O Sorriso de Pandora


O sorriso de Pandora


Adão e Eva Bíblicos -Capítulo 9


Realmente, houve um núcleo humano no qual a genealogia que Caos/Javé viria a expor na bíblia judaica nele teve seu início. O “Adão Bíblico” existiu algum tempo depois das ocorrências que descrevi no grupo de “humanos de estimação de Epimeteu”, que teve o seu próprio “Adão”, que foi o meu primeiro companheiro humano. Contudo, o personagem “Adão” que surgiu ao tempo da “Eva Bíblica” fez história, enquanto aquele com o qual convivi diretamente muito me encantou, mas sempre se submeteu à minha liderança e a “sombra do meu temperamento” o encobriu. Mas sua “importância genética” para o que viria a surgir foi essencial.

Como afirmei anteriormente, cerca de aproximadamente 30 mil anos após a minha “humanização”, o criador reuniu forças e fez a sua morada “estacionar” em uma certa região do planeta onde ali desenvolveu um laboratório no qual pretendeu submeter um grupo dos já “semi-libertos” homo sapiens.

Alí naquele espaço que passou à posteridade como Jardim do Éden, ele tomou como prisioneiros do seu tempo ditatorial e doentio um casal pertencentes a um dos núcleos humanos que sobreviviam por aqueles dias. Os dois humanos ainda não haviam se emancipado de todo, pois nem a minha influência genética e nem a dos meus familiares ainda haviam chegado até eles.

Aqui fiz o papel da serpente pois, enquanto mulher, mas com o meu poder mental demoníaco ainda acionado, afrontei Caos e seus anjos como forma de proteger a minha semeadura entre os humanos. Desconfiei que o pano do criador era, caso conseguisse fazer naquele casal o adestramento que deseja, dando-lhes a destinação de obediência ao seu influxo mental sobre o genoma da espécie homo sapiens, o próximo passo seroa eliminar os meus descendentes para que a humanidade viesse a ser algo bem diferente do que é hoje.

Caos já me havia tentado antes num longo e absurdo processo onde quase enlouqueci, mas o repudiei firmemente em diversas situações e circunstâncias, tentando me vencer pelo cansaço. Ao longo desses cerca de 30 mil anos de perseguição, foi quando pude constatar a inexistência de qualquer força de intercessão decente, justa, atuante em todo esse drama. Foi uma guerra mental covarde, interminável, que jamais me dobrou. Pensei mesmo que aquela coisa volante, que me perseguia onde fosse, que penetrava meu pensamento pretendendo reformular o que pensava, que me violentava numa espécie de segunda versão do que os olimpianos haviam procedido para comigo, tinha, finalmente, desistido e me deixado em paz.

Novamente, uma mão invisível havia me feito mudar os rumos do meu caminho quando decidi visitar Prometeu logo que soube da punição imposta a ele por Zeus. Foi quando, dirigindo-me na direção do Cáucaso, buscando uma dada montanha no topo da qual ele se encontrava prisioneiro, cumprindo a sua purgação imposta por Zeus que viria a durar cerca de 30 mil anos, deparei-me com os humanos presos àquele local.

Convidei-os a sair daquela região mas não foi possível estabelecer qualquer comunicação naquela oportunidade, e o medo deles era tanto que resolvi seguir adiante na minha intenção original. Contudo, firmes acampamento a uma certa distância, e deixei alguns dos meus familiares juntos com eles, observando de mais perto o que ocorria, pois o receio deles em interagir conosco me parecera algo além do comportamento normal daqueles dias. Orientei-os, antes, a fingir que eram “humanos ainda não despertos”, que estavam passando um tempo por ali.

O criador e toda a sua tecnologia foram facilmente enganados por alguns poucos humanos, porque eles também padecem do tal problema obtuso (estupidez mental) que caracterizam as estirpes demoníacas e somente veem o que querem ver, tão prepotentes são que não esperavam que qualquer astúcia “além da conta” pudesse surgir dos meus filhos naqueles dias.

Foi como subproduto dessa soberba que apliquei a minha estratégia de influenciar a “Eva daqueles dias” que era uma jovem humana cheia de vida, mas que ostentava no olhar uma desconfiança e inquietações marcantes. Ao me ver pela primeira vez, não fugiu como fez o seu companheiro apesar de que, ambos, claramente, viviam assustados.

