento, diversas escolas e campos interpretativos contribuem para a discussão sobre o papel dos intelectuais e o que configura um intelectual. Neste sentido, pretendemos dar destaque às produções de autores sobre estas questões, assim como às discussões dentro da historiografia sobre o campo da história intelectual.
Partindo dessas discussões e compreendendo as revistas como uma comunidade argumentativa – conceito esse que pressupõe a configuração de um espaço claro de debates e que possui uma articulação própria à revista – é necessário compreender os aspectos ideológicos destes intelectuais. De maneira a materializar tais discussões, selecionamos dois estudos de caso que nos oferecem possibilidades para a reflexão das interrelações entre a imprensa, os intelectuais e as ideologias. Sobre estes, serão abordadas duas revistas de delimitações espaciais e temporais distintas, sendo elas: a Revista Mujeres Libres, periódico espanhol anarquista, escrito por mulheres vinculadas à Confederácion Nacional del Trabajo (CNT), com circulação durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1938); e a Revista Punto Final, periódico chileno marxista, com participação de diversas organizações revolucionárias como o Partido Comunista Chileno (PC) e o Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), com o enfoque nas publicações feitas durante o governo do dirigente socialista Salvador Allende (1970-1973).
A metodologia pensada para tal minicurso compreende três encontros, cada um com sua respectiva bibliografia, em português e espanhol, a ser disponibilizada previamente em formato PDF, organizados da seguinte maneira:
- Aula 1, delimitação teórica de imprensa e intelectuais.
- Aula 2: A perspectiva anarquista e marxista.
- Aula 3: Estudos de caso.

Introdução ao pensamento hermenêutico
Murilo Gonçalves (Doutorando em História - UFG)
Área temática: Teoria e Filosofia da História
Duração:
Dois dias

O objetivo deste minicurso é apresentar uma introdução ao pensamento hermenêutico moderno de um modo geral, como também explorar sua relação com a teoria e a filosofia da história. Para isso, serão discutidos o pensamento de figuras proeminentes e conceitos-chave dessa tradição. Ao fim, também serão esboçadas a principais críticas ao paradigma hermenêutico e suas consequências para o pensamento histórico.

Memória e trauma: o lugar da literatura de testemunho na escrita da história
Sabrina Costa Braga ( Doutoranda em História - UFG)
Área temática: Teoria da História, História e Memória
Duração: Três dias

A emergência da literatura de testemunho se deu a partir da busca pela representação de eventos históricos que, pela condição de traumáticos, desestabilizaram as formas tradicionais de narrativa. Especialmente a partir da Shoah, o testemunho do sobrevivente ganha gradativamente lugar de destaque na apreensão do trauma e incita discussões acerca das relações e limites entre história e memória e, consequentemente, da aparente inevitável presença da ficção na narrativa histórica. Neste minicurso serão pormenorizados alguns conceitos como memória, trauma e testemunho; serão apresentados e discutidos trechos de obras de caráter testemunhal; e em um último momento será inserida a questão do lugar do testemunho na escrita da história e de uma possível aproximação entre história e memória a partir da literatura de testemunho.

O incremento do neoliberalismo no Brasil e seus avanços na educação
Amanda Canedo Pimenta (Mestranda em História - UFG)
Gabriella Monteiro Vieira (Mestranda em História - UFG)

Área temática:
História e educação, História e marxismo e História do Brasil Contemporâneo
Duração: Três dias

O minicurso pretende partilhar análises, incentivar a discussão teórica e historiográfica, além de desenvolver o debate acerca do assunto proposto, de modo que o conhecimento sobre o mesmo seja ampliado e democratizado. O recorte temático se direciona aos estudos sobre a história da educação no Brasil e a ascensão do neoliberalismo, cujo período demarcado contempla as últimas décadas do século XX e as primeiras do XXI, contexto de grandes transformações sociais, econômicas e políticas. Estas podem ser compreendidas a partir do processo sobre o qual passava o regime de produção capitalista: a reestruturação produtiva. Seu desenvolvimento contou com o chamado “incremento neoliberal”, essencial para a reorganização do sistema e a consolidação do pós-fordismo, durante a década de 1990, enquanto um novo modelo do capital. As configurações inauguradas pelas perspectivas neoliberais se institucionalizaram, ganhando aderência, não apenas no setor empresarial e econômico, mas também no desenvolvimento de novas políticas públicas e educacionais. Assim, os anos 2000 destacam uma significativa ascensão do neoliberalismo na estrutura pedagógica, instituindo-se a esta de maneira marcante, o que evidencia a importância do presente estudo.

