TEXTOS E ARTIGOS

O conceito de Região Na história do pensamento geográfico

O conceito de região é amplamente discutido na geografia, sendo considerado tanto importante como polêmico, devido às diferentes abordagens e classificações do espaço geográfico (PEREIRA; LUDKA, 2018). Ao longo da história do pensamento geográfico, o conceito de região passou por períodos de desuso, mas sempre ressurgiu, sofrendo transformações que refletem as mudanças teóricas, metodológicas e sociais ocorridas na ciência geográfica e na sociedade em geral (HAESBAERT, 2010) 

Na geografia tradicional, associada a corrente determinista, a região é compreendida como uma área natural delimitada por critérios físicos, como relevo, clima, hidrografia e vegetação, podendo ser descrita como uma disciplina corológica (HAESBAERT, 2010). Pereira e Ludka (2018) trazem que nesse início a região esteve ligada a geologia, tendo forte vínculo com a geografia física. Sendo definidas com base em critérios simples, levando em consideração tendências homogêneas naturais internas que estavam relacionavam características físicas similares (DINIZ; BATELLA, 2005; PEREIRA; LUDKA, 2018).

Em seguida a corrente possibilista se propôs a utilização do conceito de região, o aproximando do conceito de paisagem. A analise passa a ser sobre a extensão territorial onde se entrelaçam harmoniosamente elementos humanos e naturais, conhecida como paisagem. Sendo assim para a geografia possibilista, a geografia regional e o estudo da paisagem são formas análogas de analise geográfica. (DINIZ; BATELLA, 2005; PEREIRA; LUDKA, 2018).

No período pós-1950, a geografia passou por um momento de renovação, no qual a matemática foi vista como uma oportunidade para estabelecer leis de funcionalidade do espaço. Nesse contexto, os neopositivistas consideravam as regiões como entidades objetivas passíveis de serem estudadas por meio de métodos científicos. Eles defendiam que as regiões eram unidades espaciais delimitadas por critérios homogêneos e mensuráveis, tais como clima, relevo, vegetação, população, entre outros. Dessa forma, a região era vista como um recorte do espaço que permitia a análise sistemática e comparativa de fenômenos geográficos (CARVALHO, 2002). Os neopositivistas buscavam identificar leis gerais que governassem a distribuição e a organização espacial desses fenômenos. Assim, as regiões poderiam ser analisadas utilizando métodos estatísticos a fim de identificar padrões e tendências (LENCIONI, 2005; HAESBAERT, 2010; PEREIRA; LUDKA, 2018).

Surge, na década de 1970, e se fortalece nas décadas seguintes, a geografia crítica, influenciada pelo marxismo e pela crítica social. Essa corrente compreende a região como uma área contraditória, delimitada por critérios históricos e ideológicos (HAESBAERT, 2010). A região é também vista como um espaço de conflito e dominação entre grupos humanos, caracterizado por desigualdades e injustiças geradas pelo sistema capitalista (PEREIRA; LUDKA, 2018).

Nesse contexto, a região não é considerada um dado natural e neutro, mas sim uma construção social e histórica, moldada pelas relações de produção e pelas lutas de classe (CARVALHO, 2002). A região se torna um espaço de contradições e conflitos, marcado por desigualdades e exploração. Os geógrafos críticos buscam revelar as causas estruturais e os agentes sociais que moldam a configuração regional (LENCIONI, 2005; HAESBAERT, 2010).

Na geografia humanista, que emergiu na década de 1980 influenciada pelo pós-modernismo e pela valorização do sujeito, a região é compreendida como uma área simbólica, delimitada por critérios subjetivos e afetivos (CARVALHO, 2002). Com base nessas perspectivas, Hernandez (2001) propõe o conceito de região-rede como uma terceira e mais recente abordagem da região na geografia econômica. O autor estabelece uma relação entre esse tipo de região e as redes relacionais, destacando a proximidade e as relações sociais baseadas na confiança e na reciprocidade que se desenvolvem ao longo do tempo como características essenciais da vida econômica dessas regiões.

na década de 1980, surge a perspectiva regional vinculada ao globalismo pós-moderno, influenciada pelos desafios impostos pela globalização. Os pensadores dessa perspectiva, em sua maioria, afirmavam que o conceito de região era obsoleto e irrelevante diante da crescente integração e homogeneização do espaço mundial (HAESBAERT, 2010). No entanto, algumas visões reconheciam a região como uma entidade fluida e dinâmica, constantemente sendo criada e recriada. A região era concebida como um espaço fragmentado e desterritorializado, sujeito à lógica do mercado global e à diversidade cultural (LENCIONI, 2005; HAESBAERT, 2010). Os globalistas pós-modernos buscavam compreender as novas dinâmicas e identidades emergentes no contexto da globalização (CARVALHO, 2002). 

As mais duas abordagens regionais discutidas no âmbito do pensamento geográfico, o neomodernismo surgido nos anos 90 como uma reação ao globalismo pós-moderno. Os neomodernistas defendiam a validade e relevância do conceito de região, destacando suas especificidades e resistência à globalização. Eles valorizavam as potencialidades e singularidades regionais. Por sua vez, o pós-estruturalismo considera as regiões como construções discursivas moldadas pela linguagem e representação. Argumenta-se que as regiões não possuem um significado essencial, mas são atribuídos significados através de discussões e representações. Além disso, as regiões estão em constante disputa e negociação. (HAESBAERT, 2010) 

Por essa explanação sobre as mudanças ao entorno do conceito de região fica evidente que o termo está associado a ideia de diferenciação de áreas e seus métodos e parâmetros de regionalização variaram conforme as vertentes geográficas e a evolução da ciência geográfica em si (PEREIRA; LUDKA, 2018).


