No teu deserto
de Miguel Sousa Tavares
O “quase romance” No teu deserto, assim denominado pelo autor Miguel Sousa Tavares, relata uma viagem do autor e da jovem Cláudia (a quem dedica o livro) ao deserto do Sahara, narrada 20 anos após ter acontecido. Em novembro de 1987, os protagonistas da história deixam Portugal rumo ao deserto, iniciando a viagem como desconhecidos e terminando-a com uma ligação que se revela bastante especial.
O livro inicia-se com uma citação de Álvaro de Campos, que imediatamente desperta no leitor uma das ideias que se tratam na história: a finitude da vida daqueles que amamos, “o destino daqueles que o amor levou”- ideia essa confirmada na dedicatória: “Para a Cláudia, lá em cima, numa estrela sobre o Sahara”. Assim, desde o início, é percetível que esta obra se trata de uma homenagem a alguém que foi, de facto, importante na vida do autor, ainda que num curto período de tempo, mas que acabou por sofrer da consequência inevitável da vida: a morte.
A meu ver, esta obra tem uma capacidade incomparável de fazer com que o leitor imagine os lugares, as personagens, as sensações e pensamentos de cada uma delas. A escrita é simples e acessível a todos, o que facilita a imaginação das situações descritas como situações reais, verdadeiramente humanas. Também a história em si é descomplicada: um homem e uma mulher, em momentos bastante diferentes das suas vidas, cujas histórias se cruzam por mero acaso, devido a uma viagem ao “nada”, que se torna uma experiência realmente diferenciadora para ambos. Para além disso, devido a ser narrada por dois enunciadores, o autor e Cláudia, como que um diálogo de pensamentos de ambos, é-nos dada a conhecer a perspetiva de cada um, embora estas, tal como os protagonistas, se complementem.
Um dos assuntos que mais despertou o meu interesse ao longo da narrativa foi a valorização constante daquilo que constantemente tendemos a desvalorizar nos dias que correm- o “silêncio”, o “nada”, a solidão, o observar: “Na verdade, o deserto não existe: se tudo à sua volta deixa de existir e de ter sentido, só resta o nada. E o nada é o nada: conforme se olha, é a ausência de tudo, ou, pelo contrário, o absoluto.”. De facto, depois de ler o “quase romance”, foi, para mim, muito mais fácil compreender a necessidade de apreciar o nada. A necessidade de observar a beleza das coisas (e de coisa nenhuma) e dos momentos, pois “Há alturas que a beleza é tão devastadora que magoa”. A necessidade de aproveitar e apreciar o presente, uma vez que “Não há regresso. Há viagens sem regresso nem repetição”. A necessidade de dizer tudo na hora certa, bem como a de não dizer nada no momento certo- “A coisa mais difícil e mais bonita de partilhar entre duas pessoas é o silêncio”. Acima de tudo, esta história ensina que não devemos deixar nada por dizer, nada por fazer, porque apesar de “[ouvirmos] o tempo a passar”, muitas vezes gastamo-lo com futilidades que nada nos acrescentam, apenas nos retiram essa que é das virtudes mais preciosos que temos: ter tempo.
Por fim, considero que este é um livro que se deve não só ler, mas também parar para refletir, e, sem dúvida alguma, manter essas reflexões presentes. Talvez fosse necessário que todos nós o lêssemos, para que todos fôssemos capazes de perceber o que é realmente fútil, o que é realmente “perder tempo”. O que é realmente viver, e não só existir.
Ana Bárbara Lourenço Azevedo, aluna nº2 da turma 12º1F
Ano letivo de 2018/2019
O Lar da Senhora Peregrine para crianças peculiares – Livro 1
de Ransom Riggs
O Lar da Senhora Peregrine para crianças peculiares é um bestseller da New York Times que foi escrito por Ransom Riggs. Este livro é o primeiro de uma coleção que neste momento tem 3 livros.
Esta obra fala de um rapaz chamado Jacob Portman que nasceu a ouvir as histórias fantásticas do seu avô. Depois de ter fugido da Alemanha, o avô contava-lhe que tinha estado num lar de crianças peculiares numa ilha galesa. Ele falava sobre a Miss Peregrine, a senhora que criava as crianças, e as peculiaridades incríveis destas, enquanto mostrava fotografias que lhes foram tiradas. Mas, à medida que Jacob cresceu, acreditar nessas histórias do avô tornou-se difícil. Depois da primeira vez que foi gozado na escola, ele começou a duvidar de tudo o que o avô lhe contara, até que por fim aceitou que tudo não passava de uma fantasia.
