Inobstante as propostas programáticas dos Institutos Federais na defesa de uma educação emancipadora que promova uma formação abrangente, é importante que o docente compreenda as finalidades e objetivos da educação presentes nas políticas educacionais e curriculares. Dentro dessa seara, o contexto social, cultural, as diferentes concepções que a educação assume na sociedade, de acordo com o tempo e os grupos sociais que nela atuam, ocasionam uma miríade de perspectivas, critérios e abordagens acerca da organização/gestão escolar, formação de professores, práticas, formas de avaliação e aferição da aprendizagem. Recentemente, além dos já habituais formuladores de políticas e de currículos, dos detentores de mandados legislativos, além de técnicos de órgãos públicos, pesquisadores e educadores, cresce a influência de grupos conservadores ligados à classe média e as religiões de diferentes designações. O resultado disso, aponta Libâneo (2019) é a difusão do significado e da finalidade do “ensino de qualidade”, dificultando o estabelecimento de um consenso acerca do papel da escola, principalmente àquelas voltadas para população mais vulnerável socioeconomicamente. Com efeito, a definição das políticas educacionais representa uma disputa de poder na qual interagem entre si diferentes grupos e organizações sociais em busca de maior influência na definição das políticas públicas, desposando interesses econômicos, políticos e ideológicos diversos.
Dessa forma, Libâneo (2019) estabelece que na definição das finalidades educativas, deve-se levar em consideração as determinações explícitas e implícitas dos sistemas escolares, segundo os valores e significados que se queira adotar para o sentido da educação e da instituição escolar.
A despeito disso, ainda que não se possa afirmar que a existência das finalidades por si só tenha o poder de determinar os rumos de sua implementação, é a partir delas que se pode identificar as orientações tanto explícitas quanto implícitas dos sistemas escolares e como seus significados aparecem, no plano operacional, nas escolas e salas de aula. As finalidades indicam, assim, uma orientação filosófica e valorativa (...). (LIBÂNEO, 2019, p. 3).
Diante do exposto por Libâneo, as finalidades da educação precisam ser bem definidas e compreendidas por todos os envolvidos no processo escolar, principalmente pelos professores. O corpo docente, desse modo, necessita ter bem sedimentado o conhecimento acerca dos valores, da filosofia, das nuances do processo de formulação/implementação das políticas públicas em educação. É fundamental também conhecer, bem como se colocar como participante nas disputas de poder que permeiam o campo de ensino, na elaboração das políticas, das diretrizes, dos currículos escolares na definição e delimitação do âmbito de aprendizagem.
Ainda segundo Libâneo a depender de qual finalidade educativa e curricular que se quer ter para escola vai determinar qual será a prática pedagógica e o educando/cidadão que se pretende formar/instruir ao final desse processo de aprendizagem.
Restringindo as funções da escola a objetivos utilitários, são dissolvidas suas funções de instituição formativa de desenvolvimento dos processos psicológicos superiores e da personalidade. Tem-se, assim, um ensino instrumental subordinado a objetivos de competências medido por testes, valorizado muito mais pelos especialistas em avaliação em larga escala do que pelos professores. São excluídos os conhecimentos significativos e os processos de ensino-aprendizagem que podem promover e ampliar o desenvolvimento humano. Suspeita-se que fórmulas que sustentam um modelo de escola dentro de um projeto de alívio da pobreza na qual se junta o currículo instrumental e imediatista para a empregabilidade e políticas de inclusão apaziguadoras, levem ao agravamento da injustiça social, pois, ao colocar em segundo plano os elementos pedagógico-didáticos da qualidade de ensino, é sonegado aos filhos das famílias pobres o acesso ao conhecimento universal e o desenvolvimento das capacidades intelectuais por meio desse conhecimento. (LIBÂNEO, 2019, 22).
Desse modo, uma vez que a EPT pretende uma formação integral dos sujeitos para além do mundo do trabalho, é fundamental que os professores tenham bem sedimentado as bases que a fundamentam, a fim de das finalidades da educação propostas pela Reforma do Ensino Médio e pela BNCC, suas nuances políticas e sociais decorrentes dessa reformulação. Portanto, o conhecimento e a opinião docente em relação as alterações curriculares faz-se necessário para readequar as práticas pedagógicas aliando-se as finalidades da EPT.