Enquanto preparava o almoço do dia, a mulher era observada atentamente por dois grandes olhos curiosos que a acompanhavam por toda a cozinha. Aqueles grandes olhos verdes com risco preto no meio não perdiam um movimento sequer, iam da pia até o fogão, do fogão até a pia. Quando a mulher deixava a cozinha, lá ia ela toda ansiosa ver se sobrava alguma migalha no chão para comer. Nada havia!
Na casa reinava um gato branco e esnobe e todos os dias a pobre gatinha ficava perto da porta da casa à espreita esperando ele terminar sua refeição. Ficava impaciente, pois sentia muita fome. E pensava “Puxa! Que sorte tem esse gatinho! Tem uma família e comidinha todos os dias. Que pena que meus humanos foram embora e fiquei aqui só!”. O gato percebia que ela esperava e comia o máximo que podia para não sobrar nada para ela.
De barriga cheia, o gato deixava a cozinha e ia se lamber na sala. Ela vinha va-ga-ro-sa-men-te para a tigela do gato, mas não havia mais nada. Então ela catava os restinhos de ração que caíam no chão. E comia bem rápido, pois temia que o gato aparecesse.
E assim seguiam os dias. A gatinha se aventurava pelos quintais das casas arriscando sua vida à procura de algo para comer. Às vezes rasgava as sacolas de lixo que as pessoas deixavam no quintal à espera do dia do caminhão de coleta. Às vezes encontrava algo, às vezes não. Às vezes os donos da casa apareciam e lhe atiravam algo. “Gata ladra! Saia daqui!” diziam alguns com ódio no olhar. Algumas pessoas são muito cruéis com os animais. Mal sabiam que a gatinha apenas queria sobreviver.