Sincronicidade e Livre-Arbítrio

Jung as denominava 'coincidências significativas': quando o mundo interno e o externo se misturam. Por não serem passíveis de repetição em laboratório - ou estatisticamente verificáveis - não são estudadas pela ciência. Alguns as consideram como sendo sinais da existência de Deus e de um caminho a ser seguido, outros como sinais de doença mental (não existiriam na realidade, seriam uma espécie de paranóia delirante).

Jung exemplificou uma experiência sincronística pessoal, relatando enquanto conversava com Freud. Situava-se em uma sala com lareira, de acordo com Jung, cada vez que sentia uma forte queimação no estômago, a lareira estilhaçava, sendo capaz de prever cada estilhaço a partir de suas sensações abdominais. Freud considerou como nonsense. Um místico ou esotérico poderia propor alguma forma de energia envolvida, ou seja; uma espécie de poder da mente sobre a matéria. Como sabemos, não existe qualquer energia para além da energia cinética, potencial, mecânica, massa e radiante, e das quatro forças da natureza: gravidade, eletromagnetismo, força nuclear forte e força nuclear fraca, todas encontradas na natureza, já medidas e previstas nas fórmulas da física teórica. São algumas das que atuam em nosso sistema nervoso, e nenhuma delas é capaz de provocar o fenômeno. Os eventos não passaram de uma coincidência.

Sincronicidade não é um conceito espiritual, esotérico ou religioso, muito menos aleatório. Pode ser tratado cientificamente quando envolvendo a consciência humana? Jung definiu as 'coincidências significativas' como não relacionadas entre si pela causa e consequência. Provavelmente esta definição está errada, pois tais eventos podem ter se originado remotamente no passado, onde a relação entre elas pode ser mais óbvia.

Imagine duas pessoas que se encontram em um elevador dirigindo-se para o setor de embarque internacional de um aeroporto, com o voo prestes a sair. Uma delas está perdida e questiona a outra por orientações. Posteriormente ambas se encontram novamente dentro do avião. O ato de uma ter fornecido orientações para a outra representa a causa e consequência original, que fez com que o próximo encontro (ou a coincidência) se tornasse realidade. Este é um exemplo simplista que pode não representar o significado do fenômeno; um encadeamento tão grande de causas e consequências, que inclui sensações humanas e eventos externos aparentemente sem conexão, que nos levariam a acreditar que não seriam deterministas.

Jung não considerou o envio de informações, no passado, ocorrido em algum evento precursor da coincidência, e considerou como sendo um fenômeno não determinista quando na verdade é o oposto; um fenômeno que reforça a ideia de que vivemos em um mundo absolutamente determinista, incluindo o comportamento humano.

Esta troca de informação não precisa ser entre seres vivos. Considere uma pedra que cai de uma montanha em direção a um rio e atinge outra durante a queda, que acaba também por cair em direção ao rio. As pedras se encontram juntas no leito do rio, sendo que ambas, coincidentemente, vieram da mesma ladeira. Olhando para as duas pedras não percebe-se a relação de causa e consequência que resultou na coincidência, mas analisando o passado descobre-se que elas interagiram, e uma interferiu no destino da outra, sendo que esta interferência pode ser considerada uma troca de informações, afinal; as variáveis das fórmulas relacionadas com a velocidade e direção de ambas tiveram seus valores alterados com a colisão: uma passou a fazer parte da história da outra.

Os casos mais interessantes são quando pessoas da ciência as experienciam, então algum debate racional passa a ser possível. Podem ser complexas e cheias de significados, relacionadas com a história de vida de cada um, ou podem ser simples e anedóticas. Por qual motivo algumas pessoas as têm e outras não? Como exemplificar sem cair no ridículo? Possuem serventia? Uma possibilidade é que a maneira como o evento sincronístico é preenchido pode não ter utilidade; a estrutura do evento é o que importa. Em outras palavras: a existência do evento e sua estrutura indicam que a consciência humana e o universo devem ser descritos, desde pela filosofia até pela física teórica, de maneira que incluam sincronicidades, afinal; estão inexoravelmente conectados.

Atualmente temos uma teoria do universo, que começa no Big Bang, e vivemos em um mundo recheado de leis da física que governam nossa realidade. Com o passar do tempo deram origem ao ser humano; consciente de sua própria existência, sente dor e prazer. Alguns dizem que somos como robôs; controlados pelo inconsciente, que engana o consciente a pensar que este decide, e que, portanto; o livre arbítrio seria uma ilusão. Neste caso a consciência humana seria nada mais que inútil, afinal; qual o sentido em um ser pensar sobre sua própria existência, ao invés de apenas atuar sobre o ambiente, considerando sua sobrevivência? Afinal, para que o consciente se o inconsciente basta?

