HARRY PARTCH (1901 - 1974)
OS ORIGINAIS XILOFONES DE HARRY PARTCH
Compositor norte-americano (melhor seria defini-lo como um multifacetado teórico e trabalhador das artes), Harry Partch foi mais um outsider, artista inquieto que perseguiu a construção de instrumentos como forma de obter novas sonoridades para a música que concebia, também ela inspirada em motivos não convencionais.
Ao longo da sua vida, criou e construiu dezenas de instrumentos, de cordas, teclados e percussão, desenvolvendo também seu próprio sistema alternativo de afinação(*) e de notação para expressar as suas ideias musicais.
Focalizaremos aqui o seu trabalho com os xilofones, que como os demais instrumentos por ele elaborados, tiveram inúmeras réplicas construídas por seguidores e admiradores, aperfeiçoadas naquilo que era possível ou necessário.
(*) Partch trabalhou com a afinação justa, dividindo a oitava em 43 intervalos de microtons.
Instrumentos musicais criados por Harry Partch, executando suas obras, em performance moderna.
I. Bass Marimba, 1950.
Partch e a ' Marimba Baixo' original de 11 Teclas, com extensão do Dó grave (cello) ao Sí bemol abaixo do Dó central, afinação aproximada.
Bass Marimba original: visão do expectador
Bass Marimba: Harry Partch
Bass Marimba original: visão do executante
Bass Marimba: detalhe das teclas
Imagens mais recentes da Bass Marimba: réplicas e performances musicais:
Texto de Harry Partch em livre tradução:
"É inerente à natureza do trabalhador de arte criativo conhecer e compreender os materiais de que ele necessita, e criá-los onde eles não existem, com o melhor de sua capacidade. Na música, esta característica deve ir muito além da mera competência de compor e analisar uma partitura. É mais difícil para o compositor criar os matizes necessárias ao som que para o pintor criar os matizes de luz, mas não é menos importante que ele encontre a possibilidade de fazê-lo. As tradições musicais usuais estão contra ele no esforço; em nosso tempo, elas só são reconhecidas como tradições quando atingem o patamar confortável da segurança acadêmica. Mas o ato rebelde de criação também é uma tradição, e para que nossa arte musical seja algo mais do que uma sombra de seu passado, as tradições em questão devem periodicamente se livrar de hábitos adormecidos e se excitar em um crescimento palpável.
Se alguém precisa ter o sólido sentimento de respeitabilidade histórica abaixo dele para poder funcionar, nosso mundo o proporciona em miríades de variedades, além do local imediato, antes do passado imediato. Ele não precisa se tornar um arqueólogo para perceber que dificilmente há uma linha exótica que ele poderia compor, um artigo variante que ele poderia escrever, ou uma ideia singular que ele poderia criar, que não seria feliz em alguma tradição, em algum ponto do globo, em algum momento do passado culto. Meus instrumentos pertencem a muitas tradições, especialmente incluindo as atuais: a afirmação da paternidade fornece a substância primária da rebelião.
Sua afinação é baseada em um sistema de entoação acústica - não igual - de 43 tons, o que é explicado em meu livro Gênesis de uma Música, publicado pela Universidade de Wisconsin Press em 1949. Uma nova gama de recursos melódicos, uma nova série de relações de tonalidade e uma nova perspectiva de consonância e dissonância estão todos implícitos no sistema. Além destas ideias severamente definíveis, está a própria música, esquiva às palavras. Chamo-a corpórea, porque se enraíza com outras artes necessárias à civilização, em uma unidade que é importante à existência inteira - mente e corpo. Até mesmo a experiência visual de ver os instrumentos sendo tocados é um elemento vital.
Comecei a projetar e construir instrumentos há quase quarenta anos. Cinco dos instrumentos aqui representados estão explicados em meu livro. Os outros foram construídos desde a época dessa publicação. Todos foram construídos e reconstruídos - um deles sete vezes - para melhorar a qualidade. Não há dois exatamente iguais. Eu sou não um construtor de instrumentos, mas um homem-música filosófico seduzido pela carpintaria."
H. P. -- Junho de 1962
Texto original:
"It is inherent in the being of the creative art worker to know and understand the materials he needs, and to create them where they do not exist, to the best of his ability. In music, this characteristic must go far beyond the mere competence to compose and analyze a score. It is more difficult for the composer to create the colors of needed sound than it is for the painter to create the colors of needed light, but it is no less important that he find it possible to do so. The usual musical traditions are against him in the effort; in our time they are recognizable as traditions only when they have reached the comfortable plateau of academic security. But the rebelliously creative act is also a tradition, and if our art of music is to be anything more than a shadow of its past, the traditions in question must periodically shake off dormant habits and excite themselves into palpable growth.
If one must have the solid feeling of historical respectability beneath him in order to function, our world provides it in myriad variety, beyond the immediate locale, before the immediate past. He does not need to become an archaeologist to realize that there is hardly an exotic line he could write, a variant article he could create, or a singular idea he could brew, that would not be felicitous in some tradition, at some point on the globe, at some conjectured time in the cultured past. My instruments belong to many traditions, especially including the present ones: affirmation of parentage provides the primary substance of rebellion.
Their tuning is based on a 43-tone-to-the-octave system of acoustic -- not equal -- intonation, which is explained in my book, Genesis of a Music, published by the University of Wisconsin Press in 1949. A new range of melodic resources, a new series of tonality relationships, and a new perspective on consonance and dissonance are all implicit in the system. Beyond these severely definable ideas is the music itself, elusive to words. I call it corporeal, because it roots itself with other arts necessary to civilization, in a unity that is important to the whole being -- mind and body. Even the visual element of seeing the instruments played is a vital one.
I began designing and building instruments nearly forty years ago. Five of those represented here are explained in my book. The others have been built since the time of that publication. All have been built and rebuilt -- one of them seven times -- to improve quality. No two are exactly alike. I am not an instrument-builder, but a philosophic music-man seduced into carpentry."
H. P. -- June, 1962
Fontes e referências:
http://musicmavericks.publicradio.org/?refid=3
http://musicmavericks.publicradio.org/features/feature_partch.html
http://musicmavericks.publicradio.org/features/essay_justintonation.html
http://www.anaphoria.com/musinst.html
http://www.corporeal.com/instbro/instintr.html
http://www.corporeal.com/art_inst/showinst/inst97.html
http://www.newband.org
http://www.clatterbox.net.au
http://www.chrysalis-foundation.org
http://www.organicdesign.org/peterson/tuning/index.html
http://www.musicweb.uk.net/classrev/2004/Jan04/partch_just_cause.htm