O projeto propõe a criação de uma fábrica-escola na Cidade Estrutural, um território historicamente marcado pela vulnerabilidade social e sua relação com o antigo lixão. A iniciativa se configura como um centro de qualificação profissional voltado à transformação de resíduos urbanos selecionados, como plástico, vidro, papel e madeira, em produtos de design com alto valor agregado.
O objetivo central é promover uma transformação socioeconômica e ambiental integrada. A proposta busca ajudar a romper o ciclo de vulnerabilidade da população local, que enfrenta grandes barreiras de acesso à educação formal, ao oferecer um modelo pedagógico acessível e sem pré-requisitos. Baseada na metodologia do "aprender fazendo" e estruturada em Cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), a formação permite que os participantes sejam remunerados pelo seu trabalho prático nas oficinas.
Assim, o projeto se consolida como um espaço para inclusão social e economia circular. Ao capacitar indivíduos no processo de produção, e ao mesmo tempo ressignificar materiais antes descartados, a fábrica-escola demonstra que é possível transformar resíduo em recurso e vulnerabilidade em prosperidade.
A Cidade Estrutural, no Distrito Federal, apresenta um cenário de urgências sociais e ambientais que pedem por soluções integradas. Este território, consolidado à margem da capital planejada, ainda carrega o peso de um passado ligado à proximidade com o antigo Lixão do Jóquei. Embora hoje seja um aterro de Resíduos da Construção Civil (RCC) parcialmente desativado, sua presença continua a impactar a paisagem local. Nesse contexto, fica clara a necessidade de uma proposta abrangente, capaz de endereçar os múltiplos desafios da região.
A principal carência social que o projeto busca responder é a falta de inclusão e qualificação profissional para a população da Estrutural. Indicadores da Codeplan mostram um quadro de vulnerabilidade educacional, com altos índices de evasão escolar e poucas oportunidades de trabalho qualificado. Modelos educacionais tradicionais costumam ser ineficazes, pois não consideram a necessidade imediata de geração de renda de uma comunidade majoritariamente trabalhadora, o que muitas vezes força a escolha entre sustento e estudo. A lacuna está na ausência de um programa de capacitação acessível, que rompa essa dicotomia e valorize o potencial humano local, em linha com os princípios da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) para a formação profissional.
Junto à demanda social, surge a necessidade de ressignificar o território do ponto de vista ambiental e econômico. A grande quantidade de resíduos Classe B (plástico, vidro, papel, madeira) gerados na cidade representa um desafio, mas também uma oportunidade. Alinhado às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e da Política Distrital (PDRS), além dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, há uma clara necessidade de ativar esses recursos para a economia circular. A ideia é transformá-los de símbolos de descarte em motores de inovação e valor. Mesmo que a escola não utilize o RCC como matéria-prima, sua proximidade com o aterro mantém a relevância simbólica da localização do projeto, reforçando o compromisso com a gestão de resíduos de forma ampla.
É para responder a essas necessidades interligadas que a proposta se justifica. Ela sugere a criação de uma fábrica-escola que integra soluções para os desafios da Estrutural. O modelo educacional adota a Formação Inicial e Continuada (FIC) em formato modular, acolhendo o público sem exigir escolaridade prévia. A metodologia do "aprender fazendo" será central: os participantes aprenderão a beneficiar e transformar resíduos plásticos, de vidro, papel e madeira em objetos de design e outros produtos. Desta forma, a fábrica-escola garante que o conhecimento técnico se converta rapidamente em trabalho remunerado e oportunidades de empreendedorismo, ao mesmo tempo em que o resíduo ganha valor, estabelecendo um novo ciclo de prosperidade para a comunidade e o território.
A inauguração de Brasília em 1960 representou a materialização de um projeto nacional simbolizado pela ordem e racionalismo do Plano Piloto. No entanto, a construção dessa utopia modernista logo gerou uma realidade paralela e não planejada. Para erguer a capital, um grande contingente de trabalhadores migrantes se estabeleceu em assentamentos provisórios que, com o tempo, formaram as primeiras cidades-satélites. Esse processo originou a dinâmica socioespacial que marca o Distrito Federal até hoje: um centro de poder planejado cercado por uma periferia que absorveu a mão de obra. É nesse cenário que a origem da Cidade Estrutural deve ser compreendida.
A localização da Estrutural revelou-se tanto estratégica quanto conflituosa, definindo sua história. Situada a apenas 15 quilômetros do centro, a região se formou em uma área de tensão territorial, pressionada pela proximidade com o Plano Piloto – fonte de empregos e, paradoxalmente, dos resíduos que sustentariam sua economia inicial –, pela dinâmica da movimentada Via Estrutural (DF-095/EPTG) e pela fragilidade ambiental do Parque Nacional de Brasília. Essa configuração peculiar criou as condições para a instalação do aterro de resíduos da capital, dando origem a um dos maiores conflitos socioambientais da história de Brasília.
Paralelamente a esse desenvolvimento urbano, a crescente produção de lixo demandava uma solução rápida. A criação de uma área para o descarte foi uma medida administrativa pragmática da gestão pública no início dos anos 1960. A área da Estrutural foi escolhida por ser considerada remota na época. O local, contudo, começou a operar sem qualquer preparação técnica, funcionando como um "lixão" a céu aberto onde o lixo era despejado diretamente sobre o solo do Cerrado. Essa prática estabeleceu as bases para um passivo ambiental que se agravaria por décadas. A denominação popular "Lixão do Jóquei", vinda da proximidade com o Jockey Club de Brasília, apenas acentuou o contraste social da capital.
A implantação do Aterro do Jóquei, ainda nos anos 1960, funcionou como um catalisador para a ocupação espontânea em seu entorno, originando o assentamento que se tornaria a Cidade Estrutural. O aterro rapidamente se consolidou como um polo econômico para uma população, composta principalmente por migrantes e pessoas de baixa qualificação, que não encontrava espaço na economia formal da cidade planejada. Essa relação estabeleceu uma dependência complexa: o lixão era a fonte de sustento, mas também o epicentro de condições insalubres e estigma social. A necessidade de estar próximo à fonte de "matéria-prima" levou à formação de uma comunidade adjacente ao depósito.
A morfologia urbana que surgiu refletia essa condição de necessidade, resultando em um "urbanismo" orgânico e precário. As moradias eram frequentemente erguidas por autoconstrução, utilizando materiais coletados no próprio lixão. As vias seguiam os caminhos de passagem, sem planejamento, e a ausência de infraestrutura básica como saneamento e energia elétrica era total. Nascida em função do lixão, essa ocupação consolidou um território marcado pela vulnerabilidade e pela contínua luta de seus moradores por direitos básicos e reconhecimento.
Ao longo das décadas, o Aterro do Jóquei expandiu-se sem controle, tornando-se o maior depósito de resíduos a céu aberto da América Latina e o foco de uma crise socioambiental alarmante. Em seu auge, o lixão ocupava uma área de 201 hectares, com uma montanha de detritos que alcançava 55 metros de altura. Diariamente, mais de 2.000 toneladas de lixo chegavam ao local, onde cerca de 2.500 catadores trabalhavam em condições extremamente degradantes.
A ameaça ambiental era severa. Como o solo não foi impermeabilizado, o chorume, líquido tóxico da decomposição da matéria orgânica, infiltrou livremente por décadas, contaminando o solo e colocando em risco o lençol freático e as nascentes do Parque Nacional de Brasília. A decomposição do lixo também liberava continuamente gases de efeito estufa, como o metano (CH₄), enquanto incêndios constantes espalhavam fumaça tóxica sobre a comunidade.
Para as pessoas, as consequências eram igualmente devastadoras. A proximidade com o foco de contaminação resultou em alta incidência de problemas de saúde, como doenças respiratórias e de pele. As condições de trabalho no lixão eram análogas à escravidão, sem segurança ou direitos, com acidentes graves frequentes e a presença de trabalho infantil. Essa realidade acabou por consolidar a imagem da Cidade Estrutural como o "quintal sujo" da capital, reforçando a segregação e um sentimento de abandono.
Essa situação crítica, embora extrema na Estrutural, refletia um problema nacional, o que impulsionou a criação de um novo marco regulatório. Em resposta à crescente demanda por uma gestão de resíduos mais sustentável, foi promulgada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305 de 2010. Essa lei representou uma mudança fundamental, estabelecendo como meta a erradicação dos lixões a céu aberto, tornando o fechamento da Estrutural uma obrigação legal, e prevendo o reconhecimento e a inclusão social dos catadores. Para implementar essas diretrizes, o Distrito Federal instituiu sua Política Distrital de Resíduos Sólidos (PDRS), Lei nº 5.418 de 2014, elegendo a desativação do lixão como seu objetivo mais urgente.
Apesar do forte amparo legal, o caminho para o fechamento foi longo e complexo. O prazo original de 2014 não foi cumprido devido à grande dependência econômica das famílias que viviam da catação, o que gerou resistência e protestos. Após anos de adiamentos, a operação de encerramento para o recebimento de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) finalmente ocorreu em 20 de janeiro de 2018. O processo incluiu uma transição planejada para mitigar o impacto social, com cadastramento dos catadores, auxílio financeiro e encaminhamento para cooperativas.
