Cronicamente Online: Atenção em tempos de hiperconexão é um seminário promovido pelos alunos do curso de Comunicação e Multimeios da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que acontecerá nos dias 3 e 4 de junho de 2025. O evento examina como os regimes contemporâneos de atenção foram historicamente modulados pelos dispositivos tecnológicos, desde o final do século XIX até o presente. Inspirado nos trabalhos seminais de Jonathan Crary, William James e nas discussões contemporâneas sobre a "economia da atenção", o seminário investiga como os modos de percepção e distração não constituem fenômenos inéditos da era digital, mas se inscrevem numa longa genealogia de transformações perceptivas que remontam à modernidade industrial, embora intensificadas agora pela hiperconectividade constante.
A atenção, desde o pós-Iluminismo, deixou de ser objeto de estudo da psicologia para se tornar um dos recursos mais valiosos da era digital. Autores como William James já apontavam, no século XIX, a atenção como um fenômeno oscilante entre foco e dispersão, algo aprofundado por Jonathan Crary ao relacioná-la às transformações da modernidade. Hoje, diante da hiperconectividade, notificações constantes e exigência de presença digital permanente, vive-se uma condição crônica de solicitação atencional. A atenção, então, deixa de ser apenas uma faculdade mental e torna-se mercadoria, explorada pelas dinâmicas do capitalismo de plataforma, substituindo a lógica monetária pela lógica atentiva, que utiliza conhecimentos científicos para prolongar o tempo de conexão e engajamento, tornando a atenção o objeto mais requisitado atualmente. É a partir desse cenário histórico e crítico que o presente seminário propõe-se a refletir, com diferentes especialistas, sobre os impactos nos diversos contextos, decorrente deste regime de captura perceptiva.
O seminário se propõe a formular questões críticas para entender a experiência da atenção no século XXI: Como se estabelece uma relação entre as transformações históricas dos regimes perceptivos e as novas subjetividades produzidas pela hiperconectividade? De que maneira a "economia da atenção" contemporânea captura nossa percepção como forma de valor? Quais estratégias estéticas e políticas podem ser mobilizadas para reconfigurar nossa relação com os dispositivos tecnológicos, sem recair em discursos nostálgicos sobre uma suposta era de ouro da atenção? Através de mesas de debate, exibições audiovisuais e atividades interativas, o evento busca não prescrever soluções, mas elaborar um pensamento crítico que situe historicamente a condição da atenção em nossa época.
IDENTIDADE VISUAL
A imagem escolhida para representar o simpósio faz alusão a uma pesquisa que aponta a queda significativa na capacidade de concentração humana na era digital. Segundo uma matéria publicada por O Globo em 2015, estudos indicam que o tempo médio de atenção das pessoas atualmente é inferior ao de um peixinho dourado, que consegue se manter focado por até nove segundos.
Essa constatação, além de curiosa, é um alerta sobre os efeitos das tecnologias e da hiperconectividade sobre nossos hábitos cognitivos. A identidade visual, que mescla ironia e crítica, simboliza essa nova condição: um peixe antropomorfizado, imerso na lógica digital, representa o paradoxo de estarmos sempre conectados, mas cada vez menos presentes.
O uso predominante do amarelo na identidade visual não é acidental: trata-se de uma cor universalmente associada à atenção e ao alerta. No contexto do simpósio, o amarelo funciona como um chamado visual — quase um farol em meio à distração constante — convidando o público a interromper o modo automático e voltar o olhar, ainda que por instantes, para reflexões mais profundas. É a cor que sinaliza o cuidado, a pausa, a presença.
Que este simpósio nos lembre que, ao erguer os olhos das telas, ainda há um mar inteiro de possibilidades do lado de fora — e que pensar, refletir e criar são formas de remar contra a maré da distração.
Referência:
O GLOBO. Tempo de concentração das pessoas na era digital é menor que o de um peixe. Rio de Janeiro, 14 maio 2015. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/tempo-de-concentracao-das-pessoas-na-era-digital-menor-que-de-um-peixe-16153807. Acesso em: 10 maio 2025