SINOPSE
SINOPSE
🔞 - Não recomendado para menores de 18 anos
Gênero: Ficção científica, horror, suspense
Duração: 89 minutos
País: Canadá
Direção: David Cronenberg
Roteiro: David Cronenberg
Produção: Claude Héroux
Produção Executiva: Pierre David
Fotografia: Mark Irwin
Montagem: Ronald Sanders
Trilha sonora: Howard Shore
Efeitos especiais de maquiagem: Rick Baker
Desenho de produção: Carol Spier
Direção de arte: Delphine White
Elenco principal
James Woods, Deborah Harry, Sonja Smits, Peter Dvorsky, Leslie Carlson e Jack Creley.
No oitavo longa-metragem de David Cronenberg, o autor trabalha temáticas densas acerca da mídia e do indivíduo a partir dos códigos do cinema de terror.
Videodrome acompanha Max Renn (James Woods), diretor de um canal de TV adulto, que encontra um programa misterioso chamado "Videodrome", que tem cenas explicitas de tortura e assassinato. Intrigado e obcecado pelo conteúdo, Max mergulha em um mundo onde a linha entre realidade e alucinação se torna cada vez mais tênue, descobrindo uma experiência sinistra capaz de manipular a mente e transformar a percepção do que é real.
Cronenberg, assim como John Carpenter, George A. Romero, são cineastas que caminham pelos extremos do gênero terror - encarado como um cinema “baixa cultura”. O cinema de gênero, no entanto, alcança uma dimensão social, moral e política explorando chaves encenativas, ampliando as narrativas usuais que por sua vez ultrapassam o seu significado ilustrativo. Em Videodrome o terror funciona como uma revelação de um macrocosmo social, com o exagero cênico tornando perceptível as estruturas da sociedade tomadas pelo acesso às mídias e ascensão do neoliberalismo.
Um filme que pode soar profético, uma vez que já somos tomados pelas mídias na contemporaneidade. Cronenberg não é um profeta, mas sim um leitor agudo das tensões de seu tempo, capaz de radicalizar tensões do presente a ponto de revelar um problema aparentemente intangível. Videodrome com seu modus operandi gráfico extremo traduziu o impacto psíquico que já se manifestava nas sociedades do início dos anos 1980. O advento da televisão, por exemplo, degringolou em diversas mudanças corpóreas e psíquicas, uma vez que o prazer da televisão é programado, nos tornando espectadores passivos e moldados por relações de poder.
Em Videodrome, o corpo funciona como o elemento central da narrativa. Ele deixa de ser apenas um objeto de interação com o ambiente para tornar vivo o controle tecnológico e midiático. À medida que o protagonista se vê tomado por imagens transmitidas por uma rede clandestina de TV, o próprio corpo começa a se deformar, refletindo a deterioração psíquica, com a carne se dobrando às forças invisíveis (que por sua vez, se tornam visíveis pelos códigos do terror corporal) do regime da atenção e vigilância.
Sendo as mídias compreendidas como extensões do corpo, podemos interpretar os processos de corporificação representados no filme Videodrome tanto em sua dimensão física quanto intelectual. Surge, então, um "outro corpo", no qual o dispositivo tecnológico torna-se parte integrante. Esse novo “eu” reflete diretamente os modelos de descrição da atenção, o que permite que a narrativa seja analisada a partir das teorias clássicas propostas por autores como Crary (1999), Pillsbury (1908) e Baldwin (1905).
O modelo da ação, delineado por Crary (1999), entende a atenção como fruto da colaboração entre mecanismos automáticos e processos voluntários. Tal concepção encontra eco na experiência do protagonista Max Renn. Sua relação com o programa Videodrome começa de forma consciente e intencional, mas, gradualmente, a fronteira entre a atenção voluntária e as respostas involuntárias se dissolve. A narrativa evidencia, assim, uma fusão entre essas instâncias, que em consequência gera a perda da distinção entre realidade e alucinação.
As múltiplas vertentes teóricas de Pillsbury (1908) também se fazem presentes no filme. A atenção, entendida como uma sensação corporal intensa ou como um agente inconsciente que dirige o foco mental, reflete o impacto visceral dos estímulos visuais perturbadores de Videodrome sobre o corpo e a psique do protagonista. Para Alexander Bain, a atenção estava condicionada pelas sensações de dor e prazer — uma concepção que se encaixa na forma como Max é seduzido e, ao mesmo tempo, afetado negativamente pelo conteúdo do programa projetando a violência. Pillsbury ainda argumentava que as condições que definem e dirigem a atenção são as mesmas que determinam a identidade pessoal: a atenção se confunde com o ser. Essa fusão entre atenção e identidade é evidenciada na transformação progressiva de Max ao longo do filme, em meio a confusão tudo se mescla, o corpo é dispositivo,o corpo se torna o vídeo,o protagonista passa a ser as características daquele dispositivo em função do que é o videodrome.Max deixa de ser apenas um observador para se tornar parte do próprio dispositivo.
No que se refere ao modelo inibitório descrito por Baldwin (1905), que concebia a atenção como um recurso finito a ser regulado com Videodrome, ilustra os efeitos da superexposição a estímulos extremos. O programa rompe os limites naturais da atenção, levando à sobrecarga sensorial, alucinações e, eventualmente, ao colapso psicológico do protagonista. De acordo com essa perspectiva, no processo de adaptação ao mundo, o indivíduo deveria conservar sua energia mental e corporal. Qualquer uso excessivo e descontrolado seria considerado um desperdício perigoso, que exigiria regulação e contenção.
Por fim, a concepção de Pillsbury sobre a atenção como elemento constitutivo da identidade torna-se central para entender a jornada de Max Renn. Sua transformação evidencia que a atenção não apenas reflete quem ele é, mas também molda e redefine sua subjetividade. O contato prolongado com Videodrome não só altera sua percepção do real, como reorganiza a estrutura de seu próprio “eu”. Dessa forma, Videodrome oferece uma narrativa que dialoga profundamente com os modelos históricos da atenção, explorando suas implicações na constituição da realidade e na formação da identidade humana diante da mediação tecnológica.
CALIMAN, Luciana Vieira. Os valores da atenção e a atenção como valor. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 632–645, dez. 2008. DOI: 10.12957/epp.2008.10551. Disponível em: https://www.revispsi.uerj.br/v8n3/artigos/html/v8n3a06.html. Acesso em: 23 maio 2025.
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