A Rainha e o Escotismo

A Rainha Elizabeth II foi Realmente Escoteira?

Você provavelmente já ouviu falar que a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, foi escoteira quando era jovem, mas será que isso é verdade? A rainha de fato foi escoteira?

Bom, a resposta é: sim e não.

Essa pergunta não tem uma resposta tão simples assim, e para entendê-la melhor, precisamos saber um pouquinho sobre a história das mulheres no escotismo.

Considera-se a data de fundação do escotismo o dia 1° de agosto de 1907, quando BP realizou um acampamento experimental de oito dias na Ilha de Brownsea com vinte garotos entre 12 e 16 anos. No entanto, foi apenas em 1909, com a criação de um movimento paralelo por BP e sua irmã, Agnes, que meninas passaram a ter envolvimento nesse ideal. Elas foram chamadas de girl guides, mas às vezes era usado o termo girl scouts em oposição ao movimento original, cujos membros eram os scouts. Ambos os movimentos cresceram e, em 1922, foi fundada a Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME) e, em 1928, a Associação Mundial das Guias e Escoteiras (WAGGGS).

Mas como tudo isso se relaciona com a rainha? Bem, a família real sempre foi próxima de ambos os movimentos. Em 1920, a princesa Mary se tornou presidente da WAGGGS e, em 1937, colocou suas sobrinhas, Elizabeth e Margaret, no movimento.

Sendo assim, já que a então princesa Elizabeth fez parte da WAGGGS, que era um organização estritamente feminina na época, e não fez parte da OMME, a qual a UEB é filiada, podemos dizer que ela não foi escoteira?

Não tão rápido… Lembra que eu falei que elas eram chamadas de girl guides mas, às vezes, de girl scouts? Pois é, o jornal Southern Living utiliza ambos os termos para falar sobre a rainha, e até a WAGGGS representa os dois nomes, já que a sigla significa World Association of Girl Guides and Girl Scouts! Vale lembrar também que os membros do escotismo foram chamados de scouts, então girl scout não seria ‘’escoteira’’?

Mas ainda tem mais nessa história… Tanto a OMME quanto a WAGGGS reconhecem apenas uma organização/associação nacional por país. Com isso, temos a UEB como organização nacional reconhecida pela OMME. Mas qual é a organização nacional reconhecida pela WAGGGS aqui no Brasil? A FBB, Federação de Bandeirantes do Brasil. Isso mesmo, a Federação de Bandeirantes do Brasil faz parte da Associação Mundial de Guias e Escoteiras.

Voltando um pouco no tempo, temos a fundação da Associação das Girl Guides do Brasil, em 1919. Essa mesma associação se tornaria a FBB. Um tempo depois, foi adotado, por influência da Chefe Jerônyma Mesquita, o termo ‘’bandeirante.’’ Em 1927 foi inaugurada a primeira sede exclusivamente do movimento bandeirante, ou seja, 10 anos antes da então princesa Elizabeth se tornar uma girl guide/girl scout. Com isso, não faria mais sentido dizer que ela foi uma bandeirante?

Isso parece certo, mas precisamos levar em consideração que o Brasil é o único país que usa o termo ‘’bandeirante.’’ Portanto, dizer, sem nenhum contexto, que a rainha foi uma bandeirante é algo que eu não recomendaria porque isso poderia transmitir a ideia de um outro movimento, distante e quase sem relações com o escotismo, uma vez que é isso que acontece no Brasil e os bandeirantes são exclusivamente brasileiros. Essa distância não ocorre em todos os países. Por exemplo, na Polônia, tanto a OMME quanto a WAGGGS reconhecem a mesma associação nacional, a chamada ZHP, e parte de seus membros usa em seu uniforme o logo da OMME e parte o logo da WAGGGS. Sendo assim, na ZHP, a diferença entre o escotismo e o bandeirantismo é bem menor do que no Brasil.

Com tudo isso, talvez uma forma mais apropriada de traduzir o que a rainha foi fosse ‘’guia’’, mas aí poderíamos criar uma confusão com as jovens do ramo sênior, mesmo que esse seja o mais próximo de girl guide que temos em português.