Diante da urgência inerente ao contexto pandêmico, observa-se a movimentação simultânea de organizações a fim de produzir uma vacina que induza uma resposta imune eficaz, de acordo com as especificidades do SARS-CoV-2, o novo coronavírus. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em outubro de 2020, cerca de 179 projetos de vacinas contra o Covid-19 estão em desenvolvimento, com ao menos 44 em fase de testes em humanos - destes, 10 estão envolvidos na Fase III de estudos -, evidenciando os esforços para a produção do que pode ser a mais rápida vacina já produzida.
Dentre as diversas organizações que almejam o desenvolvimento rápido e seguro das vacinas contra o novo coronavírus, destacam-se os esforços da iniciativa governamental estadunidense Operation Warp Speed, bem como os esforços coordenados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com o objetivo de tornar mais próximo o fim da pandemia, através do suporte no desenvolvimento e na distribuição equitativa de testes, mecanismos de tratamento e vacinas, esta organizou o grupo ACT Accelerator, que reúne países, empresas, grupos filantrópicos e de saúde, como a Fundação Bill & Melinda Gates. No momento em que houver uma vacina segura e eficiente, a COVAX, uma ação internacional coordenada pela Aliança Gavi, pretende produzir e distribuir cerca de 2 bilhões de doses da vacina, visando o acesso equitativo.
Com parceria de diversos órgãos, incluindo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), prometeu investir 10 bilhões de dólares e garantir o desenvolvimento e entrega de 300 milhões de doses da vacina.
De maneira abrangente, os coronavírus são vírus de RNA que causam infecções no trato respiratório em seres humanos e animais, cuja nomenclatura se dá em função das espículas glicoproteicas que envolvem a superfície destes vírus. Estas espículas, chamadas de Proteína Spike, que dão a aparência semelhante a uma coroa solar ao vírus, realizam ligações fortes com uma enzima presente nas células humanas, a ECA2, facilitando a infecção.
Frequentemente, diversos indivíduos ao redor do mundo se infectam com coronavírus, como o 229E, NL63, OC43, e HKU1. Entretanto, em alguns casos, os coronavírus que infectam animais podem evoluir e invadirem o organismo humano, tais como o MERS-CoV (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), SARS-CoV (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e nCoV-2019 (o novo coronavírus, identificado em dezembro de 2019, na China). De acordo com Centers for Disease Control and Prevention (CDC), os três coronavírus supracitados provavelmente têm origem nos morcegos, mas que este dado ainda exige avaliação, uma vez que os primeiros casos estão relacionados ao mercado de animais vivos, na China.
Primeiramente, é realizada uma pesquisa básica, na qual é possível identificar as técnicas de produção do inóculo. Em seguida, ocorrem os testes pré-clínicos (in vitro e/ou in vivo), cujo foco é demonstrar a eficiência e a segurança da vacina em si. Por fim, a terceira etapa - a mais cara e longa dentre os processos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) - comporta 3 fases de estudos. A primeira destas, Fase I, a fim de demonstrar a segurança da vacina, é efetuado o teste em um pequeno grupo de pessoas. Durante a Fase II, o estudo clínico passa a envolver indivíduos com características semelhantes àquelas as quais a vacina é destinada. Já em relação à Fase III, como último estágio antes da certificação do registro sanitário, o estudo tem como objetivo testar a eficácia e segurança, através da aplicação da vacina em milhares de pessoas. Depois desta terceira etapa de estudos, a vacina poderá ser disponibilizada à população.
Após este processo, tendo recebido o registro sanitário, muitas das vacinas em desenvolvimento entram em uma Fase IV, em que os estudos são confirmados e recebem a licença para de fato ser liberada à população.
Dada a alta circulação do vírus, o Brasil apresentou-se como local propício para a realização dos testes em humanos, sobretudo em larga escala. A escolha de países com maior incidência de indivíduos contaminados, de maneira geral, facilita o avanço acelerado nas pesquisas. Dentre os 10 projetos de desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus (dados da OMS), que estão situados na Fase III de estudos, as propostas dos laboratório AstraZeneca/Oxford, Sinovac, Janssen e Pfizer/BioNTech/Fosun Pharma receberam o aval para a realização dos testes em larga escala no Brasil.
Em parceria com o Instituto Butantan e o Governo de São Paulo, a empresa biofarmacêutica Sinovac trabalha na produção da CoronaVac, uma vacina inativada. Os novos coronavírus são cultivados em laboratório e inativados em seguida, de modo que não causem a doença, mas induza, graças a preservação da proteína S, a produção dos anticorpos necessários para o combate ao SARS-CoV-2.
Já em relação a Pfizer, em colaboração com a BioNTech, há o uso da tecnologia das vacinas de RNA, nunca antes utilizada na produção de imunizantes. A metodologia aplicada na produção dos inóculos prevê que, no momento da inserção dos RNA do vírus no sujeito, as células do organismo humano produzam a proteína S, estimulando a produção dos anticorpos contra o Covid-19.
Em colaboração com a companhia biofarmacêutica AstraZeneca, o projeto desenvolvido pela universidade britânica utilizou-se da tecnologia de vetor viral, mas que, anteriormente já estava em desenvolvimento contra outro coronavírus, o MERS. Aproveitando o estágio avançado no desenvolvimento, os pesquisadores inseriram a Proteína Spike, que ajuda o novo coronavírus a estabelecer ligações com a célula, em um vírus causador do resfriado comum. Este vírus, por fim, sendo enfraquecido por meio de ajustes genéticos e se tornando incapaz de se replicar nas células do organismo humano, atua como vetor viral. Outras propostas que se utilizam desta metodologia são as desenvolvida pela companhia farmacêutica Janssen e pelo Instituto de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Galeya, da Rússia. Esta última, em específico, utiliza-se de dois adenovírus diferentes, um em cada dose.