Referências Bibliográficas:

CARRIERI, R.; ASCENÇÃO, V. Abordagens teóricas de métodos regionais na perspectiva da dialética:a totalidade socioespacial e a lei da interpenetração dos contrários. Revista Geografias,  v.17, n.2,jul./dez.2021


CARVALHO, Gisélia Lima. Região: a evolução de uma categoria de análise da Geografia. Boletim Goiano de Geografia, v. 22, n. 01, p. 9-23, jan./jun. 2002.


DINIZ, Alexandre Magno Alves; BATELLA, Wagner Barbosa. O estado de Minas Gerais e suas regiões: um resgate histórico das principais propostas oficiais de regionalização. Sociedade & Natureza, Uberlândia, 17, p. 59-77, dez. 2005.


HAESBAERT, R. 2004 a. Desterritorialização, Multiterritorialidade e Regionalização. In: Limonad, E. et al. (org.) Brasil Século XXI: por uma nova regionalização? São Paulo: Max Limonad.


HAESBAERT, Rogério. Regional-Global: Dilemas da Região na Globalização. Editora Bertrand Brasil, 2010.


LENCIONE, S. Região e geografia: a noção de região no pensamento geográfico. In: Geografia novos rumos e perspectivas. São Paulo, Contexto, 2002.


PEREIRA, Sérgio Augusto; LUDKA, Vanessa Maria. Região e Regionalização: as influências das correntes filosóficas nos estudos regionais. Revista do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Maringá, v. 10, n. 1, p. 128-146, 2018.


PEREIRA, Claudinei da Silva; HESPANHOL, Antonio Nivaldo. Região e regionalizações no estado de Minas Gerais e suas vinculações com as políticas públicas. Revista Formação, n. 22, volume 1, 2015, p. 42-70.


região e regionalização

Região e regionalização são termos semelhantes, porém possuem significados distintos. Uma região é uma unidade espacial que possui características físicas ou humanas em comum. No entanto, as regiões não são preexistentes, são construídas, o que significa que não são entidades estáticas, mas estão em constante transformação à medida que as relações sociais evoluem (HAESBAERT, 2004).

Por outro lado, a regionalização refere-se ao processo de delinear uma região (LENCIONI, 2002). Existem várias maneiras de realizar a regionalização de uma área, sendo comum utilizar um conjunto de critérios, como características físicas, atributos humanos ou atividade econômica, para dividir a área em unidades menores. A regionalização envolve a criação e organização de regiões. Esse processo pode ser impulsionado por diversos fatores, como desenvolvimento econômico, controle político ou identidade cultural (HAESBAERT, 2004).

O autor também argumenta que a regionalização não é um processo neutro. É enfatizado que a regionalização é permeada pelo poder e, por vezes, pode ser um ato político. Isso significa que a regionalização geralmente é utilizada para alcançar objetivos específicos, como desenvolvimento econômico, controle social ou proteção ambiental (HAESBAERT, 2004).

É nessa linha de pensamento que Pereira e Hespanhol (2015) vão afirmar de maneira crítica que:

A delimitação espacial é uma das dimensões do poder efetivo e simbólico do Estado e elemento da reprodução da ordem social, pautada num discurso ideológico de integração, mas produto de imposição arbitrária e de relações desiguais. Trata-se, na verdade, do emprego, em um dado território, de uma ideologia que tenta restabelecer o equilíbrio rompido com o processo de desenvolvimento (2015, p. 45).

O ato de regionalizar também é uma ferramenta útil para os geógrafos, pois permite o estudo de unidades de análise menores e mais gerenciáveis. Além disso, a regionalização pode ser utilizada para identificar áreas com características semelhantes, o que é útil para o planejamento e a formulação de políticas, e como um instrumento para estudo das áreas.

É nesse sentido que Haesbaert (2010) vai propor a abordagem construtivista da região, onde ela é tida como um instrumento analítico utilizado pelo pesquisador possuindo um sentido mais genérico de recorte espacial, cuja coerência é atribuída pelo próprio investigador. Nessa perspectiva, a região é uma construção discursiva, sujeita às interpretações e representações elaboradas pelo pesquisador.

Referencias Bibliográficas: 

HAESBAERT, Rogério. Regional-Global: Dilemas da Região na Globalização. Editora Bertrand Brasil, 2010.


LENCIONE, S. Região e geografia: a noção de região no pensamento geográfico. In: Geografia novos rumos e perspectivas. São Paulo, Contexto, 2002.


PEREIRA, M. L., & HESPANHOL, A. L. A região enquanto construção social: Uma reflexão a partir da geografia. Revista Brasileira de Administração Pública, 49(1), 41-64, 2015. 

Revisão do Conceito de Região na revista Geografias - ufmg (2005 – 2022)

Este artigo de revisão tem como objetivo analisar as produções bibliográficas da Revista Geografias, associada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFMG, com foco nas abordagens e transformações do conceito de região. Para alcançar esse objetivo, adotamos uma metodologia abrangente, que envolveu a seleção criteriosa e a análise minuciosa de artigos publicados na revista no período de 2005 a 2022.

A escolha da revista se deu pelo debate construído no âmbito do projeto, a cerca da complexidade do conceito de região. Por estar associada ao Programa de Pós Graduação da UFMG, a revista proporcionará uma aproximação com as pesquisas realizadas no âmbito da pós graduação em geografia em Minas Gerais, e os possíveis usos do conceito de região na produção acadêmica na área das ciências sociais.  A seleção dos artigos relevantes foi feita considerando os artigos publicados nas edições semestrais da revista, no período de 2005 a 2022, somando um total de 247 artigos, das quais 50 artigos abordavam o conceito de região de forma consistente. 

