Área temática: História cultural da literatura
Modalidade: Presencial
Faculdade de História - UFG
Duração: 6h
Sessões: 10 e 12 /9, das 9h às 12h
Palavras-chave: Crônica. Imprensa periódica. História.
Originalmente, na matriz francesa de imprensa periódica do início do século XIX, a crônica era uma lista de fatos ou um estudo de modos, que, com a colaboração cada vez mais ininterrupta de escritores e escritoras, se instalou definitivamente nos jornais diários nos anos de 1830 com um estilo mosaico (Thérenty, 2013). Ou seja, valendo-se de vários assuntos da atualidade, além de recursos como a ficção, em interlocução como mundo real e o literário, e como o diálogo, em interlocução com o leitor. Nessa matriz, a crônica é o espaço voltado a comentários das notícias, à interpretação e ao registro de acontecimentos aparentemente banais do cotidiano, mas também é, por excelência, um gênero jornalístico-literário aberto a experimentações redacionais e literários.
Na França, mas também no Brasil, se é verdade que muitas vezes o mote da crônica surgia de fatos políticos ou sócio-políticos contemporâneos, também é certo que tantas outras vezes ele surgia de vivências extremamente usuais do cotidiano, muitas delas banais ou hilárias. Igualmente, o tom de conversa, a ironia e a perspicácia aguda do/da cronista, manifestados na escrita da crônica da matriz francesa, foram características aclimatadas, conservadas e matizadas pela crônica brasileira produzida para os periódicos desde meados do século XIX.
No Brasil, dentre os aclamados e célebres cronistas desse século estão José de Alencar, Machado de Assis, Olavo Bilac, Júlia Lopes de Almeida e tantos outros nomes menos (re)conhecidos, como Francisco Otaviano, Carmem Dolores etc.
Tendo em vista tal panorama, este minicurso propõe um estudo teórico-analítico da presença e do desenvolvimento da crônica, enquanto gênero literário jornalístico, em periódicos franceses e brasileiros do século XIX, bem como das temáticas típicas da rubrica, em especial aquelas de assuntos e fatos históricos.
A partir da exploração de trabalhos teórico-críticos mais recentes sobre a crônica – na França e no Brasil –, baseados na poética do suporte e situados nos estudos sobre as relações entre literatura e imprensa (Thérenty 2007, 2007a, 2011, 2019; Vaillant e Thérenty 2001, 2004, 2010; Granja 2013), pretende-se oferecer aos participantes do minicurso uma reflexão teórica e analítica da conjuntura histórico-cultural e literária do estabelecimento desse gênero literário-jornalístico nos periódicos, observando os movimentos internacionais das práticas culturais da imprensa no século em questão em que se estabelecer a “civilização do jornal” (Kalifa et al 2013).
Além disso, o intuito desta proposta é oferecer a oportunidade dos participantes conhecerem e lerem cronistas – mais e menos (re)conhecidas e (re)conhecidos – pela leitura analítica de crônicas significativas e exemplares dos aspectos teóricos explorados. Com a intenção de otimizar as possibilidades de leitura e estudo das crônicas, os textos selecionados para o minicurso serão apresentados e acessíveis tanto em fontes primárias, como nos periódicos digitalizados e disponíveis em bases de dados digitais, como a Hemeroteca Digital Brasileira, e a francesa Gallica, como em reproduções em edições realizadas por autores e editores, coletâneas de autores e de crônicas entre outros tipos de volumes editados.
Por fim, com tal percurso de apresentação e discussão teórico-analítica a respeito da história da crônica jornalística e suas temáticas, os participantes terão tido contato com um largo panorama crítico atual sobre o gênero literário em questão e com variado corpus de crônicas e cronistas, brasileiros e franceses, representativos da crônica – e da literatura – da imprensa periódica do século XIX.
Bibliografia
BURKE, Peter. O que é História Cultural? Trad. Sergio Goes de Paula. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2008.
CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: ANDRADE, Carlos Drummond de et al. Para gostar de ler. 5. ed. São Paulo: Ática, 1987. p. 4-13.
CANDIDO, Antônio et al. A crônica. O gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: EdUnicamp; Rio de Janeiro: Fundação Casa Rui Barbosa, 1992.
GRANJA, Lúcia. Machado de Assis – Antes do livro, o jornal. Suporte, mídia e ficção. São Paulo: Editora Unesp Digita, 2018. Disponível em: https://editoraunesp.com.br/catalogo/9788595462816,machado-de-assis-antes-do-livro-o-jornal. Acesso em: 3 abr 2023.
GRANJA, Lúcia; ANDRIES, Lise. (org.). Literaturas e escritas da imprensa Brasil /França, século XIX. Campinas-SP: Mercado de letras, 2015.
KALIFA, Dominique et al. (org.). La civilisation du journal: histoire culturelle et littéraire de la presse française au XIXe siècle. Paris: Nouveau Monde, 2011.
LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (org.). Fontes Históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008, p. 111-153.
MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
MOLINA, Matias M. História dos jornais no Brasil. Da era colonial à Regência. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
MOLLIER, Jean-Yves, Sirinelli, Jean-François, VALLOTTON, François. (org). Culture de masse et culture médiatique: En Europe et dans les Amériques 1860. Paris : PUF, 2006.
ORY, Pascal. L’histoire culturelle. Paris: Presses Universitaires de France, 2004.
SIMÕES JÚNIOR, Álvaro S.; CAIRO, Luís Roberto; RAPUCCI, Cleide A. (org). Intelectuais e imprensa. Aspectos de uma complexa relação. São Paulo: Nankin, 2009.
SOARES, Marcus Vinicius Nogueira Soares. A crônica brasileira do século XIX. Uma breve história. Rio de Janeiro: É Realizações Editora, 2015.
THÉRENTY, Marie-Ève. La littérature au quotidien. Paris: Nouveau Monde, 2007.
THÉRENTY, Marie-Ève.La case ironique: Delphine de Girardin et Théophile Gautier feuilletonistes (1836-1848). In: TAMINE, Joëlle Gardes; MARCANDIER, Cristine; VIVES, Vincent (Org.). Ironies: entre dualités et duplicités. Aix-Marseille: Presses de l'Université de Provence, 2007a. p.79-90. (Textuelles littérature).
THÉRENTY, Marie-Ève.La chronique. In : KALIFA, Dominique et al. (org.). La civilisation du journal: histoire culturelle et littéraire de la presse française au XIXe siècle. Paris: Nouveau Monde, 2011. p. 953-968.
THÉRENTY, Marie-Ève. Femmes de presse, femmes de lettres. De Delphine de Girardin à Florence Aubenas. Paris: CNRS Éditions, 2019.
THÉRENTY, Marie-Ève; VAILLANT, Alain (org.). 1836 L’An I de l’ère médiatique. Paris: Noueau Monde, 2001.
THÉRENTY, Marie-Ève; VAILLANT, Alain (org.). Presse et plume. Journalisme et littérature du XIXe siècle. Paris: Noueau Monde, 2004.
THÉRENTY, Marie-Ève; VAILLANT, Alain (org.). Presse, nation et mondialisation au XIXe siècle. Paris: Nouveau Monde, 2010.
Área temática: Ensino de História
Modalidade: Presencial
Faculdade de História - UFG
Duração: 6h
Sessões: 10 e 12 /9
Palavras-chave: Ensino de História. Pedagogia Histórico-Crítica. Pedagogia das competências.
Por este minicurso serão apresentadas algumas aproximações acerca da educação histórica a partir da perspectiva do materialismo histórico e dialético e, mais especificamente, as possibilidades de trabalho sob o ângulo da Pedagogia Histórico-Crítica (PHC). A proposta justifica-se pelo que se observa da ineficácia da pedagogia das competências preconizada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ora, aprovada em 2018, a Base apresenta uma visão de mundo que corporifica o escopo ideológico hegemônico no campo da educação. Pelo documento se revela a intenção de direcionar a formação dos indivíduos de modo que estes se ajustem à realidade proposta pelo mundo do trabalho. O discurso hegemônico presente na regulação de nosso ensino enfatiza exaustivamente a necessidade do desenvolvimento de habilidades e competências, justificando a exigência de que os estudantes as desenvolvam por meio de um tipo de protagonismo. Há, inclusive, um apelo para que aperfeiçoem as suas competências socioemocionais de modo que, ajustados a uma coletividade definida pelas relações sociais capitalistas de produção, não prejudiquem a engrenagem do sistema. Em outras palavras, é uma prática educativa cujo objetivo é moldar cidadãos-trabalhadores para que se comportem a partir dos princípios que decorrem da concepção neoliberal de sociedade e do mundo do trabalho. Autogestão, amabilidade, engajamento com os outros, resiliência emocional e abertura ao novo: estas são as competências socioemocionais gerais que conduzem os princípios do documento, soando como uma sugestão de que as ideias pedagógicas devam ocupar a função de modelagem psicológica dos indivíduos que ocupam os bancos escolares (LIBÂNEO, 1985). Nesse sentido, indicaremos uma alternativa de trabalho para o licenciando-educador, na direção de contribuir com a formação de sujeitos críticos e capazes de atuar de forma consciente na resolução dos problemas que se observam numa sociedade de formação capitalista. A abordagem do materialismo histórico sugere ao professor que apresente os conteúdos históricos como um processo dinâmico e complexo influenciado por fatores econômicos, políticos, culturais e sociais, de forma a enfatizar a compreensão das contradições e mudanças ao longo do tempo. Neste sentido, a didática da PHC pode oferecer subsídios para uma compreensão da realidade que pressupunha a totalidade como categoria que norteia o processo educativo. O método aponta para o desenvolvimento de uma visão crítica da História - de modo a indagar as relações de poder entre as classes sociais; instiga conceber a História como um processo dinâmico e contínuo de transformação e, principalmente, indica a necessidade de promover uma consciência histórica crítica, objetivando como fim a transformação radical da realidade. O ponto de partida será uma apresentação geral da História da Educação brasileira de modo a situar o cursista ao que levou Dermeval Saviani à formulação da proposta da PHC. Seguindo-se, pretende-se que sejam discutidas as formulações gerais do que seria a proposta do materialismo histórico e dialético aplicado à educação histórica e, por fim, a apresentação da possível postura do educador diante da propositura em estudo. Os encontros deverão ocorrer a partir da exposição dialogada dos conteúdos com os pares.