Pan-africanismo e revolução em Frantz Fanon
João Alberto da Costa Pinto (Doutor em História vinculado - UFG)
Área temática: História da África Contemporânea e História social dos intelectuais
Duração: Três dias

O minicurso propõe uma introdução sistemática ao conjunto da obra de Frantz Fanon (1925-1961), mais precisamente, uma análise dos livros – Pele negra, máscaras brancas (1952) e Os condenados da terra (1961), além dos textos reunidos em publicações póstumas, especialmente a coletânea organizada por Jean Khalfa e Robert J. C. Young – Frantz Fanon: alienation and freedom (2018), já parcialmente traduzida para o português em livros como: Para uma revolução africana (2021), Alienação e liberdade: escritos psiquiátricos (2020) e Frantz Fanon: escritos políticos (2021). O minicurso está dividido em três sessões organizadas conforme este roteiro de temas: 1) a trajetória político-institucional de Fanon junto à medicina psiquiátrica francesa e argelina, apresentando os escritos psiquiátricos sobre o racismo, especialmente o livro Pele negra e máscaras brancas; 2) a trajetória político-institucional de Fanon junto aos debates políticos do anticolonialismo do movimento pan-africanista e os impasses da revolução argelina, apresentando os escritos políticos publicados no jornal El Moudjahid, órgão de imprensa da Frente de Libertação Nacional (FLN), partido que conduzia a luta contra o colonialismo francês durante a Guerra de Independência da Argélia (1954-1962); 3) e, por fim, uma síntese dos legados teórico-políticos de Frantz Fanon, apresentando uma análise do livro Os condenados da terra, esse que é um permamente documento político das lutas sociais contra os racismos estruturalmente presentes em todas as sociedades capitalistas.

Patrimônio Cultural e Racismo: alguns apontamentos
Dalila Varela Singulane (Doutoranda em História - UFJF)
Área temática:
Patrimônio Cultural
Duração:
Dois dias

O minicurso concentra-se na reflexão sobre o racismo estrutural presente na sociedade brasileira, tendo em vista a formação do patrimônio cultural. Entende-se que o racismo é componente basilar das dinâmicas sociais, econômicas e políticas do Brasil e, por isso, também está presente no campo da cultura e na proteção e preservação de manifestações culturais. Nesse sentido, pretende-se refletir sobre a formação do campo no Brasil através de seus principais agentes, buscando compreender o imaginário e a intelectualidade da época, visto que percebe-se uma ampla capilaridade de ideias como o determinismo social, raça e do mito da democracia racial como bases fundamentais do pensamento científico. Dessa forma, analisaremos a construção da política de preservação e seu órgão oficial durante o século XX, assim como os chamados “técnicos do SPHAN” enquanto indivíduos políticos, imbuídos de percepções e direcionamentos ideológicos. Na segunda parte do curso propõe-se um estudo de caso, já que compreende-se que os efeitos do racismo estão ainda presentes na preservação e condução de políticas públicas. Focalizaremos então o município de Juiz de Fora, Minas Gerais, visto seu pioneirismo na proteção e significativo número de bens protegidos. O município concentra seu patrimônio em partes delimitadas de sua área urbana, resguardando a memória e história de grupos específicos e silenciando tantos outros, o que acredita-se estar intimamente ligado ao racismo estrutural. Além disso, um processo de registro em tramitação na prefeitura de uma prática cultural evidentemente racista, contribui para a reflexão sobre as formas que o racismo se apresenta na sociedade e na percepção de cultura.

Patrimônio industrial como tema de pesquisa da História Social
Alexandra Sablina do Nascimento Veras (Doutoranda em História - UFRJ)
Carla Bianca Carneiro Amarante Correia (Mestranda
em História - UFC)
Área temática: Memória e Patrimônio Cultural
Duração: Quatro dias

Apesar de relativamente recente e ainda pouco estudado para o caso brasileiro, as pesquisas e discussões sobre o tema do Patrimônio industrial têm crescido nos últimos anos. Tal fato pode ser identificado a partir do aumento no número de eventos acadêmicos e ações em prol da identificação e valorização dessa tipologia de patrimônio. Todavia, ao analisar a produção acadêmica no âmbito dos estudos em Patrimônio industrial, nota-se que uma parte considerável desses estudos ainda têm sido desenvolvidos por pesquisadores e pesquisadoras das áreas de Arquitetura e Urbanismo, assim como Museologia. Por meio do levantamento de monografias, dissertações e teses defendidas em programas brasileiros de Graduação e Pós-graduação em História, identifica-se que o patrimônio industrial não tem sido tema muito recorrente nos repositórios institucionais. No campo das discussões historiográficas, ainda são poucos os pesquisadores e pesquisadoras que têm se debruçado sobre os vestígios da industrialização a partir da perspectiva dos estudos da memória e dos patrimônios culturais. Esse Minicurso possui assim como objetivo apresentar e levantar debates e reflexões sobre a identificação e reconhecimento de vestígios associados a processos de industrialização no Brasil como bens culturais, bem como a reflexão acerca da relação direta entre estes patrimônios e as experiências operárias, compreendendo o Patrimônio industrial como tema de estudos legítimo da historiografia e, sobretudo, da História Social ao apontar possíveis caminhos para o tratamento teórico e metodológico desses vestígios.

