Por Flamínio Fávero (Folha da Manhã 24/04/1955)
"No dia 20 de abril comemora-se o aniversário do nascimento do Professor Ascendino Ângelo dos Reis, catedrático Farmacologia e matéria Médica da Faculdade de Medicina da Universidade, desde 05 de fevereiro de 1914, falecido aos 14 de setembro de 1926, em plena atividade docente e clínica.
O professor Ascendino, natural de Divina Pastora, no estado de Sergipe, era diplomado em medicina pela Faculdade da Bahia onde defendeu tese sobre “Diagnóstico diferencial das moléstias do coração”.
Fez a carreira de médico do Exército, reformando-se no posto de Major, tendo sido professor de línguas e de história geral em Sergipe, em cursos secundários e normais, exercendo, ainda, os cargos de delegado especial de exames preparatório e de médico do corpo de polícia.
Vindo para São Paulo, onde se diplomou em Direito, ocupou, durante vários anos, a Catedral de Geografia, Corografia e Astronomia da antiga Escola Normal Secundária da Capital, que obteve em memorável concurso. Como professor dessa escola, mostrou à universidade seus conhecimentos, regendo as cadeiras de Português, Francês, Inglês, Latim, História do Brasil, História Natural e Pedagógica.
Tendo sido médico de várias associações beneficentes como a caixa de Aposentadoria dos Empregados da São Paulo Railway Co., a Associação dos Empregados do Comércio, a Sociedade 2 de julho, a Sociedade dos Auxílios Mútuos, Artes e Ofícios, a Sociedade de Jesus, Maria, José, etc.
Sua distração, quando não trabalhava, era a leitura. Lia em casa, na sua opulenta biblioteca, lia nas salas de espera, lia na rua, lia no bonde. Seu modo de locomoção era o bonde, onde se sentava no primeiro banco, absorto no livro ou na revista, não ninguém perto de si. Um dia, atravessando a via pública, distraído com uma revista, foi atropelado por um automóvel, escapando por pouco de morrer.
Como professor da Faculdade de Medicina, regeu interinamente, também, as cadeiras de Terapêutica e de Medicina Legal. Esta última, logo após a morte de Oscar Freire, seu professor de janeiro de 1923 a novembro do mesmo ano, quando preenchida por concurso, a que me submeti.
Quando adoeceu de morte, com um acesso irremediável de angina do peito, lúcido e sereno, lembrou-se de um cliente a quem precisava visitar. Não podendo fazê-lo, pois estava com poucos instantes de vida, pediu que providenciassem substituto. Satisfeito o seu dever profissional, morreu em paz!
Sua memória é convenientemente lembrada, dentro e fora da Faculdade de Medicina. Nesta é um exemplo para as gerações que vem através dos tempos. E a cidade a que serviu não se esqueceu de homenageá-lo. Recordam seu nome a importante Avenida Professor Ascendino Reis, na Vila Clemente, e o Colégio Estadual Professor Ascendino Reis, no Tatuapé."