A Monitorização da Glicose no Dia-a-Dia
Monitorizar a glicose significa medir o valor do “açúcar”.
A monitorização da glicose é a única forma de saber se está ou não dentro do alvo e, por isso, é uma oportunidade de “corrigir” qualquer desvio do seu alvo. Por isso, é que o seu controlo glicémico melhora quanto monitoriza mais vezes a sua glicose. Além disso, a monitorização da glicose permite-lhe conhecer o efeito que a insulina, os alimentos, a atividade física, as situações de stress ou de doença têm na sua glicose, permitindo-lhe antecipar determinadas atitudes corretivas.
A glicose pode ser medida em dois locais diferentes: sangue e líquido intersticial.
O sangue pode ser obtido através da vulgar “picada de dedo”. A gota de sangue obtida é colocada na tira-teste no respetivo glicómetro, aparelho utilizado para medir a glicose no sangue, e, uns segundos depois, o valor da glicose aparecerá no mostrador do aparelho. É um método associado ao desconforto da picada e que poderá ser pouco informativo pois representa um valor estático da sua glicose, sem qualquer indicação de qual será a evolução da sua glicose no futuro próximo. Deve ter alguns cuidados quando monitoriza a sua glicose através desta técnica: (1) deve lavar as mãos antes da picada porque, mesmo uma pequena contaminação da pele com produtos açucarados (exemplo: restos de bolachas, fruta, etc) pode dar origem a um valor de glicose falsamente elevado; (2) a tira-teste utilizada deve estar sempre dentro da validade e corretamente armazenada, sem estar exposta a condições extremas de temperatura e/ou humidade.
O líquido intersticial é o líquido que rodeia as células do corpo. A medição da glicose no líquido intersticial é feita através de um sensor que fica colocado no tecido celular subcutâneo, que corresponde à camada localizada em cima da camada muscular. Este é o mesmo local onde se administra a insulina. O sensor pode ficar colocado 6, 7 ou 14 dias, dependendo das instruções do fabricante, e o seu processo de colocação é facilitado pela utilização do aplicador. Na Europa está disponível um sensor implantável que dura até 180 dias. A sua colocação e remoção, ao contrário dos sistemas não implantáveis, é feita por um profissional de saúde através de uma cirurgia minimamente invasiva. O sensor está continuamente a medir o valor da glicose no líquido intersticial, contudo, a forma de ver esses valores é diferente dependendo da tecnologia que está a utilizar.
No que diz respeito à monitorização da glicose no líquido intersticial existem 2 tipos de tecnologia disponíveis em Portugal:
(1) monitorização intermitente: pode ver o seu valor de glicose apenas quando passa o leitor sobre o seu sensor; nesse momento, é-lhe apresentado um seu valor atual, uma seta de tendência e o histórico da sua glicose das últimas 8 horas;
(2) monitorização em tempo real: o seu valor de glicose é transmitido a cada 1 - 5 minutos, dependendo do fabricante, para um recetor e/ou para o seu telemóvel, através de uma aplicação, o que lhe permite programar alertas para a hipoglicemia e/ou hiperglicemia. No seu recetor/ telemóvel pode ver o seu valor atual, a seta de tendência e o histórico da sua glicose das últimas 24 horas.
Conseguirá perceber melhor a diferença entre estes dois sistemas se pensar, por exemplo, no período nocturno. A noite é o período de descanso, por excelência, para todas as pessoas e as pessoas com diabetes tipo 1 não são uma exceção. Contudo, se utilizar um sistema intermitente, precisará de acordar uma ou mais vezes durante a noite para verificar como está o seu valor. Pelo contrário, se utilizar um sistema em tempo real, poderá programar os alarmes para o valor que considerar mais adequado e dormir descansado porque sabe que qualquer desvio dos seus limites serão avisados através de um alarme sonoro. A monitorização da glicose intersticial está associada a um melhor controlo glicémico e menos hipoglicemia e deve ser o método preferencial de monitorização da glicose no dia-a-dia da pessoa com diabetes tipo 1.
Sofia Teixeira
(Médica Endocrinologista)