Nessa dos acontecimentos, a minha condição humana aparentava já bem mais idade do que a deles, ainda que a contagem dos anos fosse distinta para a minha herança demoníaca comparada ao genoma humano original que apresentavam.

Após um certo tempo, resolvi retornar e tentar retomar o contato com eles que, por sinal. Viviam de modo muito semelhante ao grupo de “animais humanos de estimação” que havia inicialmente encontrados ao redor de Epimiteu. Com a experiência que adquiri naqueles tempos, pude, então, sem muita dificuldade, estabelecer uma natural relação de confiança com aquele casal.

No meu psiquismo, encontrava-me dividida entre as ideias de seguir adiante para definitivamente visitar Prometeu na sua prisão e com ele me aconselhar diante daquele evento que agora vivenciava, ou voltar e trazer comigo a minha filha Pirra e outros da “família humana” que gerei, para me ajudarem com aquela situação. O “meu Adão” já havia morrido há muito e eu costumava me deslocar sozinha ou com poucas companhias pois, além de me sentir melhor, era também mais fácil conseguir alimento.

Somente para esclarecer, por aquele tempo, na minha família, existiam três tipos de humanos, a saber: os do meu tipo, ou seja, com muita ou alguma herança genética dos demos, os puros que eram produto da “evolução natural” do planeta, e os híbridos que agora eram os de mais de maior números entre nós.

Sentindo-me mentalmente esgotados frente ao que estava vivenciando, antes mesmo de completar os meus ensinamentos linguísticos, resolvi deixá-los prometendo retornar. Pedi-lhes que voltassem a viver do modo que conheciam, antes da minha chegada, para não chamar a atenção de “olhos superiores” eu pudessem estar vigiando o experimento que se passava naquele local.

Após alguns dias, cheguei ao cume da montanha onde Prometeu sofria o seu flagelo diário, tendo o fígado do seu corpo Titânico violentado por um “pássaro”, por ordem de Zeus que, aparentemente, não mais suportava as duas humilhações, apesar de que os demos não tinham esse sentido lógico – noção de ridículo - nos seus psiquismos.

Sabedora disso e conhecendo os dois de perto, originalmente, a minha primeira motivação para visitar Prometeu tinha a ver como o “sentimento fraternal” que havia surgido entre nós, desde os meus primeiros tempos de existência. A segunda havia sido estranhamente produzida por uma visita que recebi já após a minha humanização.

Certa feita, em um dos meus deslocamentos, logo após a morte do meu companheiro, vi-me seguida por um pequeno grupo formado por dois centauros e três silenos. Acreditem, esses seres existiram e ainda existem. Apenas, agora, confinados aos seus genos de origem. Digo mais o que os terráqueos hoje chamam de mitologia nada mais é do que um conjunto pálido do que realmente veio a existir no seio de todo esse drama existencial.

Na oportunidade eles me informar que, desde os tempos no qual os titãs foram engendrados, com eles veio à tona a “versão atualizada” de uma profecia que nascera junto com a estirpe demoníaca, na aurora dos tempos universais. Dizia respeito ao fato de que, da descendência dos titãs decorreria o fim das classes demoníacas e o surgimento de uma espécie deles descendentes que iria por termo final ao rumo desordenado e impiedoso da história universal até então.

Ressalto que, dentre as incontáveis classes demoníacas – tanto as conhecidas como as desconhecidas para a cultura terrestre – os centauros e os silenos foram das poucas que já nasceram com senso crítico e grau de esperteza tais que lhes levavam a pensar que viria deles a descendência singular ainda por surgir, como forma de cumprimento do principal vaticínio da cultura demo.

Quando souberam do que havia acontecido com a “filha primogênita de Zeus” – sim, eu fui a primeira a surgir com a minha polaridade determinada dentre os engendrados a partir de Zeus e/ou por sua vontade – chegaram à conclusão de que o vaticínio havia se cumprindo pela minha intercessão junto aos humanos da Terra. E que pela falta de senso crítico antecipatório de Zeus, nem ele nem ninguém conseguiu controlar os desdobramentos advindos da liberdade humana que se multiplicariam entre os membros da espécie, podendo, inclusive, influenciar o psiquismo demoníaco.

