“O espaço cênico e os personagens, paralisados num dado momento de sua existência pelo registro fotográfico, permitirão sempre diferentes montagens e interpretações: múltiplas realidades.”
Boris Kossoy
A fotografia, - como ato de aprisionar o instante em imagem, em arte ou narrativa, gerou inúmeras discussões e polêmicas a respeito de sua natureza e de seu uso. Considerada uma afronta à arte do século XIX, despertou a animosidade de muitos intelectuais, como escritores e pintores.
Por ser fruto da industrialização que se consolidava e enfrentava resistência em alguns segmentos da sociedade, atribuía-se à fotografia conceitos depreciativos. Como resposta, alguns pretenderam elevá-la à categoria de ciência, mimese do real, ou mesmo de expressão artística.
No entanto, antes de ser um espelho da realidade, a fotografia é a relação que se estabelece entre o fotógrafo e o objeto de interesse. Na visão de Sondag (2004, p.15) “fotografar é apropriar-se da coisa fotografada. Significa pôr a si mesmo em determinada relação com o mundo, semelhante ao conhecimento – e, portanto, ao poder.” ¹
Com o passar do tempo, a ideia de “cópia fiel do mundo” foi criticada e desconstruída. Entre o olhar do fotógrafo, a câmera e o objeto, “há muito mais que os olhos podem ver”. ²
A fotografia é sempre um recorte e, nessa escolha, aspectos são evidenciados e omitidos. Essa forma de registro não é neutra, tampouco é uma cópia do real. Kossoy (2001, p.43)³ destaca que “a bagagem cultural, a sensibilidade e a criatividade podem imprimir no resultado final”. Ao evidenciar sua peculiaridade e identidade, a fotografia conquistou espaço na dimensão pública e privada. Em um apelo à memória, ritos culturais e familiares ganharam registro, bem como a arte, o jornalismo, a política e os mais diversos eventos.
Assim como o imaginário sobre a fotografia se transformou, os suportes técnicos também evoluíram. A técnica fotográfica se popularizou notadamente com a criação da câmera Leica: de pequeno porte e de fácil manuseio.
O filme em 35 mm, inicialmente utilizado no cinema, começou a ganhar espaço ainda na década de 1920, tornando-se um dos formatos mais utilizados por profissionais e amadores em fotografia. Esse formato vinha enrolado dentro de uma bobina metálica ou plástica que o protegia da luz, apresentava perfurações laterais destinadas a facilitar o avanço e a rebobinagem. O nome 35 mm refere-se à medida da largura do filme.
A década de setenta no Brasil foi marcada pela transformação no perfil dos fotógrafos em decorrência da adesão de muitos jovens saídos da universidade. Nesse mesmo período outro acontecimento relevante foi a criação do Núcleo de Fotografia da Fundação Nacional de Arte (FUNARTE).
Na esteira desses acontecimentos, a década de oitenta destacou-se pela vitalidade e pela realização de inúmeras mostras, catálogos e exposições.