SINPOV 

II Simpósio Nacional de Poéticas das Vozes

O evento acontecerá de forma híbrida de 6 a 8 de Novembro de 2024

Corpo, voz e performance na sala de aula: aquarela de confluências

   Como nunca vivemos a era na qual a voz assume nuances as mais diversas nos mais diferentes suportes de mídia. Parece que o velho clichê “Uma imagem vale mais que mil palavras” passa a concorrer em passos de igualdade com “Uma imagem não sobrevive sem as vozes que dela emanam”.

Por outro lado, não há voz sem memória. Esta oxigena o grito daquela. Não é à toa que o mito cosmogônico grego, de Hesíodo, na Teogonia, conta que Zeus, ao desposar por 09 noites Mnemósine, a senhora da memória, gera, para o seu deleite espiritual, as 09 musas gregas, que nasceram para alegrar com suas vozes e instrumentos, o coração inquieto e atormentado do pai dos deuses.  No olhar de Hesíodo as musas são capazes de acalmar os conflitos e restabelecer a paz entre os homens. Segundo este poeta: “é suficiente que um cantor, um servidor das musas celebre as façanhas dos homens do passado ou os deuses felizes para que se esqueçam as inquietações e ninguém mais se lembre de seus sofrimentos”.   

Esta, dentre outras, constitui um leque histórico e vasto de funções que as poéticas da voz assumiram através do tempo: serenar os ânimos; celebrar a vida; cantar a dor, a perda, o sofrimento, a ternura, a esperança, a paz; denunciar; ironizar; sugerir. Voz que, dia a dia, por meio de diversas formas – não obstante os históricos revezes pelos quais tem passado – insiste em se ressignificar, como num caleidoscópio, em diversas matizes. No prelúdio de Rapsodo agonizante,  em Dom Pantero, pertinente é o desabafo da personagem Sérgio Paradjanov: “Um poeta deve morrer, mas não sua Musa. Esteja eu vivo ou morto, meu Canto continuará atingindo os outros. E nada pode desaparecer deste Mundo no dia minha Despedida final.” (Suassuna, 2017, p. 493). A fala ratifica uma das justificativas fundantes deste evento: trazer à tona a discutir a experiência de ressurgência da voz poética, manifestada por meio das muitas performances, em meio à vida. No prólogo de Gargantua , o pai do grande Pantagruel, Rabelais, através de ironia mordaz e certeira, alude ao grito das Sereias, isto é, à força da voz poética ecoadora, como forma de se atingir a valiosa medula da existência. Parece que é lá onde estaria o sentido mais elevado da existência, a voz ecoadora primeira, a escritura primeira, o sopro da voz primeira, no dizer de Zumthor, a matriz geradora da qual emanam todas as formas de poesia. Vejamos:

 

Mas, é preciso não parar, como no Canto das Sereias, e sim interpretar em sentido mais elevado o que porventura julgardes dito com intenção de fazer pilhéria.

Abri, pois, vossas garrafas! Putz!! Reduzi à memória a vossa continência! Já vistes um cão que depara um osso medular? Trata-se, como diz Platão, do animal mais filosófico do mundo. Se o vistes, deveis ter notado com que devoção ele o olha, com cuidado o guarda, com que fervor o segura, com que prudência o rói, com que afeição o quebra, com que diligência o chupa. Que o induz a isso? Que espera de seu esforço? Que bem pretende? Nada, mais do que um pouco de tutano. É verdade que esse pouco é mais delicioso do que o muito de todos os outros, porque o tutano é um alimento elaborado com perfeição pela natureza. (p. 16-17)

      

       A provocação de Rabelais - de trazer à memória o delicioso e fervoroso sabor da rara e profunda experiência de buscar o tutano, isto é, a essência do osso medular da existência – parece se fundir ao sabor único da experiência do canto das sereias, das musas, da voz ecoadora de sentidos. No Livro III de a República, Sócrates - enquanto discutia com Glauco as bases e requisitos morais de corpo e alma, necessários para o ideário de formação do cidadão grego – defende que o contato com as musas, a força da voz enquanto expressão maior do sentimento humano, deve se sobressair, inclusive, sobre o conhecimento. Vejamos:

 

Sócrates — Mas, se não fizer outra coisa e não mantiver contato com a musa? Ainda que tivesse na alma um certo desejo de aprender, como não participa em nenhuma ciência, em nenhuma pesquisa, em nenhuma discussão nem em nenhum exercício da música, esse desejo toma-se fraco, surdo e cego: não é despertado, nem cultivado, nem liberto dos grilhões das sensações. (PLATÃO, LIVRO III, A REPÚBLICA, p. 140)

 

Neste sentido, o SINPOV (II Simpósio Nacional de Poéticas das Vozes) se propõe a discutir a complexa questão da força das múltiplas vozes que, sob os mais diferentes vieses, se materializam no texto poético enquanto expressão do ser. Acolhe trabalhos nas diferentes áreas do conhecimento – linguística, cultura, literatura, filosofia, história, antropologia, sociologia, dentre outras - cuja matriz perpassa necessariamente um olhar para fenômeno da voz.

