O projeto RE.ATIVA Lab visa uma transformação socioeconômica e ambiental integrada na Cidade Estrutural. A proposta busca romper com o ciclo de vulnerabilidade histórica da população local, marcado pela falta de qualificação e oportunidades, ao mesmo tempo em que ressignifica o antigo lixão. A solução se materializa em uma Fábrica-Escola, que oferece qualificação profissional e renda a partir da valorização dos próprios resíduos locais como matéria-prima para o design e a produção.
Oferecendo um modelo educacional acessível e sem pré-requisitos, o projeto promove a inclusão social e a qualificação profissional, capacitando indivíduos em todo o processo de reciclagem. Essa capacitação se baseia na filosofia central do "Aprender Fazendo". Essa nova competência, se converte diretamente em oportunidades econômicas e autonomia, pois o conhecimento é aplicado em um trabalho remunerado que gera produtos de valor. Este ciclo completo de aprendizado e produção atinge o objetivo de ressignificar o território e o material: o antigo passivo ambiental se torna um polo de inovação, e o resíduo, antes fonte de estigma, é transformado em recurso para o design e a construção.
Dessa forma, o RE.ATIVA Lab é um projeto arquitetônico que visa se tornar uma estratégia abrangente de desenvolvimento sustentável. Ao conectar a urgência social da geração de renda com o reuso, o projeto demonstra que é possível transformar resíduo em recurso, e vulnerabilidade em prosperidade.
A Cidade Estrutural, no Distrito Federal, constitui um cenário de urgências sociais e ambientais que demandam soluções integradas. O território, que se consolidou à margem da capital planejada, carrega o peso de um passado marcado pela proximidade com o antigo Lixão do Jóquei, um antigo lixão parcialmente desativado que ainda impacta a paisagem local. É neste contexto que se evidencia a premente necessidade de uma solução abrangente, capaz de abraçar os múltiplos desafios locais.
A principal necessidade social que este projeto visa responder é a inclusão social e a qualificação profissional da população da Estrutural. Indicadores da Codeplan revelam um cenário de vulnerabilidade educacional e profissional, com altos índices de evasão escolar e carência de oportunidades qualificadas. Modelos educacionais convencionais mostram-se ineficazes, pois não se alinham à realidade de uma população que necessita de geração de renda imediata, forçando a escolha entre o sustento e a qualificação. A lacuna reside, portanto, na ausência de um programa que ofereça capacitação acessível, que rompa essa dicotomia e que valorize o potencial humano local, conforme os princípios da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei nº 9.394/1996) para a formação profissional.
Paralelamente à demanda social, impõe-se a necessidade de ressignificação ambiental e econômica do território. O aterro, hoje dedicado ao recebimento de Resíduos da Construção Civil (RCC) conforme a Resolução CONAMA nº 307, representa não apenas um passivo a ser gerenciado, mas um gigantesco "banco de matéria-prima". A inatividade deste potencial material, aliada à urgência de práticas de desenvolvimento sustentável, alinha-se às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei nº 12.305/2010) e da Política Distrital de Resíduos Sólidos (PDRS, Lei nº 5.418/2014). Há uma clara necessidade de ativar esse recurso para a economia circular, transformando-o de um símbolo de descarte em um motor de inovação e valor, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (especialmente ODS 11 e 12).
É para responder a essas necessidades que o projeto RE.ATIVA Lab se justifica. Ele propõe a criação de uma Fábrica-Escola que integra soluções para os desafios sociais e ambientais da Estrutural. O modelo adota a Formação Inicial e Continuada (FIC), estruturada de forma modular e progressiva, para acolher o público sem exigência de escolaridade prévia. A metodologia do "aprender fazendo" será central: os participantes, desde a fase de construção do edifício no formato de "canteiro-escola", serão capacitados para processar os RCC do próprio aterro, fabricando os materiais que edificarão seu futuro espaço de aprendizado e trabalho. Após a construção, a Fábrica-Escola operará com duplas linhas de produção e ensino, transformando tanto RCC em materiais de construção quanto resíduos urbanos selecionados em objetos de design. Desta forma, o RE.ATIVA Lab garante que o conhecimento técnico seja imediatamente convertido em trabalho remunerado e oportunidades de empreendedorismo, ao mesmo tempo em que o resíduo local é transformado em valor, estabelecendo um novo ciclo de prosperidade para a comunidade e para o território.