Seria, então, de todo estratégico encontrar meio de substituir Prometeu na sua desdita pois que, por uma “pequena falha” no conteúdo lógico do decreto de Zeus, qualquer ser de características titânicas ou delas descendentes, visto como “importante” na sua geopolítica olimpiana, poderia assumir o seus lugar enquanto durasse o flagelo.

O mais sábio dos centauros ficou, então, de desenvolver uma estratégia que pudesse preservar a respeitabilidade de Zeus, de modo a que Prometeu pudesse retornar ao convívio com a aristocracia do Olimpo. Era imperioso que, no seu devido tempo. Prometeu retomasse o convívio com o rei dos deuses, pois nele residia a “senha profética perdida” para Zeus, sobre a sua sucessão ou o seu reinado infinito, assim, compreendido naqueles dias.

Tratei desse assunto quando estive cm Prometeu acorrentado por um artefato produzido pelos “nós de Zeus” e ali permaneci por alguns dias assistindo penosamente ao que lhe fora imposta pela acusação de “conspirador”, da qual ele sequer se dignou a se defender.

Ele concordou que, caso os centauros arquitetassem algum estratagema, ele retornaria ao Olimpo para conduzir o psiquismo atormentado de Zeus até o limite da permissão dos tempos, dando oportunidade a que os humanos pudessem melhor se organizar à medida em que os olimpianos se enfraqueciam ou se sentissem impedidos de continuar com o processo de denominação.

Quando ao problema que lhe expus, sobre o casal de humanos que encontrei aprisionados e atemorizados por seres que não eram demoníacos – segundo o que na época pensei – mas que possuíam poder de destruição e de persuasão bem maiores que os mais poderosos dos demônios, disse-me Prometeu:

- Há tempos que acompanho o aparecimento raro e fugaz desses seres cuja origem não pertence a este mundo. Acho que eles têm mais a ver com os de fora, que hoje habitam na Terra retirando daqui o que o que as suas famílias precisam. São muitas dessas origens que percebi atuando por aqui desde que passei a ser um titã-terrestre. Desde os tempos da sua humanização, ó Pandora, que alguns deles, se bem percebo, estão por aqui e penso que a mando do criador. Caos não controla tudo, mas a tudo ele pretende controlar ou parecer que o faz. Mas não sei quais os seus desígnios para esses que agora ostentarem a sua marca, ó Pandora – penso que ainda assim posso chamar-te...?

- Claro, ó Prometeu, fiz-me humana mas não deixei de pensar como sempre pensei, pelo menos quando quero, Sou Pandora, só que humana, frágil como eles sempre foram. Convivendo com os humanos, confesso: esqueço-me de ser Pandora, a engendrada por Zeus e dele me esqueço também, e percebo que surge em mim um modo de ser mais sutil, que me permite, às vezes, sentir uma pacificação que jamais senti como olimpiana. Da minha antiga condição o que ainda me infelicita é o modo fácil como ainda me encolerizo...Mas é este último traço de personalidade que ainda carrego da herança de Zeus.

-Isso é muito mais, ó Pandora. Tú é só que ainda um dia Zeus poderia vir a ser, e aqui falo em termos de psiquismo esclarecido, de bem consigo mesma, ainda que não detenhas os poderes dele.

Nem os quero – enfeiam-me e me levam a ser o que todos que conheço se tornaram: uma espécie perdida, sem rumos, rebanhada como os animais terrestres. Não desejo isso para mim nem para ninguém. Já nasci com isso e não consigo pensar que foi o engendramento que me forjou desse modo. Zeus jamais gostou do que viu em mim. Para não escandalizá-lo, numa espécie de acordo mútuo e silencioso, sempre que pude, dele me afastava e notava que ele preferia assim. Mas, diz-me ó Prometeu, você acha que esses seres inclassificáveis que vigiam o casal humano são portadores do poder original da criação de Caos?