Com o fim do descarte de lixo doméstico, o local foi transformado em um aterro exclusivo para Resíduos da Construção Civil (RCC). Essa solução técnica aproveitou a área já impactada para receber um resíduo majoritariamente inerte e de menor potencial poluidor, resolvendo também um problema de destinação para o setor da construção civil do DF. Assim, um passivo ambiental foi reconvertido para uma nova função estratégica, encerrando o ciclo do lixão como depósito de RSU e iniciando uma nova fase em sua história.
Documentário Estrutural - Relata o nascimento do Lixão até o processo de desativação.
O documentário "Estrutural" investiga a formação da cidade a partir da necessidade, revelando suas origens. A narrativa visual acompanha a luta constante de uma comunidade, inicialmente composta por trabalhadores do antigo lixão e migrantes, pela busca por reconhecimento, infraestrutura básica e dignidade. O filme explora o papel central que o lixão desempenhou, por décadas, na economia e na vida social local.
A produção aborda as profundas consequências, tanto positivas quanto negativas, de seu fechamento em 2018 para os catadores e demais moradores. Desafios persistentes são expostos, como a carência de acesso a serviços públicos de qualidade, a baixa qualificação profissional e a urgência por novas fontes de renda. Contudo, o documentário transcende a mera denúncia. Ele revela a notável resiliência, a organização comunitária e a riqueza cultural dessa população, consolidando-se como um registro sensível da identidade local e da busca ativa por novas formas de subsistência e expressão.
O fechamento do Lixão da Estrutural em 2018 marcou o início de um período de grande transformação e adaptação, evidenciando a complexidade de lidar com um passivo socioambiental de quase sessenta anos. Para a comunidade de catadores, a transição do trabalho informal no lixão para os galpões de triagem geridos por cooperativas trouxe resultados mistos. Embora a mudança tenha oferecido um ambiente de trabalho inegavelmente mais seguro, ela também impôs uma nova lógica produtiva, com horários fixos e hierarquias, à qual muitos trabalhadores, acostumados a uma rotina autônoma, tiveram dificuldade em se adaptar. Um ponto particularmente crítico foi a queda significativa na renda para uma parcela considerável desses profissionais, o que demonstrou que a almejada emancipação econômica era um processo bem mais complexo do que a simples realocação do local de trabalho.
Documentário Lixo Estrutural - Relata o processo de desativação do Lixão da estrutural.
Paralelamente a esse desafio social, o encerramento do descarte de lixo doméstico não representou o fim do problema ambiental. O passivo de aproximadamente 40 milhões de toneladas de resíduos continuou a demandar monitoramento e intervenção constantes. O local entrou em uma longa fase de remediação passiva para mitigar os riscos, processo que incluiu o capeamento da montanha de lixo e a queima controlada do gás metano. Enquanto a antiga área de descarte iniciava sua lenta estabilização, o espaço físico foi ressignificado, transformando-se em um aterro exclusivo para Resíduos da Construção Civil (RCC). Atualmente, o local funciona como uma operação logística em larga escala, um verdadeiro "banco de matéria-prima" a céu aberto, embora seu potencial para práticas de economia circular ainda seja subaproveitado.
Hoje, mais de sete anos após a desativação do lixão para resíduos urbanos, o cenário da Estrutural é marcado por uma complexa dualidade. O processo histórico de formação da comunidade deixou uma herança profunda no tecido social. Conforme revela o diagnóstico mais recente da Codeplan, essa herança se manifesta em uma acentuada vulnerabilidade educacional, com um déficit crítico na qualificação da população, perpetuando um ciclo de exclusão que o fechamento do lixão, por si só, não conseguiu romper.
É justamente na junção dessas duas realidades – uma comunidade com um capital humano que necessita urgentemente de capacitação e um território com um novo potencial material – que o presente projeto se fundamenta. A proposta emerge como uma resposta direta a esse contexto, buscando criar uma plataforma para a qualificação profissional, a inovação e a transformação social da comunidade.
A solidez da proposta reside em seu embasamento legal, social e conceitual. Compreender essas bases exige um olhar que parte do cenário nacional de sustentabilidade e legislação sobre resíduos, aproxima-se da realidade específica do Distrito Federal e da Cidade Estrutural, e aprofunda-se nos pilares teóricos que informam a arquitetura e a pedagogia do projeto.
A ideia para o projeto originou-se, em grande parte, do documentário "Lixo Extraordinário" (2010), de Lucy Walker, que acompanha o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz. Mais que uma simples observação sobre a arte, o filme revelou-se um poderoso testemunho sobre o potencial do reuso e a dignidade humana. Anos após sua primeira exibição, a imagem dos catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho recriando obras de arte clássicas com o próprio material que resgatavam do lixo permanece como uma memória vívida, atuando como um catalisador essencial para a proposta desenvolvida.
FONTE: Documentário Lixo Extraordinário
FONTE: Documentário Lixo Extraordinário
FONTE: Documentário Lixo Extraordinário
O documentário transcende a narrativa usual da pobreza e do descarte ao posicionar os catadores como protagonistas e cocriadores de um processo artístico, não apenas como trabalhadores do lixo. Com uma visão singular, Vik Muniz fotografava esses indivíduos em poses que remetiam a grandes mestres da pintura. Em seguida, projetava essas imagens em larga escala em um galpão adjacente ao aterro, preenchendo-as com os materiais ali coletados: plásticos, metais, papel, borracha. O resultado, capturado em fotografias monumentais, não eram simples obras de arte, mas testemunhos visuais de que a beleza e o valor podem emergir dos lugares mais inesperados. Demonstravam que as mãos que antes apenas selecionavam o descarte são também capazes de criar e ressignificar.
É justamente nessa convergência entre arte, resíduo e transformação humana que "Lixo Extraordinário" se estabelece como um alicerce teórico e afetivo para o projeto. O filme valida a premissa de que o resíduo possui um potencial estético e material ainda inexplorado, sendo a faísca que acendeu a ideia da fábrica-escola voltada ao design a partir do lixo. Além disso, ilustra o impacto profundo que o ato de criar pode ter na autoestima. Observar os catadores recuperarem sua dignidade ao se reconhecerem como artistas e agentes de valor foi a confirmação de que a capacitação criativa e a geração de valor a partir do reuso são caminhos concretos para a inclusão social e econômica. A proposta busca, assim, replicar essa dinâmica transformadora, capacitando a comunidade da Estrutural a dar uma nova vida aos materiais e, no processo, a ressignificar suas próprias trajetórias.
A proposta insere-se em um cenário global e nacional onde a busca por modelos de desenvolvimento mais sustentáveis é cada vez mais urgente. A forma como se lida com a gestão de resíduos evoluiu consideravelmente, saindo do simples descarte para uma visão que busca reintegrar materiais à cadeia produtiva. Esse é um princípio fundamental da Economia Circular. Definido pela Ellen MacArthur Foundation como "um modelo industrial restaurador e regenerativo por princípio", o conceito visa manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo. Essa ideia permeia toda a lógica produtiva do projeto, desde o gerenciamento do resíduo até o design do produto final.
No Brasil, a visão de que os resíduos possuem valor e devem ser gerenciados estrategicamente foi formalizada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Sancionada como Lei nº 12.305/2010, ela representou uma profunda mudança de paradigma ao introduzir conceitos como a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e a inclusão social e econômica dos catadores de materiais recicláveis. O princípio central da PNRS, expresso em seu Art. 9º, estabelece uma hierarquia clara para a gestão de resíduos, priorizando a não geração, redução, reutilização e reciclagem antes do descarte final. Essa abordagem muda o foco da simples eliminação para a valorização máxima dos recursos disponíveis. Este princípio fundamenta a concepção da fábrica-escola, uma proposta que nasce justamente para atuar na vanguarda dessa hierarquia. O projeto busca explorar o potencial dos resíduos em seus estágios mais nobres, da reutilização à reciclagem criativa, transformando o que seria um problema ambiental em matéria-prima para a inovação e em oportunidade para novos modelos de negócio.
FONTE: Acervo da Biblioteca da FAU USP
Trazendo a discussão para o âmbito local, a Política Distrital de Resíduos Sólidos (PDRS), Lei nº 5.418/2014, reforça as diretrizes nacionais adaptando-as à realidade do DF. De particular relevância para o projeto, seu Art. 4º prevê a "integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada". Isso ampara legalmente a dimensão social da proposta, validando a inclusão e capacitação da comunidade local como uma política pública.
Embora a fábrica-escola se concentre na transformação de resíduos Classe B (plástico, vidro, papel, madeira), sua localização próxima ao aterro de Resíduos da Construção Civil (RCC) mantém uma conexão simbólica com a gestão de resíduos em geral. A existência desse aterro, regulamentado pela Resolução CONAMA nº 307/2002, contextualiza a intervenção em uma área historicamente impactada pelo descarte. O projeto, no entanto, atuará diretamente na valorização dos resíduos urbanos mais leves, buscando soluções de design e produção alinhadas à sua escala e propósito.
