Corujas na Arte

Na atualidade

Obra de Bordalo II na fachada do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, com uma coruja dividida ao meio — uma parte tem cores, a outra não. Simboliza o conhecimento. Inaugurada a 17/01/2022 A peça está integrada na série “Big Trash Animals – Neutral”, que Bordalo II tem feito para promover o conceito de sustentabilidade e a consciencialização em relação ao tema das alterações climáticas.

Na Antiguidade

Na imagem vemos Atena segurando um capacete e uma lança, acompanhada por uma coruja. Atribuída ao Pintor de Brigos (c.490–480 a.C.) (Museu Metropolitano de Arte - MET - NY)

Desde a Grécia e o Antigo Egito que as corujas são símbolo da intelectualidade. Os gregos consideravam a noite como o momento do pensamento filosófico e da revelação intelectual e a coruja, por ser uma ave noturna, acabou por representar essa busca pelo saber. Os Romanos acreditavam que a coruja trazia má sorte e seu canto anunciava que alguém iria morrer. Muitos ainda hoje dizem que ela traz azar quando sobrevoa uma casa.
Aves noturnas, com hábitos interessantes, as corujas são misteriosas, capazes de ver na escuridão, são apreciadas por muitas pessoas. Para muitos povos a coruja significa mistério, inteligência, sabedoria e o conhecimento racional e intuitivo.

No Oriente

"Coruja e as Duas Andorinhas" Utagawa Toyohiro Artista Japonês (1763–1828)

No Japão, presentear alguém com algum objeto em forma de coruja é muito apreciado, pois tem significado positivo. Muitos estudantes recebem uma lembrança em forma de coruja para desejar sorte nas suas próximas etapas.

Pinturas de Corujas nos tradicionais “Kakejiku” (pergaminhos suspensos) são também consideradas auspiciosas. É comum observar na arte japonesa sua imagem pintada sobre os galhos de Pinheiros, que em japonês se pronuncia “matsu”, homônimo do verbo “esperar”, simbolizando a espera pela felicidade que está por vir.

Ao decorrer dos anos, a figura da coruja recebeu diversas atribuições por todo o país, como divindade, pássaro-guia, ou o poder de prever o tempo. Durante o Período Meiji (1868-1912) os japoneses adotaram a imagem ocidental de que as corujas seriam os filósofos da floresta, símbolo do conhecimento e sabedoria.

Na Literatura
A expressão “mãe coruja” é muito utilizada e remete à imagem de uma pessoa disposta a fazer de tudo pela sua prole, incapaz de perceber os seus defeitos morais e físicos.

A expressão surgiu da fábula “A águia e a coruja”, escrita pelo francês La Fontaine (1621-1695) adaptada da fábula de Esopo (620—560 a.C.) os animais falam, cometem erros, são sábios ou tolos, maus ou bons, exatamente como os homens. A intenção de Esopo, em suas fábulas, era mostrar como os seres humanos podiam agir, para bem ou para mal.

Na fábula "A águia e a coruja" as aves fazem um acordo de paz, segundo o qual a águia promete não devorar os filhotes da coruja. Para que a promessa seja cumprida a coruja descreve os seus filhotes como os mais encantadores, elegantes e sedutores.

No dia seguinte, durante um voo a águia viu um ninho cheio de filhotes horrorosos e sem pensar duas vezes devorou todos. Só depois descobriu que eram as pequenas corujinhas, que não foram descritas segundo a sua aparência real.

MORAL: Quem ama o feio, bonito lhe parece.

O autor, antropólogo e zoólogo Desmond Morris fala sobre seu fascínio pelas corujas e porque o levaram a escrever seu livro "Owl", publicado pela Reaktion Books (01/01/ 2009).

Desmond Morris (Reino Unido, 24/01/1928)) "Owl"

“A coruja é uma contradição. É o mais conhecido dos pássaros, e o menos conhecido dos pássaros. Como os seres humanos, a coruja tem uma larga cabeça arredondada, com uma face achatada e um par de grandes olhos arregalados. Isto a deixa com uma qualidade humana singular que nenhum outro pássaro consegue igualar, e em tempos ancestrais as corujas eram referidas como “pássaro de cabeça humana”. Na realidade, uma coruja não é tão sábia quanto um corvo ou um papagaio, mas nós pensamos nela como sábia simplesmente por causa da sua semelhança connosco.
É o olhar humanóide que nos faz sentir que conhecemos a coruja. Se elas são tão sábias e ainda assim só saem à noite, talvez elas não sejam tão bondosas. Como assaltantes, elas aproximam-se silencionsamente quando suas vítimas estão mais vulneráveis. Como vampiros, elas somente chupam sangue quando o sol se pôs. Talvez, ao invés de sabedoria, possa existir algo de demoníaco na coruja.
Quando examinamos a história do nosso relacionamento com corujas, nós descobrimos que ela têm sido, de fato, um símbolo tanto de sabedoria como de infortúnio.” (Desmond Morris, ‘Owl’)

Concerto dos Pássaros - (Frans Snyders , 1629).