- Não sei e não estou afirmando que são muitos ou poucos os que portam a vigilância sobre os humanos. Não os percebi. O que disse foi sobre os seres que pude perceber antes mesmo do teu surgimento entre os olimpianos. Desses que você viu nada sei. Estou aqui e isso me dói além do suportável, e não consigo dar conta dos meus pensamentos. Esse estigma de sofrer sem poder morrer é algo que, espero, a tua humanização tenha te libertado. Os seres sobre os quais te falei desconfio que estão em missão colonizadora e somente se interessaram pelos animais humanos há pouco tempo. Sei que os aprisionam para fazer experiências, mas não parecem ter os sentimentos que eu, tu e Epimeteu temos por eles. Mas isso é assim mesmo, sempre foi e será! Toma-se o que se pode tomar e os fortes sempre apropriarão o que bem entenderem dos que lhes são mais fracos. Essa é uma doença universal de tudo o que existe a partir de Caos. Os barcos celestiais desses seres são compostos dos mesmos materiais que vibram neste planeta. Nada têm a ver com os materiais das nossas moradas vinculadas à do reino alado de Zeus. São uma estirpe deste universo e não da nossa origem. (ne: Epimeteu se referia aqui aos Nephelim Bíblicos ou Anunnakis). Esses que viste, devem pertencer a outras hostes talvez próximas ao próprio Caos ou aos demais da Tríade (ne: aqui ele se referia a possíveis classes de anjos-clones).

Também não vi muita coisa. Acho que somente vi um ente, aproximadamente do seu tamanho, se deslocando no ar, vagarosamente, como se fosse um guardião que desejava ser visto por quem fosse que estivesse pela região. Assim, penso que são muitos, porque tentei convidar os dois a me seguir e eles não quiseram sair daquele local, e com isso percebi que eles estavam ali aprisionados, apesar de não ver muros nem limites estabelecidos.

- Caos e suas forças sempre tentam estar presentes em tudo, mas raramente o conseguem,. Desde que surgiu para a criação. Tártaro os impede de reinarem sozinhos, e isso complica o entendimento. Dizem que existem alguns de Caos que estão prisioneiros do poder de Tártaro, e Eros tenta pacificar há muitos essa questão, mas não consegue. Se esses humanos, ó Pandora, ou mesmo você e os seus descendentes forem de interesse para a Tríade, não tenha dúvida, as forças que deles derivam estão atuando no planeta. Este que você o viu voando pode ser um dos seres que representam o que lhe estou expressando.

- Mas não o tempo, nem a ele nem a nada, muito menos a quem não percebo. O que havia para perder já perdi e o inusitado é que me sito vitoriosa de uma luta que sequer travei. Estranho não? Ao me fazer humana, passei a me sentir completa, se assim posso me expressar. Estou, finalmente, envelhecendo de um modo que jamais imaginei e acho isso o maior prêmio da minha vida. Isso me fez diferente e mais forte intimamente. Saber que vou morrer me faz bem. Podes me compreender, ó Prometeu?

- Sim acho que sim. Você tem a arte da vida interior, de ser profunda num rebanho de seres superficiais tolamente encantados pela mediocridade do momento. De fato você é diferente da sua ascendência. Isso lhe torna única. Pena que não tenha nada interessante para lhe dizer sobre os humanos que precisam da sua proteção, além do que já lhe revelei. Gostaria de estar mesmo livre disso, para fazer parte desse jogo de libertação dessas consciências privilegiadas, que os humanos demonstram ter quando são libertados do jogo da escuridão. Se algo do plano dos centauros der certo e puder eu me ver livre, conspirarei discretamente sempre no sentido de lhe ajudar, ó Pandora, pois você representa o único movimento de consciência pessoal neste planeta e de tudo o que vi até agora que posso enxergar como sendo digno de apoio. Já que você esta livre de qualquer jurisdição. Os da minha estirpe, os centauros, os silenos, os olimpianos, todos temos de fingir, de nos submeter os caprichos de Zeus, mas você não! Como você mesma o disse: a sua humilhante derrota a destinou a uma vitória que sequer podemos aqui latar. Você é a única realmente livre dentre todos nós. Seja lá o que esses poderes possam representar, proteja os humanos e financia a liberdade deles pois nisso pode estar contido o segredo do futuro de todos nós.

Deixei aquele a quem estimava como a “um Pai” e tive mesmo que usar da minha frieza demoníaca para passar melhor aquele dias, enquanto caminhava de volta para o lugar onde havia deixado o casal humano.

Sei quão inaceitável e, para o condicionado modo de pensar do terráqueo moderno, lidar com essas notícias de um tempo em que tudo parecia ser bem diferente do que atualmente se conhece e se tem como normal. Mas, por inaceitável que possa parecer, o anormal e estranho é esse isolamento que hoje existe em torno desta humanidade e que a faz progredir “pensando” estar só nessa criação. Mas somente o tempo poderá proporcionar a percepção correta dos fatos e, quando isso for claramente enxergado, será, então, devidamente compreendido que o “normal” sempre foi o tempo em que muitas formas de inteligência despertas – e com níveis de racionalidade excitantes – coexistiam tendo como palco primário de convergência a superfície da Terra, apesar de muitas residiram em moradas a ela vinculadas.

