Você já teve a sensação de que sua equipe trabalha o dia todo, corre de um lado para o outro, mas no fim do mês o resultado financeiro não reflete todo esse esforço? Ou talvez você olhe para seu estoque e pense: "quanto dinheiro está parado aqui?"
Se isso soa familiar, você provavelmente está enfrentando um problema que a metodologia Lean (ou "Gestão Enxuta") chama de "Muda", uma palavra japonesa que significa desperdício.
Na metodologia Lean, "desperdício" é definido de forma muito simples: qualquer atividade pela qual o seu cliente não está disposto a pagar. É simples assim. O seu cliente paga pelo produto pronto, pela entrega correta ou pelo serviço bem-feito. Ele não paga pelo tempo que um recurso ficou parado, pelo produto que teve que ser refeito por um erro, ou pelo tempo que um pedido ficou na fila de aprovação.
Identificar esses desperdícios é o primeiro passo para transformar "esforço" em "lucro". No entanto, eles raramente são óbvios; muitas vezes estão "maquiados" pelo “mas sempre fizemos assim".
Analisar a causa-raiz desses problemas é o que separa as empresas que sobrevivem daquelas que realmente prosperam. Vamos listar aqui os 8 desperdícios mais comuns e já catalogados pela metodologia Lean que podem estar drenando os recursos da sua operação agora mesmo:
O que é? Qualquer tempo ocioso de um recurso. Pode ser um colaborador (recurso humano) esperando por matéria-prima, por uma assinatura, por uma autorização, ou pela finalização da etapa anterior. Pode ser uma máquina (recurso patrimonial) parada por diferença na programação, falta de material ou manutenção. A espera é um sintoma claro de um fluxo de trabalho dessincronizado.
Exemplos na Pequena Empresa: Um colaborador que se encontra nas instalações de um cliente aguardando o retorno de informações “da base” porque a ordem de serviço estava incompleta. Ou um equipamento ocioso por horas devido a um planejamento de produção equivocado que não "conversou" com o “departamento” de compras.
Como identificar (A pergunta-chave): "Quais recursos estão parados neste exato momento e por quê?"
O que é? Produzir em maior quantidade, mais rápido ou antecipadamente às demandas reais dos clientes, podendo gerar vários outros desperdícios como estoque, transporte, defeitos, etc.. A filosofia Lean prioriza o modelo de produção "puxada" pela demanda (pull), e não como ocorria "antigamente", onde uma produção em escala era "empurrada" (push) ao mercado na esperança de que fosse consumida, acarretando em custos de movimentação e armazenagem enquanto a venda não ocorria de fato.
Exemplos na Pequena Empresa: Um restaurante por quilo que prepara comida em quantidade suficiente para atender um pico de 50 clientes, quando a demanda normal para o período é de 30 clientes, acarretando em uma sobra de alimentos que terá que ser descartada. Ou ainda, uma pequena indústria que produz um lote de 1.000 peças "só para aproveitar o setup", quando o pedido era de apenas 500 unidades, ficando com o excedente "encalhado" no estoque, tendo que arcar com os custos de movimentação, armazenagem, etc..
Como identificar (A pergunta-chave): "Estamos produzindo algo para atender uma demanda ou vamos produzir a mais para só depois "tentar vender"?
O que é? Movimentar materiais, produtos ou informações de um lugar para outro sem uma necessidade real. Cada movimento custa tempo, mão de obra e aumenta o risco de avarias, perdas ou erros.
Exemplo na Pequena Empresa: Em um pequeno centro de distribuição, um colaborador precisa mover caixas localizadas na área de "Recebimento" para a "Área de Conferência" e, após a conferência, transportá-las mais uma vez para o "Estoque" onde serão armazenadas até o momento de serem expedidas (três movimentos), sendo que tudo isso poderia ser feito em um mesmo local.
Como identificar (A pergunta-chave): "Por que este item está sendo movido de A para B? Isso agrega valor ao cliente?"
O que é? Quantidade de produtos em estoque além do mínimo necessário para atender as demandas internas e externas, podendo serem resultado de uma compra de matéria-prima em excesso, produto semiacabado parado entre as etapas (WIP) devido a erro de programação (entre outras coisas), ou até mesmo, produto acabado aguardando venda.
Exemplo na Pequena Empresa: Uma negociação de compra para obter vantagem financeira em contrapartida à uma quantidade maior de itens adquiridos, onde a demanda não tem capacidade de absorção dos itens excedentes, gerando custos de movimentação e armazenagem, podendo ainda ocorrer perdas por avarias ou obsolescência dos itens, e ainda acarretar em quebra do fluxo de caixa.
Como identificar (A pergunta-chave): "Se eu parasse de comprar/produzir isso hoje, por quanto tempo minha operação ainda sobreviveria?"