A proposta também se insere em um território de alta complexidade urbanística, regido pelo Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), Lei Complementar nº 803/2009. A implantação de um equipamento de caráter educacional e produtivo busca dialogar com as diretrizes do plano para a área, sugerindo um uso que qualifica e reabilita uma zona historicamente marginalizada.
Essa marginalização é comprovada por dados. Conforme a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), a Estrutural apresenta um dos mais altos índices de moradores com escolaridade básica incompleta do DF. Este dado quantitativo é a principal evidência que justifica a necessidade de um modelo educacional sem pré-requisitos e focado na qualificação profissional, como o proposto para a fábrica-escola, como ferramenta de combate à vulnerabilidade social.
Os dados mais recentes da Codeplan sobre a Cidade Estrutural revelam um território de contrastes. A comunidade demonstra potencial, mas enfrenta desafios significativos nas áreas de educação, trabalho e infraestrutura.
No campo da educação, embora um alto índice de 90% dos moradores saiba ler e escrever, os números mostram uma dificuldade no avanço escolar. Uma parcela considerável dos jovens (34,5% entre 4 e 24 anos) não frequenta a escola. Para a maioria dos adultos (32,6%), o ensino médio completo representa o nível máximo de formação, o que cria um obstáculo para o acesso a cursos técnicos ou ao ensino superior. Essa realidade reforça a necessidade de um modelo educacional diferente, sem exigência de diploma prévio, que possa ajudar a reintegrar essa população aos estudos.
Em relação ao trabalho, 58,7% da população em idade ativa está na força de trabalho. No entanto, a taxa de desemprego de 14% indica que ainda faltam oportunidades. É interessante notar que muitos dos trabalhadores (28,8%) atuam no próprio SCIA, sugerindo uma economia bastante local, onde a maioria (58,9%) está empregada no setor privado. A jornada de trabalho semanal de 40,4 horas é padrão, mas ocorre em um contexto de baixa renda e com limitadas chances de crescimento profissional.
Em resumo, os dados descrevem uma comunidade trabalhadora e com boa alfabetização, mas cujo potencial é frequentemente limitado pela falta de oportunidades educacionais e por um ambiente urbano precário. A persistência de problemas como o descarte inadequado de resíduos evidencia a necessidade de uma proposta que, além de oferecer qualificação profissional, atue diretamente na valorização dos materiais e na melhoria do espaço, como busca o projeto.
A proposta do projeto se sustenta em um modelo educacional e em uma filosofia arquitetônica que buscam a transformação social, partindo de um arcabouço legal, pedagógico e conceitual bem definido. Para isso, o modelo da fábrica-escola encontra seu amparo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que legitima a criação de Cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) voltados para o trabalho, permitindo um formato sem pré-requisitos de escolaridade que garante a inclusão. Contudo, a base legal por si só não define o método; a metodologia do "aprender fazendo", que permeia toda a proposta, dialoga diretamente com a pedagogia de Paulo Freire, que via a educação como um ato de empoderamento coletivo, construído a partir da realidade e da prática dos próprios sujeitos.
Essa filosofia de empoderamento coletivo se estende à própria concepção arquitetônica do projeto, que busca inspiração nos princípios da Arquitetura Social e Participativa de Lina Bo Bardi. Para a arquiteta, o projeto deve ser uma ferramenta criada com as pessoas, e não apenas para elas. O processo do "canteiro-escola", onde a comunidade é parte ativa da edificação do próprio espaço, materializa essa visão, transformando o ato de construir em uma experiência social e didática. Finalmente, a convicção que une todos esses pilares – a lei, a pedagogia e a arquitetura – encontra sua tradução mais poética no verso do grupo Racionais MC's, cronistas da periferia brasileira. Na canção "Vida Loka, Pt. 1", surge a afirmação: "porque até no lixão nasce flor". Essa frase resume a essência do projeto: a certeza de que o antigo aterro não é um fim, mas um solo fértil para o novo, e de que a RE.ATIVA Lab se propõe a ser a estrutura que permite o futuro, transformando a paisagem social e física da Estrutural.
É fundamental entender o design para além da sua dimensão puramente estética. Em sua essência, ele se configura como uma disciplina voltada à solução de problemas e à criação intencional. Seu propósito vai além da beleza, buscando atender a necessidades humanas, otimizar funcionalidades e gerar valor de forma estruturada. Diferente da arte, que prioriza a expressão em peças únicas, e do artesanato, focado na habilidade manual e na tradição, o design se caracteriza pela ênfase na funcionalidade e na reprodutibilidade, desenvolvendo soluções pensadas para um usuário ou contexto específico e que possam ser replicadas.
O campo do design é vasto, englobando especialidades como design gráfico, de produto, industrial e de moda, entre outras. Esta proposta situa-se predominantemente no âmbito do Design de Produto, uma vez que seu foco principal é a criação de objetos físicos a partir de resíduos, embora dialogue fortemente com os princípios do Design Social.
Na contemporaneidade, a importância do design só cresce. Ele funciona como um motor para a inovação, é essencial para a experiência do usuário e se mostra eficaz na comunicação. De maneira crucial para este projeto, o design se consolidou como uma ferramenta indispensável para a sustentabilidade. Permite conceber ciclos de vida de produtos, selecionar materiais de baixo impacto e promover a economia circular, configurando-se também como um poderoso agente de impacto social positivo.
O desing tem suas raízes na Revolução Industrial, período que marcou um ponto de inflexão ao deslocar a produção do artesanal para a escala fabril. Nesse novo cenário, o design surgiu como uma atividade necessária para planejar bens fabricados em massa, buscando conciliar forma, função e processo produtivo, mas também gerando debates sobre a qualidade e o impacto social dessa nova forma de produzir.
Em reação a essa industrialização, movimentos como o Arts & Crafts, liderado por figuras como William Morris no final do século XIX, buscaram resgatar o valor do trabalho manual qualificado, a beleza intrínseca dos materiais naturais e a dignidade do artesão, criticando a produção em série pela sua baixa qualidade estética e alienação do trabalhador. Essa valorização do "fazer" e do objeto bem-feito ecoa na proposta de oficina do RE.ATIVA LAB. Em contrapartida, já no início do século XX, a escola alemã Bauhaus, fundada por Walter Gropius, propôs uma síntese radical entre arte, artesanato e tecnologia. Defendendo a funcionalidade ("a forma segue a função") e a racionalidade, a Bauhaus tornou-se um marco ao integrar o ensino teórico e prático em oficinas, buscando formar designers capazes de criar produtos esteticamente apurados e adequados à produção industrial, um modelo que inspira diretamente a concepção da fábrica-escola.
O Modernismo no design, que floresceu na primeira metade do século XX, ampliou esses ideais de funcionalidade e racionalidade, pregando a simplicidade das formas ("menos é mais"), a rejeição de ornamentos supérfluos e o uso honesto de materiais industriais como aço e vidro, com a aspiração de criar um design democrático e acessível. Mais tarde, o Pós-Modernismo, a partir dos anos 1960-70, surgiu como uma reação a essa rigidez, reintroduzindo o ornamento, a ironia, as referências históricas e a complexidade formal, questionando a relação entre design, cultura e consumo e abrindo caminho para uma maior diversidade de estilos e significados.
Na contemporaneidade, essas vertentes históricas ganham novas camadas com a crescente urgência por soluções mais conscientes e centradas nas pessoas. O Design Sustentável emergiu como uma abordagem crucial, focada em minimizar o impacto ambiental através da análise do ciclo de vida dos materiais, do uso de recursos reciclados ou renováveis e do planejamento para a durabilidade e desmontagem (economia circular). Paralelamente, o Design Social direciona as ferramentas do design para abordar questões sociais complexas, buscando promover equidade, empoderamento comunitário e impacto positivo através de processos colaborativos. Metodologias como o Design Thinking, com seu processo iterativo (definição, ideação, prototipagem, teste), tornaram-se ferramentas essenciais não apenas para designers, mas para a solução de problemas em diversas áreas, priorizando a empatia e as necessidades humanas.
O design não é um ato de inspiração isolada, mas um processo sistemático e interativo que transforma ideias e problemas em soluções tangíveis. O projeto adotará uma metodologia estruturada, inspirada nos princípios do Design Thinking, para guiar a criação de valor a partir dos resíduos. Este processo é centrado no ser humano e na colaboração, permitindo que os participantes desenvolvam produtos inovadores e funcionais. As etapas que compõem este ciclo são:
1. Imersão
Esta fase inicial é dedicada à compreensão aprofundada do problema, do contexto e dos potenciais usuários. Isso envolve entender não apenas as necessidades de quem irá usar o produto, mas também as características dos materiais disponíveis, os resíduos plásticos, de vidro, papel e madeira. Técnicas como a análise técnica dos próprios resíduos são empregadas para coletar informações e gerar ideias.
