O Brasil está sufocando! Isto vai além de qualquer figura de linguagem. O país está progressivamente perdendo sua capacidade de respirar, de oxigenar. O fato que anunciou este estado agonizante foi, em meados do mês de janeiro de 2021, a crise da falta de respiradores em Manaus, capital do estado do Amazonas. Pessoas que sofriam de CoVid-19 ou qualquer outra doença que demandava respiradores artificiais entram em óbito em decorrência da superlotação dos hospitais na cidade em virtude do aumento das internações por agravamento de sintomas do coronavírus. Esta já era uma tragédia anunciada há meses, em muitos sentidos. Há algumas semanas, autoridades locais haviam comunicado o Ministério da Saúde sobre o agravamento da situação e a possibilidade da falta de respiradores. Há mais de um mês, depois do feriado de 12 de outubro de 2020, muitos de nós, brasileiros, profetizavam: após às festas de fim de ano, haverá uma crise ainda mais grave na pandemia do coronavírus. Alguns país, como a Inglaterra, estão no seu terceiro lockdown no momento em que escrevo este texto. E neste mesmo dia, leio a manchete em um portal de notícias “Itália suspende voos do Brasil após nova variante do coronavírus”,¹ o que significa, que estamos nos tornando cada vez mais isolados do resto do mundo, como uma ilha continental repleta de pragas e coisas asquerosas que uma pessoa sensata deveria evitar. E, enquanto isso, o Brasil está sufocando!
A situação, neste momento, assim como em outras célebres, mas não nobres, se realiza como metáfora-realidade, em uma junção poderosíssima entre imagem e energia pulsante do mundo. Pessoas morrem asfixiadas, o país muito isolado, outros tantos milhões empobrecendo e sentindo de imediato vulnerabilidades quanto à sobrevivência, à fome, exploração do trabalho, à sujeição às condições obtusas para se manterem vivos, arriscando-se a morrer por qualquer singelo contato. O oxigênio que começa a nos faltar é o meio invisível da nossa vida. É nessa massa de gás atmosférico tão especial que fazemos tudo o que é tipicamente humano. Nossas relações com o mundo ocorrem neste espaço especial, que, hoje, falta! O símbolo está dado, a morte anunciada, o descaso, a negligência e a banalização do morrer. Não há necessidade de nenhum exercício sofisticado de interpretação. O Brasil está se asfixiando e tantos de nós perderão a vida, nesta realização dramática da metáfora-realidade.
Referência:
¹ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/01/16/italia-suspende-voos-do-brasil-apos-nova-variante-do-coronavirus.ghtml