Para identificar os artigos relevantes, foi realizada uma busca sistemática na base de dados da revista Geografias - UFMG, utilizando os termos-chave "região", "regionalização" e "regionalidade" “regional”. Os critérios de inclusão estabelecidos foram: (1) artigos publicados na Revista Geografias durante o período de análise; (2) artigos que abordavam de forma significativa o conceito de região; (3) artigos disponíveis na íntegra.

Após a seleção dos artigos, foi feita uma leitura para separa-los em estudos teóricos e estudos de caso e identificar a escala dos estudos, a área da pesquisa, o uso dos termos associado a região, e transformações conceituais presentes nas produções bibliográficas. As abordagens foram divididas em realista, a região como fato; construtivista, a região como artificio de pesquisa, um recorte de área pra estudo; e regiões normativas, no uso de regionalizações propostas por órgãos governamentais como projeto de desenvolvimento regional. 

Além disso, foram identificadas as áreas da geografia predominantes nos estudos. Essas áreas foram analisadas em relação às transformações e usos do conceito ao longo das produções bibliográficas, permitindo compreender como o conceito de região tem sido abordado nessas diferentes áreas ao longo do tempo.

A partir de análise dos artigos encontrados nota-se (Gráfico 1) que os anos de 2005, 2006, 2007, não houve muitas pesquisas que aplicaram o conceito de região, em seguida houve um grande crescimento no uso da temática e uma certa consistência nos anos seguintes. O ano com o maior numero de publicações foi o de 2008, com 6 publicações. E o com o menor, foi 2006 que não teve publicações correlatas. De 2015 para 2022 se estabeleceu uma média de duas publicações por ano.


O Gráfico 1 representa as mudanças no numero de publicações ao longo da faixa temporal estabelecida. É possível observar que nas primeiras versões da revista houveram poucos estudos relacionados ao conceito de região em comparação com o total de publicações anuais. Mas no decorrer dos anos houve mais pesquisas relacionadas a região, principalmente entre 2008 e 2016. Além disso observa-se que a grande maioria dos estudos (66%), são estudos de caso, o que representa o uso da região principalmente como um instrumento de recorte para o pesquisador realizar a análise.

Os demais 33% são estudos teóricos, significando que a abordagem do estudo tem como foco o conceito de região e sua evolução, utilização e ou a fundamentação para seu estabelecimento. Nota-se que os estudos teóricos tem certa regularidade, aparecendo ao longo da linha temporal em média uma vez a cada dois anos, mas ao mesmo tempo nunca tendo ultrapassado a margem de um artigo ao ano.

Com relação as áreas da geografia que mais utilizaram o conceito de região (Gráfico 2) nas publicações da revista geografias temos a Geografia ambiental e a Geografia da População. Os estudos da área ambiental tiveram predominância a analise de uso e cobertura da terra, de mananciais e unidades de proteção. Já os estudos da área da população tiveram um foco nas questões relativas à migração e populações tradicionais. Quanto a temporalidade, os estudos ambientais começaram a aparecer em 2011 e estiveram em foco até 2014, nos anos seguintes apareceram em media uma vez a cada dois anos. Já os da área da população começaram em 2007 e continuaram aparecendo em alguns anos seguintes, sem um padrão definido. 


Os estudos das áreas de geomorfologia, geografia urbana e climatologia também tiveram ênfase, sendo os três campos seguintes com mais pesquisas, nessa ordem. O que mais chama atenção nos estudos dessas areas é a diferença da escala de analise apesar da utilização da região. Os estudos de climatologia tenderam a abranger a maior escala, sendo algumas vezes escala continental como no caso da analise de distribuição de lumas de queimada na atmosfera da américa do sul, américa do Sul aqui é entendida como uma região. Os estudos da geografia urbana em sua maioria abordaram a região metropolitana de belo horizonte, caracterizando a menor escala de análise. 

Os estudos da área da geomorfologia ficaram na escala intermediaria, por vezes abordando, por vezes uma serra como região, ou uma bacia hidrográfica, outras o planalto de poços de caldas, outras sendo estabelecido o recorte da região com base na morfologia da área de estudo. Fica claro que os estudos dessa área foram os que mais conotam caráter plural as definições de região como um instrumento de recorte para o pesquisador. Entretanto chama atenção que os estudos relacionados a geomorfologia são datados apenas até o ano de 2014, não havendo mais estudo nos anos seguintes dessa área. Enquanto os estudos de climatologia começam a ficar mais frequentes recentemente.

As demais áreas tiveram poucas aparições, mas vale o destaque para as áreas de educação, geografia histórica e geopolítica que começaram a aparecer mais recentemente, sem ter dado tempo para uma analise mais profunda quanto aos estudos relacionados a esses campos da geografia.

Quanto a maneira como a região foi utilizada nesses estudos (Gráfico 3) é possível perceber que na grande maioria das vezes é utilizado como um instrumento de pesquisa, sendo proposta de acordo com a coerência estabelecida pelos pesquisadores. Isso se justifica dado ao cunho das pesquisas serem estudos de caso. O que Haesbaert (2010) chama de “região artificio ou construto que, enquanto instrumento metodológico, responde questões analíticas, tornando-se assim “operacional” para os requisitos e/ou objetivos do investigador” (p. 95). 


O Gráfico 3 mostra a distribuição dos artigos por tipo de regionalização utilizada ou estabelecida nos estudos da revista Geografias entre 2005 e 2022. A regionalização é o processo de delimitar uma região com base em critérios específicos. A maioria dos artigos utiliza a região metropolitana como recorte de estudos, dos 9 artigos representados no gráfico, apenas um não abrangia a região Metropolitana de Belo Horizonte, mas de um outro local. A RMBH ser um enfoque tão grande das pesquisas vai de encontro com a local da sede da revista, e sede dos estudos de pós graduação, na UFMG d Belo Horizonte. 