A concepção de Brasília, inaugurada em 1960, materializou um projeto de nação simbolizado pela ordem e racionalismo do Plano Piloto. Contudo, a construção dessa utopia modernista gerou, desde seu início, uma realidade paralela e não planejada: um anel periférico de assentamentos, como as primeiras cidades-satélites, que se consolidaram para abrigar o vasto contingente de trabalhadores migrantes. Este processo deu origem à dualidade que marca a estrutura socioespacial do Distrito Federal até hoje, com um centro de poder planejado e uma periferia que absorveu a força de trabalho. É nesse contexto de segregação que se deve compreender a origem da Cidade Estrutural.
A localização da Estrutural se provou estratégica e conflituosa, fator determinante para sua história. Situada a apenas 15 quilômetros do centro do poder, a região estabeleceu-se em uma área de tensão territorial entre a proximidade com o Plano Piloto – fonte de empregos e, paradoxalmente, dos resíduos que se tornariam sua base de subsistência –, a dinâmica da movimentada Via Estrutural (DF-095/EPTG) e a fragilidade ambiental do Parque Nacional de Brasília. Essa configuração criou as condições para a instalação do aterro de resíduos da capital e, consequentemente, para o surgimento de um dos maiores conflitos socioambientais da história de Brasília.
Em paralelo a esse desenvolvimento, a crescente geração de resíduos sólidos demandou uma solução imediata. A decisão de criar uma área para o descarte do lixo foi uma medida administrativa e pragmática, tomada pela administração pública no início da década de 1960. A área da Estrutural foi selecionada por ser, naquele momento, considerada remota. O local não recebeu qualquer preparação técnica, operando como um "lixão" a céu aberto, com o despejo do lixo diretamente sobre o solo do Cerrado, o que estabeleceu as bases para um passivo ambiental que se agravaria por décadas. A denominação popular do local como "Lixão do Jóquei" advém de sua proximidade com o Jockey Club de Brasília, o que apenas acentuou o contraste e a segregação social da capital.
A implantação do Aterro do Jóquei, ainda na década de 1960, catalisou um processo de ocupação espontânea em seu entorno, dando origem ao assentamento que viria a ser a Cidade Estrutural. O aterro rapidamente se consolidou como um poderoso ímã econômico para uma população, majoritariamente composta por migrantes e pessoas de baixa qualificação, que não encontrava espaço na economia formal da capital. Essa relação estabeleceu uma simbiose complexa: o lixão, ao mesmo tempo que era a fonte de sustento e a razão da existência da comunidade, era também o epicentro de condições insalubres e de um profundo estigma social. A proximidade com a fonte de "matéria-prima" era uma necessidade de sobrevivência, o que levou à consolidação de uma comunidade adjacente ao depósito de lixo.
A morfologia urbana que emergiu desse processo foi a da mais pura necessidade, um "urbanismo" orgânico e precário. A edificação das moradias se deu por meio da autoconstrução, muitas vezes utilizando materiais coletados no próprio lixão, como madeira, lonas e chapas metálicas. O traçado das vias seguia os caminhos de passagem, sem qualquer planejamento, e a ausência do Estado era total no que se refere à infraestrutura básica, como saneamento e energia elétrica. Essa ocupação, nascida em função e ao redor do lixão, consolidou um território marcado pela vulnerabilidade e pela luta constante dos moradores por direitos básicos e pelo reconhecimento enquanto cidade.
Com o passar das décadas, o Aterro do Jóquei expandiu-se de forma descontrolada, consolidando-se como o maior depósito de resíduos a céu aberto da América Latina e o epicentro de uma crise socioambiental alarmante. Em seu auge, o lixão chegou a ocupar uma área de 201 hectares, com uma montanha de detritos de 55 metros de altura, recebendo mais de 2.000 toneladas de lixo diariamente e concentrando cerca de 2.500 catadores em condições de trabalho degradantes.
A ameaça ao meio ambiente era severa. A ausência de impermeabilização do solo permitiu que o chorume, líquido altamente tóxico gerado pela decomposição da matéria orgânica, infiltrasse livremente no terreno por décadas, gerando uma contaminação massiva do solo e um risco direto ao lençol freático e às nascentes do Parque Nacional de Brasília. Além disso, a decomposição anaeróbica de toneladas de lixo gerava uma emissão contínua de gases de efeito estufa, principalmente o metano (CH₄), com potencial de aquecimento global dezenas de vezes superior ao do CO₂, enquanto incêndios constantes liberavam fumaça tóxica sobre a comunidade.