2. Desafio
Após a imersão, a vasta quantidade de informações coletadas é sintetizada para se definir claramente o problema a ser resolvido ou a oportunidade a ser explorada. Esta etapa transforma percepções em um desafio de design específico e acionável, por exemplo: "Como transformar garrafas PET em mobiliário urbano durável e esteticamente agradável para o parque da Estrutural?".
3. Ideação
Com o desafio bem definido, a etapa de ideação busca gerar o máximo de soluções criativas. É um momento de divergência de ideias, onde técnicas como brainstorming, croquis e mapas mentais são utilizadas para explorar diferentes possibilidades. O objetivo é pensar "fora da caixa", sem julgamento inicial, explorando como os resíduos podem ser transformados em produtos..
4. Prototipagem
A prototipagem é a materialização das ideias em versões rápidas e de baixo custo. Nesta fase, os participantes são encorajados a construir modelos simplificados dos seus conceitos, utilizando os próprios resíduos ou materiais de fácil acesso. O lema é "errar rápido para acertar cedo", permitindo que as falhas sejam identificadas e corrigidas ainda nas etapas iniciais, sem grandes investimentos.
5. Teste
Os protótipos são então apresentados e testados com potenciais usuários ou em simulações de uso. Esta etapa é crucial para coletar avaliações (feedback) sobre a funcionalidade, a estética e a usabilidade do produto. O que funciona? O que precisa ser ajustado? As percepções dos usuários fornecem dados essenciais para o aprimoramento contínuo da solução.
6. Iteração e Implementação
Com base nas avaliações do teste, o processo de design entra em um ciclo de iteração, onde o protótipo é refinado e, se necessário, novas rodadas de prototipagem e teste são realizadas. Finalmente, quando a solução é validada, o produto é implementado, ou seja, desenvolvido em sua versão final para produção. Para o projwto, este processo culmina na criação de produtos de design que agregam valor aos resíduos e geram oportunidades econômicas.
O design, mais que um conjunto de técnicas, representa uma forma de pensar e intervir no mundo. Aprender design implica desenvolver um olhar crítico e uma prática orientada para a solução de problemas, elementos que fundamentam a estrutura pedagógica do projeto. Este processo de aprendizagem se organiza em torno do desenvolvimento de habilidades essenciais, da internalização de uma mentalidade específica e da experimentação em diversas formas de aprendizado.
Entre as habilidades essenciais para o designer, destacam-se:
Desenho: Fundamental tanto para a observação apurada quanto para a representação de ideias.
Conhecimento de Processos de Fabricação: Para a viabilização de projetos e para a exploração das potencialidades dos resíduos.
Proficiência em Softwares: Habilidade em softwares de representação 2D e modelagem 3D.
Pensamento Crítico e Resolução de Problemas: Permite analisar desafios complexos e propor soluções.
O aprendizado do design ocorre em múltiplas formas, desde a educação formal até cursos livres e workshops, formato central do projeto, bem como o aprendizado autodidata, a mentoria e a imersão em comunidades de prática. Contudo, o elemento mais crucial em qualquer percurso é a prática constante e a consequente construção de um portfólio. É através do "fazer" e da reflexão sobre esse fazer que o designer aprimora seu olhar, suas técnicas e sua capacidade de inovar.
Nesse contexto, a fábrica-escola adota o método ativo do "aprender fazendo", que encontra forte ressonância na pedagogia de Paulo Freire. Ao integrar a fábrica à escola, o projeto cria um ambiente onde o estudante é o protagonista do seu aprendizado. A teoria se conecta diretamente à prática, valorizando a experiência e o saber de cada um. Isso cultiva as habilidades e a mentalidade do designer de forma contínua e aplicada, capacitando os participantes não apenas a dominar técnicas, mas a se tornarem agentes de transformação por meio do design, em um processo de educação de adultos que os empodera ativamente.
Autores do projeto: Carlos Cascaldi, Vilanova Artigas;
Ano: 1961;
Área Construída: 18.600 m²;
Localização: Butantã - São Paulo, SP, Brasil;
Uso: Institucional.
O projeto da FAU USP, concebido por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, foi escolhido como referência institucional pela sua espacialidade marcante e pela organização de seus espaços. Seu centro é um grande vão livre que articula visual e fisicamente os pavimentos, conectados por amplas rampas que promovem uma circulação fluida e a sensação de um único plano contínuo. Essa ausência de barreiras físicas reflete a intenção de Artigas de criar um espaço que promovesse o encontro e a troca constante entre os usuários.
As divisões internas são sutis, servindo mais para demarcar áreas funcionais do que para segregar os ambientes. Esta interligação espacial reforça o ideal de um modo de vida comunitário e a concepção de um ensino de arquitetura que se dá em todos os espaços do edifício. A ausência de uma porta de entrada monumental simboliza a abertura do saber e o convite à livre circulação de ideias e pessoas, sendo um ponto fundamental de análise para este trabalho.
Inspirado por ideais modernistas, Artigas concebeu a escola como um grande laboratório de experimentação, estimulando a liberdade de criação e movimento. A estrutura arquitetônica, com sua honestidade construtiva e a valorização da técnica, dialoga diretamente com a filosofia de ensino do arquiteto, que buscava articular arte e trabalho artesanal. A divisão e a relação entre os ateliês e as salas de aula são o cerne da proposta, configurando-se como espaços para a prática projetual e o aprendizado coletivo, sendo o principal objetivo de estudo desta análise referencial.
FONTE: Acervo da Biblioteca da FAU USP
FONTE: Acervo da Biblioteca da FAU USP
FONTE: arquivo arq
FONTE: arquivo arq
FONTE: arquivo arq
FONTE: Manual de operação, uso e manutenção do edifício Vilanova Artigas
O elemento dominante no projeto da FAU-USP é o vão livre central, que articula todos os níveis do edifício. A circulação vertical é resolvida majoritariamente por amplas e suaves rampas que contornam este vão. Essas rampas, com suas inclinações variáveis, eliminam a segmentação tradicional dos pavimentos, criando a sensação de um plano contínuo que se desdobra pelo edifício. Assim, o fluxo torna-se uma experiência espacial em si, promovendo encontros e permitindo uma visão panorâmica das atividades que ocorrem nos diferentes níveis, estabelecendo um contraste marcante com a circulação compartimentada de escadas e corredores.
Essa abertura se estende à organização espacial, onde a planta mostra uma deliberada ausência de divisões rígidas nas áreas de maior atividade, como os ateliês. Os limites entre os espaços são muitas vezes definidos pela própria estrutura, pilares e vigas, ou por mobiliário e divisórias baixas, evidenciando uma grande flexibilidade.
Com os ateliês, a biblioteca, as áreas administrativas e os espaços de convivência dispostos abertamente em torno do vão central, essa configuração reflete a concepção pedagógica de Artigas, que via a escola como um grande laboratório de trabalho coletivo. Nela, a troca e a colaboração deveriam ocorrer livremente, sugerindo um espaço adaptável, capaz de absorver diferentes configurações de trabalho e ensino ao longo do tempo.
Tecnicamente, a estrutura de concreto armado aparente emerge como o principal elemento definidor do espaço. A grelha regular de pilares robustos e as grandes vigas não são apenas elementos portantes, mas atuam como ordenadores da planta, marcando o ritmo e delimitando as áreas de forma clara.
Entrando pela primeira vez na então abandonada Fábrica de Tambores da Pompéia, em ’76, o que me despertou curiosidade, em vista de uma eventual recuperação para transformar o local num centro de lazer, foram aqueles galpões distribuídos racionalmente conforme os projetos ingleses do começo da industrialização européia, nos meados do século XIX.
Todavia, o que me encantou foi a elegante e precursora estrutura de concreto. Lembrando cordialmente o pioneiro Hennebique, pensei logo no dever de conservar a obra. Foi assim o primeiro encontro com aquela arquitetura que me causou tantas histórias, sendo consequência natural ter sido um trabalho apaixonante.
Na segunda vez que lá estive, um sábado, o ambiente era outro: não mais a elegante e solitária estrutura Hennebiqueana mas um público alegre de crianças, mães, pais, anciãos passava de um pavilhão a outro. Crianças corriam, jovens jogavam futebol debaixo da chuva que caía dos telhados rachados, rindo com os chutes da bola na água. As mães preparavam churrasquinhos e sanduíches na entrada da rua Clélia; um teatrinho de bonecos funcionava perto da mesma, cheio de crianças. Pensei: isto tudo deve continuar assim, com toda esta alegria.
Voltei muitas vezes, aos sábados e aos domingos, até fixar claramente aquelas alegres cenas populares.
É aqui que começa a história da realização do centro Sesc Fábrica da Pompéia. Existem ‘belas almas’ e almas menos belas. Em geral as primeiras realizam pouco, as outras realizam mais. É o caso do Masp. Existem sociedades abertas e sociedades fechadas; a América é uma sociedade aberta, com prados floridos e o vento que limpa e ajuda. Assim, numa cidade entulhada e ofendida pode, de repente, surgir uma lasca de luz, um sopro de vento. E aí está hoje, a Fábrica da Pompéia, com seus milhares de frequentadores, as filas na choperia, o ‘Solarium-Índio’ do Deck, o Bloco Esportivo, a alegria da fábrica destelhada que continua: pequena alegria numa triste cidade.
