A presença dos povos-espírito Yãmĩyxop entre os Tikmũ’ũn é bastante celebrada nas aldeias. São muitas as histórias que narram, quando encontraram essa diversidade de seres e quando acabaram tornando-se parentes. Assim como são diversas as formas como se realizam os trânsitos entre estes povos. Os cantos e as danças sempre mobilizam esses encontros. A existência e a presença de uma multitude de povos Yãmĩyxop nas aldeias Tikmũ’ũn é o que garante a alegria-saúde das pessoas e o sistema de conhecimentos e práticas que perpetuam ao longo de suas vidas. Garante também um rico patrimônio de cantos, danças e formas de alimentação que trazem alegria e são motivo de muitos esforços de mulheres e de homens para que os encontros se perpetuem.
Os Tikmũ’ũn promovem um aguardado encontro de pajés na aldeia Vila Nova do Pradinho (Bertópolis/MG), com a presença de sábios e especialistas de suas terras. Junto a seus Yãmĩyxop, eles rememoram um extenso repertório de cantos e preparam alimentos tradicionais para todos, humanos e espíritos.
O cineasta Isael Maxakali filma o amanhecer e a chegada dos Yãmĩyxop na Aldeia Verde (Ladainha/MG). A chegada dos povos-espírito mobilizam os pajés e as mulheres na sua recepção com comidas, cantos e danças no pátio da aldeia junto ao poste dos Yãmĩyxop e à casa-de-religião. Por várias noites as mulheres-espírito Yãmĩyhex virão dançar, conta o pajé Mamey. Vários povos-espírito visitam a aldeia nesses dias, dentre eles o Tangarazinho-espírito que caça na floresta a pedido do gavião-espírito – o 'governo' dos Yãmĩyxop, o último a partir da Aldeia Verde para as longínquas alturas da floresta.
O filme coloca em cena a coleta da embaúba, seu beneficiamento, além de outros gestos encantados pelos rituais que acompanham cada um dos trabalhos coletivos das mulheres Tikmũ'ũn na Aldeia Verde (Ladainha/MG). Acompanha também os caçadores com seus arcos e atiradeiras retesados pela corda de embaúba, assim como a preparação da batata-doce com a qual são recebidos pelas mulheres. Ao final, o sênior Totó Maxakali se junta ao banho com as crianças no ribeirão.
Sentados no meio da roça de mandioca, os pajés Toninho e Manuel Damásio Maxakali, da Terra Indígena do Pradinho (Bertópolis/MG) narram a duas vozes, para as câmeras de seus filhos e sobrinhos, o longo ciclo da história dos Koatkuphi, os talo-de-mandioca-espírito. Antes muito temidos pelos Tikmũ’ũn, os povos-espírito Koatkuphi são hoje seus aliados, reconhecidos como grandes cantores, caçadores e guerreiros.
Enquanto as brumas da madrugada se dissipam, os Yãmĩyxop chegam na aldeia e tomam as crianças Tikmũ’ũn carregando-as penduradas em suas costas. Faz-se necessário acordar o rio e amansá-lo para que banhe e batize os novos homens que agora passarão a frequentar a casa dos cantos. Dirigido pelo professor Ismail Maxakali a partir do trabalho das oficinas de produção audiovisual do projeto 'Por uma escrita audiovisual Maxakali', realizadas na aldeia Vila Nova pelo INCTI (Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa), o filme expõe uma parcela do delicado sistema educacional Tikmũ’ũn.