O período em que vocês vivem é de exceção e por isso terá logo de ser encerrado, pois o progresso universal somente pode se dar por meio de levas e mais levas de seres, carregando em si mesmos versões genéticas padronizadas cuja convergência é que definirá a versão final de sustentação para o criador doente. Tudo coexiste é progride, ainda que lentamente, de modo conectado e nada está separado. Daí a ilusão do isolamento. Isso apreendi!

Não deixem, portando. que as formas aparentemente grotescas que as mitologias abordam nas suas narrativas lhes embotem o entendimento, pois o que pode ser a princípio exagerado é painel discreto do muito que sequer foi ventilado do que pode, naqueles tempos, ser produzido.

Centauros, sátiros, animais falantes, fadas, gnomos, bestas, monstros, demônios primordiais de cujas formas tudo o mais se originou, entes com inúmeras braços, pernas, cabeças, olhos, bocas e sistemas nervosos e operativos diversos....ah, esta humanidade ainda terá que se defrontar com o que, para ela, significa “fantasmas de um passado assustador” no seio do qual ela foi gerada. ´E o dia em que criadores e criaturas se reencontrarão há muitos já está apontado até mesmo nas profecias constantes da cultura demoníaca.; A versão que os humanos conhecem sobre esse momento do reencontro foi travestida pelos véus de religiosidade, e a volta de Jesus é o selo que melhor traduz essa questão.

Por isso que o se encontrava oculto ora se revela para facilitar o processo.

Por que essa divagação? Simples: estava me recordando da punição absurda imposta por um “rei” sobre um “súdito” que era indestrutível sob todos os aspectos. Ainda assim, Prometeu se obrigou a viver, pro cerca de 30 mil anos, a humilhação e a dor diárias de se ver atacado por uma família de pássaros que lhe devoravam um órgão corporal correspondente ao fígado, e o mesmo voltava a ser regenerar e aquilo não tinha fim. Por que? Porque uma ordem de Zeus jamais poderia perder a validade dentro do período a que fora destinada. Qual a importância disso? Obviamente nenhuma, mas era assim que as coisas aconteciam e ainda acontecem nossos ambientes em que ele exerce o seu poder, apesar do enfraquecimento que o acomete.

Para a sorte dos seres animalizados e clonados do universo e da morada de Caos, ele não mais se esmera na produção de ordem absurdas e contraproducentes, e poucos são ainda os que o levam a sério quando a tal se dedica. Zeus, infelizmente, ainda se tem em grande conta, e dizem mesmo que, para os olimpianos e agregados, somente alguém com suas características para por ordem no caso social em que a sua morada atualmente se encontra e com inevitável tendência a dias ainda piores.

Acreditem se lhes for possível, mas Prometeu e o Centauro Quíron, que terminou por lhe suceder como sujeito da punição, somente deixaram de sofrer esse abuso há não mesmos que quatro mil anos.

Naqueles dias, porém, caminhava de volta ao “Jardim do Éden” do criador, enquanto refletia sore o fato de ter preferido não relatar a Prometeu as estranhas incursões no seu psiquismos e em torno da minha sensibilidade que, conforme pude perceber, aconteceram ao longo do tempo em que me dediquei a promover o progresso da minha descendência. Como já relatei, foram tempos intermináveis em que uma força que me era estranha e invisível parecia querer possuir o meu psiquismo para me fazer agir diferente com os humanos que me rodeavam. Foram inúmeras as situações em que tive de enfrentar aquela terrível influência que, covardemente, sem dar as caras, procurava subverter o meu modo de pensar e a minha vontade. Foram tempos difíceis e dolorosos que somente a minha solidão registrou! Muitos milênios depois pude saber e constatar que este terráqueo sofreu o mesmo peso opressivo, a mesma tortura psicológica encomendada e aplicada por quem é destituído de qualquer caráter.