Bibliografia
GASPARIN, J. L. Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
LIB NEO, J. C. Democratização da escola pública: pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 1985.
SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Autores Associados, 1995.
SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2007.
SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.
Área temática: História e Censura; História do Brasil
Modalidade: on-line
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Duração: 6h
Sessões: 10 e 12 /9
Palavras-chave: Censura às Artes. Liberdade de expressão. Extrema direita.
A segunda edição do minicurso que discute a história da censura no Brasil propõe uma análise dos casos recentes de proibição às artes no país, especialmente no que diz respeito a obras literárias em instituições de ensino. Nos dois últimos anos, “Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios”, de Marçal de Aquino, “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório e outros livros, foram retirados de listas de escolas e universidades. Consequências da atuação de líderes e grupos conservadores, as ações serão examinadas enquanto componentes do amplo movimento de reorganização da extrema direita no Brasil.
Para estabelecer relações entre as estratégias censórias de ontem e hoje, o curso pretende: retomar a experiência de institucionalização da censura às artes no final da primeira metade do século XX – a partir da criação do Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP); examinar os conflitos entre censores e artistas resistentes; discutir as diretrizes que nortearam as admoestações oficiais e destacar as modificações dos órgãos de controle social durante a Ditadura Militar, bem como os focos principais das proibições.
No espaço serão apresentados e averiguados fragmentos de obras censuradas, matérias jornalísticas que repercutiram os conflitos, entrevistas com profissionais envolvidos, excertos de legislações, além de outros materiais que nos ajudam a investigar a dinâmica de restrição às artes no país, tanto em períodos de regimes ditatoriais quanto em governos denominados democráticos.
Por fim, o curso buscará avaliar: a existência de continuidades entre as práticas censórias do passado e do presente; o modo em que a atividade censória está inserida na agenda política da extrema direita; o efeito que as ações produzem na organização do campo político averiguado e as recentes experiências de resistência desenvolvidas por artistas e outros profissionais perseguidos.
Bibliografia
DARNTON, Robert. Censores em ação: como os estados influenciaram a literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
DI CARLO, Josnei; KAMRADT, João. Bolsonaro e a cultura do politicamente incorreto na política brasileira. Teoria e Cultura, Juiz de Fora, v. 13, p. 55-72, 2018.
DUARTE, Luisa (org.). Arte, Censura, Liberdade: Reflexões à luz do presente. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2018.
FICO, Carlos. O Golpe de 1964: momentos decisivos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014.
FICO, Carlos. “Prezada Censura”: cartas ao regime militar. Topoi, Rio de Janeiro, n. 5, p. 251-286, set. 2002.
GARCIA, Miliandre. Ou vocês mudam ou acabam: teatro e censura na ditadura militar. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2008.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, V. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira 2017.
KUSHNIR, Beatriz. Cães de Guarda: Jornalistas e Censores, do AI-5 à constituição de 1988. São Paulo: Boitempo: FAPESP, 2004.
MARCELINO, Douglas Attila. Salvando a pátria da pornografia e da subversão: a censura de livros e diversões públicas nos anos 1970. 2006. Dissertação (Mestrado em História Social) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2006. NAPOLITANO, Marcos. Coração Civil. A vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985). São Paulo: Intermeios, 2017.
MOREIRA, Vagner José. Ditadura, democracia e a questão agrária: 1946-1964. In. SILVA, Carla Luciana; CALIL, Gilberto Grassi; SILVA, Marco Antônio Both da. Ditaduras e democracias: Estudos sobre poder, hegemonia e regimes políticos no Brasil (1945 – 2014). Porto Alegre: FCM Editora, 2014.
RIDENTI, Marcelo. Cultura e política: os anos 1960 e 1970 e sua herança. In. FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil Republicano: os tempos da ditadura - regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
VIEIRA, Rafael de Farias. Quando a babá eletrônica encontrou a integração nacional: ou uma história da censura televisiva durante a Ditadura Militar (1964-1988). Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, 2016.
SILVA, Thiago de Sales. GONÇALVES, Matheus Alves Silva. “É uma censura diferente, mas é censura”: crise de hegemonia e controle das artes no Brasil (2019-2021). CLIO Revista de Pesquisa Histórica, vol.41, Jan-Jun, 2023. https://doi.org/10.22264/clio.issn2525-5649.2023.41.1.05.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.