O que é? Diferente da movimentação de materiais que é classificado como Transporte o desperdício por Movimentação é o conjunto dos deslocamentos desnecessários que os colaboradores e máquinas devem fazer até o término das suas atividades. Andar, se abaixar, esticar, procurar. Isso é quase sempre um sintoma de um layout mal planejado ou da falta de organização do ambiente de trabalho.
Exemplo na Pequena Empresa: : Um balcão de atendimento onde o colaborador precisa andar até o fundo da sala para pegar um formulário, 20 vezes por dia. Ou uma ferramenta de uso constante que não tem um lugar fixo e precisa ser "caçada" a cada uso.
Como identificar (A pergunta-chave): "As ferramentas e informações estão organizadas e identificadas de forma lógica em um local próximo de onde são normalmente utilizadas?"
O que é? Manipular, processar, atuar sobre um produto ou serviço mais vezes do que o cliente valoriza. Inclui relatórios que ninguém lê, aprovações duplas desnecessárias, vários "pontos de checagem". Geralmente, o superprocessamento é um sintoma de falta de confiança no processo. O ideal é ter recursos e processos capacitados para "executar o certo da primeira vez". Se você precisa conferir o mesmo item três vezes, o desperdício não está na conferência, mas no processo que exige essa conferência.
Exemplo na Pequena Empresa: Um produto que sai da linha de montagem direto para um posto de verificação de defeitos, antes de ir para o estoque. Ao ser retirado do estoque para ser expedido, o produto passa por uma nova checagem para se ter certeza de que não houve avarias no tempo em que esteve armazenado. Ao ser embalado esse produto passa por uma última checagem antes de ser entregue ao cliente final.
Como identificar (A pergunta-chave): "O cliente pagaria mais por esta etapa se soubesse dela? Ou estamos apenas 'dourando a pílula'?"
O que é? Esse é o desperdício mais óbvio: produtos, serviços ou informações que apresentam "não-conformidade" em relação ao padrão, às "especificações técnicas" ou à legislação, precisando serem retrabalhados parcial ou integralmente. Ao serem retrabalhados, os itens que apresentaram a "não conformidade" consomem uma nova quantidade de recursos (humanos, materiais, patrimoniais, tecnológicos, financeiros e temporal), elevando assim o preço que será repassado ao mercado, podendo ainda, acarretar em perda da confiança do cliente. Vale dizer que o defeito é apenas o sintoma, mas sua origem é o que realmente deve ser encontrada e tratada, podendo ser um setup de máquina errado, uma matéria-prima de qualidade inferior, um colaborador não qualificado, ou um processo mal definido.
Exemplos na Pequena Empresa: Um produto comercializado fora das especificações técnicas padrão. Um pedido enviado errado para um cliente, gerando custos com logística reversa, novo envio e o custo da própria mercadoria).
Como identificar (A pergunta-chave): "Qual o real motivo de estarmos sempre corrigindo ou refazendo os nossos produtos ou serviços para se adequarem às especificações padrão?"
O que é? Originalmente o desperdício intelectual não fazia parte dos desperdícios identificados e catalogados pela metodologia Lean, no entanto, com o passar dos anos, o mau aproveitamento das capacidades, da criatividade e do conhecimento dos colaboradores (recursos humanos) pelas empresas têm sido, ao longo dos anos, reconhecido como um desperdício real e, dessa forma, passou a ser incluído na literatura moderna.
Exemplos na Pequena Empresa: Ter um colaborador alocado exclusivamente para tratar de reclamações recorrentes originadas a partir de determinado problema, quando ele é capacitado para encontrar e atuar na causa-raiz do que está gerando as reclamações. Ter um colaborador com conhecimento avançado em automação sendo alocado para realizar tarefas manuais repetitivas. Ter um chef de cozinha com experiência internacional atuando como garçom.
Como identificar (A pergunta-chave): "Será que os colaboradores estão atuando em funções compatíveis com suas capacidades e habilidades?"
Como Começar a Eliminar Desperdícios na sua Empresa
Identificar esses desperdícios é o primeiro passo. O segundo, e mais desafiador, é implementar uma cultura de Melhoria Contínua para eliminá-los de forma sistemática.
Muitas micro e pequenas empresas acreditam que não têm tempo para "parar e arrumar", mas é justamente essa "arrumação" que gera o tempo e o lucro que faltam. A boa notícia é que o empreendedor não precisa fazer isso sozinho.
Enxergar o desperdício no próprio processo é difícil; muitas vezes, quem está "dentro da operação" não consegue ver os problemas que um olhar treinado e externo pode identificar.
A ESB Consultoria Online é especialista em ajudar MPMEs a aplicar os princípios Lean de forma prática e direta ao ponto, transformando desperdício em lucro real.
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