Em segundo lugar temos o uso do conceito de região, sendo seu uso exclusivo das pesquisas teóricas da revista. Chama atenção as “serras” sendo utilizadas como um recorte para estudos e sendo associada a uma região. A maioria dos estudos com o recorte serra, estudou a serra do Gandarela no quadrilátero ferrífero, são estudo em sua maioria de geomorfologia ou geografia ambiental, e estabelecem a serra como uma região a ser estudada, ou seja, ou seja, como Haesbaert (2010) apresentou, a região como um artificio, um instrumento analítico proposto pelo pesquisador. Também foram utilizadas, nas vertentes mais ambientais dos estudos, o recorte de bacias hidrográficas, planalto e unidades de conservação como regiões a serem estudadas. Nessa linha do artificio encontramos 4 regiões em que o recorte de estudo não se misturavam com nenhuma regionalização, feição geomorfologia, e etc. Foram estudos (4) que utilizaram da região como instrumento, no sentido de recortar uma parcela do espaço, cuja coerência foi dada pelos pesquisadores.

As regiões de influencia e as microrregiões foram outros dois tipos de regionalização utilizadas nos estudos da revista. Chama atenção a falta da utilização de outros tipos de regionalização como as regiões imediatas e intermediarias propostas pelo IBGE. Alguns estudos também utilizaram as divisões oficiais das regiões do brasil, principalmente quando o intuito era apresentar um panorama com dados quanto ao brasil, nesses casos o principal meio utilizado foi a partir das partes (regiões) para compreender o todo (país).

E a região como “arte-fato”, um híbrido entre artifício e fato, no jogo (político) entre representação ou “consciência” regional e manifestação concreta na prática dos grupos sociais (HAESBAERT, 2010), foi encontrada ao menos 8 vezes, em sua maioria se referendo a Região da Amazonia, mas também foram utilizados a américa latina, o Nordeste e a asia central como regiões a serem analisadas. 


Referencias Bibliográficas: 

HAESBAERT, Rogério. Regional-Global: Dilemas da Região na Globalização. Editora Bertrand Brasil, 2010.


Saneamento básico - Acesso a rede de abastecimento de água

GEOGERAIS - 07/05/2024

O saneamento básico transcende a mera infraestrutura e se configura como um determinante social da saúde, conforme reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e tem sua importância na proteção da saúde pública e promoção do bem cívico. Ele abrange uma série de serviços, incluindo o fornecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, coleta e destinação adequada de resíduos sólidos e controle de pragas e doenças transmitidas pela água. Contribuindo para a redução da mortalidade infantil e infantojuvenil, especialmente em países em desenvolvimento além de, diminuir a incidência de doenças transmissíveis pela água, como diarreias, parasitoses e doenças de pele.

Para fazer uma análise da situação do saneamento básico nas mesorregiões mineiras, utilizamos dados do Censo demográfico, divulgados pelo IBGE em 2010 e 2022, segundo o próprio órgão: “As informações dessa divulgação permitem conhecer a caracterização de elementos importantes dos domicílios e das condições de vida da população no Território Nacional sob a perspectiva da forma de abastecimento de água, destino do lixo, tipo de esgotamento sanitário, existência de banheiro ou sanitário e existência de canalização de água.”(IBGE,2022)


Nesse primeiro momento iremos investigar os domicílios particulares permanentes ocupados e seus moradores, por existência de ligação à rede geral de distribuição de água e principal forma de abastecimento de água relacionando com a cor/raça dessas pessoas.

Embora o acesso à rede geral de abastecimento de água tenha apresentado melhora em todo o estado de Minas Gerais, as disparidades regionais persistem. As áreas mais urbanizadas, como as mesorregiões Metropolitana de Belo Horizonte (96,58%), Triângulo Mineiro (93,97%) e Oeste de Minas (92,89%), apresentam os maiores percentuais de domicílios ligados a rede geral de abastecimento de água.

As disparidades regionais aparecem e se intensificam nas regiões mais a leste e norte do estado. A exemplo as mesorregiões do Jequitinhonha e do Vale do Mucuri concentram os menores índices, com 78,99% e 78,60% dos domicílios ligados a rede geral de abastecimento, respectivamente.

No Jequitinhonha, apesar do aumento na cobertura da rede geral, nota-se que apenas 74,04% dos domicílios com acesso realmente a utilizam como principal fonte de água, aumento de 6,71% em relação a 2010. No Vale do Mucuri, a situação é similar: 78,60% dos municípios possuem acesso a rede geral de distribuição sendo 75,27% desses domicílios que utilizam a rede geral como principal fornecedor de água, em 2010 esse percentual era de 72,93%. Nota-se que ainda há domicílios que não a utilizam a rede geral como principal fonte de água, mesmo com acesso.

Embora a rede pública de abastecimento de água seja a principal fonte para a maioria das residências, diversas famílias optam por soluções alternativas, como poços artesianos, fontes naturais ou até mesmo o carro-pipa. Essa escolha vai além da simples questão de acesso à água potável, revelando motivações complexas que permeiam a relação entre as pessoas e esse recurso vital. Estre as motivações estão: sabor, odor, coloração inadequados, oscilações e cortes. Gerando desconfiança esses motivos levam à busca por alternativas consideradas mais puras. As principais formas apresentadas em Minas Gerais são os Poços Artesianos e as fontes, nascentes ou minas.

Segue a análise de cada mesorregião:


METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE.

A mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte apresenta um alto índice de acesso à rede de abastecimento de água, com 96,58% dos domicílios conectados a essa infraestrutura. No entanto o número que efetivamente utiliza essa rede como principal fonte de abastecimento é um pouco menor 95,28%. É intrigante observar que, mesmo com acesso à rede, 31.350 dos domicílios optam por outras formas de abastecimento, principalmente por meio de poços profundos ou artesianos (16.444 domicílios) e fontes ou nascentes (7.921 domicílios).  A análise revela também que 3,42% dos domicílios não são atendidos pela rede de abastecimento isso representa um total de 224.485 pessoas sem acesso a rede em suas casas.

Entre os grupos de cor e raça, os pardos compõem a maioria dos afetados, representando 57% do total, superando o número de 128 mil pessoas pardas sem acesso à rede. Em seguida temos os brancos e negros, com 29,31% (65.795 pessoas) e 13,40% (30.077 pessoas), respectivamente, não possuindo acesso adequado à água. Sendo a principal alternativa de abastecimento para essas populações os poços artesianos, utilizados em 35,56% dos domicílios sem acesso a rede e fontes naturais e minas, utilizadas em 35,97% das residências.

Consideramos, a partir de nossos estudos, a região Metropolitana de Belo Horizonte o maior polo socioeconômico do estado, o que pode resultar em uma maior capacidade de investimento em infraestrutura e serviços públicos, incluindo o fornecimento de água potável, dessa maneira seria esperado que a mesorregião apresentasse os melhores índices percentuais de abastecimento de água do estado, entretanto ao mesmo tempo, a essa região também apresentou um elevado numero de pessoas sem acesso a rede, a 4° no estado com o maior número de pessoas (224.485) e residência (82.286) sem abastecimento de agua potável.

Também, ao fazermos uma analise levando em consideração, o numero de pessoas sem acesso a água e o numero de pessoas em cada classe de autodeclaração de cor ou raça, vemos que: 3,92% do total de pardos não tem acesso a rede de abastecimento, além de 3,75% do total de indígenas, 3,15% dos pretos, 2,82% dos brancos e 1,67% do total de amarelos.

 

SUL/SUDOESTE DE MINAS

Os dados da mesorregião Sul/Sudoeste de Minas revelam uma situação preocupante em relação ao acesso à rede geral de abastecimento. Com um total de 366.388 pessoas sem acesso a essa rede, maior numero de pessoas sem acesso entre as mesorregiões, e mais 52.882 pessoas que possuem acesso, mas optam por outras formas de abastecimento, o número total de pessoas utilizando alternativas chega a 419.270.

Os dados nos mostram 86% dos domicílios com acesso a rede de abastecimento, no entanto 2% desses não utilizam a rede geral como fonte principal de abastecimento. Cerca de 14% dos domicílios, equivalente a 133.394, ainda não têm acesso a essa infraestrutura básica. As principais alternativas de abastecimento para essas famílias são fontes, nascentes ou minas, sendo utilizadas por 64% dos domicílios como fonte principal, seguidas por poços artesianos (21,11%) e poços rasos, freáticos ou cacimbas (13,06%).

A população mais afetada pela ausência da rede se autodeclara branca (67,10%) equivalente a 245.847 pessoas, seguido pelos pardos (27,98%) 102.526 pessoas, pretos (4,66%) 170.60 pessoas, amarelos (0,15%) 538 pessoas e indígenas (0,11%) 401 pessoas. Mas é valido observar que a maioria da população da mesorregião se autodeclara branca 62,85% do total, o que nos remete a constatação de que a proporção de pessoas sem acesso à água é significativamente maior entre os indígenas, com 26% da população indígena sul-mineira sem acesso à rede, evidenciando uma desigualdade na distribuição desse do recurso. Nas demais classes a proporção fica a seguinte: 15,09% do total de brancos não tem acesso a rede, seguidos por, 13,31% dos pardos, 10,95% dos amarelos e 9,15% dos pretos.


JEQUITINHONHA

Essa mesorregião registra o segundo menor índice de cobertura da rede, com apenas 78,99% dos domicílios conectados. No entanto, é notável uma melhoria em relação a 2010, no que diz respeito à utilização da rede geral como principal fonte de abastecimento. Nesse sentido, o percentual de domicílios que optam pela rede como fonte principal de abastecimento cresceu de 68,56% em 2010 para 74,04% em 2022. Entretanto, ainda existem 4,95% dos domicílios que utilizam outra fonte como principal, segundo maior percentual entre as mesorregiões mineiras. Esse fato indica uma possível subutilização da infraestrutura existente e levanta questões sobre a eficácia da rede em atender às necessidades da população local. Sendo as fontes, nascentes ou minas e os poços profundos ou artesianos a opção de mais de 77% dos domicílios que tem acesso a rede, mas prefere utilizar outras formas como a principal.

A situação se agrava ao constatar que a mesorregião possui o segundo pior índice percentual de famílias sem acesso à rede geral de abastecimento, 21,01% dos domicílios, afetando um total de 140.349 pessoas. As principais formas alternativas de abastecimento incluem fontes, nascentes ou minas (40%), poços profundos ou artesianos (20%), rios, açudes, córregos, lagos e igarapés (14,80%), e poços rasos, freáticos ou cacimbas (13,97%).

Um outro aspecto importante é a distribuição desigual do acesso à água, onde os pardos são o maior número de pessoas afetadas, totalizando 70% da população sem acesso a rede de abastecimento, em seguida brancos (18,40%), negros (10,90%), indígenas (0,20%) e amarelos (0,06%). No entanto, a análise levando em conta o número de autodeclarados em cada classe, revela que os indígenas são os mais impactados: 24% do total de indígenas na região não possui acesso à rede de abastecimento, além desses, 22,25% dos pardos, 20,11% dos pretos, 17,68% dos brancos e 14,19% dos amarelos também não tem acesso a rede geral.