Na Pintura

Frans Snyders ( Antuérpia - 11/11/157919/08/1657)Artista importante em muitos aspectos, especialmente quando se trata de retratar pássaros e outros animais. Inicialmente Snyders dedicou-se à pintura de flores, plantas, frutas e peixes, mas passou à representações de animais vivos, especialmente selvagens, e cenas de caça. Foi um dos primeiros pintores que se especializaram na representações de animais em lenços. A sua composição é rica e vasta, o seu pincel vigoroso, mesmo enérgico e extremadamente expressivo. Ele foi um dos primeiros a dar grande ênfase aos animais em ambientes comuns, dando-lhes uma importância que antes careciam no mundo da pintura a óleo.O tema de 'Concerto dos Pássaros' foi muito popular. Ele voltava ao tema frequentemente, criando várias pinturas de várias espécies de pássaros, todas juntas para executar uma canção colaborativa.

"A pintura (Concerto dos Pássaros) apresenta uma diversidade colorida de pássaros em torno de uma coruja como um maestro segurando uma partitura.” Roger J. Lederer, A Arte do Pássaro

René Magritte (Bélgica - 21/11/1898 - 15/08/1967)

Com uma obra facilmente reconhecida como surrealista, Magritte foi convidado frequentemente para expor juntamente com artistas que faziam parte daquele movimento, passando, mais tarde, a expor, só ou em coletivo, em prestigiadas galerias. Embora, nos anos 40 do século XX, tenha experimentado, de forma superficial, outras formas de expressão plástica, René Magritte voltaria sempre à transposição de elementos vulgares para contextos estranhos, estratégia que executou com invulgar imaginação e mestria técnica e que lhe concedeu o perfil de "mestre da surpresa".

A obra de Magritte serviu para provocar pensamentos e questionar a percepção da realidade. Embora as suas pinturas sejam misteriosas, Magritte insiste em que não questionemos o que vemos, com o risco de nos esquecermos de ver.

Dessa forma, as imagens enigmáticas não possuem informações veladas. Na obra Os companheiros do medo, Magritte retrata a coruja, o corvo e a perdiz crescendo na terra e olhando para o espectador. Estes são animais frequentemente associados ao medo em muitas culturas, as corujas são noturnas e representam uma inteligência misteriosa, as perdizes habitam picos e os corvos são considerados sinais de morte, ou dor. Mgritte apresenta estes pássaros como símbolos de nosso medo, enraizados na cultura antiga. Eles crescem da terra para sugerir que estão enraizados na nossa história.

"Coruja em um assento e Mar ouriços" - (Picasso, 1946 )

Pablo Ruiz Picasso (1881-1973) foi um pintor, escultor, gravador, ceramista e cenógrafo espanhol considerado um dos maiores e mais influentes artistas do século XX.

Suas obras amadureceram desde o naturalismo na sua infância até ao cubismo, surrealismo e muito mais, moldando a direção da arte moderna e contemporânea ao longo das décadas. Pablo Picasso é considerado um dos fundadores do Cubismo juntamente com Georges Braque, movimento artístico que tinha o intuito de desconstruir a imagem por meio das figuras geométricas.

Conta Françoise Gilot, artista plástica francesa e musa de Picasso, que em 1946, voltando da região de Antibes, França, Picasso encontrou no Chateau Grimaldi uma pequena coruja com a patinha partida. Levou-a para Paris, tratou dela e acabou por adotá-la.

A coruja torna-se tema na cerâmica do artista, na forma de jarros, decoração de pratos, vasos, esculturas e aparece em todo tipo de trabalho tridimensional.

O mesmo tema, uma cadeira e uma coruja, foi explorado, por composição, cores, ângulos e também pela simplificação geométrica da essência de uma coruja. Picasso brincou com as formas geométricas para achar em cada uma delas a estrutura do animal. Tornou aparente para o espectador, com o mínimo de informações, aquilo que ainda seria reconhecível como a representação de uma coruja.

Os grandes e curiosos olhos da coruja lembravam seus próprios olhos curiosos, e encantou-o as superstições e o misticismo atribuídos a esta ave. Desenhou o seu auto-retrato como uma coruja, com buracos no lugar dos olhos, que foram preenchidos com os olhos de uma fotografia sua feita por David Douglas Duncan.

Adivinha o som de cada coruja!