Programa
#codinomemadame
Fotos: Dédalus (João Valério)
O NÚCLEO ALVENRIA é um coletivo de teatro aberto, um organismo fluido, que busca refletir de forma criativa os caminhos da nossa sociedade. Fundada em 2013, reuniu artistas com longas trajetórias individuais e objetivos em comum. Hoje sediada no Alvenaria Espaço Cultural, na capital paulista, tem como integrantes Alexandra DaMatta, Bia Toledo e Tati Bueno.
O NÚCLEO ALVENARIA tem como propósito fundamental desenvolver uma dramaturgia própria,
No atual trabalho, a trilogia MADAME, a força do universo feminino entra em cena. Madame e a Faca Cega é o primeiro espetáculo da trilogia.
O trabalho teve sua primeira apresentação em março de 2021 na MoMo, a Mostra de Monólogos do Alvenaria, e estreia em temporada em abril do mesmo ano. A segunda peça da trilogia, Codinome Madame, com estreia em maio de 2021, se passa em um futuro distópico onde a arte foi proibida e uma atriz passa anos enclausurada para se proteger e proteger toda a arte que conseguiu guardar. A terceira peça está em fase de pesquisa dramatúrgica.
DEPOIMENTOS
TÉTIS (Tati Bueno)
Direção e Dramaturgia
Direção e Dramaturgia
Antes era Clandestino. Bem antes da clausura. Era uma época em que a cultura era demonizada. Passaram os teatros para as mãos da igreja. Extinguiram o ministério da cultura. Proibiram exposições. Uma censura velada foi instaurada em nome dos cidadãos de bem. Aí veio a peste. E achamos que algo mudaria. Não mudou. Morreu o riso. O poeta. O cantor. E ficamos todos assistindo perplexos e sem poder fazer nada. O que eu tinha para dizer, eu já disse. Está no texto e o resto da história ela, a Madame, conta pra vocês. Bom espetáculo!
MADAME (Bia Toledo)
Atriz
Atriz
Eu achava que tinha o poder de ajudar os meus amigos, eu achava que sairia ilesa de tudo que estava destruindo o nosso país. Eu achava que as coisas apesar de graves se ajeitariam, mas me enganei. Por mais que eu tenha abrigado pessoas, recolhido e escondido o máximo de arte que consegui, nada, nenhum dos meus esforços foram suficientes para brecar a onda gigante que estava prestes a nos engolir. Em 2021 eu ainda muito jovem e cheia de sonhos me deixei enganar e o resultado foi catastrófico. Não sobrou quase ninguém, todos os meus amigos foram presos, muitos foram mortos e muitos conseguiram se exilar. Parece que já tínhamos visto essa história, e tínhamos mesmo, a censura despontando novamente, a desigualdade, o preconceito, o medo, o julgamento, a igreja tomando cada vez mais o poder, se fundindo com o estado. Um horror!!! Um horror sem fim. Até que fui presa e torturada e aí realmente não sobrou mais nada, quase nem sobrou vontade de viver. Passei 20 anos nesta clausura. 20 anos. Tentei me matar, fiquei deprimida, tentei me matar de novo fiquei mais deprimida e um belo dia, resolvi que já chegava, que não dava mais pra viver daquele jeito. Ao mesmo tempo eu estava segura, nada poderia me acontecer, afinal eu tinha aprendido a jogar o jogo. Eu queria mudar, eu queria viver! Comecei a estudar o que tinha em mãos, livros, pinturas, músicas e comecei a escrever, a relatar o que tinha me acontecido nesse período todo, no que se transformou a minha vida. Procurei ajuda, encontrei e fui me fortalecendo. Hoje eu e os meus estamos prontos pra enfrentar de novo tudo isso, mas agora sem o idealismo que nos derrubou. Agora com um pouco mais de sabedoria, compreendendo que essa dominação terrível tem como ser derrubada e que outros de nós se encham de força e de esperança e se juntem a nós pra derrubar de vez esse pensamento de bosta que destruiu tantas vidas.
MÜSKA (André Grecco)
Direção
Direção
Tentaram, de todas as formas e no decorrer de toda a história, matar a arte e os artistas sem se dar conta de que era impossível viver sem algum tipo de paliativo para a realidade. Em CODINOME MADAME, um futuro distópico, sem ócio, sem cio, sem ar, no qual a arte foi abolida, a personagem busca forças para brotar de onde teve que encerrar-se há 20 anos, um espaço de arte desativado, que ainda guarda o cheiro de lembranças muito vivas. Madame revisita suas histórias que contracenam com a história de seu país. E a história não é apenas trágica, mas sórdida. Não falamos de acontecimentos reais, é ficção, mas eles aconteceram na realidade, em tempos distintos e tornam a acontecer de tempos em tempos, inclusive agora, e depois.
