Nos últimos dias alguns fatos têm recebido especial destaque na mídia, mais precisamente nas páginas principais de portais de sites nacionais pela internet. Antes que possamos pensar sobre a natureza destas notícias e sobre o que este “jornalismo” da nossa época insiste em divulgar, é necessário identificar o espaço em que estes fatos são expostos. Quantos sites hoje em toda a internet estão totalmente livres de anúncios, dos mais “famosos” de grandes corporações e grandes movimentos publicitários, aos mais esdrúxulos aparentando spams? Praticamente todo o portal de notícias, blogs ou qualquer outra categoria precisa, sobrevive ou simplesmente lucra com a publicidade. E publicidade está diretamente associada ao consumo, ou seja, dinheiro, capital, investimentos. Isto é, algo que está além das cifras, mas que atinge uma dinâmica, que faz circular, que movimenta, que produz coisas nos homens.
Pois então, faz muito sentido que os principais portais da internet e os gerenciadores de ofertas em blogs divulguem mais daquilo que será mais visto. Assim, temos um ambiente propício para a disseminação do sensacionalismo ou de uma notícia sobre a forma de narrativa que se arrasta por semanas ou mesmo meses. Notícias viraram folhetins de novela, que perdem o seu valor no mesmo momento que uma nova notícia fresquinha e com um potencial renovado de informações e sentimentos aparece.
No início do ano tivemos uma sucessão de acontecimentos dramáticos. Um deles foi a ocupação à força pela polícia do “Pinheirinho” em São José dos Campos. Lembremos que isso foi discutido, comentado e noticiado por dias a fio, em quase praticamente todos os veículos de comunicação. E o que ocorreu em seguida? Surgiu a nova “galinha dos ovos de ouro” para a imprensa: no Rio de Janeiro, caem três prédios próximos ao Teatro Municipal. Quase que imediatamente o caso da invasão do Pinheirinho desapareceu do noticiário. Hoje, ninguém discute ou “coloca na roda” o que aconteceu sobre tal fato e que tipo de exigência nós cidadãos deveríamos ter diante deste descaso governamental. Era, e ainda é, questão de Justiça, com J maiúsculo, pois o que foi feito atropelou dezenas de direitos humanos. Coisas que nosso Estado deveria ter a obrigação de resguardar. Para a sociedade, o que aconteceu, com todas as implicações da invasão, desapareceu por completo do nosso campo de vista no momento em que a imprensa “escolheu” um novo folhetim, de preferência cheio de dramas, para ocupar o espaço lucrativo da ocupação do Pinheirinho.
Então a culpa é da mídia? Acredito que não. Não somente dela. Como disse, a publicidade vai atrás do que dá lucro. Isto também não é ciência exata, ou seja, um publicitário pensa em uma quantidade limitada de “ações de marketing” sem realmente saber qual vai ser o saldo final disto. Ele lucra o que “colar”. E o que cola está diretamente relacionado ao que cultuamos. Ou seja, o que consumimos como “bens de informação”.
Aí, está o cenário para citar o que vem ocorrendo no país nos últimos dias. Vi de relance um movimento em redes sociais de críticas às notícias vinculadas a slogans como “Pedro come frango”, em comparação a falta de noticias sobre a massiva greve de servidores em praticamente todas as universidades federais do país. Tenho que concordar com essas críticas. Minha primeira impressão foi pensar “quem é Pedro?”. Para mim, qualquer pessoa pode ser Pedro, o nome é propício, comum, conheço vários Pedros. O que de mais importante ocorre com o fato de um Pedro comer frango? Nada contra o drama daquele que me recordei quem era. Mas o que nós cidadãos de direito e seres humanos temos a ver com este rapaz?
A crítica é dupla: a imprensa não está em grande parte muito engajada em princípios cidadãos e está muito mais articulada com o capital advindo da publicidade e audiência; e nós estamos ainda mais deslocados das implicâncias desta perversidade de consumo de informação (a curiosidade nos empurra para a armadilha). Não creio que devamos viver pelo Direito ou pelo Estado, que são tão amplamente diferentes e alterados com a História, mas que estejamos atentos ao que desejamos ser, tanto como indivíduos que se mobilizam diante do mundo, como corpo social, ao reivindicar atenção mínima, inclusive sobre que notícias deveríamos receber.
Mas o que tem isto a ver com Psicologia? Eu diria que toda! Estamos falando sobre comportamento humano nas suas relações mais cotidianas. É uma simples questão do que desejamos construir para nossas vidas. Nem precisemos nos referir ao discurso comum sobre educação, mas aos fatos que modificam nossa vida essencialmente, que nos atingem diretamente. Uma simples escolha jornalística reflete o que “compramos” de notícias, o que desejamos e fazemos com nosso tempo, como nos comportamos, e também como reagimos a certas investidas. Imprensa e cidadãos fazem parte de uma relação de pelo menos duas extremidades: se uma se altera a outra sofre alterações. O que ocorre, com muita frequência, com estas notícias ilustra um pouco como nós brasileiros temos levado o nosso cotidiano.