FESTA LITERÁRIA DA DIVERSIDADE SEXUAL

Uma festa literária, uma festa libertária!


A FLIDS é a festa literária da diversidade sexual!

Um projeto de artes integradas que reúne shows, performances, audiovisual, teatro, saraus, palestras, artes plásticas, oficinas e diversas ações em torno de uma feira literária dedicada à produção LGBTQ+.

A força da literatura está na base das mais diversas criações artísticas: séries de TV, filmes, teatro e até músicas… É na fonte da literatura que todos bebem para desenvolver a arte de contar histórias e elaborar novos conceitos e ideias. Por isso a FLIDS deu um passo diferente e inverteu o lugar comum: normalmente o que se via eram feiras literárias dedicando um pequeno espaço para o tema LGBTQ+ ou, por outro lado, eventos de cultura LGBTQ+ dedicando um pequeno espaço para a literatura engajada nessa temática.

Na FLIDS, é essa literatura que está no centro das atenções, como um grande manancial para artistas de diversas linguagens, para a militância e para o público em geral. Conhecendo, discutindo, interagindo com as obras, ajudamos a pensar e a celebrar essa produção, que merece sair totalmente do armário, das gavetas e das estantes seccionadas das livrarias para ganhar cada vez mais holofotes, debates e, principalmente, leitores.

A FLIDS, assim, é um momento de confraternização e de troca entre agentes da cadeia produtiva do livro, um encontro fraterno e festivo entre editores, autores, artistas de outras linguagens e público, cujo propósito é dar mais visibilidade para essa literatura, colaborando para torná-la ainda mais pujante. Esse é o objetivo da FLIDS: ajudar a ampliar mais e mais os espaços de comunicação sobre a diversidade sexual. Afinal, contar histórias dando protagonismo a personagens LGBTs é uma potente arma de transformação social, na luta por direitos e contra retrocessos. A FLIDS acredita que difundir a leitura é uma das formas mais eficazes de se combater preconceitos, pois a leitura estimula poderosamente a alteridade, a capacidade de se colocar no lugar do outro, a prática da empatia. E a empatia é o passo ético decisivo para que uma sociedade seja capaz de respeitar sua diversidade e avançar de modo mais consciente, inclusivo e igualitário.

Então, o intuito da FLIDS não é de modo nenhum segmentar, muito menos rotular uma literatura, reduzindo sua dimensão artística, mas, pelo contrário, contribuir perenemente para a valorização e o engrandecimento dessa produção. A FLIDS é a primeira a refutar que haja - ou deva haver - uma literatura categoricamente nomeada LGBT, da mesma forma que seria absurdo uma literatura dita feminina ou masculina. Quando assim referimos, é claro que não se trata de uma classificação de gênero, por estilo ou linguagem literária e sim, puramente, uma recorte de tema, aí extremamente significativo. O que pode existir é o inventário de quais obras problematizam questões que interessam diretamente à comunidade LGBTQ+. O sentido é divulgar e promover o como e o quanto essa temática vem sendo desenvolvida pela produção literária em geral, de modo a conferir o quão ela reflete problemas e anseios dessa comunidade. Por outro lado, acreditamos que os diversos grupos LGBTQ+ precisam se unir sempre mais para mais fortalecer sua própria produção cultural representativa, como meio de expressão e luta. E tudo isso tem uma significação que deve ser discutida pela própria comunidade, justamente em experiências como a da FLIDS, que mais que um evento, pretende ser um movimento em prol dessa visibilidade. Assim, a Flids continua em atividade durante todo o ano por meio de diversas ações, principalmente por meio deste site.

Falar de maior visibilidade para essas obras é falar da própria visibilidade dos grupos LGBTQ+. Quanto mais uma comunidade tiver espelhamento na produção cultural, mais reconhecimento e condições ela terá para pensar as questões que a afetam, o país e o mundo. Da mesma forma, debater o tipo de abordagem e a presença da diversidade sexual no imaginário sociocultural é uma tarefa a ser liderada pelos próprios produtores e artistas LGBTs. Encontros como a FLIDS são justamente para favorecer todos esses debates. Além disso, também é necessário festejar a existência e a resistência dessa produção. Por isso, sim, trata-se de uma festa, de uma celebração! Uma festa literária e libertária! Para que mais e mais histórias LGBTs possam ser contadas e, com isso, mais próximo esteja o pleno direito, humanamente tão básico, porém tão árduo para ser conquistado, de se exercer livremente todas as formas do amor.