No plano humano, as consequências eram igualmente devastadoras. A proximidade com o foco de contaminação resultou em uma altíssima incidência de problemas de saúde entre os moradores, incluindo doenças respiratórias e de pele, associadas à exposição a vetores e materiais perigosos. As condições de trabalho no lixão eram análogas à escravidão, marcadas pela ausência de segurança e direitos, com acidentes graves e a presença de trabalho infantil. Essa realidade consolidou a imagem da Cidade Estrutural como o "quintal sujo" da capital, reforçando uma segregação socioespacial que cristalizou um profundo sentimento de abandono.
Essa situação de crise não era um caso isolado, mas o exemplo mais extremo de um problema nacional, o que impulsionou a criação de um novo marco regulatório. Em resposta ao crescente clamor por uma gestão de resíduos mais sustentável, foi promulgada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305 de 2010. Esta lei representou uma mudança de paradigma, estabelecendo como metas inegociáveis tanto a erradicação dos lixões a céu aberto, o que tornou o fechamento da Estrutural uma obrigação legal, quanto o reconhecimento e a inclusão social dos catadores na cadeia de reciclagem. Para traduzir essas diretrizes, o Distrito Federal instituiu sua Política Distrital de Resíduos Sólidos (PDRS), Lei nº 5.418 de 2014, que elegeu a desativação do lixão como seu objetivo mais urgente e simbólico.
Apesar do forte amparo legal, o caminho para o fechamento foi longo e complexo. O prazo original de 2014 não foi cumprido devido à imensa dependência econômica das famílias que viviam da catação, gerando forte resistência e protestos. Após anos de adiamentos, a operação de encerramento para o recebimento de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) foi finalmente efetivada em 20 de janeiro de 2018, envolvendo uma transição planejada para mitigar o impacto social, com cadastramento dos catadores, auxílio financeiro e encaminhamento para cooperativas.
Com o fim do descarte de lixo doméstico, o local não foi abandonado, mas sim transformado em um aterro exclusivo para Resíduos da Construção Civil (RCC). Essa solução técnica e logística foi adotada pois o RCC é um resíduo majoritariamente inerte e de menor potencial poluidor, além de resolver um grande problema de destinação para o setor da construção civil do DF. Dessa forma, um passivo ambiental foi reconvertido para uma nova função estratégica, encerrando o ciclo do lixão como um depósito de RSU e iniciando uma nova fase em sua história.
Documentário Estrutural - Relata o nascimento do Lixão até o processo de desativação.
O documentário Estrutural explora como a cidade se formou a partir da necessidade. Habitada inicialmente por trabalhadores do antigo lixão e migrantes em busca de oportunidades, a narrativa visual acompanha a luta constante da comunidade por reconhecimento, infraestrutura básica e dignidade, investigando o papel central que o lixão desempenhou na economia e na vida social local por décadas.
O filme aborda as profundas consequências, tanto positivas quanto negativas, de seu fechamento em 2018 para os catadores e demais moradores, expondo os desafios que persistem, como a falta de acesso a serviços públicos de qualidade, a baixa qualificação profissional e a busca urgente por novas fontes de renda.
Contudo, o documentário vai além da denúncia ao revelar a notável resiliência, a organização comunitária e a riqueza cultural de sua população, transformando-se em um registro sensível da identidade e da busca ativa por novas formas de subsistência e expressão.
O fechamento do Lixão da Estrutural em 2018 inaugurou um período de profunda transformação e adaptação, revelando a complexidade de reverter um passivo socioambiental de quase seis décadas. Para a comunidade de catadores, a transição do trabalho informal para os galpões de triagem geridos por cooperativas, embora bem-intencionada, apresentou resultados ambíguos. Se por um lado a mudança ofereceu um ambiente mais seguro, por outro, impôs uma nova lógica produtiva, com horários fixos e hierarquias, à qual muitos, acostumados a uma rotina autônoma, não se adaptaram. Mais crucialmente, a queda significativa na renda para uma parcela dos trabalhadores evidenciou que a emancipação econômica prevista em lei era um processo muito mais complexo do que a simples transferência do local de trabalho.
Documentário Lixo Estrutural - Relata o processo de desativação do Lixão da estrutural.