NORTE DE MINAS

Os dados obtidos referentes a mesorregião Norte de Minas destacam uma situação peculiar em relação ao acesso e utilização da rede geral de abastecimento de água. Com 87,20% dos domicílios conectados à rede, a região aparenta ter uma cobertura razoável de infraestrutura de abastecimento. No entanto, apenas 80,61% desses domicílios utilizam efetivamente essa rede como sua principal fonte de abastecimento, relegando a maioria dos outros 6,59% a utilização de poços profundos ou artesianos como fonte de abastecimento principal. Essa preferência por outras fontes de abastecimento pode ser influenciada por diversos fatores, como a qualidade da água fornecida pela rede, a confiabilidade do serviço, custos associados e questões de segurança hídrica.

A região apresenta também 12,80% dos domicílios, equivalente a 72.074 residências, sem acesso à rede geral de água, esse número representa um total de 208.935 pessoas sem acesso a rede de abastecimento em suas casas. O maior número de afetados são pardos, com mais de 143.233 indivíduos sem acesso à água encanada, seguidos dos brancos, que totalizam 39.637 pessoas, negros com 21.116 pessoas sem acesso, 677 indígenas e 188 amarelos. Em números proporcionais isso representa: 13,70% do total de pardos, 11,03% do total de brancos, 10,96% do total de pretos, 9,21% do total de amarelos e 5,54% do total de indígenas. É valido observar que o Norte de Minas, região com a maior população indígena no estado (12.211 pessoas) é também a região que apresenta o menor percentual de indígenas sem acesso a rede geral de abastecimento.

Quanto as principais formas de abastecimento nos domicílios sem acesso a rede, temos o poço profundo ou artesiano, adotado por mais da metade dos domicílios, seguido pelo uso de recursos hídricos naturais, como rios, açudes, córregos, lagos e igarapés, presentes em aproximadamente 18,30% dos lares, e também as fontes, nascentes ou minas, utilizadas em cerca de 12,48% dos domicílios.


NOROESTE DE MINAS

A mesorregião apresenta 85,73% dos domicílios conectados à rede, sendo que 4,22% desses domicílios optam por outras formas de abastecimento, mesmo estando conectados à rede, sendo os poços profundos ou artesianos a principal alternativa, utilizado em mais de 50% desses domicílios e. O alto número de domicílios aderindo a fontes alternativas, mais uma vez, levanta questões sobre a qualidade ou confiabilidade do fornecimento de água pela rede geral nas porções ao norte do estado, o que pode estar levando os moradores a buscar alternativas.

Além disso, a mesorregião apresenta um dos maiores índices de domicílios sem acesso à rede de abastecimento, totalizando 14,27% dos lares. Esse número representa um total de 53.793 pessoas sem acesso à rede geral de abastecimento. Entre as principais formas de abastecimento estão o poço profundo ou artesiano, opção em mais de 50% dos domicílios, 21,85% utilizam fonte, nascente ou mina, 12,59% utilizam rios, açudes, córregos, lagos e igarapés, 11,83% utilizam poço raso, freático ou cacimba, os demais, os demais 2,66% utilizam de outras formas.

 No que diz respeito a cor da pele os pardos somam 60,14% das pessoas sem acesso, além dos brancos 27,54%, pretos 12,13%, amarelos 0,11% e indígenas 0,08%. Analisando os números proporcionalmente ao total de autodeclarados em cada classe, observamos que 14,46% do total de pardos, 13,48% dos pretos, 12,74% dos brancos, 11,25% dos indígenas e 7,44% dos amarelos não têm acesso à rede de abastecimento.

 

OESTE DE MINAS

Os dados referentes ao Oeste de Minas revelam 92,89% dos domicílios com acesso a rede geral de abastecimento, a mesorregião possui o terceiro melhor índice de acesso à rede geral entre todas as mesorregiões analisadas. Além disso, é notável que apenas 1,78% dos domicílios conectados à rede utilizam outra forma como principal fonte de abastecimento, sugerindo uma alta confiabilidade e qualidade do serviço prestado. Também é possivel observar uma melhora de mais de 2% na utilização da água da rede de abastecimento entre 2010 e 2022.

No entanto, é importante notar que ainda existe uma parcela da população sem acesso à rede geral de abastecimento, representando 7,11% dos domicílios, o que corresponde a um total de 72.148 pessoas. Apesar de ser a quarta mesorregião com o menor número de pessoas sem a rede de abastecimento, ainda há um caminho a ser percorrido na garantia do acesso à água para toda a população da região. A principal alternativa segue a tendencia das outras mesorregiões sendo o poço artesiano utilizado em 47% dos domicílios, outros 25,47% utilizam fonte, nascente ou mina e outros 24,13% utilizando poço raso, freático ou cacimba.

A análise do acesso ao abastecimento de água por cor e raça nos mostra os brancos representando 53,72% do total sem abastecimento, seguidos pelos pardos, com 38,86%, pelos negros, com 7,28, amarelos 0,08% e indígenas 0,06%. Ao analisar a proporção de pessoas sem acesso à rede por classe de cor ou raça, observamos que 7,21% do total de brancos, 6,94% dos indígenas, 6,81% dos pardos, 5,28% dos negros e 4,86% dos amarelos não tem acesso a rede geral de abastecimento.