Ninguém transformou nada. Encontramos uma fábrica com uma estrutura belíssima, arquitetonicamente importante, original, ninguém mexeu… O desenho de arquitetura do Centro de Lazer Fábrica da Pompéia partiu do desejo de construir uma outra realidade. Nós colocamos apenas algumas coisinhas: um pouco de água, uma lareira.
A idéia inicial de recuperação do dito Conjunto foi a de ‘Arquitetura Pobre’, isto é, não no sentido da indigência mas no sentido artesanal que exprime Comunicação e Dignidade máxima através dos menores e humildes meios.
– Anotações pessoais Lina Bo Bardi
Autora do projeto: Lina Bo Bardi
Ano: 1977;
Área Construída: 23.571 m²;
Localização: Rua Clélia, Pompéia, São Paulo, SP, Brasil;
Uso: Institucional.
O projeto do SESC Pompeia, de Lina Bo Bardi,foi escolhido como referencia pela transformação de uma antiga fábrica em um centro que integra lazer, cultura e esporte. Um grande eixo de convivência articula os galpões de alvenaria originais,que abrigam teatros e ateliês de artes, com os novos e autônomos blocos de concreto destinados às atividades esportivas. A ausência de barreiras físicas e a fluidez na circulação criam um espaço que promove o encontro e a troca constante entre seus frequentadores.
Essa setorização das diferentes funções, cultural, esportiva e institucional, ocorre de forma sutil no nível do usuário. As divisões entre as áreas servem mais para demarcar as atividades do que para segregar os ambientes, e a ausência de uma entrada monumental reforça a ideia de um modo de vida comunitário, convidando à livre apropriação do lugar pelo público.
A materialidade do complexo é uma expressão direta dessa organização. A alvenaria aparente da fábrica foi mantida e valorizada nos espaços culturais e de convivência, em diálogo com o concreto bruto dos novos blocos esportivos. Essa articulação entre a estrutura preexistente e a nova intervenção resulta em um espaço para a experimentação e o fazer coletivo, onde múltiplas atividades coexistem e estimulam a liberdade de criação e movimento.
FONTE: Acervo da Biblioteca da FAU USP
A FÁBRICA
FONTE: Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi
A história do local começa em 1938 com uma fábrica de tambores de projeto inglês, que mais tarde abrigou outras indústrias. A transformação em centro de lazer partiu de uma descoberta fundamental de Lina Bo Bardi: a estrutura de concreto armado era de autoria do pioneiro François Hennebique. A partir disso, o projeto adotou uma abordagem de "arqueologia industrial", desnudando as paredes de tijolos para revelar sua essência e tectônica. A intenção foi converter um espaço de "trabalho duro", testemunho do esforço humano, em um local de convivência, sem apagar sua história pregressa e mantendo seus vestígios evidentes.
O PROJETO
FONTE: Brasil Arquitetura
Ao chegar no local, Lina encontrou um espaço já pulsante com atividades comunitárias, como futebol e bailes da terceira idade. Sua diretriz principal tornou-se "manter e amplificar aquilo que encontramos aqui". A partir de croquis e de um trabalho diário no canteiro, o programa foi formulado junto à obra. O nome foi alterado de "Centro Cultural e Desportivo" para "Centro de Lazer", buscando evitar a solenidade da "cultura por decreto" e o excesso de competitividade do esporte. O projeto, portanto, fundiu-se a esse ideal, priorizando a recreação e a convivência em detrimento da competição formal.
O SESC POMPEIA
FONTE: Brasil Arquitetura
O projeto se afirma como uma intervenção que une a memória da antiga fábrica a uma nova e ousada estrutura com duas torres de concreto aparente, que são ligadas por passarelas que cruzam a vista. Essa fusão entre o passado industrial e a arquitetura de materiais brutos cria um território de uso coletivo, transformando o complexo em uma "cidadela de liberdade". Mais que um equipamento de lazer, o espaço se consolida como um oásis urbano que materializa o encontro entre ética e poética, transcendendo a função arquitetônica para se firmar como uma potente experiência social e de convivência.
A planta articula programas complexos e fluxos humanos de forma vibrante. Ela conecta os três volumes principais, os dois galpões existentes e o novo volume da torre de esportes, por meio de uma grande área de convívio (o Deck 4). Esta praça funciona como o coração do complexo, mediando as distintas funções e se tornando uma extensão do espaço público da rua. A circulação é intuitiva, com percursos que ora se abrem para o pátio central, ora se estreitam em corredores que convidam à exploração, promovendo a interação constante entre os usuários.
A intervenção nos galpões existentes é um dos pontos mais técnicos e arquitetônicos da planta. Lina manteve a estrutura original, mas subverteu seu uso, evidenciando a ausência de compartimentações rígidas. Os espaços são definidos por elementos leves, como mobiliário solto e divisórias de meia altura, que promovem flexibilidade máxima e permitem múltiplas configurações para exposições, oficinas e eventos, adaptando-se às dinâmicas do dia a dia. A torre de esportes, por sua vez, não só gera um marco identificativo no projeto para o usuário e a vizinhança, como também revoluciona a circulação vertical.
A forma como suas passarelas de concreto atravessam o vazio central para conectar os diferentes níveis de quadras e vestiários as transforma em mais do que simples meios de fluxo; elas são espaços em si, pontos de observação e encontro. A conexão direta entre o novo volume e o galpão existente, muitas vezes por meio dessas passarelas elevadas, evidencia a intenção de costurar o complexo em uma unidade
funcional e visual, apesar das suas origens diversas e de sua materialidade contrastante.
Em suma, a planta do SESC Pompeia demonstra uma inteligência espacial que valoriza a flexibilidade, a fluidez dos percursos e a criação de marcos arquitetônicos que, juntos, transformam um conjunto fabril em um equipamento cultural vibrante e permeável à cidade.
FONTE: Jornal da Gente
FONTE: Brasil Arquitetura
FONTE: Brasil Arquitetura
FONTE: Brasil Arquitetura
Autor do projeto: Bernard Tschumi Architects;
Ano: 1982;
Área do parque: 550.000m²;
Localização: Paris, França;
Uso: Parque Urbano - Lazer e cultura.
O Parc de la Villette foi resultado de um concurso internacional em 1982. Implantado sobre o extenso terreno do antigo mercado de carnes e matadouro de Pari. Ele representa uma abordagem diferente para o conceito de parque urbano, sendo uma referência importante para este trabalho pela sua escala metropolitana e pela estratégia de organização. Localizado em Paris, o projeto de Tschumi buscou um campo de atividades urbanas onde o natural e o artificial se encontram.
A organização espacial do parque de 55 hectares se baseia na composição de pontos, linhas e superfícies. O sistema de pontos é materializado por uma grelha de 35 "Folies", estruturas vermelhas de aço, variações sobre um cubo de 10x10x10m, que servem como marcos visuais e pontos de referência distribuídos regularmente pelo parque. Originalmente concebidas sem função específica para estimular a apropriação, algumas hoje abrigam pequenos programas como cafés e centros de informação. O sistema de linhas corresponde aos percursos principais, tanto retilíneos quanto sinuosos, que atravessam o parque conectando diferentes áreas e entradas, independentemente da grelha das Folies. Por fim, as superfícies são as grandes áreas abertas e programáticas, predominantemente gramados, que acomodam atividades de grande escala e eventos coletivos, como o cinema ao ar livre.
Esta estratégia de Tschumi, inspirada por conceitos desconstrutivistas, cria um parque que é um campo de possibilidades, aberto à interpretação e ao uso espontâneo. A fragmentação e a sobreposição dos sistemas (a rigidez da grelha, a fluidez dos caminhos e a amplitude das superfícies) geram uma experiência espacial dinâmica e não linear, incentivando a exploração e a descoberta. A arquitetura das Folies, com sua linguagem industrial e cor vibrante, cria uma identidade visual forte e funciona como um sistema de orientação em meio à vasta extensão do parque. O objetivo de estudo desta referência é compreender como essa composição organiza um programa complexo e multifuncional em uma grande área, e como os elementos arquitetônicos pontuais podem servir como articuladores e marcos em um parque.
ABNT NBR 10.004: “Resíduos Classe II A – Não Inertes, que são os resíduos não perigosos que possuem características como biodegradabilidade e combustibilidade, e que compõem a maior parte da fração seca e reciclável do lixo que geramos diariamente."
Viabilidade técnica: Os processos de transformação da madeira, papel, plástico e vidro são adaptáveis a uma escala de oficina, utilizando técnicas mecânicas, térmicas e manuais que podem ser implementadas localmente.
Abundância: Parcela massiva do volume e do peso dos resíduos sólidos urbanos gerados diariamente, o que garante a disponibilidade contínua de matéria-prima.