Paralelamente a este desafio social, o encerramento do descarte de lixo doméstico não significou o fim do problema ambiental. O passivo de aproximadamente 40 milhões de toneladas de resíduos continuou a exigir monitoramento e intervenção, entrando em uma longa fase de remediação passiva para mitigar os riscos contínuos, através do capeamento da montanha de lixo e da queima controlada do gás metano. Enquanto a antiga área de descarte iniciava seu longo processo de estabilização, o espaço físico foi ressignificado, transformando-se em um aterro exclusivo para Resíduos da Construção Civil (RCC). O local hoje funciona como uma operação logística em larga escala, um gigantesco "banco de matéria-prima" a céu aberto, representando um imenso potencial para a aplicação de práticas de economia circular.
Atualmente, mais de sete anos após a desativação, o cenário da Estrutural é definido por esta complexa dualidade. O processo histórico de formação da comunidade deixou uma herança profunda em seu tecido social, que, conforme revela o mais recente diagnóstico da Codeplan, se converteu em uma acentuada vulnerabilidade educacional. Os dados indicam um déficit crítico na qualificação da população, perpetuando um ciclo de exclusão que o fechamento do lixão por si só não foi capaz de romper.
É precisamente na junção dessas duas realidades, uma comunidade com um capital humano que necessita urgentemente de capacitação, e uma fonte abundante de matéria-prima que pode alimentar uma nova economia, que o presente projeto se fundamenta. A proposta da RE.ATIVA Lab emerge como uma resposta direta a este contexto, utilizando o material disponível para construir não apenas um edifício, mas uma plataforma para a qualificação profissional, a inovação e a transformação social da comunidade.
Neste tópico será presentado as normativas, bases legais, sociais e conceituais que sustentam a proposta da RE.ATIVA Lab. A estrutura argumentativa parte de um cenário macro, abordando a legislação e os conceitos de sustentabilidade em escala nacional, afunilando para a realidade específica do Distrito Federal e da Cidade Estrutural, para, por fim, detalhar os pilares teóricos que fundamentam o modelo de arquitetura e pedagogia proposto.
A ideia do RE.ATIVA Lab foi provinda do documentário "Lixo Extraordinário" (2010), de Lucy Walker, que registra o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz. Este filme não foi apenas uma observação sobre a arte; ele foi uma revelação sobre a potência do reuso e a dignidade humana. Anos após sua primeira exibição, a imagem dos catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, recriando obras de arte clássicas com o próprio material que resgatavam do lixo, permanece como uma memória vívida e um catalisador para a presente pesquisa.
FONTE: Documentário Lixo Extraordinário
FONTE: Documentário Lixo Extraordinário
FONTE: Documentário Lixo Extraordinário
O documentário transcende a narrativa da pobreza e do descarte ao posicionar os catadores não como meros trabalhadores do lixo, mas como protagonistas e co-criadores de um processo artístico. Vik Muniz, com sua visão única, fotografava esses indivíduos em poses que remetiam a grandes mestres da pintura, para então, em um galpão adjacente ao aterro, projetar essas imagens em grande escala e preenchê-las com os materiais coletados, plásticos, metais, papel, borracha. O resultado final, capturado em fotografias de dimensões monumentais, não eram apenas obras de arte; eram testemunhos visuais de que a beleza e o valor podem emergir dos lugares mais inesperados, e que as mãos que antes apenas selecionavam o descarte são também capazes de criar e ressignificar.
É precisamente nessa convergência entre arte, resíduo e transformação humana que "Lixo Extraordinário" se estabelece como um alicerce teórico e afetivo para a RE.ATIVA Lab. O filme valida a premissa de que o resíduo possui um potencial estético e material inexplorado, a faísca que acendeu a ideia de uma escola-fábrica que lida com design e construção a partir do lixo e ilustra o impacto profundo da criação na autoestima. Ver os catadores recuperarem sua dignidade, ao se reconhecerem como artistas e agentes de valor, foi a prova de que a capacitação criativa e a geração de valor a partir do reuso não são utopias, mas caminhos reais para a inclusão social e econômica. A RE.ATIVA Lab busca, assim, replicar essa magia transformadora, ao capacitar a comunidade da Estrutural a dar uma nova vida aos materiais e, no processo, a ressignificar suas próprias trajetórias.
