Não é de hoje que a sociedade tem uma preocupação ostensiva com a aparência. O próprio sociólogo Guy Debord já apontava essa premissa em sua obra “Sociedade do Espetáculo”, publicada em 1967. No livro ele explica como as pessoas passaram a ter suas relações mediadas por imagens, sendo a essência desvalorizada para que a aparência fosse ressaltada. Dessa maneira, é possível observar a concretização de tal afirmativa quando surgiu o styling, palavra do inglês cujo significado é estilo, também é o nome dado ao ato de tornar objetos desejáveis, independente da função, com o objetivo de aumentar os lucros – seu surgimento se dá com a crise econômica de 1929, nos Estados Unidos.

Devido ao styling trabalhar mais com o lado lucrativo da aparência, por muito tempo ele foi confundido com o design, porém design é mais abrangente, é tanto que até hoje não chegamos a uma definição padrão. O design trabalha a aparência também, mas não é somente isso, entre as muitas definições, algumas delas seriam: criar, solucionar, projetar e inovar. Por isso, na época o styling foi malvisto pelos designers e críticos de arte. Além disso, era claro que os objetos e sua fabricação estavam perdendo seu valor funcional, e ganhando uma estima por causa de sua aparência, sendo assim, a posse do objeto que estava em alta era o que mais importava. Dessa forma, é perceptível que o styling trouxe à tona a ideia do sociólogo Karl Marx, acerca da fetichização da mercadoria, visto que os produtos ganhavam valores infundados, como se ganhassem vida própria e não tivessem relação com o trabalho. Além disso, foi observado uma evolução nos meios produtivos das fábricas, elas passaram a desenvolver mais a produção em série. Para isso, foi necessário produtos cada vez mais padronizados, o que fez surgiu uma obsessão pelo perfeito. Desse modo, o styling junto com os métodos de produção em série fez “desaparecer todo o valor implícito no conceito de unicidade, que desde sempre esteve na base de toda valoração de um objeto artístico” (DORFLES, 1991, p. 14).

Tendo em vista o que foi dito, podemos ver tanto atualmente, quanto no período de surgimento do styling, exemplos dessa prática – como no caso do design aerodinâmico – onde até mesmo objetos que não precisavam da aerodinâmica passaram a tê-la. A aerodinâmica, de acordo com Heskett (1998, p. 123), “remonta a estudos da vida natural do século XIX, e à observação da eficiência da forma orgânica dos pássaros e peixes. Essas ideias seriam aplicadas em submarinos e aviões [...] para reduzir a turbulência e a resistência ao avanço”. Baseando-se nessa definição, pode ser concluído que objetos estáticos não necessitariam de aerodinâmica, porém durante a década de 1930 ela foi muito difundida, são exemplares de objetos que ganharam o estilo: secador, grampeador, geladeiras, cortador de frios, entre outros. Já na atualidade um estilo que está se expandindo é o minimalismo, que apesar de ser um estilo de consumo consciente e propor o uso do mínimo para viver de forma plena, assim que se tornou popular na internet, alguns objetos e marcas se tornaram mais “limpos” visualmente, como é o caso de alguns aplicativos que comparados aos seus ícones iniciais se tornaram minimalistas, como por exemplo: o Instagram, o Firefox e o Google. Vejamos bem, isso não significa que o minimalismo ou o estilo aerodinâmico sejam ruins, contudo, por serem usados em muitos âmbitos – pelo styling – a essência da proposta pode acabar sendo perdida.