Desde que me humanizara, muito raramente dormia, mas nesse período das influências, “acordava” em meio a sensações desagradabilíssimas em que Caos me aparecia, sentado em um trono imenso e, cheio de poder, ordenava-me a obedecê-lo cegamente, sob pena de maldições que me envolveriam a condição humana. E esse detalhe me desgastava a tal ponto que acordava adoentada e demorava, ás vezes, muitos dias para me recuperar.

Em outros “sonhos” punições me eram impostas e o meu corpo acordava com as marcas estranhas que jamais pude entendê-las.

Cheguei, por fim, ao lugar em que reencontrei o casal que me recebeu com certa dose de alegria, apesar do temor. Dediquei-me abertamente ao adestramento linguísticos e comportamental da mulher, porquanto o homem hesitava mesmo em confiar numa “mulher velha” que, aos seus olhos era estranha e cheia de “poderes”.

Certa feita, encontrava-me relativamente distante deles na oportunidade em que algo que vira em sonhos começava a ser tornar real, só que de uma maneira muito mais intensa e complexa. Pensei em fugir daquele lugar mas logo me manteve como se estivesse ali petrificada.

Pude perceber uma grande nuvem arredondada deslocar-se na direção da superfície do planeta, em cujo bojo se encontrava uma bolha enorme, com um ser muito grande sentado em meio tudo aquilo. Essa nuvem bolha tocou cúpula das árvores e vi então uma quantidade significativa de nuvens-bolhas menores, com um ser presente em cada um delas, que se espalhavam pela região, mantendo-se todas elas em movimentação, à exceção daquela em que depois pude perceber ser a da pessoa do criador.

Ali estava Caos, olhando na direção do casal que se encontrava a uma certa distância do lugar onde me encontrava, apresentando uma estranha forma corporal humanoide, mais estranhamente ainda sentado numa espécie de trono que parecia emanar uma energia desagradável que se espalhava pelo ambiente adora.

Escutei no meu íntimo uma voz portentosa que dizia: “Estou aqui sou vosso criador e de tudo o que os vossos olhos podem ver, e vocês são meus preferidos. Entendam que vocês são meus e obedecerão à minha vontade e para tanto dar-lhe-ei entendimento para compreenderem tão somente o quero de vocês. Não se assustem pois lhes quero bem e desejo tão somente o bem para todos os que são meus. Não me desobedeçam jamais e fechem olhos e ouvidos para tudo o que não vier de mim.”

Sentia-me mal enquanto, de algum modo, escutava o que Caos estava declarando para o assustado casal que, somente mais tarde, pude novamente encontrar. O homem estava muito assustado, pois ainda não havia desenvolvido os elementos mentais para a compreensão necessária em torno do que estava acontecendo com eles. A mulher, porém, por daqueles dias, já conseguia se comunicar comigo de trocávamos impressões sobre tema mais simples de que aquele fato. Porém, para minha surpresa, dela escutei que “não desejava ser comandada ora aquele entre, pois ele era frio e inexato como as serpentes”.

Passei dias tentando compreender o que ela quis dizer com “inexato como as serpentes”. Somente depois é que compreendi que aquela mulher ostentava em seu psiquismo uma estranha capacidade que somente nela pude perceber: ela conseguia compreender a provável intenção que existia em qualquer animal da natureza terrestre que dela se aproximasse, menos no caso das serpentes. Era como se fosse um talento natural que nela parecia ter “surgido do nada”. Mas aquela jovem humana tinha esse “sentido extra” que a permitia confiar ou não na aproximação de um animal ou mesmo, como depois compreendi, ter ela me aceitado porque confiou na minha pessoa,

Caos, ao contrário, havia provocado nela uma aversão, uma desconfiança que eu mesma achei desproporcional no seu caso, mas de cuja força ela jamais abriu mão. Relatou-me que não havia ainda tentado fugir para não colocar o seu companheiro, por quem tinha profunda afeição, em situação mais complexa que a sua mente podia talvez suportar.

Conversávamos bastante e tudo lhe contei a meu respeito, como também revelei as minhas opiniões imprecisas a respeito de Caos e demais membros da Tríade. Meu problema era com Zeus, deixei-lhe bem claro, e ressaltava que sobre aquele ser denominado Caos eu pouco ou nada sabia de modo preciso. Ela, em contrapartida, revelava a sua aversão à aproximação de Caos e dos seus acompanhantes.