O projeto RE.ATIVA Lab insere-se em um contexto global e nacional de crescente urgência por modelos de desenvolvimento mais sustentáveis. A discussão sobre a gestão de resíduos evoluiu do simples descarte para uma abordagem complexa que visa a reintegração de materiais na cadeia produtiva, um princípio fundamental da Economia Circular. Este conceito, definido pela Ellen MacArthur Foundation como "um modelo industrial restaurador e regenerativo por princípio, que visa manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo", move toda a lógica produtiva da RE.ATIVA Lab, da gestão do resíduo ao design do produto final.
No Brasil, a visão de que os resíduos possuem valor e devem ser gerenciados de forma estratégica foi institucionalizada através da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Sancionada como a Lei nº 12.305/2010, ela representou uma profunda mudança de paradigma, introduzindo conceitos como a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e a inclusão social e econômica dos catadores de materiais recicláveis. O princípio norteador da PNRS está em seu Art. 9º, que estabelece uma hierarquia clara para a gestão de resíduos, com a seguinte ordem de prioridade: 'I - não geração; II - redução; III - reutilização; IV - reciclagem [...]'. Essa abordagem desloca o foco da simples eliminação para a valorização máxima dos recursos. Este princípio fundamenta a existência da RE.ATIVA Lab, um projeto que nasce para atuar precisamente na vanguarda desta hierarquia, explorando o potencial dos resíduos nos estágios mais nobres — da reutilização à reciclagem criativa —, transformando o que seria um problema ambiental em matéria-prima para a inovação e uma oportunidade para novos modelos de negócio.
FONTE: Acervo da Biblioteca da FAU USP
Aterrizando a discussão no âmbito local, a Política Distrital de Resíduos Sólidos (PDRS), instituída pela Lei Distrital nº 5.418/2014, reforça as diretrizes nacionais e as adapta à realidade do DF. De particular relevância para este projeto, seu Art. 4º prevê a "integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada", amparando legalmente a dimensão social do projeto ao validar a inclusão e capacitação da comunidade local como uma política pública.
A matéria-prima central do projeto, o Resíduo da Construção Civil (RCC), é regulamentada pela Resolução CONAMA nº 307/2002. Esta norma, em seu Art. 3º, classifica como "Classe A" os "resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados", como os de concreto, tijolos e argamassas. A viabilidade técnica dessa prática é atestada pela norma ABNT NBR 15116:2021, que estabelece os requisitos para o uso de agregados reciclados. Juntas, essas normas fornecem o arcabouço técnico-legal para a produção de materiais construtivos no canteiro-escola da RE.ATIVA Lab.
O projeto também se insere em um território de alta complexidade urbanística, regido pelo Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), a Lei Complementar nº 803/2009. A implantação de um equipamento de caráter educacional e ambiental busca dialogar com as diretrizes do plano para a área, propondo um uso que qualifica e reabilita uma zona historicamente marginalizada.
Essa marginalização é comprovada por dados. Conforme a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), a Estrutural apresenta um dos mais altos índices de moradores com escolaridade básica incompleta do DF. Este dado quantitativo é a principal evidência que justifica a necessidade de um modelo educacional sem pré-requisitos e focado na qualificação profissional como ferramenta de combate à vulnerabilidade social.
Os dados mais recentes da Codeplan para a Cidade Estrutural mostram um território de contrastes, onde a comunidade demonstra potencial, mas enfrenta grandes desafios em educação, trabalho e infraestrutura.
Na área da educação, embora 90% dos moradores saibam ler e escrever, os dados mostram uma dificuldade no avanço dos estudos. Uma parte considerável dos jovens (34,5% entre 4 e 24 anos) não frequenta a escola. Para a maioria dos adultos (32,6%), o ensino médio completo é o nível máximo de escolaridade, o que representa um grande obstáculo para o acesso a cursos técnicos ou ao ensino superior. Essa realidade justifica a necessidade de um modelo educacional diferente, que não exija diploma prévio e ajude a reintegrar essa população aos estudos.
Em relação ao trabalho, 58,7% da população em idade ativa está na força de trabalho. No entanto, a taxa de desemprego de 14% mostra que ainda faltam oportunidades. Um dado importante é que muitos dos trabalhadores (28,8%) atuam no próprio SCIA, o que indica uma economia bastante local, com a maioria (58,9%) empregada no setor privado. A jornada de trabalho semanal de 40,4 horas é padrão, mas está inserida em um contexto de baixa renda e com poucas chances de crescimento profissional.