A 1ª FLIDS

... a gente nunca esquece!

Em 2019, a Praia de Iracema, esse recanto tão cheio de histórias, berço da boemia artística e bem pensante da terra da luz, recebeu mais um capítulo para se orgulhar: ali aconteceu a 1ª Flids, a Festa Literária da Diversidade Sexual! Sim, nos dias 1 e 2 de fevereiro de 2019, no aconchegante Centro Cultural Belchior à beira de suas areias, a famosa e formosa P.I. viu nascer esse novo marco cultural não só do Ceará mas de todo o Brasil: uma festa literária inteiramente voltada para a produção LGBTQ+.

Com esse caráter inovador e simbólico para a promoção da cidadania, a Flids combinou-se perfeitamente a certo espírito pioneiro e progressista do Ceará, terra de Adolfo Caminha, cuja obra ‘Bom Crioulo’ é considerada precursora - senão a primeiríssima - a abordar a temática homoafetiva em toda literatura ocidental. E assim, é claro que a valorização das trajetórias e lutas dos pioneiros que nos permitiram chegar até aqui foi um dos recortes da primeira edição da Flids, que não só colocou o livro seminal do cearense Adolfo Caminha no centro dos debates, mas possibilitou diálogos inéditos trazendo alguns dos nomes e obras que marcaram definitivamente tanto a literatura quanto a militância LGBTQ+.

A 1ª Flids teve a honra de, por exemplo, trazer pela primeira vez a Fortaleza para apresentações públicas personalidades fundamentais como o autor do clássico ‘Devassos no Paraíso’, João Silvério Trevisan, farol absoluto da causa LGBTQ+ e talvez o expoente máximo no contexto de uma literatura com esse viés e Letícia Lanz, a fantástica escritora e psicanalista transgênero que autografou na Flids sua obra ‘O Corpo da Roupa’, depois de ministrar uma conferência das mais instigantes para a nossa época. Somente as presenças - inéditas em Fortaleza - dessas duas figuras luminares já deram à Flids um lugarzinho bonito na história dos eventos desse front...mas houve muito mais.

A 1ª Flids também trouxe a editora e cineasta Hanna Korich e seu importante documentário sobre a escritora lésbica Cassandra Rios, debatendo a história de uma escrita ousada e recordista de vendas que foi sufocada pela ditadura militar. Antônio Lacarne, Émerson Maranhão, Gilmar de Carvalho, Jo A-mi (UNILAB), Mileide Flores, Murilo Ramos, Paula Curi (PEL), Regina Ribeiro, Ricardo Guilherme, Roberto Muniz Dias, entre outros, também participaram da série de painéis de debates, lançamentos de livros, saraus e ações cujo registro audiovisual será integralmente disponibilizado neste site, acervo que já constitui um precioso legado deixado pela 1ª Flids, assim como as diversas entrevistas com autores e expositores de várias regiões do país, participantes da feira de livros, conduzidas com toda a competência e brilho pelo jornalista Rafael Mesquita.

Outro legado muito significativo foi a edição do livro Ilca. Conforme nos descreve o tocante prefácio do professor Gilmar de Carvalho, Ilca, ao reportar a vida gay dos anos 70 em Fortaleza, “fala de dificuldades, preconceitos, superação e da alegria que marcou a vida de quem faz dessa novela uma bandeira de liberdade”. Ilca é o alter-ego do escritor cearense Manoel Amorim, cujo sonho de ser publicado nunca pôde ser realizado em vida. Quando Amorim morreu em decorrência do HIV,, seus originais ficaram com o amigo Gilmar de Carvalho e, por mais duas décadas, ainda que constantemente pesquisados por estudantes do tema, não encontraram meios de publicação até a chegada da Flids. Então, foi mais um grande motivo de orgulho para a Flids abraçar esse projeto do Prof. Gilmar, um dos nossos mais prestigiosos intelectuais, e tornar Ilca a primeira publicação da Flids Editora, que já, já trará novos títulos. O Ilca em breve receberá uma nova tiragem e poderá ser adquirido também por este site, sua renda é toda revertida para a Associação de Voluntários do Hospital São José indo diretamente para pacientes com HIV carentes.

