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Com efeito,  a guerra começou no dia 25 de Setembro de 1964, a partir de um ataque ao posto administrativo de Chai no então distrito (actualmente província) de Cabo Delgado no norte de Moçambique.

Como estava longe da guerra, dediquei-me aos estudos e gozei os momentos académicos que giravam à minha volta; buscava amizades entre os colegas e quanto às fardas brancas dos oficiais do quadro permanente provenientes da metrópole e estacionados em Vila Pery, esqueci-me delas e até achava ridícula a pessoa que as vestia.

Sem dar conta, já tinha involuntariamente mergulhado a minha cabeça na areia como um avestruz e caído num sono profundo, tendo acordado somente no dia em que entrei obrigatoriamente em Boane (Lourenço Marques) na Escola de Aplicação Militar de Moçambique E.A.M.M. para frequentar o Curso de Oficiais Milicianos C.O.M.

Meti a cabeça na areia e adormeci para as questões da guerra, do racismo, da discriminação, mas mantive-me muito activo e cultivei outros princípios ou formas de estar na vida.

Assim, quando passei à porta de armas da E.A.M.M. no dia 16 de Julho de 1972 levava comigo o curso técnico de Engenharia (Electrotécnia e Máquinas) frequentado na Beira que me garantia a entrada directa no Curso de Oficiais Milicianos, levava também dinheiro suficiente na algibeira pelo tempo que trabalhei nos Serviços Municipalizados de Electricidade S.M.E. da Beira (durante o 4º ano, como trabalhador-estudante) e até uma prova documental em como tinha trabalhado nas Linhas Aéreas de Moçambique DETA em Lourenço Marques durante os últimos 9 meses para fazer um estágio e até como tendo sido funcionário da DETA por três meses que ajudava a posicionar-me e a preencher locais dos mais privilegiados (durante a guerra) e durante o meu serviço militar, que eu infelizmente não viria a aproveitar.

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