Em resumo, os dados descrevem uma comunidade trabalhadora e com alto índice de alfabetização, mas cujo potencial é constantemente limitado pela falta de oportunidades educacionais e por um ambiente urbano precário. A persistência de problemas como o descarte de entulho mostra a necessidade de um projeto que, além de oferecer qualificação profissional, atue diretamente na valorização dos materiais e na melhoria do espaço, como propõe a RE.ATIVA Lab.
A proposta do projeto se sustenta em um modelo educacional e em uma filosofia arquitetônica que buscam a transformação social, partindo de um arcabouço legal, pedagógico e conceitual bem definido. Para isso, o modelo da fábrica-escola encontra seu amparo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que legitima a criação de Cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) voltados para o trabalho, permitindo um formato sem pré-requisitos de escolaridade que garante a inclusão. Contudo, a base legal por si só não define o método; a metodologia do "aprender fazendo", que permeia toda a proposta, dialoga diretamente com a pedagogia de Paulo Freire, que via a educação como um ato de empoderamento coletivo, construído a partir da realidade e da prática dos próprios sujeitos.
Essa filosofia de empoderamento coletivo se estende à própria concepção arquitetônica do projeto, que busca inspiração nos princípios da Arquitetura Social e Participativa de Lina Bo Bardi. Para a arquiteta, o projeto deve ser uma ferramenta criada com as pessoas, e não apenas para elas. O processo do "canteiro-escola", onde a comunidade é parte ativa da edificação do próprio espaço, materializa essa visão, transformando o ato de construir em uma experiência social e didática. Finalmente, a convicção que une todos esses pilares – a lei, a pedagogia e a arquitetura – encontra sua tradução mais poética no verso do grupo Racionais MC's, cronistas da periferia brasileira. Na canção "Vida Loka, Pt. 1", surge a afirmação: "porque até no lixão nasce flor". Essa frase resume a essência do projeto: a certeza de que o antigo aterro não é um fim, mas um solo fértil para o novo, e de que a RE.ATIVA Lab se propõe a ser a estrutura que permite o futuro, transformando a paisagem social e física da Estrutural.
Autores do projeto: Carlos Cascaldi, Vilanova Artigas;
Ano: 1961;
Área Construída: 18.600 m²;
Localização: Butantã - São Paulo, SP, Brasil;
Uso: Institucional.
O projeto da FAU USP, concebido por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, foi escolhido como referência institucional pela sua espacialidade marcante e pela organização de seus espaços. Seu centro é um grande vão livre que articula visual e fisicamente os pavimentos, conectados por amplas rampas que promovem uma circulação fluida e a sensação de um único plano contínuo. Essa ausência de barreiras físicas reflete a intenção de Artigas de criar um espaço que promovesse o encontro e a troca constante entre os usuários.
As divisões internas são sutis, servindo mais para demarcar áreas funcionais do que para segregar os ambientes. Esta interligação espacial reforça o ideal de um modo de vida comunitário e a concepção de um ensino de arquitetura que se dá em todos os espaços do edifício. A ausência de uma porta de entrada monumental simboliza a abertura do saber e o convite à livre circulação de ideias e pessoas, sendo um ponto fundamental de análise para este trabalho.
Inspirado por ideais modernistas, Artigas concebeu a escola como um grande laboratório de experimentação, estimulando a liberdade de criação e movimento. A estrutura arquitetônica, com sua honestidade construtiva e a valorização da técnica, dialoga diretamente com a filosofia de ensino do arquiteto, que buscava articular arte e trabalho artesanal. A divisão e a relação entre os ateliês e as salas de aula são o cerne da proposta, configurando-se como espaços para a prática projetual e o aprendizado coletivo, sendo o principal objetivo de estudo desta análise referencial.
FONTE: Acervo da Biblioteca da FAU USP
FONTE: Acervo da Biblioteca da FAU USP
FONTE: arquivo arq
FONTE: arquivo arq
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FONTE: arquivo arq
FONTE: Manual de operação, uso e manutenção do edifício Vilanova Artigas
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Entrando pela primeira vez na então abandonada Fábrica de Tambores da Pompéia, em ’76, o que me despertou curiosidade, em vista de uma eventual recuperação para transformar o local num centro de lazer, foram aqueles galpões distribuídos racionalmente conforme os projetos ingleses do começo da industrialização européia, nos meados do século XIX.
