Existem numerosos argumentos pela abolição da caça à raposa em Portugal.
2. É cruel e bárbara. Por exemplo, a lei atual prevê que as raposas possam ser mortas por uma matilha de cães (denominada caça à corricão). Lembramos que o legislador sanciona a luta entre cães ou entre galos (mas permite a luta entre uma matilha de cães e uma raposa; dec.-lei nº 202/2004, art. 81º e 84º).
3. Normaliza e banaliza uma atitude violenta. A lei actual prevê ainda que as raposas possam ser mortas à paulada por adolescentes de 16 anos.
4. Promove o desrespeito pelo património natural e contraria os esforços das acções de educação ambiental de protecção da natureza.
5. Não é suportada por evidências científicas que demonstrem um excesso populacional, nem há bases empíricas que o sugiram. Não existem estudos gerais com censos populacionais de raposa em Portugal, mas claramente não há dados que mostrem excesso. Portanto, devia aplicar-se o princípio da precaução e não caçar.
A discussão da caça à raposa tem um cariz muitas vezes muito emotivo e pouco científico. De um lado e do outro (pró e anti caça), usam-se argumentos sobre a população em excesso ou em risco. Contudo os dados reais publicados com validade científica são muito escassos. Tanto a raposa como o saca-rabos são espécies comuns em Portugal continental, com distribuição por quase todo o território. Contudo, muito se desconhece: Quantas raposas existem em Portugal? Qual a densidade populacional? Apesar de actualmente a caça ser permitida, a partir de que número se estabelece que se deve caçar, ou se define que a população está em excesso, ou pelo contrário, em risco?
Dados para a Serra da Malcata, segundo Sarmento et al. (2009): Estimated density ranged from 0.91 6 0.12 foxes/km2 to 0.74 6 0.02 foxes/km2. However, average fox abundance in Serra da Malcata agreed with values obtained in some English rural areas (0.64 foxes/km2; Heydon et al. 2000) and in a sand dune region in Portugal (0.63 foxes/km2; Eira 2003).
Dados de densidade em Espanha "No existen estimas de abundancia a nivel nacional. Las densidades pueden variar regionalmente entre 0,4 y 20 individuos/km2 en función de la abundancia de recursos tróficos (basuras y carroñas). En Aragón se han estimado densidades absolutas entre 0,8 (estepa) y 2,5 (regadíos) individuos/km2 antes de los partos. En Ceuta no hay poblaciones residentes, las observaciones se deben a ejemplares errantes, procedentes de Marruecos." in o Atlas dos Mamíferos de Espanha (Palomo et al 2007 Atlas de mamíferos terrestres de Espanha).
6. É prejudicial para a biodiversidade. Os estudos científicos internacionais mostram que a existência (e introdução) de predadores aumenta a biodiversidade e a qualidade dos ecossistemas.
7. É desnecessária como gestão cinegética. É bem demonstrado cientificamente que os ciclos predadores-presas da biologia populacional (modelo de Lotka-Volterra) tendem para atingir equilíbrios populacionais sem excessos.
8. Ocorre durante a época de reprodução. O período de acasalamento ocorre entre Dezembro e Fevereiro, altura em que decorrem a maioria das batidas.
Lei n.º 173/99, de 21 de Setembro, CAPÍTULO II Conservação das espécies cinegéticas Artigo 5.º - As normas para a conservação das espécies cinegéticas devem contemplar: c) Medidas que visem respeitar os diferentes estádios de reprodução e de dependência das espécies cinegéticas; Artigo 8.º - Período venatório: 2 - Os períodos venatórios devem atender aos ciclos reprodutivos das espécies cinegéticas sedentárias [...].
9. É incongruente com outra legislação e sensibilidades actuais: a caça ao lince e ao lobo é proibida em Portugal. As batidas à raposa são proibidas no Reino Unido, onde existia uma tradição alicerçada.
10. É limitativa dos direitos dos cidadãos não caçadores (a esmagadora maioria), que têm o direito de poder apreciar uma raposa em liberdade. Sabemos que a caça é permitida por lei, mas as raposas são de todos os cidadãos, sejam caçadores e não caçadores, e ao Estado cabe a sua gestão. A prática da caça vem privar o direito dos cidadão poderem apreciar as raposas vivas, sem stress e em liberdade.
As raposas são parte do nosso ecossistema e devemos encontrar formas de convivência mútua e em equilíbrio natural.
Entre 2005 e 2015 foram oficialmente mortas 142.480 raposas (dados do ICNF), reportadas pelas instituições de caça. Não temos dados nem estimativas das mortes não reportadas. Os valores distribuem-se por:
Tabela: Número de raposas abatidas em Portugal, por ano (Fonte: ICNF):
Época Venatória / Número de abates2005/06: 139112006/07: 126832007/08: 106252008/09: 128632009/10: 133522010/11: 146102011/12: 161352012/13: 154242013/14: 142752014/15: 18602Total: 142480
O número total de animais abatidos em 10 anos é de 28.983.736 indivíduos. Logo, a caça à raposa representa 0,5% dos animais abatidos em Portugal.