V CONGRESSO INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA

O V Congresso Internacional de Pedagogia, sob o título “Educação e Cultura de Paz: Memória, Verdade e Perdão”, pretende constituir um espaço de reflexão e partilha de ideias e experiências capazes de contribuírem para um aprofundamento dos caminhos conducentes a uma sociedade mais pacífica e harmoniosa.

A atual conjuntura, marcada por fortes conflitos militares, sociais, religiosos e políticos, bem como pela crescente onda de migrantes e refugiados, exige um pensamento profundo sobre o papel motriz da educação para o entendimento e a boa relação entre pessoas e povos. Esta dimensão implica, pelo menos, os três grandes vetores que constituem as linhas de força deste congresso: (a) memória; (b) verdade e (c) perdão.

(a)  A memória – individual e coletiva – situa-nos diante do pano-de-fundo da nossa identidade contemporânea. Ignorar ou distorcer a memória  poderá conduzir aos perigos da sua glorificação antiquarista ou da sua menorização e reescrita através do revisionismo anacronista. A educação deve ter uma voz ativa no não-esquecimento do passado, contra os abusos e manipulação veiculados por sistemas políticos autocráticos e/ou movimentos radicais, extremistas e populistas. Para além disso, qualquer processo de reconciliação exige um reconhecimento tanto do bem-feito como dos erros do passado. Assim se criará espaço para o encontro e a cura da memória em ordem à promoção de uma paz justa e sustentável.

(b)  A nossa era tem vindo a ser caracterizada pela fobia à noção de verdade, cuja expressão mais clara se concretiza no conceito de pós-verdade. A ideia de que a verdade deixou de ser um fator central na nossa cultura ganhou enorme tração nas últimas décadas. A verdade tem vindo a ser progressivamente substituída por ideias rivais que se pretendem constituir na meta e fundamento do conhecimento e das sociedades humanas, tais como as do entretenimento e/ou as das emoções. Uma narrativa bem contada, assente numa cultura manipuladora de um consciente e tendencioso esquecimento seletivo, parece ser mais importante do que os factos, por despertar em nós emoções e divertimento. Contudo, como poderá uma cultura de paz sustentar-se sem a verdade?

(c)   O perdão é uma realidade ativa que pressupõe a memória, a verdade e a vontade de reconciliação, como pontos necessários para a finalidade para onde tende: uma paz que brota necessariamente da/com a/na justiça. Somente uma dinâmica de perdão, assente nestes pressupostos, possibilita reabilitar ou sanar uma memória ferida, traumática e ressentida, levando ao restabelecimento da integralidade da pessoa na sua dignidade ou das comunidades, seja(m) ela(s) a(s) vítima(s) ou o(s) opressor(es). Apenas pelo diálogo capaz de perdão, num processo de encontro na verdade, que tem como base necessária a justiça, entre vítima e opressor, poderão ambos emergir restaurados em toda a sua dignidade e humanidade. Uma pedagogia humanista da paz promoverá a interiorização da ação do perdão na sociedade, ultrapassando radicalismos e fragmentações e, consequentemente, a criação de uma cultura de paz.

Este Congresso visa, então, propiciar a apresentação e a discussão de trabalhos e investigações sobre o lugar e o papel da Educação na promoção e efetivação da cultura de paz, particularmente nos vetores da memória, da verdade, que exige a justiça, e do perdão.