Delimitam-se, com efeito, dois objetivos, quais sejam:

1) Acolher trabalhos de áreas do conhecimento afins e/ou que dialoguem com a literatura e que versem sobre a importância da voz enquanto potencializadora da memória e da tradição em sala de aula;

2) Acolher relatos de experiência que se relacionem a práticas docentes nas diferentes áreas de ensino que versem acerca da importância (re)criadora e ressignificante da voz;



[1]Disponível em: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia geral/musas#:~:text=As%20musas%20eram%20nove%20deusas,Mnemosine%2C%20a%20deusa%20da<. Data consulta: 21/08/2024.

[2] SUASSUNA, Ariano. Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores: o palhaço tetrafônico. (Livro II). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. (p. 493)

[3] RABELAIS, François. Gargantua. 3a ed. (Vol. III). São Paulo: Atena Editora, 1957.

Um evento pensado para reunir alunos(as) e pesquisadores(as) que estudam a importância da voz em diversas áreas.

03 dias com Palestras, Mesas Redondas e Apresentação de trabalhos.

 

Dia 06/11

No primeiro dia  teremos uma apresentação artístico-cultural e a Conferência de abertura

Dia 07/11

No segundo dia  teremos uma apresentação artístico-cultural,  conferência, Mesa redonda e Gts.

Dia 08/11

No terceiro dia  teremos a palestra de encerramento e uma apresentação artístico-cultural.

 

 

PRESENÇAS CONFIRMADAS

Ana Maria Zulema Pinto Cabral da Nóbrega

(Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Linguística/UFPB)

Kledson Alburquerque Alves

(Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Formação de Professores/UEPB)

Edmilson Ferreira dos Santos

Repentista profissional e doutorando em Literatura (UFPE)

Jeane Leal

(Mestranda no Programa de Pós-graduação em Formação de Professores/UEPB)

Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves (UFCG)

Prof. Dr. Diógenes André Vieira Maciel

(CLP/ PPGLI/ FALLA/ UEPB)

Prof. Dra. Jacklaine de Almeida Silva (FLIPB)

Marciana da Silva Milânez

Mestranda no Programa de Pós-graduação em Formação de Professores/UEPB)

Prof. Dr. Luciano Justino (CLP/PPGLI/FALLA/UEPB)

Stellio Silva Mendes

FLIC (CG)

 

INSTITUIÇÃO ORGANIZADORA

Universidade Estadual da Paraíba/UEPB, através da FALLA (Faculdade de Linguística, Letras e Artes; GRUPEO (Grupo de Pesquisa de Estudos da Oralidade); 

PROPOSTAS DE TEMAS GERAIS E NUCLEADORES QUE SUBSIDIARÃO OS GT'S 

1) As diferentes manifestações da voz enquanto expressão poética;  

2) Voz, vocalidade e oralidade: conceitos gerais e sua função nos diferentes grupos sociais através da história;

3) A onipresença da voz enquanto matriz de uma escritura;

4) Voz, performance, ritual e corpo nas diferentes narrativas;

5) O caráter hibridizante e de movência da voz nos diferentes gêneros poéticos: cantoria de viola, cordel, aboio, rezadeiras, etc.

6) Voz, história, tradição, memória e cultura: resistências;

7) A poesia popular: as vozes que ecoam das bordas; 

8) A poesia na sala de aula do EF (I e II) e EM: o protagonismo da voz;

9)  As poéticas da voz e a prática docente para formação de professores nas diferentes licenciaturas;

10) A poética das vozes segregadas: surdez, cegueira, surdez-cegueira etc. 

11) A evocação às musas e a cosmogonia dos deuses na poética de Homero e Hesíodo: a voz como matriz fundadora do pensar filosófico e as repercussões que daí advieram;

12) A língua e o sagrado: pensando o lugar da voz nas religiões.