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History of Portuguese Geography
Como qualquer outra forma da actividade humana, a Ciência — e cada ciência em particular — é fruto da sua época e do seu lugar. Para compreender a sua evolução ao longo do tempo, é necessário compreender o modo como responde às exigências mais ou menos explícitas do poder de decisão e de como exprime as visões dominantes da sociedade e da academia.Não existe — especialmente no tempo anterior à institucionalização académica — uma verdadeira continuidade na história de qualquer ciência: apenas uma anastomose de discursos e práticas variados sobre temas que, retrospectivamente, indicam certo grau de familiaridade.A Geografia é uma ciência antiga, até de nome. Encontra-se entre as preocupações dos ‘lances especulativos’ da Antiguidade, a par da Astronomia, Astrologia ou da História, âmbitos com que estabelece relações de grande proximidade intelectual.Um nome, se sugere uma genealogia, não garante uma identidade imutável. E o que, no arco dos séculos, se entende por ‘Geografia’ são propostas intelectuais as mais diversas, debruçando-se sobre problemas que são eles também distintos.Apesar da diversidade de origem e trajecto, uma ciência estabelece também uma tradição. Reconhece problemas análogos como centrais à sua prática de investigação, mesmo quando esta apresenta ao longo do tempo metamorfoses formidáveis.Não existe dúvida de que a visão retrospectiva de continuidade, ainda que fundamentada em indícios concretos de similitude, é uma representação significativa de uma realidade multiforme. Em cada momento, entre os elementos disponíveis desse passado uns são valorizados, e mais nitidamente iluminados na sequência da tradição, enquanto outros se mantêm na penumbra da história até que um novo presente epistemológico os resgate e com eles afirme o pedigree de uma nova versão do passado que propõe.Esta ‘história’ da Geografia portuguesa é apenas uma de entre outras que se poderiam escrever. Recorre a exemplos concretos de expressões diversas de discursos e práticas ‘geográficas’ de autores e instituições — portuguesas ou sobre Portugal.Nenhum propósito provinciano anima esta história concisa da Geografia portuguesa. Antes a convicção de que todas as expressões localizadas de uma Ciência têm um papel diferenciador no conjunto da sua história comum: e quanto mais no caso de uma Geografia, a portuguesa, que acompanhou em alguns momentos o que de mais ‘moderno’ se fazia nos centros internacionais mais cosmopolitas e estabelecia um campo fecundo de estudos regionais e tropicais.De modo a evitar qualquer tipo de 'anacronotopismo', cremos porém que nenhuma história da Ciência pode prescindir da identificação, em cada época, dos mecanismos sociais da sua produção e dos contextos culturais que dão sentido ao seu surgimento e transformação.
Like any other form of human activity, Science — and each science in particular — is the result of its time and place. To understand its evolution over time, it is necessary to understand how it responds to the more or less explicit demands of decision-making power and how it expresses the dominant views of society and academia.There is—especially in the time before academic institutionalization—no real continuity in the history of any science: just an anastomosis of varied discourses and practices on topics that, retrospectively, indicate a certain degree of familiarity.Geography is an ancient science, even in name. It is among the concerns of the 'speculative moves' of Antiquity, along with Astronomy, Astrology or History, areas with which it establishes relations of great intellectual proximity.A name, if a genealogy suggests, does not guarantee an immutable identity. And what, in the arc of centuries, is understood by 'Geography' are the most diverse intellectual proposals, focusing on problems that are also distinct.Despite the diversity of origin and trajectory, a science also establishes a tradition. He recognizes similar problems as central to his research practice, even when it presents formidable metamorphoses over time.There is no doubt that the retrospective vision of continuity, even if based on concrete evidence of similarity, is a significant representation of a multiform reality. At each moment, among the available elements of this past, some are valued, and more clearly illuminated in the sequence of tradition, while others remain in the shadows of history until a new epistemological present rescues them and with them affirms the pedigree of a new version of the past that it proposes.This 'history' of Portuguese geography is just one among others that could be written. It uses concrete examples of diverse expressions of 'geographic' discourses and practices of authors and institutions — Portuguese or about Portugal.No parochial purpose animates this concise history of Portuguese geography. Rather, the conviction that all localized expressions of a Science have a differentiating role in the set of their common history: and even more in the case of a Geography, the Portuguese, which at times accompanied what was most 'modern' in the world. cosmopolitan international centers and established a fertile field of regional and tropical studies.In order to avoid any kind of anacrhonotopism, we believe, however, that no history of Science can do without the identification, in each era, of the social mechanisms of its production and the cultural contexts that give meaning to its emergence and transformation.
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