Todavia, o que me encantou foi a elegante e precursora estrutura de concreto. Lembrando cordialmente o pioneiro Hennebique, pensei logo no dever de conservar a obra. Foi assim o primeiro encontro com aquela arquitetura que me causou tantas histórias, sendo consequência natural ter sido um trabalho apaixonante.
Na segunda vez que lá estive, um sábado, o ambiente era outro: não mais a elegante e solitária estrutura Hennebiqueana mas um público alegre de crianças, mães, pais, anciãos passava de um pavilhão a outro. Crianças corriam, jovens jogavam futebol debaixo da chuva que caía dos telhados rachados, rindo com os chutes da bola na água. As mães preparavam churrasquinhos e sanduíches na entrada da rua Clélia; um teatrinho de bonecos funcionava perto da mesma, cheio de crianças. Pensei: isto tudo deve continuar assim, com toda esta alegria.
Voltei muitas vezes, aos sábados e aos domingos, até fixar claramente aquelas alegres cenas populares.
É aqui que começa a história da realização do centro Sesc Fábrica da Pompéia. Existem ‘belas almas’ e almas menos belas. Em geral as primeiras realizam pouco, as outras realizam mais. É o caso do Masp. Existem sociedades abertas e sociedades fechadas; a América é uma sociedade aberta, com prados floridos e o vento que limpa e ajuda. Assim, numa cidade entulhada e ofendida pode, de repente, surgir uma lasca de luz, um sopro de vento. E aí está hoje, a Fábrica da Pompéia, com seus milhares de frequentadores, as filas na choperia, o ‘Solarium-Índio’ do Deck, o Bloco Esportivo, a alegria da fábrica destelhada que continua: pequena alegria numa triste cidade.
Ninguém transformou nada. Encontramos uma fábrica com uma estrutura belíssima, arquitetonicamente importante, original, ninguém mexeu… O desenho de arquitetura do Centro de Lazer Fábrica da Pompéia partiu do desejo de construir uma outra realidade. Nós colocamos apenas algumas coisinhas: um pouco de água, uma lareira.
A idéia inicial de recuperação do dito Conjunto foi a de ‘Arquitetura Pobre’, isto é, não no sentido da indigência mas no sentido artesanal que exprime Comunicação e Dignidade máxima através dos menores e humildes meios.
– Anotações pessoais Lina Bo Bardi
Autora do projeto: Lina Bo Bardi
Ano: 1977;
Área Construída: 23.571 m²;
Localização: Rua Clélia, Pompéia, São Paulo, SP, Brasil;
Uso: Institucional.
O projeto do SESC Pompeia, de Lina Bo Bardi,foi escolhido como referencia pela transformação de uma antiga fábrica em um centro que integra lazer, cultura e esporte. Um grande eixo de convivência articula os galpões de alvenaria originais,que abrigam teatros e ateliês de artes, com os novos e autônomos blocos de concreto destinados às atividades esportivas. A ausência de barreiras físicas e a fluidez na circulação criam um espaço que promove o encontro e a troca constante entre seus frequentadores.
Essa setorização das diferentes funções, cultural, esportiva e institucional, ocorre de forma sutil no nível do usuário. As divisões entre as áreas servem mais para demarcar as atividades do que para segregar os ambientes, e a ausência de uma entrada monumental reforça a ideia de um modo de vida comunitário, convidando à livre apropriação do lugar pelo público.
A materialidade do complexo é uma expressão direta dessa organização. A alvenaria aparente da fábrica foi mantida e valorizada nos espaços culturais e de convivência, em diálogo com o concreto bruto dos novos blocos esportivos. Essa articulação entre a estrutura preexistente e a nova intervenção resulta em um espaço para a experimentação e o fazer coletivo, onde múltiplas atividades coexistem e estimulam a liberdade de criação e movimento.
FONTE: Acervo da Biblioteca da FAU USP
A FÁBRICA
FONTE: Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi
A história do local começa em 1938 com uma fábrica de tambores de projeto inglês, que mais tarde abrigou outras indústrias. A transformação em centro de lazer partiu de uma descoberta fundamental de Lina Bo Bardi: a estrutura de concreto armado era de autoria do pioneiro François Hennebique. A partir disso, o projeto adotou uma abordagem de "arqueologia industrial", desnudando as paredes de tijolos para revelar sua essência e tectônica. A intenção foi converter um espaço de "trabalho duro", testemunho do esforço humano, em um local de convivência, sem apagar sua história pregressa e mantendo seus vestígios evidentes.