Mas, um dia, quando Jacob estava a trabalhar, o avô liga-lhe a dizer que os monstros com que ele lutara na sua juventude tinham vindo atrás dele. Despreocupado, ele vai ver do avô, porque este tipo de telefonema era normal acontecer. Contudo, quando Jacob chega a casa do avô, vê-o deitado na relva, a sangrar. Jacob entra em pânico e mais assustado fica quando vê um monstro entre a relva. Nesse momento, ele perguntou a si próprio se os monstros de que o avô falava eram mesmo verdadeiros.
Depois disto, Jacob parte numa aventura emocionante para a descoberta desse tal lar que tivera tanto impacto na sua infância e principalmente na do seu avô.
Na minha opinião, este livro tem uma escrita muito fluida e uma história interessante, com personagens rodeadas de magia.
O mais incrível foi a forma como o livro surgiu. Sendo o autor muito obcecado por fotografias vintage e assombrosas que os seus amigos tinham, decidiu criar uma história a partir delas e colocou-as ao longo do livro, ilustrando-o.
Concluindo, é um livro muito viciante (demorei menos de uma semana para acabar) sobre uma personagem que parou de acreditar no avô por causa da forma como foi gozado na escola e passa a descobrir tudo sobre as origens dele. É uma história que nos faz ver a forma mágica e linda como o avô de Jacob via o mundo e como isso influenciou o seu neto a viver a vida da forma mais mágica que ela pode ser.
Gabriel Figueira, aluno da turma 12.º 1F
Ano letivo de 2018-2019
Vamos comprar um poeta
de Afonso Cruz
“Vamos comprar um poeta” é um livro escrito por Afonso Cruz que nos remete para uma sociedade imaginada, onde tudo gira em torno do materialismo. Desta forma, tudo é quantificado e calculado ao milímetro com o máximo de precisão possível, desde a quantidade de mililitros de saliva que se deposita na bochecha de uma pessoa ao dar um beijo até à quantidade percentual de amor nutrido por um certo alguém.
A personagem principal é uma rapariga que faz parte de uma família que se insere perfeitamente nesta sociedade. Cada membro da família possui a sua função: o pai é gerente de uma fábrica e é o responsável por trazer o dinheiro no fim do mês; a mãe é encarregada de tratar das tarefas domésticas tais como lavar e cozinhar; os filhos, sendo eles a protagonista e o seu irmão, devem ir à escola para aprenderem e um dia virem a ser membros úteis da sociedade. Assim, tudo corre bem e o bom ambiente familiar mantém-se até que, um dia, a personagem principal decide comprar um poeta. Algo a anotar para uma melhor compreensão do livro é que, neste mundo descrito em cento e uma páginas, os artistas são todos tratados como animais domesticados que se podem comprar.
Ao longo do livro entende-se que o poeta traz uma grande influência à família. Por coincidência, nesta mesma altura, o pai começa a ter dificuldades no seu emprego e a empresa começa a dar prejuízo. Isto faz com que se tenha de “apertar o cinto”, o que leva ao abandono do poeta num parque.
Durante a leitura, é possível perceber que esta história engraçada é também uma crítica à sociedade portuguesa da época. Sendo que a primeira edição foi lançada por volta de 2013 (época da intervenção da troika em Portugal devido à crise económica que se enfrentava), esta crítica deve-se muito provavelmente à forma como se cortaram apoios às artes, sem qualquer hesitação. Apesar das artes não contribuírem diretamente para a economia, é algo também indispensável, porque sem arte e cultura os seres humanos tornam-se robôs que vivem em ordem do que dá mais lucro. De facto, ao ler as primeiras páginas do livro sem pensar muito no assunto, é possível acreditar que as personagens são, na verdade, robôs, uma vez que os seus próprios nomes são uma combinação de números e letras que só servem para os distinguir.
Por outro lado, poderíamos ver o livro de uma perspetiva mais abstrata e generalista, como a minha primeira interpretação do mesmo. Desta forma, para além de criticar a sociedade, criticaria, no geral, todas as pessoas que não veem mais nada sem ser lucro e prejuízo nas suas ações diárias e usaria o poeta como representação da criatividade e da capacidade de sonhar e “pensar fora da caixa”. Ao abandonar o poeta, deixando-o fora de casa, o autor poderia estar a criticar a forma como muitos de nós deixamos essa nossa faceta mais artística de lado e nos esquecemos de usar a imaginação e a criatividade que, muitas vezes, nos ajudariam imenso.
Estas “teorias” já fazem bastante sentido por si e ganham ainda mais credibilidade se nos lembrarmos de que o autor é não só escritor, mas também ilustrador, realizador de filmes de animação e músico.