Potencial de revalorização: Todos os quatro materiais possuem uma versatilidade comprovada para serem transformados, via upcycling, em produtos de alto valor agregado, como componentes arquitetônicos, mobiliário e objetos de design, alinhando-se ao objetivo de criar um ciclo de valor e não apenas de reciclagem."
MADEIRA
A madeira é um compósito natural de alta complexidade, uma estrutura orgânica formada principalmente por fibras de celulose unidas por uma matriz de lignina, que lhe confere rigidez e resistência à compressão.
Sua característica física mais marcante é a anisotropia: seu comportamento estrutural é inteiramente dependente da direção de suas fibras, ou veios. Ela resiste a enormes esforços no sentido longitudinal, mas é significativamente mais frágil a impactos no sentido transversal. Assim como o papel, a madeira é um material higroscópico, que estabelece uma troca constante de umidade com o ambiente, resultando em movimentos de expansão e contração que podem gerar empenamentos e rachaduras.
Madeira Maciça: Proveniente de fontes como paletes, caixotes de feira, sobras de construção civil e, principalmente. Atenção: carimbo HT (Heat Treated) indica um tratamento térmico seguro, em oposição ao carimbo MB (Methyl Bromide), que sinaliza o uso de agrotóxicos e exige o descarte da peça.
Compósitos de Madeira: Este grupo, que inclui chapas de MDF, MDP e compensado oriundas do desmonte de móveis ou sobras industriais.
PAPEL
O papel é um material de origem orgânica, essencialmente um emaranhado de fibras de celulose. Sua composição e comportamento são regidos pela interação dessas fibras. Quando suspensas em água, elas se separam; à medida que a água é removida, as ligações de hidrogênio entre elas se restabelecem, formando uma folha coesa. O papel é, portanto, um material higroscópico, que absorve e libera umidade. A qualidade de um papel depende do comprimento de suas fibras, e o processo de reciclagem, que quebra e restabelece essas ligações, inevitavelmente causa um certo dano, tornando cada ciclo uma delicada negociação entre desconstrução e reconstrução.
Papel Branco (Fibras Longas e Claras): Proveniente de aparas de sulfite e cadernos, é a matéria-prima de maior nobreza. Suas fibras íntegras geram uma polpa clara e resistente, ideal para a produção de papelaria artesanal e superfícies que podem receber pigmentação.
Papelão (Fibras Longas e Resistentes): Sua polpa escura, quando prensada sob alta pressão, forma painéis de alta densidade com excelentes propriedades de isolamento termoacústico.
PLÁSTICO
O plástico é um polímero sintético. Seu comportamento definidor é a termoplasticidade: a capacidade de amolecer com o calor e enrijecer ao resfriar, garantindo flexibilidade, durabilidade, estética e um ciclo repetível que permite sua transformação. No entanto, sua natureza impõe seu maior desafio: a incompatibilidade entre as diferentes famílias de plástico, que, se misturadas, resultam em um composto frágil, exigindo uma separação rigorosa como premissa para sua revalorização.
O plástico como o resíduo mais onipresente e desafiador do século XXI. Apresenta alto potencial de transformação devido à diversidade de polímeros e suas propriedades: flexibilidade, durabilidade, estética.
PET (1 - Polietileno Tereftalato): Rígido e transparente, predominante em garrafas, cujo potencial reside na sua transformação em filamentos para impressão 3D ou em chapas translúcidas.
PEAD (2 - Polietileno de Alta Densidade): Opaco e resistente, encontrado em embalagens e tampas, oferece uma rica paleta cromática ideal para a criação de objetos robustos por injeção ou perfis extrudados.
PP (5 - Polipropileno): Com alta resistência térmica e à flexão, é ideal para a moldagem de objetos duráveis e, principalmente, para a produção de chapas por compressão, criando superfícies com padrões estéticos únicos.
PS (6 - Poliestireno): Em sua forma cristalina, pode ser injetado para criar peças com aparência de acrílico.
VIDRO
O vidro é um material de origem mineral com estrutura amorfa. Seu comportamento definidor é a dualidade entre sua infinita reciclabilidade e sua fragilidade inerente, garantindo transparência, durabilidade química, estética sofisticada e um ciclo de vida teoricamente perfeito. No entanto, sua natureza impõe seu maior desafio: a incompatibilidade entre diferentes composições químicas (como vidro comum e temperado) e o alto risco no manuseio, exigindo um processo cuidadoso e uma separação rigorosa como premissa para sua revalorização segura.
Vidro Transparente (Incolor): O mais versátil, encontrado em potes e garrafas diversas. Seu potencial reside na criação de peças neutras e de alta transparência, como copos e luminárias, que valorizam a pureza e a refração da luz.
Vidro Âmbar (Marrom): Comum em garrafas de cerveja e farmacêuticas, sua cor protege o conteúdo dos raios UV. No design, confere um aspecto rústico e uma luz quente, sendo ideal para a criação de pendentes, vasos e objetos decorativos.
Vidro Verde: Clássico de garrafas de vinho e algumas bebidas, sua tonalidade específica é um elemento de design por si só. Seu potencial está na criação de peças com identidade cromática marcante, tanto em objetos cortados quanto como agregado em painéis de terrazzo.
Fragmentos de Vidro (Agregados): Resultantes da quebra controlada dos tipos anteriores, seu potencial está na sua utilização como agregado nobre para a produção de superfícies, como tampos de mesa e painéis de terrazzo, explorando a cor e a translucidez encapsuladas em uma matriz cimentícia ou resinosa.
VIDRO
O vidro é um material de origem mineral com estrutura amorfa. Seu comportamento definidor é a dualidade entre sua infinita reciclabilidade e sua fragilidade inerente, garantindo transparência, durabilidade química, estética sofisticada e um ciclo de vida teoricamente perfeito. No entanto, sua natureza impõe seu maior desafio: a incompatibilidade entre diferentes composições químicas (como vidro comum e temperado) e o alto risco no manuseio, exigindo um processo cuidadoso e uma separação rigorosa como premissa para sua revalorização segura.
Vidro Transparente (Incolor): O mais versátil, encontrado em potes e garrafas diversas. Seu potencial reside na criação de peças neutras e de alta transparência, como copos e luminárias, que valorizam a pureza e a refração da luz.
Vidro Âmbar (Marrom): Comum em garrafas de cerveja e farmacêuticas, sua cor protege o conteúdo dos raios UV. No design, confere um aspecto rústico e uma luz quente, sendo ideal para a criação de pendentes, vasos e objetos decorativos.
Vidro Verde: Clássico de garrafas de vinho e algumas bebidas, sua tonalidade específica é um elemento de design por si só. Seu potencial está na criação de peças com identidade cromática marcante, tanto em objetos cortados quanto como agregado em painéis de terrazzo.
Fragmentos de Vidro (Agregados): Resultantes da quebra controlada dos tipos anteriores, seu potencial está na sua utilização como agregado nobre para a produção de superfícies, como tampos de mesa e painéis de terrazzo, explorando a cor e a translucidez encapsuladas em uma matriz cimentícia ou resinosa.
O modelo pedagógico deste projeto é concebido como um itinerário formativo modular e progressivo. A estrutura, organizada em anéis concêntricos que vão de uma base fundamental a um núcleo de especialização, permite que o participante avance em seu próprio ritmo. Um diferencial chave é a integração constante entre teoria e a prática remunerada nas oficinas da fábrica-escola, reforçando a filosofia do "aprender fazendo" e garantindo a relevância imediata do aprendizado.
A certificação utilizada, FIC (Formação Inicial e Continuada), é fundamental para este modelo. Trata-se de um documento reconhecido pela legislação (LDB) que atesta a conclusão de cursos de qualificação profissional de curta duração, focados em habilidades práticas. Crucialmente, os cursos FIC não exigem escolaridade prévia, tornando a iniciativa inclusiva e acessível à comunidade local. Embora o itinerário completo tenha uma duração estimada de 2 anos, a estrutura modular garante flexibilidade, permitindo ao participante obter certificados específicos por módulo e adaptar o percurso às suas necessidades, tornando o modelo uma ferramenta eficaz para a geração de renda e a inclusão social desde o início.
ANEL EXTERNO: Curso Preliminar (Fundação - 6 meses)
Objetivo: Nivelar conhecimentos básicos essenciais, introduzir a mentalidade do design, apresentar os materiais e garantir a segurança. É a porta de entrada, sem pré-requisitos.
Módulos:
Comunicação e Expressão: Português aplicado à leitura de projetos, escrita de relatórios simples, comunicação visual básica.
Desenho: Técnicas fundamentais de desenho à mão livre para registrar ideias e formas.
Raciocínio Lógico: Matemática básica focada em medidas, cálculos de área/volume, porcentagem, custos básicos de material (aplicada diretamente aos resíduos).
Introdução aos Materiais Reciclados: Propriedades, identificação e potencialidades do Plástico, Vidro, Papel e Madeira.
Informática Básica: Uso essencial do computador, internet, introdução a softwares simples de desenho ou apresentação.