O PROJETO
FONTE: Brasil Arquitetura
Ao chegar no local, Lina encontrou um espaço já pulsante com atividades comunitárias, como futebol e bailes da terceira idade. Sua diretriz principal tornou-se "manter e amplificar aquilo que encontramos aqui". A partir de croquis e de um trabalho diário no canteiro, o programa foi formulado junto à obra. O nome foi alterado de "Centro Cultural e Desportivo" para "Centro de Lazer", buscando evitar a solenidade da "cultura por decreto" e o excesso de competitividade do esporte. O projeto, portanto, fundiu-se a esse ideal, priorizando a recreação e a convivência em detrimento da competição formal.
O SESC POMPEIA
FONTE: Brasil Arquitetura
O projeto se afirma como uma intervenção que une a memória da antiga fábrica a uma nova e ousada estrutura com duas torres de concreto aparente, que são ligadas por passarelas que cruzam a vista. Essa fusão entre o passado industrial e a arquitetura de materiais brutos cria um território de uso coletivo, transformando o complexo em uma "cidadela de liberdade". Mais que um equipamento de lazer, o espaço se consolida como um oásis urbano que materializa o encontro entre ética e poética, transcendendo a função arquitetônica para se firmar como uma potente experiência social e de convivência.
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Autor do projeto: Escritório JSPA Desing
Ano: 2021;
Área Construída: 23.571 m²;
Localização: Ningwu, China;
Uso: Uso Industrial.
Localizada em um entorno industrial de baixa qualidade em Ningwu, na China, a Fábrica de Aveia projetada pelo escritório JSPA Design é uma referência importante para este trabalho. Diante de uma paisagem degradada por minas de carvão e outras construções industriais, a resposta arquitetônica foi criar um edifício introvertido que gerasse seu próprio ambiente natural interno, propondo uma experiência sensorial rica em um programa tipicamente funcional. A estratégia principal consistiu em separar o programa verticalmente: um piso térreo opaco, protegido por um sistema de paredes de tijolos, abriga as áreas técnicas e as linhas de produção automatizadas, enquanto um volume de concreto mais simples no topo acolhe os espaços de uso público, como lojas e cafés.
O principal ponto de interesse para o presente estudo é a relação entre a aparência do edifício e seu uso industrial. O projeto desafia a imagem convencional de uma fábrica ao ocultar deliberadamente a complexidade técnica e criar uma jornada espacial cuidadosamente planejada para o visitante. As paredes de tijolo envolvem o complexo, controlando as visuais e separando completamente os fluxos de trabalhadores, matéria-prima e visitantes. Enquanto a operação interna é otimizada para a eficiência, o percurso público é uma sequência de pátios, jardins e contrastes de luz e materialidade, que revela a linha de produção apenas em um momento específico, a partir de um corredor elevado. Essa abordagem demonstra como um programa industrial pode coexistir com uma arquitetura que estimula os sentidos e acolhe o público.
Outro aspecto fundamental para esta análise é a criação de um espaço público qualificado no entorno da edificação. Em vez de se isolar, o projeto cede a área frontal do lote para a comunidade, onde o mesmo sistema de paredes de tijolos da fachada se inicia como bancos e delimita pequenas piscinas de água, criando um jardim convidativo. Este gesto de generosidade urbana transforma a frente da fábrica em um local de apropriação coletiva, utilizado para lazer e convívio. Essa estratégia de integrar o edifício produtivo à vida urbana, qualificando seu entorno, serve como uma importante referência para a implantação da RE.ATIVA Lab em uma área de parque, mostrando como um programa industrial pode não apenas coexistir, mas também enriquecer o espaço público adjacente.
O terreno selecionado para a implantação do projeto esta localizado no Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA)/Estrutural, onde atualmente se encontra o Parque Urbano da Estrutural. Este lote possui uma localização estratégica, posicionado diretamente em frente ao Aterro de Resíduos da Construção Civil (RCC) e servindo como uma interface direta entre a área residencial da comunidade e o local que define sua história. A escolha desta área, portanto, não é aleatória, mas uma decisão fundamental que potencializa a proposta do projeto. Implantar a escola-fábrica neste ponto cria um diálogo visual e conceitual poderoso entre o passado, representado pelo antigo lixão, e o futuro, materializado na solução através da reciclagem.
FONTE: GDF Agência Brasília | Foto: Dênio Simões/Agência Brasília.
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