Ser cidadão no Império do Brasil: as vivências das pessoas de cor e das mulheres
Maria Clara Aredes de Figueiredo (Mestre em História - UFRRJ)
Laís Paiva da Ressureição (Graduada
em História - UFRRJ)
Área temática: História do Brasil Império
Duração:
Três dias

Buscando uma reflexão sobre o conceito de cidadania em suas principais características, como conceito histórico, o ser brasileiro foi gestado com o nascimento do Brasil como nação soberana e independente e formalizado com a outorga da Constituição de 1824. Pensar nesse conceito requer o reconhecimento que o caminho pela cidadania não foi linear, e não o é até os dias de hoje. As lutas pelos direitos de mulheres, crianças, minorias étnicas e mais, não cessaram e não cessarão nem tão cedo. Sendo de extrema necessidade a reflexão sobre os caminhos da cidadania em nosso país através da pesquisa histórica.
Com a Independência em 1822, veio o desafio de adaptar as instituições liberais europeias – pensadas em uma realidade completamente distinta e bem menos diversa – à realidade brasileira. O que era ser cidadão no liberal Império do Brasil? Como foi a experiência dos homens e mulheres de cor? E das mulheres? Propomos caminhar pelas ruas da cidade-corte, o Rio de Janeiro, uma cidade labirinto, uma cidade preta, que experienciou intensas disputas entre diferentes forças políticas, umas lutando pela unidade/separação, outras pelo federalismo/centralismo. Vamos de encontro às reivindicações de grupos sociais com pouca visibilidade e de suas lutas para serem reconhecidos como cidadãos. Ser brasileiro era ser cidadão?

Um passado, múltiplas formas de representação: literatura e história na compreensão do passado
Andrezza Alves Velloso (Mestranda em História- UFMG)
Mateus Roque da Silva (Mestrando em Letras – PUC Minas)
Área temática: História e Literatura
Duração: Dois dias

É sabido que a articulação do debate entre História e Literatura remonta à alvorada do conhecimento filosófico ocidental, conforme contraste já estabelecido por Aristóteles em sua Poética, que atribuiu aos historiadores o comprometimento com a veracidade dos fatos descritos enquanto os literatos flertavam com conjecturas de possíveis acontecimentos. Tal diferenciação acompanhou os historiadores ao longo de sua incansável busca pela objetividade da produção histórica ao longo dos séculos seguintes, que, concomitantemente, os afastava da subjetividade. As problemáticas em torno do diálogo entre História e Literatura extrapolam a correspondência entre os discursos narrativos de ambas as áreas e se mesclam aos debates acerca do próprio fazer historiográfico e o ofício do historiador em diálogo com a Literatura e suas respectivas metodologias. Dessa forma, o presente minicurso objetiva uma apresentação e reflexão acerca das possíveis aproximações entre História e Literatura, bem como as possíveis contribuições que esta oferece ao ofício do historiador. Em nosso percurso, consideraremos os alcances e limites no uso de registros literários como documento histórico, compreendendo também as possibilidades metodológicas que a Literatura oferece em tal uso de produtos literários. Nossa proposta visa também a abordagem conceitual da literatura e sua aplicação no campo dos estudos históricos a partir de um diálogo teórico-metodológico entre ambas as áreas das humanidades. Em nossos encontros, refletiremos sobre o lugar da Literatura na historiografia, as possíveis articulações na formulação do conhecimento histórico e quais as metodologias que a própria História fornece para o trato de fontes literárias. Acreditamos que, apesar de espinhosa, a aproximação de ambas as áreas enriquece não apenas as análises realizadas pelos pesquisadores como também possibilitam a renovação do olhar acerca do passado e a compreensão que se tem (ou se pretende ter) sobre fatos já ocorridos.

Uma introdução ao pensamento anarquista: aportes a partir de Mikhail Bakunin
Carlos Augusto Braga (Doutorando em História - UNICAMP)
June Alfred (Mestre em Filosofia - UFBA)

Área temática:
História das ideias políticas, Mundos do Trabalho e História Contemporânea
Duração:
Quatro dias

O anarquismo é uma ideologia política que há 150 anos está inserida nos movimentos populares em todo o mundo. Apesar de sua importância para as lutas das classes trabalhadoras, o estudo sobre o anarquismo encontra-se marginalizado, restrito aos simpatizantes da ideologia, ou como tema reservado a determinados momentos históricos, no caso brasileiro, as primeiras décadas do século XX. Para essa proposta, iremos nos debruçar sobre o pensamento político de Mikhail Bakunin a partir de seus aspectos ideológicos e princípios que orientaram a prática anarquista, e acerca das estratégias para a revolução. Dessa forma, essa proposta pretende desmistificar algumas noções que pairam sobre o anarquismo, recebidas do senso comum, mas também dos adversários políticos. Essas noções levaram ao anarquismo ser visto como sinônimo de anomia social, ou como uma ideologia "pequeno burguesa", mesmo nos estudos acadêmicos. Nesse sentido, cabe um debate teórico-metodológico a fim de perscrutar os principais aspectos da ideologia e sua recorrência nos movimentos históricos. Nosso curso será organizado em quatro momentos: 1) Contextualização histórica da vida e obra de Bakunin; 2) aspectos ideológicos do anarquismo; 3) aspectos estratégicos para a revolução social e para o socialismo libertário; 4) sua concepção de dualismo organizacional.