Segurança no Trabalho e Meio Ambiente: Normas de segurança para o manuseio de ferramentas, máquinas e materiais; princípios de sustentabilidade.
ANEL INTERMEDIÁRIO 01: Oficinas de Materiais (Exploração Prática - 8 meses)
Objetivo: Imersão prática no beneficiamento e transformação de cada material principal. Cada oficina é um módulo FIC certificado.
Módulos (Oficinas):
Oficina de Plásticos: Técnicas de limpeza, triagem, trituração, extrusão, prensagem de chapas e moldagem básica.
Oficina de Vidro: Técnicas de corte, lixamento, polimento e introdução à termoformagem.
Oficina de Papel: Produção de polpa, técnicas de moldagem, prensagem, secagem e criação de compósitos.
Oficina de Madeira: Técnicas de desmontagem, corte, lixamento, montagem e acabamento básico.
Oficina Geral: Técnicas diversas de trabalho manual com variados materiais.
ANEL INTERMEDIÁRIO 02: Técnicas de Design, Produção e Mercado (Aprofundamento - 6 meses)
Objetivo: Desenvolver habilidades específicas de design, prototipagem, gestão da produção e introdução ao mercado, aplicando o conhecimento dos materiais.
Módulos:
Metodologia de Projeto: Estruturação do processo criativo (pesquisa, ideação, prototipagem, teste).
Modelagem e Prototipagem: Construção de modelos tridimensionais, mockups e protótipos funcionais.
Técnicas de Acabamento e Montagem: União de diferentes materiais, pintura, verniz, polimento, instalação de componentes.
Desenho Técnico: Desenho de vistas, detalhamentos básicos, representação digital (2D/3D).
Produção, Custos e Precificação: Planejamento básico da produção, cálculo de custos de material e mão de obra, formação de preço de venda.
Introdução ao Empreendedorismo: Noções de modelos de negócio , canais de venda, atendimento ao cliente.
NÚCLEO CENTRAL: Projeto Integrado e Empreendedorismo (Conclusão - 6 meses)
Objetivo: Aplicação integrada de todo o conhecimento em um projeto autoral ou coletivo, com foco na inovação, viabilidade de mercado e desenvolvimento de um plano de negócio.
Módulos:
Projeto de Design Autoral: Desenvolvimento de um produto ou linha de produtos desde a concepção até o protótipo final, incluindo análise de mercado e plano de comercialização simplificado.
Gestão de Pequenos Negócios: Aprofundamento em gestão, marketing digital, finanças e formalização para quem deseja empreender.
Vendas: Organização e apresentação dos trabalhos desenvolvidos, técnicas para apresentar e vender o próprio produto/serviço.
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
A área de intervenção será implantada no Distrito Federal, unidade federativa que sedia a capital do país e é composta por 35 Regiões Administrativas. A proposta se localiza na Região Administrativa do Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA/Estrutural).
A Cidade Estrutural, com uma população de aproximadamente 40 mil habitantes, caracteriza-se por um uso predominantemente residencial, inserido em um setor com forte vocação industrial. É neste cenário que o projeto se posiciona, propondo um equipamento educacional e produtivo que dialoga com as características e demandas específicas deste território.
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
O SCIA é caracterizado por uma paisagem de uso predominantemente industrial e logístico, com a presença de galpões, centros de distribuição e uma arquitetura funcional. Nesse cenário, a proposta de uma "fábrica-escola" como o RE.ATIVA Lab dialoga diretamente com a vocação produtiva do setor.
O projeto se apropria da linguagem industrial existente não para se camuflar, mas para dar a ela um novo significado: o de um espaço de produção voltado para a educação, o design e a inclusão social, redefinindo a interação entre trabalho, moradia e oportunidade no local.
Entorno terreno - FONTE: Imagem autoral
Entorno terreno - FONTE: Imagem autoral
O terreno selecionado para a implantação do projeto atualmente se encontra o Parque Urbano da Estrutural. Este lote possui uma localização estratégica, posicionado diretamente em frente ao Aterro de Resíduos da Construção Civil (RCC) e servindo como uma interface direta entre a área residencial da comunidade e o local que define sua história. A escolha desta área, portanto, não é aleatória, mas uma decisão fundamental que potencializa a proposta do projeto. Implantar a escola-fábrica neste ponto cria um diálogo visual e conceitual poderoso entre o passado, representado pelo antigo lixão, e o futuro, materializado na solução através da reciclagem.
FONTE: GDF Agência Brasília | Foto: Dênio Simões/Agência Brasília.
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
A mobilidade na Cidade Estrutural é definida pela sua proximidade com a Via Estrutural (DF-095/EPTG), o principal eixo de acesso que a conecta ao restante do DF. Internamente, a circulação é organizada por vias coletoras e locais.
A análise mostra que a área não é atualmente bem servida por transporte público, com poucas paradas de ônibus próximas ao terreno, o que dificulta o acesso para a comunidade. Contudo, existe um projeto para a construção de um terminal rodoviário em frente ao lote, que incluirá um novo ponto de ônibus no local. Esta futura implantação será crucial para facilitar significativamente o acesso por transporte público à RE.ATIVA Lab.
O principal desafio de projeto que surge dessa análise é a necessidade de criar acessos distintos e setorizados: um público e convidativo para a escola e o parque, e outro de serviço, funcional e segregado para a área produtiva.
Entorno terreno - FONTE: Imagem autoral
Entorno terreno - FONTE: Imagem autoral
Entorno terreno - FONTE: Imagem autoral
Terreno - FONTE: Imagem autoral
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
O terreno destinado ao projeto é a Unidade de Execução 12 (UE 12), um lote localizado no SCIA/Estrutural e classificado como Equipamento Público Comunitário (EPC). Sua criação se deu por meio de um Projeto Urbanístico de Regularização específico para a Cidade Estrutural, motivo pelo qual seus parâmetros não constam nas tabelas gerais da LUOS.
Diante da ausência de dados detalhados, foram adotados os parâmetros gerais estabelecidos para lotes de Uso Institucional, conforme preconiza o Artigo 75 da LUOS (Lei Complementar nº 948/2019). Esta abordagem garante que o projeto seja desenvolvido em conformidade com as diretrizes gerais de planejamento do Distrito Federal para equipamentos de natureza similar.
Com base nesta referência, foram definidos os seguintes parâmetros para a implantação do projeto: um
Coeficiente de Aproveitamento: 1,5;
Taxa de Ocupação máxima: de 50%;
Taxa de Permeabilidade mínima: 30%;
Gabarito: 12 metros;
Afastamentos de 5 metros.
Estes índices orientarão todas as decisões de implantação e volumetria do projeto, buscando um equilíbrio entre a área edificada da fábrica-escola e a qualificação dos espaços abertos e permeáveis do parque.
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
O entorno do terreno é predominantemente de baixa altura, com residências majoritariamente térreas, embora algumas alcancem até três pavimentos. O projeto adotará um gabarito máximo de 12 metros, compatível com os parâmetros para Equipamentos Públicos Comunitários, buscando dialogar com a escala do entorno.
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
A análise das divisas do terreno revela um lote com grande permeabilidade visual e física em relação ao seu entorno. Com uma área de 113.181,00 m², o terreno é circundado por vias em quase toda a sua extensão, com exceção de um trecho cego na sua divisa sudeste, que faz limite com o Centro Olímpico da Estrutural. Atualmente, o terreno conta com dois acessos existentes para veículos, mas a configuração das vias perimetrais permite a criação de acessos adicionais, o que oferece grande flexibilidade para a setorização funcional do projeto.
Para pedestres, o acesso ao terreno acontece de forma orgânica em vários pontos, conforme demarcado no mapa, evidenciando a fluidez da relação da comunidade com o espaço. Essa configuração de fachadas predominantemente abertas e múltiplos pontos de acesso é uma diretriz fundamental para o projeto, pois exige que a edificação se relacione com o contexto urbano em múltiplas frentes, reforçando seu caráter público e convidativo.
FONTE: Fotografia autorais
Condicionantes
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
O percurso solar determina o posicionamento dos ambientes para equilibrar iluminação natural e proteção contra o calor excessivo, guiando a disposição de oficinas e espaços pedagógicos. Complementarmente, a análise climática indica ventos predominantemente vindos da direção Leste, o que representa uma excelente oportunidade para a implementação de estratégias de ventilação natural cruzada, essencial para o conforto térmico e a qualidade do ar interno da fábrica-escola, otimizando a volumetria e a disposição das aberturas. Contudo, um dos condicionantes mais críticos é a presença de uma nuvem de poeira e particulados proveniente da operação do aterro de RCC, localizado a Oeste do terreno, que é transportada no sentido Oeste-Leste. Este fator exige que a fachada Oeste da RE.ATIVA Lab seja concebida como uma barreira de proteção, com o mínimo de aberturas e a inserção estratégica de vegetação densa para atuar como filtro natural, protegendo os espaços internos e o parque da poluição.