ZONA DA MATA

A Mesorregião da Zona da Mata se destaca negativamente em relação à estrutura da rede geral de abastecimento de água. Apresentando 14,57% de seus domicílios sem ligação à rede, a região apresenta um contingente considerável de 122.035 domicílios sem acesso, posicionando-a como a segunda maior em número de residências sem ligação com a rede geral em Minas Gerais. Apesar de 85,43% dos domicílios terem ligação com a infraestrutura de abastecimento, cerca de 2,72% desses optam por outras formas de abastecimento, destacando-se o poço profundo ou artesiano e fontes nascentes e minas, que juntos são utilizados em mais de 85% desses domicílios como fontes alternativas. Também é valido ressaltar o aumento de 81,17% para 82,71% dos domicílios utilizando a rede entre 2010 e 2022, um indicador positivo de avanço na infraestrutura e ou qualidade de abastecimento de água.

A região também apresentou mais de 15% da população sem acesso a rede de abastecimento, totalizando 341.340 pessoas afetadas por essa situação, ficando atrás apenas do Sul/Sudoeste de Minas em número de pessoas sem acesso a rede. Ao examinarmos a distribuição desse déficit de acesso por grupos de cor ou raça, identificamos que os pardos somam 163.426 pessoas sem acesso à água, o que equivale a 18,79% da população total de pardos. Além disso, os brancos somam 142.332 pessoas sem acesso à água, representando 13,78% da população total de brancos. Os negros (35.116 pessoas), indígenas (184 pessoas) e amarelos (276 pessoas) também enfrentam desafios consideráveis, equivalendo a 10% de suas populações totais enfrentando dificuldades de acesso à rede de abastecimento.

         Ao analisarmos as alternativas ao acesso à rede de abastecimento geral, podemos observar que a Mesorregião da Zona da Mata segue padrões semelhantes aos de outras regiões. Mais de 50% dos domicílios sem acesso à água utilizam fontes, nascentes ou minas como fonte principal de abastecimento. Além disso, mais de 33% dos domicílios sem acesso recorrem a poços profundos ou artesianos. Por fim, cerca de 12% dos domicílios sem acesso utilizam poços rasos, freáticos ou cacimbas.

 

TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA

A Mesorregião do Triângulo Mineiro destaca-se por seu alto percentual de cobertura da rede de abastecimento domiciliar, com 93,97% dos domicílios possuindo ligação. Este é o segundo melhor percentual entre as mesorregiões de Minas Gerais, refletindo uma infraestrutura robusta e uma percepção de confiança na qualidade do abastecimento, visto o segundo menor índice (1,69% dos domicilios) de utilização de outras fontes de abastecimento mesmo ligados a rede. No entanto, apesar dessa alta cobertura, ainda há 6% dos domicílios sem acesso ao abastecimento, resultando em 54.542 residências sem ligação com a rede de abastecimento. As principais alternativas para esses domicílios incluem o uso de poços profundos ou artesianos em quase 50% dos casos, fontes, nascentes ou minas em cerca de 30%, e poços rasos, freáticos ou cacimbas em quase 15% dos domicílios.

Embora a Mesorregião do Triângulo Mineiro tenha o segundo menor percentual de população sem acesso à rede em Minas Gerais, 6 porcento, isso equivale a 142.847 pessoas sem água. Este é um número significativo ao se tratar de pessoas, especialmente considerando a importância básica do acesso à água. Os brancos e pardos somados representam quase 90% das pessoas sem acesso à água. No entanto, ao analisar os números de acesso à rede, proporcionalmente ao número de pessoas em cada grupo de cor ou raça, observamos que quase 12% do total de negros, amarelos e indígenas ainda não têm acesso à rede de abastecimento de água. Embora possam representar os menores números na mesorregião, essa análise é fundamental para orientar futuras políticas públicas visando garantir o acesso equitativo à água para todos os segmentos da sociedade.

 

CAMPO DAS VERTENTES

A Mesorregião do Campo das Vertentes apresenta um percentual considerável de acesso à rede de abastecimento geral, abrangendo 90% de seus domicílios. No entanto, cerca de 2,73% desses domicílios, totalizando aproximadamente 5.835 residências, optam por formas alternativas de abastecimento mesmo estando conectados à rede geral. Em sua maioria, esses domicílios recorrem ao uso de poços profundos ou artesianos como alternativa. Esse cenário resulta em 88,20% dos domicílios utilizando a rede geral de abastecimento como forma principal, o quinto melhor índice do estado nesse aspecto.

Por outro lado, em relação à falta de ligação com a rede geral, observamos que 9,62% dos domicílios da região não possuem acesso, totalizando 20.544 residências sem essa conexão. A principal alternativa para esses domicílios é o uso de fontes, nascentes ou minas, que atende a 42,28% dos domicílios. Em seguida, o poço profundo ou artesiano é utilizado por 36,98% dos domicílios sem acesso à rede, enquanto o poço raso, freático ou cacimba é a escolha em 18% dos casos.

Quando direcionamos o foco da análise para as pessoas, constatamos que 10% da população local (56.961 pessoas) não possui acesso à água. Os brancos são a maior fatia do total de pessoas sem acesso à rede, totalizando 57,84%, seguidos pelos pardos, 34,12%, pretos 7,81%, enquanto os amarelos e indígenas são 0,15% e 0,08%, respectivamente. No entanto, ao considerarmos o número total de autodeclarados em cada classe de cor ou raça, observamos que a situação se modifica. Sendo que 11,86% do total de indígenas, 11,04% do total de brancos, 10,14% dos amarelos, 9,08% dos pardos e 6,91% dos negros não têm acesso à rede.

 

CENTRAL MINEIRA

A Mesorregião Central Mineira tem sua rede geral de abastecimento abrangendo 91% dos domicílios locais. No entanto, aproximadamente 2,80% desses domicílios, equivalente a 5.835 residências, optam por não utilizar a rede geral como principal fonte de abastecimento, resultando em 88,20% dos domicílios que a utilizam como forma principal. Em grande parte dessas residências, a alternativa de abastecimento é representada pelo uso de poços profundos ou artesianos presentes em quase 80% desses domicílios.

