Embora normativa, a perda de uma pessoa significativa é geralmente muito dolorosa e, em alguns casos, reveste-se de sintomatologia emocional e física que, pela sua intensidade e persistência, implica atenção médica. Estima-se que, na população geral de enlutados, 10 a 20% apresentam sintomas de perturbação de luto prolongado que se caracteriza por manifestações de intensa dor emocional, forte anseio e dificuldade em aceitar a perda, perda de interesse e do sentido de vida, bem como incapacidade social e funcional que se mantêm para além dos 6 meses após a morte. O objectivo deste estudo é identificar, explorar e aprofundar o conhecimento sobre o impacto das restrições de contacto social impostas durante a pandemia por COVID-19 no processo de luto das pessoas que perderam alguém significativo neste período.
Estudo misto (quantitativo e qualitativo), cuja população alvo são as pessoas que perderam familiares e amigos durante a pandemia por COVID-19. O recrutamento da amostra será efectuado através do médico de família dos doentes falecidos e de redes sociais. A componente quantitativa será avaliada com recurso a dois questionários aplicados em dois momentos (1º - 3 a 6 meses após a morte do ente querido - e o 2º - 13 a 16 meses após a morte do ente querido). O tamanho amostral estimado para o 1º momento é de 375 indivíduos. Todos serão convidados a responder ao 2º questionário. Os questionários poderão ser aplicados através de entrevista telefónica ou através de link disponibilizado para auto-preenchimento. Para a componente qualitativa serão convidados para entrevista semi-estruturada 40 respondentes ao questionário do 1º momento, seleccionados de forma aleatória.
Pretende-se com este trabalho contribuir para o conhecimento dos mecanismos que interferem com o processo de luto de pessoas que perdem entes queridos em situações de grande restrição de contacto social e qual o impacto das mesmas na evolução do processo.