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Não me envergonho de vos contar que o meu coração batia cada vez mais. Ensaiava em pensamento o salto para o alcatrão com a viatura em movimento, porque olhando a mata suspeitava dela e adivinhava os perigos que escondia.
Eis que subitamente ouço uma forte rajada de metralhadora logo seguida de enormes rebentamentos. Parecia que a minha cabeça estoirava com tanto estrondo. O meu raciocínio paralizou por uns momentos. Por um lapso de tempo não sei o que se passou. De repente dou conta que estava refugiado debaixo da viatura atrás de uma das rodas. Os primeiros minutos foram dramáticos quase rebentava com os meus próprios batimentos cardíacos. Embora em pleno dia, parecia que tinha mergulhado na escoridão. A minha ligação com o mundo ressurgiu através dos gritos do Marques: Filhos da puta, óh turras duma figa, venham cá seus cobardes”.
Recuperado e verdadeiramente consciente que tínhamos caído numa emboscada, coloquei-me em posição de tiro atrás da roda, mas eu não falava, muito menos gritar. Depois, a rastejar, cheguei à beira da estrada, num ponto onde me sentia simultaneamente bem protegido e bem colocado para disparar pois havia ali à minha frente um enorme monte de térmitas (também chamado morro de muchém).
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