Quanto, mas nossas conversas, revelei que havia tido uma filha com meu primeiro companheiro demo e outros filhos e filhas com meu outro companheiro que havia escolhido dentre os humanos, ela exultava sonhando um dia conhecê-la, pois também desejava a ser mãe de muitos outros humanos – como, de fato, veio a ser.

Devo ressaltar que Zeus infernizou a minha vida por uns tempos e depois deixou-me seguir adiante do meu próprio jeito. Caos, porém, com aquela jovem, infernizou-lhe a vida por muito tempo e mais ainda a do seu companheiro, Que veio, posteriormente, a se desenvolver, demonstrando uma inteligência vivaz e raro senso de honra. Este “Adão bíblico” viria, mais tarde, a produzir os primeiros raciocínios organizados, sistematizados, que foram transmitidos oralmente por muitas gerações.

Sempre “um passo atrás” em relação à atitude da sua companheira no que se referia ao repudio à dominação Caos/Javé e das suas hostes, o Adão bíblico, tempos depois, pelo peso da violenta pressão imposta por Caos, chegou mesmo a criar um traço psicológico de se sentir em erro para com o criador.

A expulsão que o casal viria a sofrer daquela área privilegiada em termos de água e comida farta, afetou-lhe ainda amais o psiquismo cansado de tanta covardia de seres poderosos que torturavam, sem que disso se dessem conta – segundo eles próprios – os frágeis humanos daqueles dias. Esse “primeiro humano daquela geração”, pela profunda lavagem cerebral que lhe foi imposta, veio a ser inevitavelmente também o “primeiro a se achar em falta para com o criador.

A Cada vez que me encontrava com eles, ”cem passos atrás” era a sua prudente postura em relação a minha pessoas e ao meu modo de pensar, e ao que eu, mais uma vez o ressalto, representava para eles naquela altura dos fatos: uma humana já com idade avançada e que em tudo lhes era semelhante, cuja origem era distinta da deles, com capacidade intelectual superior a que ostentavam e dona de um destemor que os assustavam até mesmo à Eva bíblica. Esta, simplesmente não suportava muito bem a presença deles e esse foi para que não se submetessem “aqueles deuses” e aceitassem a saída daquele lugar, se isso significasse “descano” para os seus psiquismos atordoados. Contudo. jamais Caos lhes deu folga.

Eles singularmente se assustavam quando me viam, nas oportunidades raras em que isso aconteceu em frente a eles, conversando com seres demoníacos que eram da minha afeição. E tudo para a compreensão deles se resumia ao fato daqueles seres pertencerem a minha antiga família.

Com o tempo, inevitavelmente fui levada a escolher mais um parceiro com o qual tive descendência. Após a sua morte, tornei a me unir a um outro homem com o qual também gerei nova prole. Devido a certos aspectos da herança longeva que herdei da antiga condição e que ainda existia no meu corpo humano, pude ser uma boa procriadora sem maiores problemas.

Quando os humanos, minimamente despertos, começaram a crescer significativamente em número e espalhados em grupos dispersos, passei a ser tida, para alguns, como uma guia experiente a ser consultada e, para outros, a minha fama demoníaca cuja história se arrastava há bem mais de 60 mil anos até aqueles tempos, levou-me a ser também conhecida como Lilith. E muito do que, mais tarde, veio a se falar a meu respeito não mais correspondia a qualquer aspecto da minha verdade daqueles dias finais da minha vida humana.

Pereci algum tempo depois da grande devastação que cobria todo o planeta de infortúnio. Vivi o período antediluviano e boa parte do pós-diluviano, e pude, então, perceber como forças externas extraterrestres e extrafísicas se esforçavam para dominar a crescente família humana que se multiplicava num ambiente planejadamente desagregado. Mas, naqueles evos, desconhecia as suas origens e o que eles significavam na “geopolítica desta criação.

No curso da minha vida transmutada de demo para homo sofri violências da parte de Caos, dos meus pares olimpianos e do ser a quem vocês chamam de Lúcifer que, do astral planetário, nos tempos em que influenciei o casal bíblico, ele procurava despertar em, todos nós “trincheiras cerebrais e psíquicas” que pudessem ser, para ele e os seus seguidores, fonte segura de luta contínua contra a dominação estéril vinda de um criador estremecido e fragilizado pela sua própria incompetência enquanto pretenso gestor do que existe.