Falar sobre a necessidade da arte e sua luta pela sobrevivência em uma sociedade na qual não se tem educação, na qual não aprendemos a importância dela, que é expressão da cultura, que dá a sensação de pertencimento, identidade a um povo, em um momento tão delicado para o mundo todo como estes anos de 2020 e 2021, quando um vírus coloca a humanidade numa situação limite, como nos livros de Saramago, é aproximar a situação da Madame a de todos nós. A peça é, para mim, a elaboração simbólica de tempos sombrios, nos quais se revela a crueldade humana e, ao mesmo tempo, encontra-se a urgência da vida, que há algum tempo está guardada em caixas com instrumentos musicais calados.
Quem foi obrigado a viver de maneira clandestina e isso é ditado por quem? Quem está, hoje, no papel de clandestino? É a arte que distorce pensamentos?
Nós somos Madame, bem vindos!
BALEIA (Chris Aizner)
Cenógrafo e Figurinista
Cenógrafo e Figurinista
Estamos aqui.
Debaixo deste telhado de barro, da telha de zinco, onde a chapa é quente.
Alvenaria a mostra, exposta a nossa bandeira chamada Cortina de Boca.
Cortina de Boca que chama por toda pintura, todo grafite, todo rabisco que preenche hoje qualquer página em branco, qualquer muro em qualquer lugar.
E neste espaço chamamos à todes, todas e todos a adentrar e encontrar essa mulher e reerguer essa boca, preparar as tintas e cores, e soprar a chapa quente dos nossos metais.
Mesmo que momentaneamente nada disto pareça mais existir, ou ser possível, estamos aqui.
Presentes.
BARONESA (Adriana Alves)
Designer Gráfico
Designer Gráfico
CODINOME MADAME é desesperador. Não se sabe se estamos falando do passado, do presente ou do futuro. As vozes que nos silenciam dia após dia, uma realidade que nos castra a alma, a violência bruta, as notícias, e o que está nas entrelinhas do sistema. Imergimos num mundo de melancolia e nostalgia de coisas não vividas, a saudade e as memórias...Fosse melhor que nos tirassem as lembranças de outros tempos.
Quando sentimos que não conseguiremos aguentar a narrativa, a voz doce e forte embala uma canção que afaga a alma como um prato quente de alimentos frescos...Assopra...mas nos morde por dentro.
A esperança de novos tempos, um respiro, novos sabores...nos cala e finaliza deixando o gosto ferroso dos enlatados.
CODINOME MADAME é indigesta e necessária.
VOLPINA (Inês Aranha)
Preparação de Elenco
Preparação de Elenco
A atriz Bia Toledo é um presente para qualquer preparador. Extremamente entregue, estudiosa e talentosa, Bia tem a paciência necessária para viver um processo de criação. Isto é importantíssimo! Fomos investigando o texto voraz de Tatiana Bueno, sem medo e sem pressa, para entendê-lo em todas as suas nuances. Corpo, voz, gestos e intenções foram aparecendo organicamente no decorrer do processo. Através de exercícios de visualização, sensibilização e criação da vida ficcional da personagem, Bia encontrou um terreno fértil para dar vida à Madame! A Equipe Criativa em total sintonia, com muitas trocas e olhar artístico apurado, foi fundamental para a realização deste trabalho.
WELWITSCHIA (Jessica Areias)
Preparação Vocal
Preparação Vocal
Em tempos de total desgoverno e guerra declarada a todas as formas de Arte e Cultura, “Codinome Madame” chega como um Ato de pura resistência, coragem e motivação, para continuarmos a lutar pela nossa liberdade de expressão. Foi um processo muito prazeiroso intermediar a construção do corpo e da voz do personagem Madame que Bia Toledo irá interpretar. Exercícios e ajustes vocais que trouxeram alguns desafios que tornaram ainda mais potente todo o resultado final, juntamente com um trabalho interligado com o corpo, a dramaturgia e a emoção inerente a todo o monólogo. Bia é uma grande Artista , e encarna Madame com total propriedade.