Considerando as atividades do programa, que incluem oficinas de produção e extensas áreas de convivência no parque, a principal diretriz de projeto foi garantir o máximo de sombreamento nos períodos de maior calor, visando o conforto ambiental dos usuários.
O estudo revela que a radiação solar mais crítica ocorre durante a tarde, impactando as fachadas Norte e Oeste.
A extensa área de sombra demarcada na carta solar representa, portanto, a a sombra que as aberturas devem ter, bloqueando a insolação direta nos horários mais quentes, assegurando um ambiente mais agradável e funcional para as atividades propostas na fábrica-escola ao longo de todo o ano.
FONTE: Dados do GeoPortal - Mapa autoral
A análise de ruído no entorno do terreno da RE.ATIVA Lab revela um cenário dinâmico. A principal fonte de ruído é o fluxo de caminhões na via que circunda grande parte do lote, gerando um impacto sonoro significativo. Adicionalmente, há ruídos provenientes do Centro Olímpico da Estrutural, como vozes de conversas e o som de crianças brincando. Outra fonte de ruído temporária, mas relevante, é a obra do futuro terminal rodoviário no lote em frente.
FONTE: SEMA GDF
O histórico dessa área traz consigo potenciais desafios ambientais. Embora não haja um mapeamento exato da contaminação do solo e da água subterrânea no lote, dados de condutividade elétrica (CE) na faixa de 150 a 500 μS/cm indicam a possível presença da pluma de chorume, um líquido resultante da decomposição do lixo que migra do antigo lixão. A condutividade elétrica elevada é um indicador da presença de íons dissolvidos na água, frequentemente associados a efluentes e contaminantes, e a variação observada neste terreno específico reforça a necessidade de uma análise aprofundada antes do projeto.
Essa faixa de CE sugere que a influência da pluma pode variar de branda a moderada na área, não apresentando os níveis extremos encontrados diretamente em lixões ativos. Contudo, em respeito à segurança de todos os futuros usuários e à ausência de estudos detalhados de investigação de passivo ambiental específicos para o subsolo do lote, optou-se por uma abordagem precaucionária. Essa postura garante que o projeto será concebido e construído para resistir ao pior cenário de contaminação possível dentro dessa faixa de influência, assegurando um ambiente totalmente seguro e saudável para a comunidade.
A presença de chorume no subsolo pode trazer riscos relacionados à:
Qualidade da Água: A água subterrânea pode estar contaminada com metais pesados, matéria orgânica dissolvida e outros poluentes, tornando-a imprópria para qualquer tipo de contato ou consumo.
Ataque a Estruturas: As substâncias químicas presentes no chorume podem ser corrosivas, atacando as fundações e as estruturas enterradas das edificações.
Precedente Local
FONTE: Metrópoles
Um precedente local e de grande relevância para este projeto é o caso da Escola Classe 1 da Estrutural. Este episódio serve como uma prova técnica da viabilidade de se construir na região, desde que as soluções de projeto corretas sejam adotadas. A escola, construída em 2006 sobre uma área com o mesmo indice de contaminação, foi fechada em maio de 2012 após a constatação de vazamento de gás metano vindo do subsolo.
Inicialmente, suspeitou-se de um vazamento de gás de cozinha (GLP), mas mesmo após uma reforma, os sintomas persistiram. Professores e alunos relatavam um desconforto e com queixas constantes de dor de cabeça, enjoo e cansaço. Somente um laudo especializado confirmou que o problema era o gás metano que emanava do solo, levando à interdição do local por questões de segurança.
O ponto fundamental deste caso não foi o fechamento, mas a solução adotada para a sua reabertura. Em vez de abandonar o terreno, o governo investiu na instalação de um sistema de mitigação de gás. A solução consistiu na construção de uma tubulação que capta o metano bombeado do subsolo, levando-o para filtros de tratamento antes de ser liberado, garantindo a segurança do ar.
Após a implementação desta solução e com a garantia de vistorias periódicas do Corpo de Bombeiros, a escola foi reaberta em fevereiro de 2017 e hoje atende 1.100 alunos. O caso da Escola Classe 1 é, portanto, a maior evidência de que é possível construir e ocupar edifícios institucionais na área de influência do antigo lixão. O risco de gás é real, mas perfeitamente mitigável com a engenharia correta.
FONTE: Metrópoles
Medidor de gás. — FONTE: G1 DF
Sistema de tratamento e extração de gás metano. - FONTE: G1 DF
Diretrizes de Projeto - Proteção Contra Contaminação
1. Isolamento do Solo Contaminado:
Fundações: A prioridade é a utilização de fundações rasas, para minimizar a escavação e o contato com o solo potencialmente impactado. Caso não seja viável, outras fundações devem ser protegidas por uma camada impermeabilizante, garantindo o isolamento entre a estrutura e o solo.
Elevação da Edificação: O térreo do projeto será elevado acima do nível do solo natural, criando uma câmara de ar ou um vazio técnico. Isso estabelece uma barreira física e evita o contato direto com a superfície, além de permitir ventilação constante para dispersão de eventuais gases.
Barreira nas Lajes: Todas as lajes térreas serão projetadas com sistemas de impermeabilização de alta performance, agindo como barreiras contínuas contra vapores, líquidos e umidade ascendente do solo.
2. Gestão da Água:
Drenagem da Chuva: Sistemas de drenagem de águas da chuva devem ser planejados para evitar a infiltração no solo potencialmente contaminado, direcionando-a para reuso seguro (não potável) ou descarte adequado.
3. Ambiente e Paisagismo Protegidos:
Isolamento no Parque: Em um terreno que funciona como parque, o projeto buscará minimizar o contato direto dos usuários com o solo natural por meio de estratégias como:
Percursos Elevados: Criação de passarelas, decks e plataformas que elevam os caminhos acima do solo.
Áreas de Convivência Elevadas: Plataformas de estar e mobiliário urbano fixo com bases elevadas ou isoladas.
Vegetação em Canteiros Limitados: Para áreas de vegetação densa, onde o contato é inevitável, será feita a substituição ou inserção de uma camada de solo limpo e inerte, ou a utilização de espécies de fitorremediação (plantas capazes de absorver ou estabilizar poluentes) nas bordas do parque, atuando como uma barreira verde natural.
1 - Entorno e Implantação
1.1 - Integrar a edificação ao parque (UE 12).
1.2 - Criar uma transição fluida entre os espaços públicos e as áreas semipúblicas da fábrica-escola.
1.3 - Desenvolver fachadas ativas em todo o perímetro do lote.
2 - Tratamento de fachadas:
2.1 - Conceber a fachada Oeste como uma barreira de proteção contra a poeira e particulados do aterro e projetar a fachada Leste de forma permeável para otimizar a ventilação natural.
2.2 - Proposta de proteção solar em fachadas críticas, com base em estudo solar e definição de funções
3- Diretrizes de Sustentabilidade e Eficiência Energética
3.1 - Implementar sistemas de geração de energia renovável no local, priorizando o uso de painéis solares fotovoltaicos nas coberturas.
3.2 - Projetar um sistema de gestão hídrica eficiente, incluindo a captação e o armazenamento de águas pluviais para reuso em irrigação e limpeza.
3.3 - Implementar o tratamento e reuso de águas cinzas (provenientes de pias e chuveiros) para descargas sanitárias.
3.4 - Estudar a viabilidade de integração com futuros sistemas de captura de biogás (metano) proveniente da decomposição do aterro adjacente, visando a geração de energia para a fábrica-escola.
3.5 - Utilizar o projeto de paisagismo como uma ferramenta ativa de recuperação ambiental do solo.
4 - Diretrizes Espaciais e Programáticas
4.1 - Posicionar o setor de produção (oficinas) como o espaço pedagógico central, com conexão visual.
4.2 - Garantir a flexibilidade e modularidade dos espaços internos de aprendizado e produção.
4.3 - Promover o encontro e a interação através de pátios e permeabilidade visual.
INSTITUTO DE PESQUISA E ESTATÍSTICA DO DISTRITO FEDERAL. PDAD 2024 ampliada. SCIA/ESTRUTURAL: resultados gerais: moradores e domicílios. Brasília, DF: IPEDF, 2024. Disponível em: https://pdad.ipe.df.gov.br/files/reports/25_-_SCIA_ESTRUTURAL.pdf. Acesso em: 15 set. 2025.
CONHEÇA a RA. Administração Regional do SCIA e Estrutural. Codeplan, [S. l.], 18 nov. 2024. Atualizado em 25 ago. 2025. Disponível em: https://www.scia.df.gov.br/category/sobre-a-ra/conheca-a-ra. Acesso em: 17 set. 2025.
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LUIZ, Bruno Nóbrega. A inclusão social dos catadores de materiais recicláveis do lixão da Estrutural, em Brasília/DF, e as Políticas Nacional e Distrital de Resíduos Sólidos. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão de Políticas Ambientais) – Escola Nacional de Administração Pública, Brasília, 2020.
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LIXO Extraordinário. Direção: Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley. Produção: Fernando Meirelles. [S. l.]: O2 Filmes, 2010. 1 DVD (99 min).