Eu gostei bastante do livro. Lê-se de forma rápida e fácil, sem grandes complicações. O único obstáculo que podemos encontrar na interpretação da história é a reflexão que se segue à leitura sobre a parte simbólica e metafórica do livro. Penso que a obra é muito aberta a sugestões, opiniões e, sobretudo, interpretações diferentes, o que não é mau, uma vez que, assim, permite a discussão e o debate. As únicas pessoas a quem não recomendo o livro são aquelas que o autor pretende criticar.
João Pedro Rosado Dionísio, aluno n.º 19 da turma 12.º 1F
Ano letivo de 2018-2019
Vamos comprar um poeta
de Afonso Cruz
Afonso Cruz, autor da obra em questão, é escritor, ilustrador, músico e realizador. Possui mais de 20 obras em seu nome e mais de 15 outras colaborações, tendo ganhado diversos prémios apenas enquanto escritor.
O livro Vamos comprar um poeta baseia-se numa sociedade imaginada onde o materialismo e, diria até, onde o consumismo domina e controla toda a vida de todos os elementos da sociedade retratada. Nessa sociedade, as famílias têm artistas em vez de animas de estimação. As pessoas não têm nomes, mas sim uma espécie de etiqueta com uns números distintos que utilizam para se referirem uns aos outros.
Tudo o que para nós é imensurável, naquela realidade não pode ser descrito de outra forma, como, por exemplo, afetos dados e saudades sentidas, mas também coisas do quotidiano que não costumamos medir, pelos menos com precisão, como as gramas de arroz que comemos ao almoço.
A protagonista desta história vive com a sua família, normal nessa sociedade imaginada, e o ambiente familiar é também comum. Vivendo nesta mesma realidade já descrita, escolhe como companhia, dentro de um vasto grupo de artistas, um poeta, pois nem sai caro nem suja muito (o mesmo não se verifica com os pintores ou escultores). No entanto, como a protagonista vai verificar, o poeta tem outras virtudes, sendo a mais relevante o seu poder de conseguir transformar muita coisa.
Até àquele mesmo dia em que foram buscar o poeta (até se podia considerar um luxo ter um artista), tudo corria normalmente, até que imprevistos aconteceram e lá em casa se teve de "apertar o cinto". O trabalho do pai na fábrica não estava a correr bem. Esse problema leva a todo um desenrolar da ação interessantíssimo, diria eu, onde, por fim, o poeta acaba por "salvar o dia".
Nas páginas finais do livro, podemos encontrar um posfácio, presumo que escrito com a intenção de nos ajudar a compreender uma forte crítica da parte do autor ao Estado português. Mas penso que essa é apenas uma das dezenas de abordagens possíveis ao ler e analisar este livro. Abordagem essa que eu não tomei até me aperceber do posfácio. A meu ver, a mensagem final que Afonso Cruz nos pretende passar é de que, se o governo português gastasse mais com a cultura, poderia ganhar muito mais do que se pensa, deixando assim de ser um gasto e passando a ser um investimento. Essa mensagem vem acompanhada de inúmeras alegorias e metáforas sem fim. Moral da história: toda a falta de gastos na área da cultura no nosso país se deve a uma ignorância extrema, visto que (novamente) esse gasto traria vantagens inquestionáveis, passando assim a ser um investimento de extrema importância.
Fico feliz por ter lido a obra na sua totalidade, sem ter consultado o posfácio, pois acho que uma interpretação tão literal e tão "económica" da obra lhe retiraria de certa forma o seu encanto. Muitas vezes, um professor pede para interpretarmos certo texto quando, se calhar, nem o autor o escreveu com a intenção de haver mais interpretações se não o sentido literal. Pois bem, nesta obra creio que seja precisamente o oposto. Cada palavra, cada expressão que aqui encontramos nos remete para múltiplos sentidos, sendo que acredito que nunca cheguemos ao ponto de ter compreendido por inteiro cada palavra impressa no livro.
A obra foi escrita com um vocabulário bastante simples, o que facilita bastante a leitura, tal como o facto de não ser muito extensa, o que permite uma rápida leitura e uma eventual releitura.
Passo, por fim, a citar um excerto que me deixou a pensar: " É na inutilidade que está o altruísmo e aquilo que o ser humano considera naturalmente mais nobre."
Vasco Miguel Santos Pires Silva, aluno n.º 29 da turma 12.º 1F
Ano letivo de 2018/2019
(para consulta presencial na Biblioteca)
10.º Ano:
O último cabalista de Lisboa de Richard Zimler
O murmúrio do mundo de Almeida Faria
Quem me dera ser onda de Manuel Rui
11.º Ano:
Grandes Esperanças de Charles Dickens
12.º Ano:
Contos de S. Petersburgo de Nikolai Gógol
1984 de George Orwell
O tempo envelhece depressa de Antonio Tabucchi
Retalhos da vida de um médico de Fernando Namora