Apesar do bom desempenho em termos de cobertura, cerca de 9,00% dos domicílios ainda carecem de acesso à rede de abastecimento, o que representa o quarto melhor índice do estado, porém representa 36.296 pessoas sem acesso, o que corresponde a cerca de 8% da população total da região. As principais alternativas para essas residências são os poços profundos ou os poços rasos e lençóis freáticos, que somados representam 85% das alternativas em residências sem acesso à rede de abastecimento.

No que diz respeito à distribuição por cor e raça, observa-se que 55,43% das pessoas sem acesso à rede geral são pardas, seguidas por 34,76% de brancos e 9,62% de pretos, enquanto os amarelos e indígenas, somados, representam 0,23% das pessoas sem água. Ao analisarmos proporcionalmente a ausência de ligação com a rede geral e número de pessoas em cada classe étnica, percebemos que 12,22% dos indígenas, 8,84% dos pardos, 8,31% dos pretos, 7,82% dos brancos e 2,33% dos amarelos não têm acesso à rede.

 

VALE DO RIO DOCE

A região do Vale do Rio Doce apresenta um desempenho relativamente baixo em termos de cobertura da rede geral de abastecimento de água aos domicílios, abrangendo apenas 83,95% deles, o que a coloca no décimo lugar entre as mesorregiões no quesito acesso a rede geral. Dos 593.256 domicílios conectados à rede, 79,37% utilizam-na como fonte principal de abastecimento, enquanto os restantes 27.129, representando 4,57%, optam por outras formas de abastecimento. Isso coloca a região com o terceiro maior percentual de residências que, mesmo estando ligadas à rede, preferem utilizar outras formas de abastecimento como principal. A alternativa mais comum nesses casos é o poço profundo ou artesiano, utilizado em mais de 60% das residências que optam por formas alternativas de abastecimento.

A mesorregião do Vale do Rio Doce apresenta um cenário ruim no estado, em relação ao acesso à rede geral de abastecimento de água. Com um percentual de 16,05% do total de domicílios equivalente a 95.238 residências particulares e 75.754 pessoas sem acesso à rede, os números são alarmantes para a região. Ao se pararmos essas 75.754 pessoas, sem acesso a rede, por cor e raça, vemos que 62,33% são pardos, 28,53% são brancos, 8,78% são pretos, 0,27% são indígenas e 0,04% são amarelos. Mas também é particularmente preocupante observar que 30% da população indígena da região não possui acesso à água encanada em suas residências. O Vale do Rio Doce se destaca como a mesorregião com o 4º maior contingente de indígenas do estado, totalizando 2.422 pessoas, das quais 729 não possuem acesso à água encanada em suas residências. A falta de acesso à rede geral afeta também cerca de 18,01% do total de pardos, seguidos por 15,17% dos brancos, 13,19% dos pretos e 9,97% dos amarelos.

No contexto das fontes alternativas de abastecimento na região do Vale do Rio Doce, observa-se que a população local recorre principalmente a três diferentes recursos. Cerca de 36,63% dos domicílios optam por fontes, nascentes ou minas, em seguida, os poços profundos ou artesianos são utilizados em aproximadamente 34,41% dos domicílios, e os poços rasos ou lençóis freáticos são uma opção para cerca de 26,46% dos domicílios.


VALE DO MUCURI

A mesorregião do Vale do Mucuri apresenta o menor percentual de acesso dos domicílios à rede geral de abastecimento de água, totalizando apenas 78,60% de cobertura. Essa quantia deixa uma parcela significativa da população, cerca de 28.281 domicílios, sem acesso à rede pública de água potável. Além disso, aproximadamente 4.406 domicílios, representando 3,33% daqueles com acesso à rede, optam por outras formas de abastecimento como principal, evidenciando uma certa insuficiência da rede de abastecimento geral. Entre essas alternativas, destacam-se as fontes, nascentes ou minas, e os poços profundos ou artesianos, que juntos atendem a uma parcela significativa da população.

De fato, os dados revelam que o Vale do Mucuri figura como a mesorregião com o maior percentual de residências sem acesso à rede de abastecimento, totalizando 21,40% dos domicílios, o que representa 28.281 lares sem acesso. Cerca de 45% dessas residências dependem de fontes, nascentes ou minas como principal fonte de água, os poços artesianos ou profundos são opção para aproximadamente 26% dos domicílios sem acesso à rede, há também aqueles que utilizam de poços rasos ou lençóis freáticos 21% dos domicílios.

A análise dos dados da mesorregião em questão revela uma situação preocupante, com 22% da população local, maior percentual entre as mesorregiões, representando 81.723 pessoas, sem acesso à rede de abastecimento. Ao observarmos a distribuição dessas pessoas sem acesso à água por cor e raça, observamos que a maioria são pardos, totalizando 69,31% do total de indivíduos desprovidos de acesso à rede. Em seguida temos os brancos, representando 17,45%, seguidos pelos pretos, com 12,52%. A presença de indígenas entre os afetados chama atenção, com 0,62% do total, representando o maior percentual de pessoas sem acesso a rede indígenas, entre as mesorregiões do estado. A análise proporcional ao total de autodeclarados em cada classe revela que 23,71% do total de pardos não tem acesso a rede, seguido por 22,63% dos amarelos, 22,45% dos pretos, 18,43% dos indígenas e 17,94% do total de brancos.

Referencias Bibliográficas: 

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Censo Demográfico 2022. Consultado em 01.05.2024. Disponível em:https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/demografico-2022/universo-caracteristicas-dos-domicilios.Acesso em: maio 2024.