VALESKA (Samya Peruchi) Operação de luz
Uma metáfora para falar do que vivemos hoje e do que isso pode representar para o nosso futuro. Uma assustadora demonstração de até onde o fanatismo e a cegueira são capazes de nos levar, e quanto isso pode simplesmente aos poucos matar toda a vontade de vida dentro de nós. Mas acima de tudo, mostrar que da mesma forma que o mato cresce entre muros e asfalto, resiste, nossa natureza também é a da resistência. Não desistiremos nunca. Seguimos Inteiros em Luta!
CACILDA (Cecilia Luzs)
Designer de som
Designer de som
(R)existir
Calaram a voz
Mas nunca calarão o pensamento
Até que nos levem
Ou enterrem
(R)existência
TINA (Dimalice Nunes)
Revisão de Texto
Revisão de Texto
Imersos numa distopia e olhando para nossa própria história fica fácil imaginar que o futuro em que Madame vive é possível. Mas é a função social da arte: um alerta para os erros que cometemos como sociedade. Sim, cometemos, no plural. A gente pode não ter nenhuma responsabilidade direta sobre o que nos abate, mas fazemos parte do todo, do problema e da solução. Mas Codinome Madame é arte, então seu papel extravasa muito o alerta social a que se propõe: a personagem angustia, impressiona, emociona. É disso que se trata: fazer com que os olhos vejam, mas que a cabeça não só entenda, mas também sinta.
SOBRE A DIREÇÃO MUSICAL
GATURAMO (Felipe Antunes)
A trilha sonora, dirigida por Felipe Antunes, é toda baseada em metais, sem nenhum outro instrumento de apoio. Porém não de um jeito amplo, com naipes completos ou menores, mas sim especificamente utilizando os graves, os metais de base - tudo foi executado apenas com trombone, bombardino e tuba por Allan Abbadia, que também assina a assistência de direção musical. Foram explorados, inclusive, diversos sons não convencionais dos instrumentos, gerando, além de harmonias e melodias, intenções rítmicas, percussivas, ruidosas e dissonantes. Trabalhou-se com a sensação da forja. Do metal forjado, do fogo, da ilusão forjada de um instrumento que pode parecer outro, da transição ininterrupta e deslizante que o trombone possibilita ao longo das escalas, caracterizando, inclusive, nenhuma. O tratamento final ficou por conta de Fábio Sá, que, além de equalizar, trabalhou no processamento das camadas que se sobrepõem e compõem a obra final.
Resistência versão on-line
CLARICE (Nara Ferriani)
Direção de Arte
Direção de Arte
A pergunta que fica é pra onde estamos indo, se realmente o ser humano não deu certo ou se ainda há alternativas. Certamente que há. A restrição da liberdade é algo devastador e violento, isso sim deveria ser proibido. Codinome Madame veio no momento certo para dizer que o artista resiste, sempre. É sobre força, persistência, obstinação, exaustão, dor, saudade, amor e arte.
A realidade está obscura demais e a subjetividade da arte nos salva.
POMBO CORREIO (Douglas Picchetti e Helo Cintra)
Assessoria de Imprensa
Assessoria de Imprensa
Quando recebemos a sinopse da peça Codinome Madame, a nossa garganta apertou. Imaginar o Brasil vinte anos à frente, em um futuro distópico com a liberdade de expressão controlada com mãos de ferro não nos parece tão distante. Por isso o espetáculo da Nossa Companhia é tão corajoso e pertinente neste momento. A gente espera um futuro melhor. A Nossa Companhia também. Toda a nossa classe artística também. Para isso, fazer e divulgar teatro se torna mais fundamental do que nunca. Viva a Nossa Companhia!
FLOR(Camila Pontremoli) Produção
A arte com a sua força de existir, resistindo todo novo amanhecer em uma nova vida.
PASSARINHA(Beatriz Passeti) Produção
Resistir nem sempre é compreendido como um ato de força, muitas vezes o entendem como extremismo. Mas sem esse ato como muda-se o que está aflorando o pior lado da sociedade? O fazer arte em muitos casos não é visto como resistência, é visto por muitos como vagabundagem. Entretanto, sem os vagabundos o que seria da sociedade, uma massa cinza? Madame nada mais é que o rosto que aparece para retratar o que os artistas almejam gritar.
MONTANHA (Marcello Barranco)
Direção de Produção
Direção de Produção
Por mais que “Eles” queiram nos calar, sempre haverão Madames e Monsieurs que estarão dispostos a enfrentá-los, gritando e imprimindo através da arte e seu pensar, um mundo mais livre, profundo, colorido e diversificado como ele deve ser. Não nos calarão!!