Qual é a utilidade que torna a consciência evolucionariamente imprescindível? É possível entender sincronicidades sem entender a consciência antes? Por qual motivo fomos dotados da capacidade de pensar sobre o mistério da existência, sendo que isto é inútil em termos de sobrevivência; ou seja, nada mais que um enorme desperdício energético evolucionário?

Imagine um automóvel, no banco do motorista um robô, no banco do passageiro um observador; a consciência. O automóvel (que representa a pessoa) pertence ao passageiro, porém é o robô - nossa parte inconsciente - quem o dirige. Imaginemos também que é o passageiro quem é responsabilizado em caso de erro do robô. Existem diversas pesquisas indicando que todas nossas decisões são inconscientes, e o consciente é levado a acreditar que decide alguma coisa. O quão justa é esta situação? O passageiro nada pode fazer, e além de ficar com toda a dor consequente dos erros do robô, também é responsabilizado em caso de prejuízo a outra pessoa. Além de não ser útil em termos de intervenção no ambiente, o consciente também não seria útil em termos de tomada de decisão.

Temos dois mistérios então; qual a utilidade de indagar-se sobre sua própria existência e de outrem - por qual motivo fomos dotados com essa capacidade - e para que servem as sincronicidades?

Jung define sincronicidades como eventos que ocorrem independentes de causa e consequência. Entretanto, não é porquê a causa e consequência não são aparentes durante o breve momento que são analisadas pelo observador, que os eventos coincidentes não estejam conectados pela causa e consequência. A causa e consequência originais podem estar em demasiado distanciadas no tempo, dificultando sua percepção. Neste caso, sincronicidades indicariam que estamos em um universo essencialmente determinista e isento de livre arbítrio, pois cada evento seria resultado de 'causas e consequências' ocorridas previamente, inexistindo possibilidade para qualquer ideia ou decisão espontâneas.

Se vivemos, então, em um universo completamente determinista - é o oposto do que alguns estudiosos do fenômeno afirmam - sincronicidades são resultado de um enorme encadeamento de causas e consequências com início em um passado remoto. Este encontro, entre significados, Jung denomina de sincronicidade, mesmo que uma das entidades seja um estado de consciência humano interno, e a outra um objeto ou evento externo. Jung, entretanto; considera que elas não estão ligadas pela causa e consequência, ou seja, não seriam - necessariamente - indícios de um universo determinista.

Sincronicidades, com a correta interpretação em relação aos determinismos da causa e consequência, em conjunto com a predominância do inconsciente sobre o consciente, nos levam a conclusões com impacto em diversas áreas da ciência, entre elas as ciências jurídicas e sociais, além de um forte respaldo a políticas para área da educação e fortalecimento dos direitos humanos. A natureza funcionando em perfeita sincronia com a mente humana indicaria que todos funcionamos como uma máquina utópica. Portanto, considerando o domínio do inconsciente sobre o consciente, e um universo essencialmente determinista, tem-se dois fortes argumentos contra o livre arbítrio, logo; como culpar ou inocentar alguém?

Três vídeos sobre livre-arbítrio, do ponto de vista matemático, físico-químico, neurológico e psicológico. 

Determinismo e Livre-Arbítrio

O breve cessar das consequências das causas e a resposta sobre ilusão de livre-arbítrio: o livre-arbítrio não é uma ilusão, é verdadeiro, entretanto, somente é possível em ambiente de simulação, o que evidencia que estamos em tal ambiente. O armazenador das causas eferentes, armazenado em memória, e após enviado ao ambiente, requisita um tempo mínimo para ser percebido pelo consciente para ser considerado como livre-arbítrio, e este tempo mínimo somente é possível em simulação, pois caso as leis da física teórica fossem aplicadas, em uma realidade não simulada – onde elas seriam respeitadas – a matéria se desfaria (i.e.: o átomo se desintegraria) e o livre-arbítrio se tornaria impossível. Aqui está provada a simulação, e solucionado o problema histórico da contradição entre determinismo e livre-arbítrio.

Considerar a inexistência de livre-arbítrio, entretanto, não entra em confronto com as ciências jurídicas e sociais, afinal; contenção contra violência e corrupção são feitas mesmo em crimes não dolosos.