Não sei o quanto fui influenciada e se de fato o fui por esses seres! Nos tempos em que vivi não me era possível expressar essa medida e, até mesmo hoje, decorridos uns bons milênios desde então, e na “desconfortável” situação espiritual em que me encontro, também não sei avaliar essa questão com a devida frieza de análise e com os parâmetros honestos para tanto.

Tudo o que imagino sentir é que sempre procurei agir por mim mesma, com base no meu modo de pensar e de sentir a vida. Se errei ou se acertei foi pura consequência das circunstâncias que me envolviam e me convidavam a reagir. Nada planifiquei de antemão. Penso apenas ter atrapalhado o planejamento de alguns entes tidos coo importantes nesse contexto, e admito hoje, ter sido instrumento dos projetos de alguns deles, sem que disso obviamente soubesse.

Enfim, fui atriz e testemunha sem privilégios de como uma das versões do genoma humano foi mais recentemente elaborado sobre uma base de que já existia de uma outra Eva e de um outro Adão bem mais antigos que eu mesma. (ne: recentemente descobertos por estudos e mapeamentos genéticos avançados) e pude perceber quantos obstáculos dificílimos vários personagens humanos tiveram que superar, na solidão dos seus momentos, para que a espécie a que atualmente o meu espírito se encontra vinculado pelos mais profundos laços pudesse prevalecer em relação aos infortúnios.

Fiz-me mãe de uma continuidade para nela me realizar enquanto pessoa, e como mãe, meu impulso sempre foi o de proteger, o de poupar dos meus entes o que pudesse lhes dar. Contrariamente, e para minhas tristeza, tive de aniquilar em mim o instinto maternal e pôr os meus filhos e filhas em risco constante para que a dignidade que estávamos descobrindo na natureza humana não fosse, por sua vez, estraçalhada pela frieza de entes como Zeus, Ares, Hades, Caos e outros que ainda não ostentam em si noções de decência existencial que sobram na frágil, porém heroica, humanidade terráquea.

Como mãe, tive de instigar os meus para uma guerra contínua, perversa, silenciosa e covarde – porque desconhecida para os terráqueos – com forças que nos confrontam a possibilidade de crescermos em liberdade, postura amorosa e sabedoria, o que falta aos agente que sufocam os desavisados himens e mulheres da Terra.

Doía em mim gerar novamente a necessária dose de desconfiança para que a ingenuidade não fosse continuamente estuprada pela esperteza dos velhacos demoníacos que fazem questão de atrasar o processo de liberdade geral dos que habitam nesta criação, inclusive, o deles próprio.

São cegos que pretendem guiar os que têm olhos e sabedoria para enxergar e é disso que diferencia esta humanidade dos que a pretendem dominar.

Ah, se não fosse o condicionamento que eles nos impuseram..... Mas tempo virá em que os condicionadores perceberão que os verdadeiros condicionados ao infortúnio espiritual são eles próprios. Os humanos são e serão livres para serem o que eles desejarem, na direção do que conseguirem vislumbrar no seu processo evolutivo . Eles, porém, continuarão a ser sempre os mesmos seres decadentes sem possibilidade de crescimento pessoal.

Isso, eu e toda a espiritualidade sabemos. Falta tão somente os meus filhos e filhas terrenos disso saberem.

Obviamente, Caos/Javé nunca revelou essa face da história, pois seria obrigado a contar que a componente feminina do processo, foi sim o agente principal da renovação universal que hoje se verifica para além das limitadas percepções dos terráqueos, por força do isolamento planetário.

Jamais saímos de qualquer costela e nem muito menos sofremos nenhuma queda para termos sido expulsos desse ou daquele lugar. A história é bem mais triste e complexa do que até hoje se pode revelar.

Transformar a própria queda em passo de uma dança cósmica, sempre pareceu ser um dos principais traços da personalidade de Caos e dos que com ele se consorciam na gestão da Tríade, se assim posso me referir a algo que, efetivamente, jamais funcionou adequadamente.

Como já afirmei anteriormente, parece-me cegos que tiveram o mérito de, por meio de algum modo, produzir um jogo cujo resultado possibilitou o surgimento de seres com olhos para enxergar. No entanto, a doença que lhes marca a cegueira é de tal monta que, por serem desgraçados, os impede a tentar submeter os que conquistaram a liberdade de viver digna e plenamente as suas vidas, por curtas que ela possam ser .

*Este cap. está completo/Matilde Pedroso