Paula Rego

Maria Paula Figueiroa Rego, mais conhecida por Paula Rego (Lisboa, 26/01/1935 — Londres, 8/06/2022), foi uma pintora luso-britânica, condecorada pelo Governo Português e pela Rainha Isabel II.

Desmontar jogos de poder, denunciar o autoritarismo político, a hipocrisia, expor o sofrimento no amor e a sexualidade encapotada, exaltar o poder feminino, não menos violento, perante todas as agressões, são alguns dos princípios subjacentes a uma obra, que desde a primeira exposição em Lisboa (SNBA, 1965/66), até hoje, continua a suscitar tanto a admiração quanto o embaraço. Considerada durante décadas como “artista marginal”, porque indiferente às artes conceptual e performativa dominantes na Inglaterra, obtém o reconhecimento do establisment artístico britânico quando, em 1990, aceita ser a primeira “artista associada” da National Gallery, em Londres.

Entre 1976 e 1979, com uma bolsa atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian, Paula Rego realiza um trabalho de pesquisa, nos museus e bibliotecas de Londres, sobre contos populares tradicionais e os contos de fadas de todo o mundo, tema muito presente na sua obra desde o inicio do seu percurso gráfico/artístico nos anos cinquenta e sessenta do século XX. As memórias dos contos tradicionais ouvidos na sua infância, onde se revelam valores expressivos da cultura popular, tem assim um lugar de destaque na sua obra.

Em 1989 Paula Rego realiza uma série de águas-fortes intituladas Nursery Rhymes (Cantigas de Embalar ou Rimas de Berço), onde faz referência a esse universo da literatura tradicional infantil, inspiradas na tradição oral das cantigas e rimas de berço inglesas. Paula Rego estava familiarizada desde a infância com estas pequenas histórias devido á sua educação no colégio inglês St. Julian’s School em Carcavelos.

Paula Rego ( 1935-2022), Pequena Miss Muffet . Água-forte e água-tinta, sobre papel trançado, 1989.


Com essas pequenas histórias que se contam ás crianças a artista plástica cria imagens que alteram o que nos é familiar como podemos observar em Little Miss Muffet, imagem de uma menina que reage assustada a uma aranha gigante, com face humanizada.

A pequena Miss Muffet

Sentou-se num tamborete

A comer leite coalhado e soro de leite;

Mas apareceu uma aranha grande

Que se sentou ao lado dela

E Miss Muffet assustou-se

Segundo interpretação freudiana as aranhas são símbolos maternos que não nos permitem a fuga. A aranha com rosto humanizado de Paula Rego tanto pode estar em posição de ataque ou de proteção, cabe a cada um de nós enquanto observador fazer a leitura que entendermos.


Esta foi a obra que alunos do 9º e 7º anos orientados pelas professoras Cristiana Palminha e Alexandra Rio tiveram como base para a exploração plástica de padrões e/ou texturas obtidas a partir de uma conjugação de linhas, pontos e cor.



























A pintura de Paula Rego privilegia contar uma história, o suspense, ultrapassando a obra na qual se inspira, seja ela proveniente da literatura oral ou escrita, pictórica, musical ou cinematográfica. Conseguir passar «da cabeça para a mão» a corrente torrencial de imagens, sem censura, é um objectivo constante. Criadora de fábulas, Paula Rego desenvolve um trabalho prévio de metteur en scène. Em Londres, o atelier é um palco secreto, no qual contracenam «fantasmas», alguns deles nascidos de esculturas que a pintora constrói. Como a pintura é uma forma de «magia poderosa», esses fantasmas correm somente para dentro de quem os teme. SN Maio de 2010 Source: CAM