XXIII Semana de História - UFG

Religião, Poder e Sociedade  | 09 a 13 de setembro de 2024

A interação entre sociedade, poder e religiosidade é um tema complexo que tem intrigado historiadores, filósofos, sociólogos, antropólogos e teólogos ao longo dos séculos. Nessa semana de História, vamos discutir e explorar os conceitos fundamentais por trás desses três elementos e examinar como se entrelaçam e se influenciam mutuamente.

A sociedade pode ser entendida como um grupo de indivíduos que compartilham valores, normas, instituições e práticas culturais. É um sistema dinâmico que molda e é moldado pelas interações humanas. A sociedade fornece uma estrutura dentro da qual as relações sociais são formadas, mantidas e transformadas ao longo do tempo. Nos últimos séculos, as inter-relações entre as regiões mundiais intensificaram-se enormemente, especialmente como resultado da colonização de outros continentes e suas sociedades por impérios europeus. O surgimento da sociedade mundial se expandiu especialmente pela emergência de sistemas de função global, tais como a economia, a política, a religião, as ciências e outros, sistemas mundiais que incluem todas as variedades de comportamento econômico, regimes políticos, crenças religiosas e práticas científicas como variedades internas desses sistemas de função global. Nesse sentido, pode ser dito que a ascensão da sociedade mundial e a gênese dos sistemas de função global são o mesmo processo social. (Ahlers; Stichweh, 2017) Haja vista que a dinâmica do processo social está imbricada no poder.

O poder refere-se à capacidade de influenciar ou controlar o comportamento, as ações e as decisões dos outros. Pode assumir várias formas, desde o poder político exercido por governos e instituições até o poder social derivado da posição de uma pessoa dentro de uma estrutura hierárquica. O poder pode ser coercitivo, baseado na força ou na ameaça, ou pode ser legitimado por meio de autoridade legal, tradição ou consentimento popular. Com a concepção do poder como dominação legítima, somos compelidos a entendê-lo como uma força impositiva exercida por um sobre outro, uma "certa capacidade de obrigar, de forçar o comportamento de indivíduos e grupos". Neste contexto, a legitimação se torna "a forma espiritual da dominação; o aspecto moral do constrangimento". Assim, dentro do quadro tradicional de análise, o poder é considerado uma mercadoria que pode ser possuída por algum soberano, seja ele individual ou o Estado, de forma que aqueles sobre os quais o poder é imposto ou exercido são, de alguma forma, considerados inferiores. Para além disso, neste mesmo quadro, "a dominação alimenta o poder", estabelecendo-se em estruturas políticas, sociais e organizacionais tidas como fixas e intocáveis, como se essas estruturas existissem além da possibilidade de ação humana. (Ahlers; Stichweh, 2017)

As análises sobre o poder nas organizações e nomeadamente nas instituições religiosas e educativas ao longo dos tempos, nos faz lembrar que a sociedade moderna se inscreve num contexto correspondente de “era do biopoder”. O “biopoder” origina uma sociedade gerida pelo peso normativo da regulação e da normalização dos comportamentos individuais e coletivos. É esta a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos do seu exercício, um mecanismo posto em jogo pelos aparelhos e instituições, nomeadamente as governamentais, mecanismo que criou formas de estar, inscrições nos corpos e nas mentalidades e que, ao longo de vários séculos, foi impeditivo da emergência e da afirmação de outros poderes, tratando-se, por isso, de um mecanismo tendente à dominação pela uniformização dos comportamentos. (Foucault 2008)

Com efeito discorrer sobre sociedade, poder e religiosidade an passant abrange uma relação multifacetada e pode variar significativamente em diferentes contextos culturais, históricos e políticos. as crenças, práticas, rituais e valores associados a sistemas de crenças espirituais ou religiosas. Em muitas sociedades, as instituições religiosas desempenharam e continuam a desempenhar um papel importante na legitimação e manutenção do poder político e social. Por exemplo, líderes políticos podem buscar apoio de autoridades religiosas para reforçar sua legitimidade ou promover determinadas políticas. Da mesma forma, as instituições religiosas podem exercer influência sobre questões sociais, como moralidade, justiça e distribuição de recursos. A religiosidade ainda é uma dimensão fundamental da experiência humana, que pode fornecer significado, orientação moral e um senso de identidade e comunidade; pode manifestar-se de diversas formas, desde o culto formal em instituições religiosas até práticas espirituais pessoais e revela formas de dominação que nos assombraram nos últimos anos.

Feita essas considerações e esclarecimentos, não poderia me esquecer da atividade dos atores sociais e a sua capacidade de aceitarem, resistirem ou mediarem a dinâmica estrutural sociedade até porque o poder não é exercido apenas como um modo de dominação, mas também como um ato de resistência. Diz Paulo Freire (1977, p. 36): “Considero que o tema fundamental da nossa época é o da dominação que supõe o seu contrário, o tema da libertação como objetivo que é preciso alcançar”.


Referências bibliográficas

AHLERS, Anna L.; STICHWEH, Rudolf. The bipolarity of democracy and authoritarianism. Value patterns, inclusion roles, and forms of internal differentiation of political systems. Bonn: FIW Working Paper 09, 2017. Disponível em: <https://www.fiw.uni-bonn.de/publikationen/FIWWorkingPaper>.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1977. (Coleção Leitura)

FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica São Paulo: Martins Fontes, 2008.



Profa. Dra. Cristina de Cássia
Faculdade de História/UFG


Evento Presencial


As Mesas e Conferências ocorrerão na modalidade presencial nas dependências da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás.

Os Simpósios e Minicursos ocorrerão de modo inteiramente presencial ou inteiramente on-line. Os proponentes poderão selecionar a modalidade no ato da submissão da proposta e os inscritos obterão essa informação previamente. Nesses casos, não teremos transmissão simultânea.

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A proposta deverá ser enviada até o dia 12 de maio de 2024. 

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