Mas como estamos falando de festa, a 1ª Flids também botou o pé na areia e foi dançar na Praia dos Crushs ao som da diversidade: no palco montado em plena praia, teve o forró de Monique Pessoa arrastando multidão, teve o deslumbrante Samba Delas celebrando o dia de Iemanjá, teve o originalíssimo Forró Drag, o coletivo The Crazy, a Lidiane Vaz botando quente e um dos talentos mais notáveis da nova MPB, a sensacional Monique kessous, que, sempre engajada e antenada, lançou na Flids a música ‘Viada’. Ainda teve exposição do Régis Amora, exibição do filme: A Safo de Perdizes, o estúdio de escrita criativa com Antônio Lacarne, Caio Fernando Abreu pelo ator Murilo Ramos, a performance lítero teatral de Ricardo Guilherme, shows de transformismo, Djs e muito mais. E o melhor é que esse banquete cultural foi servido de forma totalmente gratuita, garantindo democraticamente o encontro de todos os públicos. Grandes shows, peças, palestras e oficinas com entrada franca, tudo em torno de uma feira de livros também repleta de ‘grandes atrações’.

Sim, porque as atrações principais foram os livros: muitos, muitos livros para se adquirir na feira que ficou aberta durante todo o evento, e onde se encontravam alguns exemplares bem difíceis de achar nas livrarias de Fortaleza, fora o barato do contato pessoal com diversos autores, editores, expositores, tanto novatos quanto veteranos. Foram mais de 30 editoras, 400 títulos diferentes e 2.000 volumes comercializados nos dois dias de Flids. Um sucesso!

Incomensuráveis a honra e a gratidão envolvidas! Honra de fazer parte de uma equipe tão empenhada, competente, alto astral e companheira, capaz de tanto com tão pouco, tirando leite de pedra, mas sem perder a ternura e o entusiasmo jamais. Gratidão a cada pessoa que fez possível esse sucesso colhido: cada um dos tão talentosos participantes, cada uma das empresas apoiadoras e cada um dos apoiadores de coração: os amigos que prestigiaram o evento, os colegas da imprensa que deram ampla cobertura, os alunos das oficinas, as escolas e universidades presentes. Registre-se também nossa gratidão àqueles gestores públicos e funcionários da cultura, tanto do município como do estado, que, demonstrando sensibilidade, lisura e competência no agir, cumpriram com seu papel e ajudaram, de fato, a realizar essa programação de qualidade e gratuita para a população. Também formidável a generosidade com que praticamente a totalidade dos artistas da cidade e dos militantes LGBTQ+ abraçaram a ideia da Flids, entendendo sua soma aos esforços coletivos que já vêm sendo empenhados na luta por uma cultura democrática e pluralista capaz de fazer frente aos retrocessos políticos que ora assombram o país. Mas, principalmente, nosso quinhão mais doce de agradecimento vai para o grande público que se espalhou pela festa e ajudou a espalhar essa ideia iridescente mundo afora...

E como a Flids, mais que um evento, empenha-se em ser esse movimento agregador, o coletivo continua realizando ações durante todo o ano enquanto vai preparando a segunda edição da festa. A partir de agora, este site passa a ser o nosso ponto de encontro, aberto a todas as sugestões e diálogos. Em 2020, vem aí a 2ª Flids… e novamente contamos com você para construirmos juntos esse momento de arte, pensamento, festa, resistência e transformação!!!


PAULO VIANNA JR.

COORDENADOR GERAL DA FLIDS

A 1ª Festa Literária da Diversidade Sexual (FLIDS) aconteceu em Fortaleza nos dias 1 e 2 de fevereiro de 2019. A FLIDS reuniu autores, obras, seminários, shows musicais, exposições, performances e outras ações culturais integradas, tendo como eixo uma inédita feira de literatura com temática voltada para a diversidade sexual, identidade de gênero, direitos civis e visibilidade cultural dos grupos LGBTI+. O palco foi o Centro Cultural Belchior (CCBEL), na Praia de Iracema.

De caráter pioneiro e simbólico para a promoção da cidadania, a FLIDS integra importantes valores no contexto atual: o evento colabora para o incentivo e fomento ao livro e à leitura ao passo que também se insere entre os movimentos que fazem do Ceará um importante polo de resistência e progressismo cultural, contribuindo para a defesa em torno da temática LGBTI+, que atuam pelo respeito à diversidade e à cultura de paz.